quarta-feira, 30 de junho de 2004

Vergonhosa decisão...

... do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
Leia-se a notícia no Público.

Esta notícia é verdadeiramente surpreendente:

"O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos entende que não existe qualquer violação da liberdade religiosa na interdição do uso do véu islâmico nas escolas e universidades."

Diz o tribunal que:

"a liberdade de manifestar a religião pode ser restringida a fim de preservar os valores democráticos e os princípios invioláveis da liberdade de religião e da igualdade dos cidadãos perante a lei"

Será que ninguém se dá conta do anacronismo? "a liberdade pode ser restringida", diz o tribunal... Ou seja, já não é bem uma liberdade. Como todas as novas "liberdades" que se aplicam aos crentes, trata-se de uma pseudo-liberdade. Querem eles "preservar valores" e "princípios"!

Que "valores"? Até dá vontade de rir. Nunca houve tanta falta de valores e princípios como nos tempos que correm, onde a pulsão niilista acomete com todas as suas forças para destruir a verdadeira espiritualidade onde quer que esta se manifeste. Qual é o mal com o uso dos véus? Ofende quem não usa?

Repare-se no outro lado da questão, o da aluna islâmica que quer usar o véu...
Então se uma estudante islâmica quer usar, por pudor, o seu véu, ela tem que aturar a falta de pudor dos outros. Até aqui tudo bem, porque foi ela quem escolheu estudar numa escola ocidental. Mas porque raio ficariam ofendidas ou "pressionadas" as restantes alunas?

"o tribunal não perdeu de vista que existem movimentos políticos extremistas, na Turquia, que procuram impor a toda a sociedade os seus símbolos religiosos e a sua concepção de sociedade baseada em princípios religiosos"

De que "movimentos políticos extremistas" falam eles? Do Islão? Desde quando é que ser islâmico, e querer viver a sua vida de acordo com as crenças islâmicas, é fazer parte de "movimentos políticos extremistas"? Estes senhores, com esta decisão infame e injusta, não estão a combater o que eles chamam eufemisticamente de "movimentos políticos extremistas". Estão sim a combater a religião, mais concretamente e neste caso o Islão. Pulsão niilista anti-religiosa, é o que isto é.

"As escolas podem tomar medidas para prevenir que certos movimentos religiosos fundamentalistas pressionem os estudantes que não praticam a fé da mesma forma e os que não têm a mesma fé"

Mas de que pressão falam eles, meu Deus?
Se uma criança levar um crucifixo ao peito para a escola, estará a "pressionar" os restantes alunos?

Que o Governo francês é pateta, isso não admira e é do conhecimento geral. A forma como conduziram toda esta questão do véu, a troco de um forçado e abusivo "laicismo" foi desastrosa e ficará na memória como um momento negro da pseudo-democracia francesa.

Agora, que seja o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos a ditar semelhante sentença, parece-me particularmente grave.
A patetice e o gosto pelo saloio tomaram de assalto as instituições a nível europeu. Como pode qualquer pessoa confiar o que quer que seja a este tribunal quando ele falha tão cabalmente, e numa questão tão elementar de justiça como esta?

De acordo com a mais elementar liberdade, toda e qualquer mulher islâmica deve poder usar o véu que quiser, como quiser, e onde quiser. Tudo o resto é conversa.

Afinal, para quê tudo isto? Para travar o Islão. Não para travar o terrorismo ou o fanatismo (usar o véu nada tem de fanático, é um preceito normal e natural do Islão), mas sim para travar a religião. Dizem eles que é tudo em nome de uma "separação entre religião e estado", mas ninguém está a discutir poderes, mas sim a discutir a liberdade das mulheres islâmicas poderem trajar o véu, que é parte do seu vestuário tradicional, quando frequentam uma escola ocidental.

Tudo isto é muito triste e medíocre.

Bernardo

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