segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

No Rescaldo

À distância de uma semana do referendo sobre a liberalização do aborto, persiste a amálgama de sentimentos e convicções que dividiu a sociedade portuguesa. Apesar da expressiva vitória do “Sim”, mesmo tendo em conta a elevadíssima abstenção, ninguém pode ficar indiferente à extraordinária mobilização da sociedade civil em torno dos movimentos cívicos que lideraram a campanha do “Não”.

A forte convicção que a defesa da vida e da dignidade das mulheres são centrais numa sociedade equilibrada e fraterna, mobilizou a sociedade civil de uma forma tão intensa que só encontro precedentes na revolução de Abril. É um sinal claro que a democracia Portuguesa caminha para uma nova fase, em que a sociedade civil pretende ter um papel activo, sobretudo nas questões fundamentais para o futuro do nosso país.

Também foi evidente que a mobilização em torno do “Sim” foi, na sua essência, muito diferente. Teve como base as máquinas partidárias, nomeadamente do PCP e do PS, e centrou-se sobretudo na vertente mais mediática do aborto. O argumento central foi a necessidade de erradicar o flagelo do aborto clandestino, ignorando de forma grosseira as causas que levam as mulheres a recorrer ao aborto.

Apesar de para a esmagadora maioria dos Portugueses o aborto ser sempre uma tragédia, os defensores do “Sim”, nomeadamente a vertente politica encabeçada pelo nosso Primeiro-Ministro, consideram que a sua legalização o torna num mal menor e definitivamente necessário para combater a sua clandestinidade. Uma posição cobarde e medíocre, espelho da nossa classe politica actual, que não oferece mais nada às mulheres, para além do sofrimento e desumanidade.

Apesar de não contestar a vitória do Sim, não posso deixar de salientar que foi alcançada por apenas 25% dos Portugueses, o que equivalerá, em grosso modo, à percentagem de cidadãos que pratica um voto militante nos seus partidos, nomeadamente no PCP e no PS. Tal como seria uma presunção inaceitável assumir que os Portugueses que se abstiveram votariam Não, também o é assumindo que esses mesmos Portugueses pretendem passar da lei actual para uma liberalização total do aborto.

Espero sinceramente que a Assembleia da República procure desenvolver uma lei equilibrada e consensual na sociedade Portuguesa e isso não passa certamente pela liberalização total do aborto.

Um abraço,

Duarte Fragoso.

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