terça-feira, 9 de novembro de 2010

Um dia na Jerusalém Celeste

(foto: J. Salmoral)

Não sei explicar o que se passou no passado dia 7 de Novembro, na missa de dedicação da nova Basílica da Sagrada Família, em Barcelona, presidida pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI. Só sei que gostava de lá ter estado. Aqui fica um vislumbre de um dia na Jerusalém Celeste. O cenário é, claro, a magnífica obra do grande Antonio Gaudí, o justamente chamado "Arquitecto de Deus". O que se segue é o texto, retirado do Missal, do momento da iluminação do altar e da igreja. Ver o vídeo deste exacto momento aqui. O cântico Alça’t ja, Jerusalem é magnífico, quer pela beleza da língua catalã, quer pela música em si mesma.

Barcelona, 7 de Novembro de 2010, Igreja da Sagrada Família

Iluminação do Altar e da Igreja

O Santo Padre entrega uma vela acesa a um diácono, dizendo:

Que brilli en l’Església la llum de Crist,
perquè tots els pobles arribin
a la plenitud de la veritat.


Doze seminaristas ajudam à iluminação plena da Igreja: é a imagem da presença de Cristo, luz do mundo, na assembleia, e também da luz que estamos chamados a irradiar, assim como da glória luminosa do Céu. Enquanto se leva a cabo esta iluminação e ornamentação do altar e da Igreja, o povo dos fiéis canta: Alça’t ja, Jerusalem:

Alça't ja, Jerusalem, sigues radiosa!
Car ha vingut del cel una llum clara,
perquè il·lumini els pobles de la terra;
ens ve a portar el goig, la veritat.
Alça't ja, Jerusalem, perquè el Senyor ha vingut a tu.


1. La tenebra s'estén damunt la terra,
tots els pobles es perden en la nit.
Però a tu, el Senyor un jorn vindrà
i sa glòria en tu resplendirà.
Jerusalem, desvetlla't ja.

2. D'Orient cap a tu vénen fent via
tots els pobles, portant els seus presents.
Car en tu ha nascut un Déu Infant,
el Messies pel món tan esperat.
Jerusalem, desvetlla't ja.

3 comentários:

Luis disse...

Caro Bernardo,

Depois de ter visto as fotografias das belas Igrejas medievais, contidas no livro "The Foundations of Christian Art" de Titus Burckhardt, aquela Igreja do Gaudi parece-me, em comparacao, uma coisa titanica, monstruosa e opressiva com um visual a Dali. Se nao puder comprar o livro, procure na net fotos das seguintes Igrejas:

Catedral de Monreale, seculo 12
Igreja de Santa Constanza, seculo 4
Catedral de S Marcos, seculo 11
Santa Capela, seculo 13
Abadia de Fontenay, seculo 12
Catedral de Rheims, seculo 13

Luis

Espectadores disse...

Caro Luís,

Obrigado pelo seu comentário.
Sem querer discutir gostos, que por definição não se discutem, eu discordo. Sem deixar de gostar, e muito, da estética românica, da estética gótica, da estética renascentista, da estética clássica, eu também gosto muito do estilo de Gaudí.

O projecto do Templo Expiatório da Sagrada Família é uma coisa de tal forma louca e ousada que tem que ter algo de divino como inspiração. E a vida de santidade de Gaudí é disso testemunho. Ele procurava ser genuíno e honesto com a sua arte, e procurava que essa arte fosse um reflexo do Criador. Eu acho que ele o conseguiu, sobretudo nesta sua obra, que é a sua obra-prima.

Não acho, sequer, justa a comparação com Dali. Eu, por exemplo, não gosto de quase nada do Dali.

Em relação à estética de uma Igreja, eu penso que o essencial tem de estar nestes pontos:

a) perfeito encaixe entre a arquitectura e a liturgia

b) honestidade do artista e procura séria de um ideal de beleza

A beleza final do Templo da Sagrada Família poderá ser matéria de opinião. Já vi que não gosta. Mas não me parece que se possa negar que se trata de arte honesta, e de que há um perfeito encaixe entre arquitectura e liturgia. O simbolismo complexo e profundo do Templo Expiatório da Sagrada Família é prova clara de que Gaudí tinha a doutrina e a liturgia cristã em mente quando planeou todos os detalhes do projecto.

Um abraço!

Bernardo

PS: Admiro bastante a obra de Titus Burckhardt, assim como respeito a corrente tradicionalista à qual ele pertence, mas nem sempre partilho de um por vezes excessivo antimodernismo deste autor, e de outros autores da mesma corrente tradicionalista. Apesar de existir muita arte moderna que é má, não me parece que faça sentido afirmar que toda a arte moderna é má por ser moderna, uma posição na qual muitos antimodernistas acabam por cair.

Espectadores disse...

PS2: Já estive fisicamente em Reims e São Marcos, ambos templos magníficos. Juntaria Chartres. Conheço a estética da abadia de Fontenay e da Sainte Chapelle de fotografias. Os outros dois exemplos que dá, não os conheço, mas vou procurar. Porventura, gostarei de todos os exemplos que deu. Mesmo assim, tenho uma admiração imensa pela Sagrada Família.