quarta-feira, 20 de abril de 2011

Castelnuovo-Tedesco - Concerto N.º 1 para Guitarra e Orquestra



Este é o segundo andamento do Concerto N.º 1 para Guitarra e Orquestra, Op. 99 em Ré Maior, do compositor florentino Mario Castelnuovo-Tedesco (1895-1968), composto em 1939. A interpretação é da guitarrista Irina Kulikova.
Este Concerto é magnífico e dispensa comentários.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Heitor Villa-Lobos - Prelúdio n.º 1



Acabo de descobrir esta rara interpretação do Prelúdio N.º 1 de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), e também esta guitarrista: a francesa Ida Presti (1924-1967). Uma interpretação espantosa (apesar da má qualidade da gravação), que revela a técnica e a intuição musical de uma guitarrista extraordinária. Este prelúdio faz parte de uma série de cinco prelúdios escritos pelo compositor carioca, em 1940, e dedicados à sua segunda mulher, Mindinha (Arminda Neves d'Almeida).

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"Nós somos Igreja" - relato de um confronto

«There can be no combination on the basis of truth without an organ of truth» - Beato John Henry Cardeal Newman (1801-1890)

No passado Sábado, dia 2 de Abril, teve lugar no Convento de São Domingos um debate intitulado O Concílio Vaticano II: onde está?, organizado pelo movimento "Nós Somos Igreja". A minha primeira reacção à notícia deste debate, via Agência Ecclesia, foi de espanto e de indignação. Estava, e ainda estou, indignado com o facto de uma agência noticiosa católica dar cobertura a um evento herético.

A palavra "herege" ainda assusta muita gente. E há boas e más razões para tal. As boas razões são evidentes: as heresias ferem a unidade eclesial e colocam os seus defensores numa indesejável situação espiritual. As más razões são menos evidentes, e prendem-se com o desconhecimento do significado do adjectivo "herege" ou do substantivo "heresia". Ambas as palavras têm uma origem etimológica no conceito de "escolha", e assim designam aqueles cristãos que optam por doutrinas diversas da que nos une. Quando alguém que pertence à Igreja de Cristo opta por uma doutrina diferente da doutrina cristã, é essa opção herética que é a causa da exclusão dessa pessoa da unidade eclesial. É quem diverge da doutrina que se exclui. Então, erram todos os que julgam que é a Igreja que exclui os hereges. Os hereges é que se auto-excluem da unidade eclesial. E enquanto que o acto de heresia, hoje em dia, é bem visto (parece "moderno"), paradoxalmente fica mal visto quem chama as coisas pelo seu nome. E raramente se censura o cristão que, persistindo na heresia, pretende arrastar mais cristãos com ele. E raramente se avaliam com seriedade os enormes riscos para a unidade eclesial de toda e qualquer iniciativa herética. Quando as ideias heréticas almejam, frequentemente, ter voz activa na Igreja, e mobilizam, também frequentemente, os poderes mediáticos para promover tal fim, o cristão tem o direito e o dever de levantar a sua voz. O Vaticano II, pelo destaque que dá ao papel dos leigos, legitima-nos a levantar a voz em defesa da unidade eclesial e contra aqueles que a pretendem ferir.

Contra uma errada dicotomia, que pretende o confronto entre o Magistério e o dito "Povo de Deus", o comum dos fiéis, que faz parte do Povo de Deus (sim, também fazemos parte!), tem o direito de levantar a sua voz e de dizer que, por acaso, até está com o Magistério da Igreja, que está com o Santo Padre e com os Bispos a ele unidos, e que lhes quer bem. Não por eles serem excelentes pessoas (que muitas vezes são), mas porque a eles corresponde, por mandato divino, a difícil e nobre missão de preservar, transmitir e ensinar a doutrina que nos foi legada por Jesus Cristo, Senhor Nosso.

Considero que seria faltar à caridade cristã ficar-me apenas pelo comentário blogosférico, ou ficar-me pelo "e-mail" que escrevi à Agência Ecclesia, a protestar pela divulgação do dito evento promovido pelo movimento herético "Nós Somos Igreja". Qualquer cristão, em podendo, não foge a dar a cara pelas suas convicções. E foi por isso que me dirigi, no passado Sábado, à casa dos Dominicanos em Lisboa, junto à Avenida Lusíada, para escutar o dito debate, cujo tema era o Concílio Vaticano II.

Entrei na sala do debate com genuíno espírito de escuta. Escutei atentamente, com respeito, e com o coração aberto, todos os oradores do painel. Apesar da seriedade do tema, e das minhas discordâncias de fundo, não deixei de sorrir quando surgiram legítimas razões para tal: quando os participantes do debate disseram coisas com as quais concordava, acenei com a cabeça e manifestei discretamente a minha concordância pontual. Nunca deixei de os ver como meus irmãos em Cristo, como são todos os baptizados. E que não haja a menor dúvida de que a minha atitude, a minha presença, as minhas críticas, só fazem sentido se eu os considerar como tal. Alguém que não é cristão não poderia ser chamado de herege, logo, se uso o termo herege para adjectivar os apoiantes do movimento "Nós Somos Igreja" isso implica, forçosamente, que eu os veja como meus irmãos. Para além disso, o cristão, quando critica, quer corrigir o que está errado. E essa atitude é sempre uma atitude de caridade, e que deve ser caritativa, quer na forma quer no conteúdo. Ora, o acto de tentar corrigir uma heresia é sempre caritativo no conteúdo, mas deve também ser na forma, e nem sempre o é. Precisamente para eu tentar escapar a minha tendência para a escrita agressiva, e para contrariar a minha tendência para a soberba, optei por estar presente no debate, por estabelecer o contacto pessoal, por ver e debater com os meus irmãos olhos nos olhos.

Ouvi muitas coisas de que não gostei, sobretudo porque eram coisas que traíam os ensinamentos de Cristo e feriam a Igreja e a unidade eclesial. Mas, em verdade, também ouvi algumas coisas de que gostei. Pelo que a minha impressão geral, depois de conhecer os membros e apoiantes deste movimento, é a de que parecem ser pessoas empenhadas, que procuram o bem e a justiça, e que só por isso, merecem pelo menos a nossa consideração e a nossa fraternidade. No entanto, por detrás das melhores intenções, estão medidas inaceitáveis, resumidas na já bem conhecida Petição do Povo de Deus. Tais medidas atacam, uma a uma, matéria doutrinal e moral há muito definida pelo Magistério (ver, por exemplo [1], [2], [3] e [4]). Então, a mera proposta dessas medidas tem que ferir a unidade eclesial, no sentido em que um cristão que propõe medidas que visam inverter decisões definitivas do Magistério é sempre um cristão que não aceita o Magistério enquanto tal. E aqui reside o cerne da heresia: a rejeição do Magistério, a rejeição do ministério episcopal de ensinar doutrina e costumes, ministério esse que cabe, por mandamento divino, ao Papa e aos Bispos a ele unidos.

Tentarei, de memória, comentar alguns aspectos das várias intervenções do painel de quatro oradores que compuseram a segunda parte do evento (apenas assisti a esta segunda parte). Em primeiro lugar, perturbou-me que o debate fosse unilateral: todos os intervenientes estavam em sintonia, quer entre si, quer com o moderador, o jornalista Manuel Vilas Boas, que para lá de meramente moderar, manifestava frequentemente a sua opinião, constituindo como que um quinto orador, mesmo que ocasional. Frei Bento Domingues, teólogo que já critiquei repetidas vezes neste blogue, estava presente mas não se manifestou oralmente, por não fazer parte do painel. Era, no entanto, notória e sabida a sua concordância com as opiniões emitidas durante todo o debate.

Antes de abrir a segunda parte do debate, por volta das 17 horas, o moderador pediu a Frei Mateus Peres, O.P., que fizesse uma intervenção. Frei Mateus Peres foi sintético: usou a expressão forte de "fracasso da aplicação do Vaticano II" para caracterizar a situação actual da Igreja Católica. Achei extremamente exagerado e injusto, dado que, quer Paulo VI, quer João Paulo II, dedicaram a maior parte dos seus papados à aplicação das decisões do Vaticano II. Seria precipitado dizer que tudo o que saiu do Vaticano II foi aplicado. Por exemplo, e só para dar um exemplo, a recomendação de dar o lugar primordial ao canto gregoriano, nas celebrações litúrgicas, é algo que ainda hoje está apenas a dar os primeiros passos. Mas entendi a mensagem de Frei Peres: a teologia dita "progressista" ou "liberal" quis sempre usar o Vaticano II para criar uma ruptura com a Tradição da Igreja com o objectivo de agradar ao Mundo. E, não satisfeita por não ter conseguido fazer embarcar os Pontífices nessa trajectória, essa teologia persiste em afirmar que o Vaticano II não foi aplicado. No entanto, existe ainda outra injustiça: é que os teólogos progressistas ou liberais tiveram a sua oportunidade para mudar a Igreja no sentido que desejavam, e nesse aspecto não fizeram cerimónias: exerceram várias décadas de influência junto dos seminários, das universidades católicas, das paróquias, dos institutos culturais da Igreja, dos "media" da Igreja, e finalmente das ordens religiosas, tendo mesmo entrado em algumas ordens de forma tão profunda que abalaram os seus alicerces e modificaram substancialmente os seus carismas. É caso para dizer que o grande São Domingos, se estivesse vivo, nunca teria permitido este debate de Sábado na sua casa.

O resultado está à vista há vários anos: o último quarto do século XX ficará retratado, na história da Igreja Católica, como um período triste pela desertificação dos seminários, das paróquias, pela erosão da fé, pela banalização da liturgia, pela perda de cultura católica, pela redução do número de baptismos, de matrimónios, pela secularização generalizada da Igreja. Têm, a meu ver, razão aqueles que ligam causalmente esta secularização interna que marcou o último quarto do século XX ao fenómeno imoral dos abusos sexuais no seio da Igreja Católica, que marcou o mesmo período.

Seria, então, caso para perguntar a Frei Peres: não tiveram já tempo demais, os ditos "progressistas", os ditos "liberais", para fazerem as suas experiências? Não estão os frutos à vista? É preciso prosseguir com a sangria, e deixar a Igreja ainda mais moribunda? Claro que não. E Paulo VI, traído por inúmeros teólogos e sacerdotes, entendeu isso. E João Paulo II também. E por isso, ambos os pontífices seguiram o rumo correcto: aplicaram o Vaticano II como o Concílio que foi: um Concílio de continuidade com a tradição da Igreja. Um Concílio de abertura ao Mundo, mas sem deixar que a Igreja se tornasse no Mundo, uma abertura sem perda de continuidade, sem perda de carisma, sem perda de identidade. O legado de Paulo VI e de João Paulo II é demasiado valioso para ser trivializado. Estes Papas conduziram a barca de Pedro em direcção ao século XXI, e deixaram a Bento XVI uma Igreja que reencontrou a sua identidade, depois dos "abanões" dos anos 60 e 70. Eles salvaram a Igreja de um descarrilamento desastroso, e fizeram-no com toda a coerência: aplicando o Vaticano II. A verdade histórica vai, então, contra a afirmação peremptória de Frei Peres.

O moderador passou, depois, a palavra à pintora Emília Nadal. Confesso que foi a oradora por quem senti menos empatia e simpatia, e explico brevemente as minhas razões. Em primeiro lugar, a oradora usou boa parte do seu tempo para auto-elogiar a sua alegada (que não tenho bases para negar) influência junto do Papa João XXIII, nomeadamente em matéria de recomendação, junto do Papa, de figuras do clero nacional. Não lhe ficou bem. A certa altura, a oradora vincou o legado do Vaticano II em termos do destaque dado à Palavra de Deus. Achei curiosa esta menção, dado que boa parte das propostas do movimento "Nós Somos Igreja", conforme descritas no texto intitulado Petição do Povo de Deus, são manifestamente contraditórias com o Novo Testamento e com os ensinamentos de Jesus:
  • A escolha, por Jesus, de doze apóstolos do sexo masculino, em contradição com o pedido do movimento para o estabelecimento da ordenação sacerdotal de mulheres; esta tradição, que permeia todos os Quatro Evangelhos nas inúmeras vezes em que se dá destaque ao grupo dos Doze, volta a ser reforçada nos Actos dos Apóstolos, quando o grupo, reduzido a onze (devido à traição de Judas Iscariotes), decide escolher um novo apóstolo para ocupar o lugar de Judas; logo no primeiro capítulo dos Actos dos Apóstolos, vemos Pedro a tomar a palavra (exercendo o seu papel de cabeça do colégio apostólico) e a estipular que se escolha um substituto de entre os varões que testemunharam a ressurreição de Cristo (a palavra "viris" surge clara no versículo 21 da Vulgata): de entre as opções de José Barsabas, o "Justo", e Matias é escolhido este último;
  • O ensinamento claro de Jesus, que classifica a situação dos recasados como sendo uma situação de adultério, em contradição com o pedido do movimento de que os recasados possam aceder à Eucaristia; sobre isto, o movimento está totalmente enganado: a Igreja não exclui os recasados, como também não exclui os pecadores: uma coisa é excluir o pecado, outra é excluir os pecadores; não são só os recasados que não podem aceder à comunhão, mas sim todos os fiéis que estejam em situação de pecado mortal (cfr. 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios, 11, vs. 27: "Assim, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor.");
  • O ensinamento claro de Jesus acerca do matrimónio como união de carne entre um homem e uma mulher, em contradição com o pedido do movimento para uma "tolerância" em matéria de sexo extra-marital (seja ele heterossexual ou homossexual).

Depois, no discurso de Emília Nadal, seguiu-se um trecho simplesmente lastimável, no qual a oradora feriu gratuitamente as gerações mais novas, considerando-as "superficiais" e "desinteressadas". Haverá, certamente, alguma verdade nas suas palavras: em todas as gerações, há sempre pessoas superficiais e desinteressadas. Mas é fatal, e a história repete-se, que uma geração ceda à tentação de menosprezar as gerações mais novas e de fazer generalizações, quer banais, quer injustas. O tom subiu e o nível desceu: a oradora troçou da mole de jovens que têm frequentado as Jornadas Mundiais da Juventude, "sempre atrás do Papa". Eu, que participei nas JMJ's de Paris (1997) e de Roma (2000), senti-me esbofeteado verbalmente pela oradora. Esses eventos marcaram a minha vida. Fiz amigos incríveis, e tive experiências marcantes de fé. Que mal fizemos nós? Ir atrás do Papa... A oradora ainda aludiu à incoerência dos jovens que assistem a missas papais e depois usam preservativos. Sim, claro. Tem razão. Mas deveria ser tão farisaica, a oradora? Que outra coisa será o pecado senão a manifestação da contradição entre um ideal de vida e a prática do dia-a-dia? Quem, para além de Jesus Cristo e Nossa Senhora, está livre do Pecado Original? Emília Nadal atirou a primeira pedra: os jovens são contraditórios e pecam: agem contra a fé que dizem professar, mesmo quando correm atrás dos Papas. E não é essa a condição de pecador? Estará já a oradora num estádio espiritual de ausência de pecado?

A terrível ironia da situação apresentava-se aos meus olhos: enquanto Emília Nadal insultava as novas gerações, eu constatava as idades dos participantes do evento. Ao que tudo indica, naquela sala, eu seria o mais velho dos contestatários do "Nós Somos Igreja", sem vislumbrar apoiantes do movimento mais novos que eu. O pequeno grupo de cristãos que me acompanhou, também eles em desacordo com o movimento, era composto por pessoas ligeiramente mais novas que eu. Do lado do "Nós Somos Igreja", talvez o Pedro Freitas, coordenador do IMWAC, tenha a minha idade, cerca de 35 anos. Todos os restantes estavam na geração acima, ou duas gerações acima da minha. Achei triste. Ninguém, aparentemente, se deu conta da ironia: o movimento "Nós Somos Igreja", pelo menos pela amostra daquela sala, não parece atrair jovens. E porque será? Bom, eu diria que não é fácil atrair juventude quando se usam palavras tão duras contra essa juventude. Os jovens que seguem entusiasticamente o Papa, seja ele qual for, e que tiram tempo das suas férias para participar em eventos como as Jornadas Mundiais da Juventude, pelos vistos, não parecem ter grande atracção por um movimento constituído por pessoas bastante mais velhas, que não os conseguem convencer da "modernidade" de desobedecer aos Papas. E com razão: onde está a atractividade e a novidade disso? A opinião pública, a cultura contemporânea, e boa parte dos "media", dão-nos amplos exemplos de rejeição do Papado, de desprezo e de sátira perante a mensagem da Igreja Católica. Qual o atractivo que pode ter um movimento como o "Nós Somos Igreja" para um jovem cristão de hoje? Convidam a algo como: "Vem connosco, sê diferente e contesta o Magistério!", como se essa proposta fosse nova. Que futuro propõem aos jovens de hoje? Como podem querer ser credíveis e atraentes para as novas gerações de cristãos quando estruturam a identidade do seu movimento na crítica ao Magistério?

Permitam-me abrir um parêntesis mais pessoal...

Não quero constituir um paradigma a partir da minha experiência pessoal, mas eu próprio já fui, em tempos, um entusiasta defensor do "Nós Somos Igreja". A contestação à autoridade estabelecida parece ser uma característica frequente dos tempos de juventude, e também eu passei por isso. Recordo-me de sair de uma missa dominical na paróquia de Santa Maria de Belém indignado pelo facto de o prior ter criticado, durante a homilia, o movimento "Nós Somos Igreja". Eu teria, no máximo, uns vinte anos. Já estava, na altura, em crise de fé e em rota de colisão com o Magistério. Nesse tempo, eu almoçava todos os Domingos em casa dos meus avós e fazia da leitura da coluna de Frei Bento Domingues no Público o meu ritual pós-almoço. Como eu admirava o Frei Bento! Por variadíssimas razões, com o passar do tempo, persisti na leitura e no estudo, e ganhei um grande fascínio pelo cristianismo, pela sua história, pela sua doutrina, pela sua mensagem, pelas suas figuras de proa. Curiosamente, e ao contrário da tese de Emília Nadal, foi porque eu não me resignei a uma fé superficial de juventude que encetei um caminho de aprofundamento da fé e da cultura cristã. E, também curiosamente, quinze anos depois, motivado pela necessidade de coerência e pelo amor à verdade, acabei como adversário das ideias do "Nós Somos Igreja" e grande crítico das ideias de Frei Bento Domingues. E, ironia das ironias, o prior de Santa Maria de Belém, que ainda é o mesmo, e que eu nos meus tempos ingénuos de juventude critiquei pela sua oposição ao "Nós Somos Igreja", é hoje em dia um dos sacerdotes que eu mais admiro: um servidor incansável de Jesus Cristo e da Igreja Católica, um homem de inegável cultura e intelectualidade, e um protector e defensor da dignidade e da beleza da liturgia romana.

Penso que para alguns cristãos da minha geração, o "Nós Somos Igreja" representou como que uma espécie de "Maio de 68" do nosso percurso cristão. Eu passei por essa fase do percurso e ultrapassei-a. E para mim, a experiência foi positiva no sentido em que, por vezes, é mais expedito cometermos um erro para o reconhecermos como tal. Há sempre riscos envolvidos nesse processo de aprendizagem pelo erro, mas a verdade é que as lições que se aprendem são marcantes.

(fim do parêntesis pessoal)

À pintora Emília Nadal, seguiu-se o orador Joaquim Franco, jornalista, um orador simpático e cativante. Confesso que não me é tão fácil comentar o discurso de Joaquim Franco, pois pareceu-me menos objectivo e menos assertivo. Tentarei, então, cingir-me ao ponto do qual mais discordei no seu discurso. A certa altura, Joaquim Franco alude ao Encontro de Bento XVI com o mundo da Cultura, a 12 de Maio de 2010. O orador mostrou-se perplexo com a (alegada) subserviência dos representantes das várias religiões que estiveram presentes no evento, e que o dito evento transmitia a ideia (errada, segundo Joaquim Franco) de que a Igreja Católica representava a realidade portuguesa. Espanto! Duplo espanto! Por um lado, como é que aceitar um convite poderá representar subserviência? Se os representantes das restantes religiões com presença em Portugal decidem aceitar um convite feito pela Igreja Católica para se encontrarem no CCB com Bento XVI, estão com esse acto a manifestar subserviência? Por outro lado, e aqui reside o maior espanto, que quer o "Nós Somos Igreja" com este protesto? Quer aumentar o volume da voz das restantes religiões, em detrimento de reduzir o volume da voz do catolicismo, em nome de um "religiosamente correcto"? Ao fim e ao cabo, porque razão quer este movimento reduzir a importância da Igreja Católica no nosso país? A meu ver, esta atitude é suicida e incoerente. O católico quer anunciar a Boa Nova, quer persuadir todas as pessoas da verdade da fé católica e da sua necessidade para a salvação das almas, cumprindo assim o mandamento divino:

«E disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado.» (São Marcos 16, 15-16).

Vê-se que este movimento promove um diálogo entre religiões completamente distorcido, que parece assentar no relativismo religioso, na ideia de que a conversão dos povos ao catolicismo se tornou irrelevante.

Ao Joaquim Franco, sucedeu a teóloga Teresa Toldy. No seu discurso, impressionou-me fortemente o seguinte raciocínio proposto pela oradora: enquanto que, na Igreja Católica, os homens têm acesso aos sete sacramentos [Baptismo, Confirmação, Eucaristia, Reconciliação, Ordenação, Matrimónio e Unção dos Enfermos], as mulheres só têm acesso a seis deles (não têm acesso ao da Ordenação). Esta observação "matemática" da oradora não faz qualquer sentido, e por várias razões:
  1. Essa "matemática" enganadora do "sacramento a menos" não coloca as mulheres em situação de fragilidade salvífica, pois é o Baptismo que salva, e depois dele, é a Reconciliação que nos limpa da mancha do pecado, e nos permite alcançar a misericórdia de Deus e a salvação da nossa alma; ora, quer o Baptismo quer a Reconciliação estão ao alcance de todos;
  2. Esse "acesso" aos sacramentos foi apresentado pela oradora como sugerindo uma espécie de direito, como se os sacramentos, em vez de dom gratuito da graça de Deus, fossem um direito que nós temos; nós não temos direito aos sacramentos, e por isso mesmo devemos merecê-los; por isso mesmo, há pré-requisitos para o acesso a todos os sacramentos: eles não são algo que é nosso de direito e posse, mas sim graças às quais poderemos aceder, se reunirmos as condições para tal, e apenas porque Deus assim o estipulou;
  3. Esse "acesso" aos sacramentos foi também apresentado pela oradora como uma espécie de poder, como se o sacramento da Ordenação deixasse de ser visto como serviço à Igreja (que é) e passasse a ser visto como um exercício de poder (que não é);
  4. A opção por uma determinada vocação exclui, automaticamente, o acesso a certos sacramentos: por exemplo, a pessoa que segue a vocação matrimonial e recebe o sacramento do Matrimónio deixa, ipso facto, de ter acesso ao sacramento da Ordenação, e vice-versa; logo, uma pessoa casada apenas tem acesso a cinco sacramentos (não pode repetir o Baptismo), pois quando se casa deixa de ter acesso ao sacramento da Ordenação, e vice-versa.

A seguir à Teresa Toldy, falou o Pedro Freitas, coordenador do IMWAC. Parece-me impossível antipatizar com o Pedro Freitas depois de se estar com ele frente a frente e de o ouvir a falar. Falou de uma forma até bastante humilde e cordata, atendendo ao conteúdo explosivo e nada humilde do seu discurso, centrado necessariamente nas reclamações prepotentes da Petição do Povo de Deus.

Concluídos os discursos dos intervenientes do painel, seguiu-se um momento de perguntas e respostas. Incrivelmente, nenhuma das perguntas ou dos comentários que surgiram da plateia continha a mínima crítica às ideias apresentadas pelos oradores. Todas as perguntas eram laudatórias, quer ao movimento "Nós Somos Igreja", quer às ideias transmitidas pelos oradores e pelo moderador. Algumas perguntas constituíam ataques à Igreja ou a órgãos da Igreja. Uma pessoa criticou duramente o programa Ecclesia, que passa na RTP2, em termos que não recordo exactamente, mas que também não é salutar recordar.

Esperei pacientemente pela minha oportunidade de colocar uma questão. Infelizmente, o evento terminava às 19 horas, e após as perguntas e respostas, ainda deveria falar a oradora Alfreda Ferreira da Fonseca, encarregada de encerrar o evento. O tempo estava, então, a terminar... A certa altura, foi-me dada a palavra, e pediram-me para ser breve, dada a hora avançada. Começando por dizer ao painel que eu iria fazer uma pergunta "de contraditório" (para vincar que seria a primeira e talvez a única da sessão), concentrei tudo nesta pergunta:

"Como comentam os oradores do painel a contradição que eu vejo entre tudo o que disseram aqui esta tarde e a passagem da Constituição Dogmática «Lumen Gentium», do Vaticano II, a respeito do ministério episcopal de ensinar?"

Feita a pergunta, li a seguinte passagem do Capítulo III da Lumen Gentium, secção "O ministério episcopal de ensinar":

«Ensinando em comunhão com o Romano Pontífice, devem por todos ser venerados como testemunhas da verdade divina e católica. E os fiéis devem conformar-se ao parecer que o seu Bispo emite em nome de Cristo sobre matéria de fé ou costumes, aderindo a ele com religioso acatamento. Esta religiosa submissão da vontade e do entendimento é por especial razão devida ao magistério autêntico do Romano Pontífice, mesmo quando não fala ex cathedra; de maneira que o seu supremo magistério seja reverentemente reconhecido, se preste sincera adesão aos ensinamentos que dele emanam, segundo o seu sentir e vontade; estes manifestam-se sobretudo quer pela índole dos documentos, quer pelas frequentes repetições da mesma doutrina, quer pelo modo de falar.»

Fiquei com a impressão de que a pergunta caiu como uma bomba. Assim que terminei, o moderador perguntou-me qual era, afinal, a minha pergunta. Ora eu já a tinha feito! Tinha precisamente começado por pedir ao painel para me explicar a contradição entre este trecho da Lumen Gentium, que ensina o "religioso acatamento" e a "religiosa submissão da vontade e do entendimento" ao Magistério, e as propostas feitas por todos os oradores naquela sessão da tarde, consubstanciadas na "Petição do Povo de Deus", que pede a revisão de matérias definidas como finais e irreformáveis pelo Magistério da Igreja Católica. Por razões de concisão, não repeti os pontos defendidos pelo movimento, não só porque já haviam sido ditos, mas porque todos os tínhamos bem presentes. Limitei-me a pedir um esclarecimento acerca da contradição entre este texto do Vaticano II e o que naquela tarde fora dito por todos os oradores de um debate dedicado ao tema do Vaticano II.

O painel mostrou-se perplexo: alguns, incluindo o moderador (que, repito, agia por vezes como um quinto orador), perguntaram-me onde estava a contradição. Eu nem queria acreditar que iriam evitar, desta forma, responder a minha pergunta! Antevendo a minha crítica, o moderador disse (e acredito que com honestidade e sinceridade) que não queria prejudicar-me pelo avançado da hora, mas que realmente havia pouco tempo. O moderador passou a "batata quente" para a teóloga Teresa Toldy, que foi assim incumbida por ele de me dar uma resposta.

Teresa Toldy respondeu-me com uma pergunta (cito-a de memória, não anotei as suas palavras exactas): "Leu a primeira parte da «Lumen Gentium»? É que se o fizer, entenderá o contexto". Eu nem queria acreditar: uma teóloga a lançar-me um argumento de autoridade para evitar responder! Eu insisti: "mas não me esclareceu acerca da contradição, se ela não existe, explique-me porquê!". Aí, Teresa Toldy deu uma resposta ainda mais enigmática: "Se calhar, há uma contradição na própria «Lumen Gentium»". E a questão morreu assim, porque o evento tinha mesmo que terminar, e foi dada a palavra à Alfreda para o encerrar. No final do evento, tive ainda uma conversa em privado com a Teresa Toldy, cujo conteúdo não vou revelar, por ser de carácter privado.

Tenho um palpite acerca da resposta que a Teresa Toldy não me chegou a dar. Penso que a teóloga não se referia ao Capítulo I da «Lumen Gentium», pois aí voltamos a encontrar o reforço do ministério episcopal de ensinar, nomeadamente em trechos como este:

«Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica (12); depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo. 21,17), confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cfr. Mt. 28,18 ss.), e erigindo-a para sempre em «coluna e fundamento da verdade» (I Tim. 3,5). Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, é na Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele (13), que se encontra, embora, fora da sua comunidade, se encontrem muitos elementos de santificação e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica.»

Penso ser provável supor que Teresa Toldy pretendia apontar uma suposta contradição entre o conteúdo do Capítulo II ("O Povo de Deus") em matéria de infalibilidade e o conteúdo do Capítulo III ("A Constituição Hierárquica da Igreja e em especial o Episcopado") acerca da mesma matéria. No capítulo II encontramos a crucial distinção entre "sacerdócio comum" (a todos os fiéis) e "sacerdócio ministerial", distinção que o "Nós Somos Igreja" teima em obliterar. Pouco depois desta distinção, encontramos a magnífica descrição da infalibilidade do Povo de Deus, notável desenvolvimento e complemento da teologia da infalibilidade do Vaticano I, na secção "O sentido da fé e dos carismas no povo cristão":

«12. O Povo santo de Deus participa também da função profética de Cristo, difundindo o seu testemunho vivo, sobretudo pela vida de fé e de caridade oferecendo a Deus o sacrifício de louvor, fruto dos lábios que confessam o Seu nome (cfr. Hebr. 13,15). A totalidade dos fiéis que receberam a unção do Santo (cfr. Jo. 2, 20 e 27), não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quando este, «desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis» (22), manifesta consenso universal em matéria de fé e costumes. Com este sentido da fé, que se desperta e sustenta pela acção do Espírito de verdade, o Povo de Deus, sob a direcção do sagrado magistério que fielmente acata, já não recebe simples palavra de homens mas a verdadeira palavra de Deus (cfr. 1 Tess. 2,13), adere indefectivelmente à fé uma vez confiada aos santos (cfr. Jud. 3), penetra-a mais profundamente com juízo acertado e aplica-a mais totalmente na vida.»

Ora, não só encontramos mais uma vez, como já sucedera nos capítulos I e III, a reafirmação do ministério episcopal de ensinar ("... o Povo de Deus, sob a direcção do sagrado magistério que fielmente acata..."), como constatamos que não há qualquer contradição entre a infalibilidade do Povo de Deus e a infalibilidade do Magistério. É que a infalibilidade do Povo de Deus está definida do seguinte modo: que o Povo de Deus "não pode enganar-se na fé (...) quando este, «desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis», manifesta consenso universal em matéria de fé de costumes". Não está escrito, neste trecho, que não há, no Povo de Deus, pessoas em situação de divergência pontual ou sistemática: haverá sempre pessoas fora de sintonia com este consenso universal, nem que seja por ignorância. O que está dito é que, quando há consenso universal em matéria de fé e de costumes, todos os fiéis envolvidos nesse consenso, do mero leigo ao Sumo Pontífice, são infalíveis. Como bem explica o Padre James O'Connor:

«It is clear from the teaching of Vatican II that the gift of infallibility resides in the sensus fidelium. The body of the faithful cannot err in matters of faith and morals. It must be noted, however, that this infallibility of the People of God is given to the entire body of the faithful. It is not given to the faithful in contradistinction to the infallible charism given to the Magisterium of the Pope and bishops. Indeed, the proper exercise of the infallibility of the entire People of God necessitates a "faithful submission to the sacred Magisterium" if that body of the faithful is to believe, penetrate more deeply, and apply more thoroughly the faith entrusted to the saints. If the teaching of the Pope and bishops is not included in the "universal consent about matters of faith and morals" then one does not truly have a sensus fidelium, a consensus among the faithful. Once that is clear, it should be obvious that determining the sensus fidelium is not a matter of poll taking or of sociological reports.» [5]

E assim se fecha o ciclo entre o Vaticano I e o Vaticano II em matéria de infalibilidade.

Assim se vê que as petições do "Nós Somos Igreja" caem fora deste consenso universal, pois mesmo que sejam petições da autoria de certos fiéis baptizados que fazem parte do Povo de Deus, são petições que não reúnem consenso. Nem sequer reúnem o consenso da maioria dos fiéis, e mesmo que atingissem essa proeza, ainda teriam que reunir o consenso de todos os fiéis, incluindo do Magistério, para que estivessem sob a alçada da infalibilidade do Povo de Deus. Chesterton dizia que a tradição é a democracia dos mortos, no sentido em que a tradição é mais democrática que a democracia convencional, porque deixa os mortos votarem. Assim se vê que as petições do Povo de Deus nunca reuniriam o consenso da Igreja de todos os tempos, pois é incontável o número de fiéis, qualquer que seja a sua posição na hierarquia da Igreja, que defenderam sem ambiguidades o exacto oposto das petições do "Nós Somos Igreja".

De todos os oradores, a pessoa com quem fiquei com mais empatia foi com a Alfreda Ferrreira da Fonseca, que encerrou o evento. Ela falou de forma muito viva acerca da divergência de opiniões, de que todos estavam ali numa atitude de diálogo, e que era cristã a atitude de abertura ao outro. Parece-me que ela quis, depois da minha pergunta incómoda, terminar num tom de coerência. Afinal, falou-se durante toda a tarde em diálogo e abertura a posições diferentes, e seria bizarro se, face à minha discordância verbalizada, a atitude daquelas pessoas fosse a oposta. Por isso, gostei mesmo de ouvir a Alfreda a frisar a importância do diálogo e da abertura ao outro, porque seria uma tremenda injustiça e incoerência que aqueles católicos que, como eu, se opõem às ideias do movimento "Nós Somos Igreja" não fossem ouvidos pelos membros desse movimento. Afinal de contas, nós também somos Igreja...

A Alfreda também fez uma referência ao encontro entre Jesus e Pilatos, conforme narrado em São João, no qual Pilatos teria perguntado a Jesus o que era a verdade, e que Jesus teria ficado silencioso, e com base nisso, pareceu-me que a Alfreda estaria a criticar o conceito de verdade. Vejamos o trecho em questão:

"Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.» Pilatos replicou-lhe: «Que é a verdade?» Dito isto, foi ter de novo com os judeus e disse-lhes: «Não vejo nele nenhum crime.»" - Evangelho segundo São João, 18, 37-38.

Como se vê claramente, Jesus fala da verdade como algo de real e normativo. Jesus afirma que veio para dar testemunho da verdade. Logo, como seria de esperar, nada de relativismo em Cristo. O próprio texto de São João não nos permite deduzir que Jesus não teria resposta para a pergunta de Pilatos. É claro que Jesus teria resposta, basta considerar a resposta que Jesus deu a Tomé: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim.» (São João, 14, 6). Em última análise, Jesus poderia ter respondido a Pilatos, em total coerência: "A Verdade sou Eu". Do texto de João, omisso face a uma eventual resposta de Cristo, podemos deduzir, ou que Cristo não respondeu porque não quis, ou que Cristo respondeu, mas o evangelista não registou essa resposta.

Este relato só pode terminar de uma forma: com um convite a todos os membros e apoiantes do movimento "Nós Somos Igreja". Trata-se do único convite que, no fim de contas, interessa mesmo fazer: convertam-se, pelo amor a Deus e à Igreja de Cristo! Voltem à unidade eclesial, da qual nunca deveriam ter saído. É uma questão de vida eterna ou de morte eterna.

PS: Muito agradeço ao João Silveira, ao Miguel Belo, à Margarida Paccetti e à Rita Ludovice por me terem enviado as suas recordações deste debate, de forma a colmatar as lacunas da minha memória.

PPS: Se algum dos participantes deste evento considerar que eu estou a retratar injustamente as suas palavras ou posições, muito agradeço que me façam chegar o vosso parecer, com vista à melhoria de eventuais imprecisões ou incorrecções deste relato.

[1] Ordinatio Sacerdotalis, do Papa João Paulo II, 22 de Maio de 1994, que define de forma definitiva e irreformável que «a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja».

[2] Sacerdotalis Caelibatus, do Papa Paulo VI, 24 de Junho de 1967, que defende e reforça a disciplina do celibato sacerdotal, respondendo às críticas feitas a essa disciplina.

[3] Quer a Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre o atendimento pastoral das pessoas homossexuais, emitida pela Congregação para a Doutrina da Fé a 1 de Outubro de 1986, quer as Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais, também da Congregação para a Doutrina da Fé, emitida a 3 de Junho de 2003, reafirmam a perene doutrina cristã sobre o matrimónio e sobre a imoralidade dos actos homossexuais. Duas coisas ressaltam à vista, nestes documentos, com toda a clareza: por um lado, a distinção entre as pessoas com tendências homossexuais, que não pecam se viverem em castidade, e os actos homossexuais, esses sim imorais; e por outro lado, a refutação dos que falam em "exclusão" das pessoas homossexuais por parte da Igreja Católica, como é o caso do "Nós Somos Igreja", uma vez que basta notar que o primeiro documento referido tem no seu título a expressão "atendimento pastoral das pessoas homossexuais", o que elimina de vez a falsidade dessa linguagem de "exclusão".

[4Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, 25 de Julho de 1968, que define, em continuidade com a tradição da Igreja, a ilicitude moral dos meios artificiais de regulação dos nascimentos: "(...) Mas, chamando a atenção dos homens para a observância das normas da lei natural, interpretada pela sua doutrina constante, a Igreja ensina que qualquer ato matrimonial deve permanecer aberto à transmissão da vida". A Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Vaticano II, aborda o tema de forma genérica no seu ponto 51, concluindo: "Segundo estes princípios, não é lícito aos filhos da Igreja adoptar, na regulação dos nascimentos, caminhos que o magistério, explicitando a lei divina, reprova", com referência em nota de rodapé aos ensinamentos de Pio XI (Encíclica Casti Connubii) e Pio II (Alocução ao Congresso da União Italiana de parteiras, 29 de outubro 1951). O Vaticano II não tratou directamente da questão da contracepção, pois Paulo VI retirou esse tema da agenda do Concílio, entregando-o a uma Comissão extra-conciliar. Esta Comissão, contrariando a tradição da Igreja, concluiu da licitude da contracepção artificial quando usada pontualmente no contexto de um matrimónio globalmente aberto à vida. Com a encíclica "Humanae Vitae", Paulo VI declarou a ilicitude da contracepção artificial, reafirmando a tradição da Igreja.

[5] James T. O'Connor, Vincent Ferrer Gasser, The Gift of Infallibility, Ignatius Press, São Francisco (E.U.A.), 2008, p. 106.

Biber - Missa Bruxellensis

Heinrich Ignaz Franz von Biber (1644 - 1704), Missa Bruxellensis a 23 vozes. Uma das missas mais espantosas do barroco de Salzburgo.
Data e Local da gravação: BBC Proms - 10 de Agosto de 2004, Royal Albert Hall

Maestro: Paul Goodwin
Solistas:
Emma Kirkby (soprano)
Joanne Lunn (soprano)
Michael Chance (contra-tenor)
Tim Mead (contra-tenor)
Rufus Müller (tenor)
Robert Murray (tenor)
Michael George (baixo)
Stephen Richardson (baixo)

Kyrie


Gloria
 

Credo
 

Sanctus e Benedictus
 

Agnus Dei