segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Existirá a Matéria?

É o título de um artigo do bravo Gustavo Corção (1896-1978), publicado no Diário de Notícias (do Rio de Janeiro) a 31 de Janeiro de 1960.

Foi notável a defesa do tomismo-aristotelismo por parte de Corção. Foi das raras mentes contemporâneas a dar-se conta de que as ciências empiristas, ditas "modernas", em nada contradiziam (como poderiam?) a velhinha filosofia cristã, plasmada no seu auge de sofisticação e veracidade na escolástica medieval, ao tempo de São Tomás de Aquino.

Neste seu artigo, Corção expõe de forma clara um dos mais importantes debates filosóficos da modernidade, o da existência e natureza da Matéria. É um artigo que merece ser impresso para ser lido e meditado com calma e várias vezes.

Opondo Berkeley ao grupo dos materialistas (Descartes, Hobbes, Locke), Corção explica porque razão ambos os lados estão errados quando comparados com a visão correcta do tomismo-aristotelismo.

Como poderá ter acontecido tal tragédia intelectual? Como se terá perdido o acesso aos conceitos mais fundamentais de Filosofia? Porque razão deitámos fora os maiores feitos intelectuais do Ocidente? Porque razão afirmam os ignorantes de hoje que Aristóteles foi refutado? Que São Tomás está caduco? Saberão eles do que falam?

Penso que a explicação se deve, como em muitas outras situações, às misérias e defeitos, tanto da memória como da inteligência do ser humano.

Vejamos porquê...
No tempo de um Descartes, de um Hobbes, de um Locke ou de um Berkeley, a escolástica estava confinada, como nos recorda Corção, aos seminários, únicos locais onde era ensinada, e, desgraça das desgraças, mal ensinada.

As misérias e os defeitos da memória humana explicam porque razão os cérebros que leccionavam nos seminários e nas universidades da Renascença e da Modernidade, encarregados de preservar, transmitir e explicar às novas gerações o legado inestimável do tomismo-aristotelismo, fizeram um péssimo trabalho, dando mau nome à esplêndida doutrina.
O tempo erodiu a qualidade da doutrina ensinada às novas gerações.

Por sua vez, as misérias e os defeitos da inteligência humana explicam porque razão os filósofos da Renascença e da Modernidade, ao lerem os clássicos de São Tomás e de Aristóteles, não compreenderam o que leram, o que degenerou no surgimento de novas e erradas ideias filosóficas.

A novidade, em Filosofia, tem-se revelado ser uma desgraça. É um mau princípio, nortear uma área do conhecimento pela novidade, em vez de o fazer pela verdade.

Hoje em dia, a esmagadora maioria dos equívocos intelectuais que estão na base da presumida incompatibilidade entre Ciência Empírica e Teologia, deve-se a graves equívocos filosóficos e epistémicos, que surgem naturalmente do abandono (voluntário ou não) da herança tomista-aristotélica, local maior, no Ocidente, da verdade filosófica.

Só tal miséria intelectual no campo da Filosofia moderna e contemporânea poderá explicar que, hoje em dia, alguns tontos pretendam que as modernas ciências empíricas refutaram a velha, mas perene, Teologia.

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