quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Dan Brown e a Maçonaria

Já há muito tempo que não se fala neste blogue sobre Dan Brown.
Há muito tempo que se especulava acerca do conteúdo do novo "pré-best-seller" do autor norte-americano. Quase na esteira imediata do "The Da Vinci Code", os "media" agitavam-se com a especulação de que o seu próximo livro seria também polémico porque seria sobre a Maçonaria.


(Foto: Andrew Medichini/Associated Press)

A especulação provou estar certa. Realmente, o novo livro de Dan Brown, "The Lost Symbol", versa sobre a Maçonaria. Esperava-se, evidentemente, um romance policial feito sobre uma base histórica muito deficiente, como n'O Código da Vinci. Se Dan Brown não se preparou (ou não se quis preparar) convenientemente para escrever sobre a temática já velhinha (de umas quantas décadas) do Priorado de Sião e das teses pseudo-históricas da "linhagem sagrada" de Cristo, não era de esperar que se preparasse grande coisa para escrever sobre a Maçonaria.

Logo, a questão do rigor histórico não se colocava, nem com as obras passadas de Dan Brown, nem com as futuras. No entanto, confesso que esperava, ingenuamente, que Dan Brown, desta vez, neste novo livro, abandalhasse a história da Maçonaria como fez com a da Igreja Católica. Sempre mostraria alguma imparcialidade da parte do autor!

Não foi isso que aconteceu.
O novo romance de Dan Brown é uma apologia da Maçonaria. Mais concretamente, é uma apologia (historicamente muito mal feita, é claro) da tese controversa das presumidas origens maçónicas dos E.U.A., e como bem apontou Massimo Introvigne, o real objectivo deste novo romance de Dan Brown (que se desiludam os ingénuos que pensam que a máquina de dinheiro por detrás de Brown apenas quer vender) é o de atacar a tese da fundação cristã dos E.U.A., trocando-a pela tese da fundação maçónica dos E.U.A.:

«Se i padri fondatori, senza troppo dirlo, volevano fondare l’esperimento americano su una sorta di naturalismo neo-pagano, gnostico, “massonico” nel senso di questo termine corrente oggi (ma si dimentica che la massoneria americana del Settecento non era quella europea del XIX secolo o di oggi), allora le pretese – care a Bush – di presentare gli Stati Uniti come una Christian nation con una missione religiosa da compiere crollano come un castello di carte.»


Lança-se a confusão na opinião pública: os E.U.A. como "christian nation" ou como "masonic nation"?

Dan Brown já escolheu!
Veja-se o que pensa o autor acerca da Maçonaria, numa entrevista à CBC News:

"I have enormous respect for the Masons," Brown said. "In the most fundamental terms, with different cultures killing each other over whose version of God is correct, here is a worldwide organization that essentially says, 'We don't care what you call God, or what you think about God, only that you believe in a god and let's all stand together as brothers and look in the same direction'."


Se se procurasse uma melhor explicação da profunda incompatibilidade entre cristianismo (mais especificamente, catolicismo) e Maçonaria, não seria fácil encontrá-la. Neste aspecto, Dan Brown fornece, com estas palavras, o melhor exemplo da incompatibilidade entre ser cristão e ser maçon.

Sem perceber nada da história da Maçonaria, Dan Brown conseguiu a proeza de captar um dos seus traços mais importantes, e que está na raiz da tal incompatibilidade: é que, de forma muito generalizada (há raríssimas excepções documentadas), os maçons são relativistas e anti-dogmáticos.

Há então na Maçonaria, em maior ou menor grau dependendo da filiação, uma generalizada atitude intelectual que é aversa à procura e à defesa de verdades doutrinais objectivas, sendo antes promovido um "espírito de clã", de irmandade, sacrificando-se a procura e a defesa intelectual da verdade de uma doutrina.

Entende-se, então, porque razão mais de uma dezena de Papas, desde o século XVIII, têm declarado a Maçonaria como uma organização vedada ao católico: o relativismo é a razão mais forte de todas, bem mais forte do que o anticlericalismo de algumas importantes filiações maçónicas.

Sem qualquer ironia, tem que se agradecer a Dan Brown por ter demonstrado, de forma tão concisa, esta incompatibilidade.

PS: Quando o autor deste artigo da CBC News tentou dar alguma informação histórica sobre a Maçonaria, só disse asneiras:

«Freemasonry is an old fraternity dating back to the Middle Ages, and at various periods in history it has come under suspicion because its rules and rituals are secret.»


A Maçonaria não data da Idade Média, mas sim de 1717, data da fundação da Grande Loja de Inglaterra, pelo pastor protestante James Anderson.

«It requires belief in a higher power, but members may be of any religious background.»


Esta frase é uma generalização errada. Nem todas as filiações maçónicas requerem a crença num "poder superior", e nem todas as filiações maçónicas permitem membros de qualquer "background" religioso. Várias filiações, algumas extintas outras não, têm ou tiveram condições restritivas de acesso, vedando, por exemplo, o acesso a não cristãos.

10 comentários:

Anónimo disse...

meu caro amigo, ha anos que nao falavamos !

quanto ao saramago,nada tenho a acrescentar ao que escreveste, a nao ser o markting pasra vender um livro que foi escrito em 4 meses...

quanto a este artigo nao partilho bem das mesmas ideias:

1- acredito que os EUA foram fundados pelos ideais maconicos...praticamente todos os signatarios da carta o era, basta ver a nota de um dolar (se bem que esta la bem espelhado um "in God we trust). todos os presidentes foram macons, excepto kennedy (que teve aqule fim).
Esta e uima questao complexa. bush converteu-se ao cristianismo? talvez, mas nao deixou de ser macon e representar varios interessos muito obscuros.

a maconaria nao nasce do "legado" dos templarios? portugal ficou com o bom legado - nao existiu nenhuma escola do infante em sagres mas sim dos conhecimentos dos templarios que sabiamente recebemos...

a maconaria nao tem como objectivo ultimo destruir a igreja? mas ao mesmo tempo ha macons cristaos. qd na realidade sao incompativeis.

diogo

Xiquinho disse...

"Logo, a questão do rigor histórico não se colocava..."

Mas claro que nunca se colocou!

"O novo romance de Dan Brown é uma..."

Quando vai o Bernardo meter na cabeça que Dan Brown é um romancista, não é historiador?

Espectadores disse...

Xiquinho,

Dá sempre jeito, não dá?
Para umas coisas, é só romance. Mas depois, ele diz que a pesquisa histórica foi muito bem feita... Ainda ontem li a entrevista dele na revista do Expresso. Ele dizia que investigou a Maçonaria durante dois anos, e só encontrou coisas boas. Engraçado: eu estudo a Maçonaria há muitos anos, e encontro muita coisa má...
Pontos de vista!

Mas claro: é só um romancista... Não tem nenhum outro objectivo que não seja o de entreter o leitor com ficção...

Daí aquelas páginas de prefácio, a alertar para o extremo rigor e precisão histórica e científica de todos os detalhes...

Isso também é parte do romance!

Espectadores disse...

Diogo,

Olá!
Cá vai a resposta, tardia, mas meditada! ;)

«1- acredito que os EUA foram fundados pelos ideais maconicos...praticamente todos os signatarios da carta o era, basta ver a nota de um dolar»

Essa questão é delicada. Onde estão as provas para o que afirmas? Que alguns seriam maçons, talvez seja possível afirmar com base em documentação, mas "praticamente todos"? Quais são as tuas fontes?

A nota de um dólar tem símbolos maçónicos? Quais? A pirâmide? Basta ver que a tradição hermética ocidental (Ficino, Pico della Mirandola, Giordano Bruno, Campanella) já tinha "namorado" muito com a religião egípcia e com os símbolos de origem egípcia. Isso já fazia parte do "mainstream" hermético desde o século XVI.

«todos os presidentes foram macons, excepto kennedy (que teve aqule fim)»

Bom... Todos? Como sabes isso?

«Esta e uima questao complexa. bush converteu-se ao cristianismo?»

Bush é cristão. Metodista.

«talvez, mas nao deixou de ser macon e representar varios interessos muito obscuros.»

O Bush não é maçon, que eu saiba. De onde tiras isso?

(continua)

Espectadores disse...

(continuação)

«a maconaria nao nasce do "legado" dos templarios?»

Não. O mito da origem templária da Maçonaria data do século XVIII e não tem fundamento histórico. Essa ideia nasceu na Alemanha.

«a maconaria nao tem como objectivo ultimo destruir a igreja?»

Acho que é uma frase muito radical. Certamente que se pode defender que muitos maçons tiveram e têm esse objectivo. Mas a Maçonaria não se reduz a um anti-catolicismo.

«mas ao mesmo tempo ha macons cristaos. qd na realidade sao incompativeis.»

São, realmente, incompatíveis. É preciso uma notável ginástica intelectual para se ser católico e maçon, quando todos os Papas, sem excepção, têm condenado a pertença à Maçonaria desde que ela surgiu, no século XVIII.

Abraço!

Unknown disse...

Isso também é parte do romance!

Ora até que enfim que para o Bernardo fez-se luz!!

Claro que faz parte do romance, veja por exemplo o Priorado do Sião: o que Brown relata como factos, o Bernardo afirma que são tretas. Quem estará certo? Ora se eu, depois de ler os argumentos do Bernardo, neste caso particular (e excepcionalmente…) sou forçado a inclinar-me para o lado do Bernardo, depreendo que isso é o que fará qualquer leitor minimamente curioso e interessado em aprofundar aquilo que lê. (pena, que não se faça isso com todos os livros…)

Não me choca nada que não se tenha passado exactamente assim, até porque isso não me tira um milímetro do prazer que tive a ler o romance, se assim não fosse estava a ler história e não ficções.

Agora o que me custa a acreditar é que ainda possa haver quem tenha dúvidas que os livros do Dan Brown não são romances!!

Anónimo disse...

Xiquinho:

alguem que poe no inicio do "romance" factos historicos compravado - que sao as maiores das barbaridades historicas- e, a partida, alguem de que nao e bem intencioado

bernardo:

ha muito que nao falamos e verdade!

ainhda assim nao concordo contigo em algumas coisas: mesmo sem provas, penso que a fundacao dos usa nao deixa de ser maconica transvestida de crista...o olho, a piramida...mas com o "in god we trust". que confusao, nao?

sabes melhor que eu que sao eles (macons) que mandam no planeta...especialmente a judaico-maconaria, que no meu entender nao deixa de obrigar os usa à aliança com israel. tudo questoes complexas!

grande abr

diogo

Anónimo disse...

Caros, acho um pouco desnecessário afirmar que é incompativel ser maçon e ser católico, redutor até. Diria que é incompativel ser intolerante e ser cristão ou ser assassino ou ladrão e ser cristão, não ter piedade ou gostar de provocar sofrimento e ser cristão. Essas são as verdadeiras incompatibilidades com o sentimento Cristão no meu entender. Tenho na familia excelentes exemplos cristãos e um excelente exemplo de um maçon, psicólogo, pai de familia. Quanto a Dan Brown, dá uns livros que entretêm, uns filmes que entretêm mas o conteúdo tem um tal níveld e erro histórico e ignorância, que é confrangedor. Quanto a "mexer" com a consciência dos crstãos acho que é positivomas não deveriamos precisar que essa dinâmica tivesse de vir de um escritor mediocre.

José disse...

Considero completamente infundada a alegada incompatibilidade entre a Maçonaria e a doutrina católica.

Se ela existe é certamente por confusão de quem a estabeleceu.

Desde logo, não existe tal coisa como um ideário filosófico da Maçonaria. Existem princípios,regras e rituais. Mas não existe doutrina. A Maçonaria não é uma religião nem visa usurpar o papel das religiões.

A Maçonaria é apenas (e isso já é muito) uma Via Iniciática. Enquanto tal, através de símbolos e rituais, propõe-se conferir aos seus membros ferramentas simbólicas que estes devem utilizar interiormente, de modo a aceder a um Conhecimento de natureza diferente, insusceptível de ser adquirido pela mera leitura de livros ou por via doutrinária, o Conhecimento esotérico.

Por isso, a Maçonaria não tem doutrina e é adogmática.

E apesar de ter uma matriz histórica cristã, a Maçonaria utiliza o conceito de Grande Arquitecto do Universo, para se referir ao Princípio Criador Universal, de modo tão suficientemente genérico, que permite receber no seu seio, membros de todos os credos religiosos.

A Maçonaria regular pressupõe a crença em Deus, enquanto Princípio Criador (que cada um, interiormente, representa de acordo com a sua confissão ou crença religiosa).

Neste sentido, não sendo uma religião ou seita, a Maçonaria é conciliadora entre os homens de boa vontade e, talvez por isso, consiga ser, mais eficazmente diga-se, ecuménica.

Do ponto de vista institucional, enquanto organização que é, a Maçonaria é marcada por princípios e valores morais, como a Paz entre os homens, a Tolerância, o respeito pela dignidade humana, a Liberdade,a Igualdade e a Fraternidade.

Nada disto é incompatível com a doutrina católica em particular nem com o Cristianismo em geral.

Por isso insisto que só por ignorância ou confusão se pode estabelecer uma relação de incompatibilidade entre a Maçonaria (regular)e a doutrina católica.

Não se pode generalizar o passado (ou o presente) de algumas Potências maçónicas irregulares, de modo a qualificar o que é a Maçonaria (regular), como não é a Inquisição, o comportamento pedófilo de alguns sacerdotes ou a recente iniciativa de um Pastor de queimar o Corão, que nos permite afirmar que a Religião e as Igrejas em geral são incompatíveis com a Moral e os Bons Costumes.

Na verdade, a dita incompatibilidade é infundada não só por decorrer de um vívio de generalização mas, sobretudo, de definição.

A Maçonaria é uma coisa. A Religião é outra.

Eu sou cristão e maçon e não encontro qualquer incompatibilidade neste duplo estatuto, tal como não a encontro entre ser simultaneamente filho do meu pai e pai do meu filho.

Abraço,

José

José disse...

Considero completamente infundada a alegada incompatibilidade entre a Maçonaria e a doutrina católica.

Se ela existe é certamente por confusão de quem a estabeleceu.

Desde logo, não existe tal coisa como um ideário filosófico da Maçonaria. Existem princípios,regras e rituais. Mas não existe doutrina. A Maçonaria não é uma religião nem visa usurpar o papel das religiões.

A Maçonaria é apenas (e isso já é muito) uma Via Iniciática. Enquanto tal, através de símbolos e rituais, propõe-se conferir aos seus membros ferramentas simbólicas que estes devem utilizar interiormente, de modo a aceder a um Conhecimento de natureza diferente, insusceptível de ser adquirido pela mera leitura de livros ou por via doutrinária, o Conhecimento esotérico.

Por isso, a Maçonaria não tem doutrina e é adogmática.

E apesar de ter uma matriz histórica cristã, a Maçonaria utiliza o conceito de Grande Arquitecto do Universo, para se referir ao Princípio Criador Universal, de modo tão suficientemente genérico, que permite receber no seu seio, membros de todos os credos religiosos.

A Maçonaria regular pressupõe a crença em Deus, enquanto Princípio Criador (que cada um, interiormente, representa de acordo com a sua confissão ou crença religiosa).

Neste sentido, não sendo uma religião ou seita, a Maçonaria é conciliadora entre os homens de boa vontade e, talvez por isso, consiga ser, mais eficazmente diga-se, ecuménica.

Do ponto de vista institucional, enquanto organização que é, a Maçonaria é marcada por princípios e valores morais, como a Paz entre os homens, a Tolerância, o respeito pela dignidade humana, a Liberdade,a Igualdade e a Fraternidade.

Nada disto é incompatível com a doutrina católica em particular nem com o Cristianismo em geral.

Por isso insisto que só por ignorância ou confusão se pode estabelecer uma relação de incompatibilidade entre a Maçonaria (regular)e a doutrina católica.

Não se pode generalizar o passado (ou o presente) de algumas Potências maçónicas irregulares, de modo a qualificar o que é a Maçonaria (regular), como não é a Inquisição, o comportamento pedófilo de alguns sacerdotes ou a recente iniciativa de um Pastor de queimar o Corão, que nos permite afirmar que a Religião e as Igrejas em geral são incompatíveis com a Moral e os Bons Costumes.

Na verdade, a dita incompatibilidade é infundada não só por decorrer de um vívio de generalização mas, sobretudo, de definição.

A Maçonaria é uma coisa. A Religião é outra.

Eu sou cristão e maçon e não encontro qualquer incompatibilidade neste duplo estatuto, tal como não a encontro entre ser simultaneamente filho do meu pai e pai do meu filho.

Abraço,

José