domingo, 27 de junho de 2010

O beijo de Judas?

Em Fátima, o Papa Bento XVI disse isto:
«As iniciativas que visam tutelar os valores essenciais e primários da vida, desde a sua concepção, e da família, fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher, ajudam a responder a alguns dos mais insidiosos e perigosos desafios que hoje se colocam ao bem comum. Tais iniciativas constituem, juntamente com muitas outras formas de compromisso, elementos essenciais para a construção da civilização do amor.» - Papa Bento XVI, 13 de Maio de 2010, Fátima, Encontro com as organizações da Pastoral Social.

Recentemente, um dos Bispos da Igreja Católica disse isto:
«D. Januário Torgal Ferreira: (...) Para mim, independentemente do conteúdo - eu não concordo com a noção de casamento -, concordo e aceito um homem que viva com um homem e uma mulher que viva com uma mulher. (...)

Entrevistador: A Igreja acolhe os homossexuais, na verdade. Desde que não pratiquem a sua homossexualidade...

D. Januário Torgal Ferreira: Com certeza que um casal homossexual não é um teórico, não é? E os afectos traduzem-se por essa prática, por essa fusão psíquico-afectiva da unidade misteriosa que é o ser humano.»
- Entrevista do Jornal i ao Bispo D. Januário Torgal Ferreira

Terá D. Januário beijado o anel do Pescador quando, juntamente com os Bispos portugueses, se encontrou com o Papa Bento XVI? Em nome da decência, esperemos que não.

14 comentários:

Anónimo disse...

"concordo e aceito um homem que viva com um homem e uma mulher que viva com uma mulher."

Ele disse vivam, vivam.Cada um vive com quem quer, o que você tem contra? não podem viver assim.

Espectadores disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Espectadores disse...

Caro Anónimo,

«Ele disse vivam, vivam.»

Pois foi. E logo a seguir, disse: "Com certeza que um casal homossexual não é um teórico, não é?", ou seja, a referir-se claramente à prática do sexo homossexual.

«Cada um vive com quem quer, o que você tem contra?»

Eu não estou a dizer à Polícia para prender e açoitar os homossexuais que praticam sexo homossexual. Estou a dizer uma verdade, que nem sempre é evidente: que o sexo homossexual é imoral e perverso. Não quero com isto dizer que pessoa tal, só por praticar sexo homossexual, é uma pessoa perversa. Não estou a avaliar pessoas, mas sim actos. O sexo homossexual, por perverter totalmente a finalidade unitiva da sexualidade humana, é uma perversão, e por isso, uma imoralidade.

É triste um Bispo não saber isto.
Mas os fiéis não são obrigados a engolir disparates, mesmo que saiam da boca de um Bispo.

Um Bispo só goza da infalibilidade ordinária do Magistério quando ensina doutrina unido ao Papa. Ora, este "ensinamento" do Bispo D. Januário é tudo menos unido ao do Papa.

Cumprimentos

Anónimo disse...

(“que o sexo homossexual é imoral e perverso......... O sexo homossexual, por perverter totalmente a finalidade unitiva da sexualidade humana, é uma perversão, e por isso, uma imoralidade.”)

Mas isto só é válido para si e para quem perfilha dos seus valores, O bispo sabe isso, como bispo, mas também falou separando aquilo em que a igreja não abdica, como alguém que compreende os seres humanos vivendo numa outra realidade, não sob regras católicas e que existem e tem direito a viver, e sem ser ingénuo pensando na castidade desses casos . Por isso separou o viver do casar, embora o casar civilmente não diga respeito nenhum a igreja.

Espectadores disse...

Caro Anónimo,

«Mas isto só é válido para si e para quem perfilha dos seus valores»

Errado. Isso chama-se relativismo, e é uma trampa de filosofia.

Das duas uma: ou o sexo homossexual é moral, ou é imoral. Só isso. É o tipo de coisas que não se decide por opinião. Uma coisa é o gelado de baunilha: ou gosto ou não gosto. Outra coisa é o valor moral dos actos humanos. Ou o sexo homossexual é aceitável ou não é.

«O bispo sabe isso, como bispo, mas também falou separando aquilo em que a igreja não abdica, como alguém que compreende os seres humanos vivendo numa outra realidade»

Mas qual outra realidade?
Acaso vivemos em universos distintos? Se roubar e matar são coisas erradas, sempre e em toda a parte, também se pode avaliar moralmente outro tipo de actos humanos, como por exemplo, o sexo.

«não sob regras católicas »

Veja que eu não dei argumentos de fé, e expliquei bem porque é que o sexo homossexual é imoral: porque perverte a finalidade da sexualidade humana, que consiste na união de homem com mulher com vista a gerar vida nova. Caramba, abra os olhos: é para isso que temos órgãos sexuais, ou acha que não?

Estômago serve para quê? Para digerir ou para outras coisas? E o olho, serve para quê? Para ver ou para outras coisas?

Evidentemente, o sexo homossexual é um uso ERRADO dos nossos órgãos sexuais. Não é assim que devemos viver a nossa sexualidade.

Isto não é fé.
É biologia.

Montes de gente tem a mania de achar que a imoralidade da homossexualidade é um bocado como a imoralidade do aborto: é crença de católico. Bolas, não é crença de católico: é verdade objectiva que qualquer pessoa inteligente, e amante da verdade, consegue entender.

Só que há pessoas, como você, que aceitam que a vontade humana se possa sobrepor à verdade e à realidade das coisas. Você aceita que, se o homem (ou a mulher) quiser, pode distorcer a sua sexualidade em algo que ela não é, e forçar os seus órgãos sexuais a fazer algo para o qual eles não estão preparados nem foram desenhados.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Mas é que é verdade meu caro quer queira quer não a vontade humana molda a realidade das coisas, só não molda aquilo que por lei natural fisica ou matematica se torna impossivel o ser humano moldar.
E pode distorcer a tal sexualidade que voce acha que não por uma questão natural, desde que isso não seja crime, seja consentido, e de prazer a ambos, esta a ver como é facil.

Anónimo disse...

o Bernardo e o sexo oral distorce a realidade

Anónimo disse...

O anonimo de cima fez-me lembrar que os indios americanos não conheciam o beijo. Quando os europeus lhes apresentaram essa pratica muitos desses indios acharam-na imoral.
Não sei qual a opiniao que o Bernardo tem sobre o beijo, mas partindo do principio que os labios servem para comer e falar, e que essa pratica não é unitiva nem gera vida, o Bernardo por amor á coerencia terá que condenar o singelo beijo.

Eduardo Santos

O Sousa da Ponte - João Melo de Sousa disse...

A questão de certo e errado na sexualidade é interessante. Se há faceta do ser humano que as religiões controlem o sexo deve ser a mais profunda.

Nem Freud falou tanto de sexo.

Eu nem consigo perceber, francamente, que diferença moral possa existir entre uma mulher que tem o período menstrual muito certo abster-se de receber esperma na vagina nos dias que sabe não ser possível a fecundação e outra que toma a pílula.

Ou qual o fundamento para que uma prática sexual cujo fim não é a reprodução (sexo nos dias inférteis da mulher, ou na menopausa por exemplo) ser moralmente mais defensável, ou menos, que outra que dê prazer aos dois e igualmente não tenha como fim a reprodução.

E parece-me extremamente complicado afirmar que o sexo oral, por não utilizar os órgãos sexuais para a sua principal utilidade, é menos ético que uma pessoa que sabe ser estéril ter uma relação sexual que sabe que não pode ser fértil.

É que nesta lógica o beijo é a utilização das bocas para um fim diferente da sua principal utilidade. E como tal imoral.

Se calhar o problema está em se tentar adaptar aos tempos presentes textos muito antigos que fariam todo o sentido no seu tempo mas que agora necessitam duma adaptação.

Anónimo disse...

Gelado de baunilha por acaso é um bocado abixanado...

O Bispo Torgal Ferreira é dos Homens da Igreja mais esclarecidos que existem em Portugal. É por pessoas como ele que ainda não quebrei por completo as amarras com uma Instituição decadente e totalmente desfazada da realidade.

João Silveira disse...

O Sousa da Ponte diz que não percebe, mas eu pergunto o que é que já leu para tentar perceber? Ou será que o conhecimento aparece por magia?

Espectadores disse...

Caro Sousa da Ponte,

Eu teria todo o gosto em responder às suas contestações, e irei fazê-lo, mas atempadamente, num artigo consistente que planeio escrever, acerca de ética sexual.

Porém, no entretanto, para que possa melhor compreender os argumentos jusnaturalistas que estão por detrás da minha posição, deixo apenas esta dica: a argumentação que uso não é religiosa, escriturística, ou teológica. É legítimo usá-la, pois eu considero que se retiram normais morais das Sagradas Escrituras. Os protestantes baseiam em grande parte a sua argumentação contra a sexualidade não conjugal nas Sagradas Escrituras, e eu não estou a dizer que fazem mal.

Apenas friso que a argumentação católica é mais potente, pois:

a) aceita a argumentação escriturística e teológica, em resumo, o Homem deve agir segundo as leis de Deus

b) junta-lhe a argumentação jusnaturalista, que nada tem de religioso

O católico tem assim dois tipos de argumentos para a sua posição: argumentos teológicos e argumentos jusnaturalistas.

Sugiro a leitura deste artigo ESSENCIAL. Este artigo de uma das figuras proeminentes do jusnaturalismo contemporâneo marca a posição da argumentação não religiosa a que me refiro.

A Igreja Católica, ao pronunciar-se sobre moral sexual, não tem feito outra coisa senão recorrer a argumentos não teológicos. As pessoas teimam em dizer que a moral sexual dos católicos é toda baseada nas Escrituras, e que são textos antigos que importaria rever.

Por uns breves instantes, suponhamos que os argumentos teológicos eram todos revistos, e que toda a tradição teológica católica sobre moral sexual ia para o lixo.

Ainda ficavam os argumentos jusnaturalistas, que podem ser reconhecidos por qualquer pessoa racional, que entenda a sua força argumentativa e a sua verdade.

É precisamente porque os argumentos jusnaturalistas são mais eficazes, pois não pressupõem uma fé católica, que eu os prefiro.

Eis, então, o célebre artigo de Finnis, "Law, Morality and 'Sexual Orientation'":

http://web.mit.edu/anscombe/www/finnisorientation.pdf

Vale a pena imprimi-lo e lê-lo várias vezes se necessário.

Cumprimentos

Espectadores disse...

Nota: eu não concordo 100% com o Finnis, mas concordo 99% com ele. A minha posição é mais próxima da do Robert P. George, que não concorda com a recusa de Finnis em aceitar legislação contra práticas imorais privadas.

O Sousa da Ponte - João Melo de Sousa disse...

Obrigado. Vou ler.

Eu devo esclarecer que não sou religioso mas também não sou anti-religioso. Arrepiam-me certas práticas religiosas (IURD´s e comandita) e penso que alguma regulamentação nesta área não faria mal a ninguém.

A minha formação de base é a psicologia e a sociologia e, talvez por isso, seja um bocado avesso a verdades absolutas.

Quanto à existência de Deus (ou Deuses), depois da mecânica quântica, nem me parece mais estranho, ou menos, que alguns conceitos de física actual.

Embirro com o CTJ´s não pela sua fé mas pela ignorância que tentam espalhar.

Um pormenor final : Cristo, como é descrito nos Evangelhos, é um personagem simpático - sendo ou não um Deus - Paulo já me parece um bocado mais misógino.

Opinião de quem leu a Bíblia um bocado na diagonal e não na totalidade.

E que de exegese de textos antigos e de ponto de cruz nada percebe....

E, voltando à oral sexual passa na nossa geração - a dos cotas - um fenómeno talvez único em toda a história da humanidade:

Nascemos num paradigma e interiorizam-lo e durante a nossa vida ele está a mudar várias vezes...

E até é um bocado complicado, pelo menos para mim, distinguir o certo e o errado...