sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Richard Williamson

"O Santo Padre e o meu Superior, bispo Bernard Fellay, solicitaram que eu reconsidere as observações que fiz na televisão sueca quatro meses atrás, pois suas consequências têm sido muito pesadas.

Observando essas consequências, posso verdadeiramente dizer que lamento ter feito essas observações, e que se eu soubesse de antemão todo dano e dor que elas dariam origem, especialmente para a Igreja, mas também para os sobreviventes e parentes das vítimas da injustiça sob o Terceiro Reich, eu não as teria feito.

Na televisão sueca, eu manifestei apenas a opinião (..."eu penso"..."eu acho"...) de uma pessoa que não é um historiador, uma opinião formada há 20 anos com base nas provas disponíveis então, e raramente expressa em público desde então. No entanto, os eventos das últimas semanas e os conselhos de membros da Fraternidade São Pio X persuadiram-me da minha responsabilidade por tanto sofrimento causado. Para todas as almas que ficaram verdadeiramente escandalizadas com o que eu disse, diante de Deus, peço perdão.

Como o Santo Padre tem dito, todo ato de violência injusta contra um homem fere toda a humanidade.

+ Richard Williamson,

Londres, 26 de fevereiro de 2009."


(tradução do inglês por Zenit - www.zenit.org)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Pio XII e a conspiração para depor Hitler

Do historiador alemão Michael Hesemann, num seu artigo recente:

High Treason - Pius XII, Stauffenberg and the Conspiracy against Hitler

Although the plot of the German resistance failed, the bravery of the Pope, according to the eminent historian Harold Deutsch “one of the most stunning events in the modern history of the papacy”, reveals a lot about his character. He was anything but the coward, Rolf Hochhuth made of him in his controversial play “The Deputy”, and even less John Cornwell’s “Hitler’s Pope”. Instead, the German historian Erich Kosthorst is right with his comment:

“When the Pope ignored all justified concerns and lent through his authority the best possible credence to the German Military Opposition, than this is a statesmanlike act of the highest rank. It does not loses its importance just because it did not create the peace it was supposed to serve.”

Also the men of the plot of July 20, 1944 did not lack of heroism just because their attempt failed so tragically.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A histeria do caso Williamson

Os factos:

- o Bispo Williamson, da Sociedade de São Pio X, sociedade ainda em cisma com a Igreja Católica, faz uma série de afirmações públicas negando ou mostrando dúvida sobre a historicidade de certos factos relativos ao Holocausto

- o Papa Bento XVI, após décadas de esforços de aproximação à Sociedade de São Pio X, decide, num gesto de misericórdia, levantar a excomunhão a quatro bispos da dita Sociedade, entre os quais, Williamson

- a histeria instala-se em todos os quadrantes, católicos e não católicos, mediáticos, políticos, diplomáticos: desde os moderados que manifestam perplexidade pela decisão papal, até aos radicais que propõem que o Papa abdique

O que é que Williamson não afirmou:

- Williamson não afirmou que o Holocausto fora uma coisa boa, ou até desculpável ou compreensível: isso colocava-o numa situação incompatível com a moral católica

- Williamson não afirmou que os nazis não mataram judeus: ele afirmou que o número de mortos foi substancialmente menor que o número avançado pelos historiadores, e que não foram usadas câmaras de gás

Os erros de Williamson nesta matéria:

- são erros históricos, que podem ser um preocupante sinal da proximidade a ideias políticas de mau gosto e reputação, como a dos famigerados Protocolos dos Sábios de Sião, e outras teorias conspiratórias pouco recomendáveis

- não são erros morais, no sentido em que Williamson nunca afirmou ter concordado com os crimes morais do Terceiro Reich

- apesar de serem gritantes, os erros de Williamson não fazem dele um puro negacionista, pois ele não nega que houve Holocausto, mas sim a sua extensão e alguns dos macabros procedimentos que foram usados

- a mais elementar justiça faz com que se pondere o seguinte: há, na Igreja, pessoas em cargos de responsabilidade que perfilham ideias doutrinais e morais incompatíveis com a doutrina e com a moral católicas: tais casos são, sem sombra de dúvidas, mais graves do que o caso Williamson

O Papa errou?

- o levantamento da excomunhão foi um acto de misericórdia, que se cinge ao remover de uma pena canónica, imposta pela desobediência de Monsenhor Lefébvre e pela conivência dos quatro bispos em questão

- tal levantamento não conduz os bispos ao exercício de actividades dentro da Igreja: eles ainda fazem parte de um grupo cismático, e o cisma não foi resolvido

- é para todos evidente que o Papa não pode concordar com as posições pessoais do bispo Williamson sobre o Holocausto; é claro o aviso recente do Papa a Williamson, de que este deve rejeitar tais posições sobre o Holocausto, bem como as suas ideias cismáticas, para poder exercer um cargo na Igreja

- por tudo isto, o Papa não errou, nem nas intenções nem nas acções que tomou; apesar de ser sensato supor que a gestão interna e externa deste caso possa ter sido mal conduzida por certos órgãos da Curia Romana

O que está por detrás da histeria?

Na Alemanha, figuras importantes como os bispos de Hamburgo, e de Rotemburgo-Estugarda confessaram sentimentos de "incerteza, incompreensão e decepção" e ainda constataram "uma óbvia perda de confiança" no Papa Bento XVI. Um teólogo alemão, Hermann Haering, chegou à posição extremista de pedir que Bento XVI resignasse "para fazer algum bem à Igreja".

O que está por detrás disto tudo?
Muitos jornalistas explicaram estas posições radicais por parte de prelados e teólogos alemães recorrendo ao facto de que o negacionismo é crime na Alemanha. Isto explica? Eu acho que não.

A explicação parece estar noutro lado: a já velha tradição de alguma teologia alemã em contestar a doutrina católica, com este caso Williamson, veio toda cá para fora e resolveu, atraída pelos microfones e pelas câmaras de televisão, dar um ar da sua graça.
É inegável o aproveitamento deste caso por parte dos ditos "católicos liberais", termo vago que se refere aos católicos que contestam o catolicismo. Para mim, é isso que se torna claro como a água nesta histeria em torno de Williamson, que noutro contexto mais não seria do que uma pessoa com ideias tontas acerca do Holocausto: este caso, e a reacção histérica a ele, não é mais do que um sinal das forças de bloqueio ao Papa que ainda estão vivas, apesar de mais moribundas do que há trinta anos.

Para o papado, para o primado de Pedro na Igreja Católica, é muito maior o risco extremista e auto-destrutivo dos teólogos "liberais", que nestas ocasiões são os primeiros a lançar pedras ao Papa, do que as tontices que Williamson disse sobre o Holocausto.

Como católicos, devemos estar atentos a uma certa atitude malsã contra a Sociedade de São Pio X. Se há algo que me divide, como católico, dessa cismática sociedade é a atitude por ela demonstrada de desobediência ao Papa e de não aceitação do Concílio Vaticano II. São pontos graves, estes, que separam católicos de lefebvristas, mas devemos estar atentos aos imensos pontos que nos unem, em termos de tradição católica, de doutrina, de fé sincera e coerente, de amor a Cristo.

Há muita gente, "soi-disant" católica, que baseia a sua raiva malsã contra os lefebvristas, não sobre os pontos importantes que acima referi, mas sobre uma evidente agenda modernista, que promovem abertamente em contradição com a doutrina católica que se dizem professar.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Aborto e clonagem

Na perpétua saga de tentar explicar que a minha oposição ao aborto se baseia em argumentação racional e científica, e não em argumentação religiosa, deparei-me há umas semanas atrás com um argumento novo, em contrário, que me foi referido pelo Ricardo Silvestre, do Portal Ateu.

Ao que parece, eu estaria a basear-me na presença do genoma humano no zigoto para daí fazer derivar o direito à vida, pelo facto de esse zigoto ser humano. O Ricardo avançou então com este argumento pela redução ao absurdo: se a presença do genoma humano estabelece a presença de um ser humano e do respectivo direito à vida, então qualquer célula do nosso corpo, dotada de ADN humano, teria que ser reconhecida como ser humano e receber o decorrente direito à vida.

Ora o argumento não colhe.

Em primeiro lugar, não é dito que a mera presença de ADN humano permita aferir a presença de um ser humano completo e do respectivo direito à vida. Na verdade, a argumentação que defendo não parte daí. Parte da constatação de que, na fertilização do ovócito pelo espermatozóide, há uma mudança substancial, que deriva da recombinação genética. O genoma do zigoto, mantendo-se todavia humano, é substancialmente diferente do genoma do seu pai ou da sua mãe: é, na verdade, a recombinação de 23 cromossomas do pai com 23 cromossomas da mãe. Ora esta mudança substancial é concomitante com a activação de um organismo novo, independente, autónomo e auto-regulado. Por independente, quero dizer que durante o resto da sua vida, o zigoto não receberá novo material genético: é um ser vivo individual e distinto dos outros.

Por isso, as primeiras constatações são: a) mudança substancial na fertilização, que distingue radicalmente o par espermatozóide/óvulo do zigoto unicelular; b) presença de um novo organismo vivo auto-regulado.

É só no passo seguinte do raciocínio que, atendendo à sua estrutura genómica, se vai aferir que essa nova vida individual e autónoma é humana, e não qualquer outro tipo de vida animal.

Daqui decorre que não é por ter genoma humano que o zigoto tem direito à vida: é, em primeiro lugar, por estar vivo e ser autónomo, por ser distinto das células zigóticas do seu pai e da sua mãe. Este é o ponto de partida, mas não basta: não consideramos que todos os seres vivos têm direito à vida. Então acrescenta-se o facto essencial de que esse ser vivo, individual e autónomo pertence à espécie Homo Sapiens, logo, beneficiará dos direitos universais que reconhecemos aos da nossa espécie.

Em segundo lugar, toma-se o caso da clonagem. Como no caso do gémeo verdadeiro (monozigótico), também o clone tem exactamente o mesmo genoma que o clonado. No entanto, ninguém discorda de que, em ambos os casos, estamos perante seres distintos, apesar de possuírem genomas idênticos.
Mas vejamos o argumento avançado pelo Ricardo: se eu posso, alegadamente, vencendo barreiras técnicas, criar um clone de um ser humano a partir de uma qualquer célula, mesmo não zigótica, do seu corpo, então deveria reconhecer a essa célula um estatuto especial de ser humano com direito à vida?
Claramente não: pegando no que se disse atrás, é a presença de um organismo inteiro, individual e autónomo que é o ponto de partida. Ora, uma célula do nosso corpo é parte de nós, é parte do indivíduo autónomo e inteiro que somos. Nenhuma célula nossa constitui um novo indivíduo com direito à vida.

O essencial está em analisar o que se faz na clonagem com base em células não zigóticas: retira-se o núcleo cromossomático de uma célula do clonado, esvazia-se o núcleo de um zigoto monocelular, e coloca-se no seu lugar o núcleo extraído da célula do clonado. Depois, activa-se, mediante técnicas adequadas, o processo de desenvolvimento embrionário do clone.

Ora esta activação é essencial: deixada entregue a si mesma, nenhuma célula do nosso corpo, nem mesmo as zigóticas, tem a capacidade para se desenvolver num indivíduo novo e autónomo. Por essa razão, a reprodução na nossa espécie é sexuada e não assexuada: é necessária a conjugação de gâmetas femininos com gâmetas masculinos. O processo da clonagem introduz aqui a "batota" que inviabiliza o argumento avançado pelo Ricardo: o clone só se começa a desenvolver porque, para além da manipulação da troca dos núcleos (manipulação artificial e voluntária), o zigoto monocelular ainda será activado de forma artificial e voluntária.

Essa activação corresponde a uma mudança substancial, para todos os efeitos análoga à que se dá com a fertilização. E é por essa razão óbvia que o clone se desenvolve à semelhança de um zigoto obtido por fertilização natural.

A clonagem não muda uma vírgula à argumentação racional jusnaturalista, que afirma que o aborto provocado é um crime pelo facto de constituir a destruição desejada de um ser humano com direito à vida.