sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A histeria do caso Williamson

Os factos:

- o Bispo Williamson, da Sociedade de São Pio X, sociedade ainda em cisma com a Igreja Católica, faz uma série de afirmações públicas negando ou mostrando dúvida sobre a historicidade de certos factos relativos ao Holocausto

- o Papa Bento XVI, após décadas de esforços de aproximação à Sociedade de São Pio X, decide, num gesto de misericórdia, levantar a excomunhão a quatro bispos da dita Sociedade, entre os quais, Williamson

- a histeria instala-se em todos os quadrantes, católicos e não católicos, mediáticos, políticos, diplomáticos: desde os moderados que manifestam perplexidade pela decisão papal, até aos radicais que propõem que o Papa abdique

O que é que Williamson não afirmou:

- Williamson não afirmou que o Holocausto fora uma coisa boa, ou até desculpável ou compreensível: isso colocava-o numa situação incompatível com a moral católica

- Williamson não afirmou que os nazis não mataram judeus: ele afirmou que o número de mortos foi substancialmente menor que o número avançado pelos historiadores, e que não foram usadas câmaras de gás

Os erros de Williamson nesta matéria:

- são erros históricos, que podem ser um preocupante sinal da proximidade a ideias políticas de mau gosto e reputação, como a dos famigerados Protocolos dos Sábios de Sião, e outras teorias conspiratórias pouco recomendáveis

- não são erros morais, no sentido em que Williamson nunca afirmou ter concordado com os crimes morais do Terceiro Reich

- apesar de serem gritantes, os erros de Williamson não fazem dele um puro negacionista, pois ele não nega que houve Holocausto, mas sim a sua extensão e alguns dos macabros procedimentos que foram usados

- a mais elementar justiça faz com que se pondere o seguinte: há, na Igreja, pessoas em cargos de responsabilidade que perfilham ideias doutrinais e morais incompatíveis com a doutrina e com a moral católicas: tais casos são, sem sombra de dúvidas, mais graves do que o caso Williamson

O Papa errou?

- o levantamento da excomunhão foi um acto de misericórdia, que se cinge ao remover de uma pena canónica, imposta pela desobediência de Monsenhor Lefébvre e pela conivência dos quatro bispos em questão

- tal levantamento não conduz os bispos ao exercício de actividades dentro da Igreja: eles ainda fazem parte de um grupo cismático, e o cisma não foi resolvido

- é para todos evidente que o Papa não pode concordar com as posições pessoais do bispo Williamson sobre o Holocausto; é claro o aviso recente do Papa a Williamson, de que este deve rejeitar tais posições sobre o Holocausto, bem como as suas ideias cismáticas, para poder exercer um cargo na Igreja

- por tudo isto, o Papa não errou, nem nas intenções nem nas acções que tomou; apesar de ser sensato supor que a gestão interna e externa deste caso possa ter sido mal conduzida por certos órgãos da Curia Romana

O que está por detrás da histeria?

Na Alemanha, figuras importantes como os bispos de Hamburgo, e de Rotemburgo-Estugarda confessaram sentimentos de "incerteza, incompreensão e decepção" e ainda constataram "uma óbvia perda de confiança" no Papa Bento XVI. Um teólogo alemão, Hermann Haering, chegou à posição extremista de pedir que Bento XVI resignasse "para fazer algum bem à Igreja".

O que está por detrás disto tudo?
Muitos jornalistas explicaram estas posições radicais por parte de prelados e teólogos alemães recorrendo ao facto de que o negacionismo é crime na Alemanha. Isto explica? Eu acho que não.

A explicação parece estar noutro lado: a já velha tradição de alguma teologia alemã em contestar a doutrina católica, com este caso Williamson, veio toda cá para fora e resolveu, atraída pelos microfones e pelas câmaras de televisão, dar um ar da sua graça.
É inegável o aproveitamento deste caso por parte dos ditos "católicos liberais", termo vago que se refere aos católicos que contestam o catolicismo. Para mim, é isso que se torna claro como a água nesta histeria em torno de Williamson, que noutro contexto mais não seria do que uma pessoa com ideias tontas acerca do Holocausto: este caso, e a reacção histérica a ele, não é mais do que um sinal das forças de bloqueio ao Papa que ainda estão vivas, apesar de mais moribundas do que há trinta anos.

Para o papado, para o primado de Pedro na Igreja Católica, é muito maior o risco extremista e auto-destrutivo dos teólogos "liberais", que nestas ocasiões são os primeiros a lançar pedras ao Papa, do que as tontices que Williamson disse sobre o Holocausto.

Como católicos, devemos estar atentos a uma certa atitude malsã contra a Sociedade de São Pio X. Se há algo que me divide, como católico, dessa cismática sociedade é a atitude por ela demonstrada de desobediência ao Papa e de não aceitação do Concílio Vaticano II. São pontos graves, estes, que separam católicos de lefebvristas, mas devemos estar atentos aos imensos pontos que nos unem, em termos de tradição católica, de doutrina, de fé sincera e coerente, de amor a Cristo.

Há muita gente, "soi-disant" católica, que baseia a sua raiva malsã contra os lefebvristas, não sobre os pontos importantes que acima referi, mas sobre uma evidente agenda modernista, que promovem abertamente em contradição com a doutrina católica que se dizem professar.

1 comentário:

joaquim disse...

Absolutamente de acordo!

Deu-se mais relevo às declarações do Bispo, do que à exigência do Papa para que ele se retratasse das suas afirmações.

Abraço amigo em Cristo