terça-feira, 7 de junho de 2005

O Diabo

(publicado em simultâneo no Afixe)



Nos dias que correm, não poucas dificuldades se apresentam ao crente que vive já num mundo laicizado, racionalista e materialista.
Uma dessas grandes dificuldades apresenta-se com a existência (ou influência) do Mal como entidade distinta. Por outras palavras, a existência do que se chama vulgarmente de "Diabo". Ou se quisermos ser mais generalistas, a existência de entidades malignas ou demoníacas.
Uma das tácticas (porventura usadas inconscientemente) dos adversários militantes de qualquer religião consiste na infantilização e no desprezo de quem crê na existência do Diabo.
Dizem muitos que a crença no Diabo não se coaduna com a mente do "homem moderno", nem é compatível com a Ciência moderna. De forma totalmente desonesta, muitos tentam extravasar a Ciência moderna para fora dos seus limites, que são estritamente empíricos, querendo aplicá-la a tudo.
E, curiosamente, criou-se esta estranha ideia, que se entranha dia após dia: o Diabo era uma superstição dos nossos avós, uma coisa de gente atrasada, inculta, cientificamente analfabeta. Algo que "as Luzes" já teriam, supostamente, refutado.
No caso específico da Igreja Católica (contexto que me é particularmente caro), é curioso notar a campanha que se faz, nos dias que correm, contra o exorcismo e contra a crença nas entidades demoníacas.
Hoje em dia, não poucos católicos teriam coragem para, abertamente, professar a crença no Diabo. No entanto, deveriam saber que a sua liturgia, a liturgia católica, possui ainda rituais de exorcismo, que, ao invés de serem meros caprichos antiquados de gente perversa, fazem parte do corpo da doutrina da própria Igreja Católica.
Bastaria lermos, por exemplo, a Suma Teológica de S. Tomás de Aquino, na Primeira Parte, onde se discutem os seres demoníacos.

Será que os católicos dos dias de hoje estão tão iluminados pelo positivismo científico que se envergonham das palavras do aquinate, um dos maiores doutores da Igreja, cuja obra teológica é hoje ainda um dos pilares do seu magistério?

Espero que não me interpretem mal!
(grande lata, é evidente que me vão interpretar mal!)

Não estou a fazer qualquer tipo de propaganda doutrinária. Penso que esta matéria interessa a crentes e a descrentes.
Os primeiros deveriam saber que não faz sentido ser católico e recusar a crença no Diabo, porque isso só advém de uma incompreensão grave da doutrina que professam.
Os segundos deveriam sabê-lo, quanto mais não fosse para conhecerem melhor o que é isto de ser católico e com que linhas se cose a doutrina de um católico.

Ah, já estou a ver este post a dar estalada e gritos, de certeza!
Basta ter bom senso: no dia em que o ritual do exorcismo desaparecer da prática da Igreja Católica, ter-se-á dado uma enorme machadada na estrutura basilar da concepção católica do mundo criado por Deus. Ter-se-á distorcido, para além dos limites do razoável, o próprio conceito do Mal.
Não julgo que as entidades demoníacas tenham abandonado o nosso Mundo! Acho que nunca estiveram tão presentes. O problema é que, nos dias que correm, poucos são aqueles que sequer as concebem como reais!

Termino com uma máxima famosa:

«La plus grande ruse du Diable est de faire croire qu'il n'existe pas» - Charles Baudelaire (1821-1867)

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