terça-feira, 7 de junho de 2011

Ben Shapiro - Autor de "Primetime Propaganda"



Para os mais distraídos, a actriz que faz de "ministro" do "casamento" lésbico no famoso episódio da série "Friends" é a Candace Gingrich, a activista LGBT, irmã do republicano Newt Gingrich, que se converteu ao catolicismo em 2009. Se o "casting" de Candace para esse papel não é propaganda, então nada é propaganda!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O riso n'"O Nome da Rosa"

(Cristo sorridente, na Abadia Cisterciense de Lérins)

No último "post", um comentador anónimo perguntava:

«Já conheci muitas abordagens sobre o riso, nunca vi nenhuma caricatura ou retrato de deus ou jesus a rir, jesus riu?"

Quando leio perguntas destas, pasmo-me. Pelo seguinte: como será possível uma pessoa viver mergulhada numa cultura como a nossa, de profundas raízes cristãs, e colocar, sequer, a remota possibilidade de Jesus Cristo nunca ter sorrido. É sinal de um quase total alheamento face à cultura cristã que o rodeia. Não é tarefa difícil elencar, a partir do Novo Testamento, as inúmeras situações nas quais Jesus recorre a trocadilhos, alegorias e situações anedóticas. Também não é difícil montar, através de séculos de arte cristã, a iconografia cristã do riso.

Mais à frente no seu comentário, o comentador anónimo alude ao romance de Umberto Eco, O Nome da Rosa, e mais especificamente à personagem do bibliotecário Jorge de Burgos. Para melhor nos situramos no romance de Eco, eis o troço em questão, no filme de Jean-Jacques Annaud (1986):


Esta cena mostra-nos o confronto entre a personagem Guilherme de Baskerville (Sean Connery) e a personagem Jorge de Burgos (Feodor Chaliapin, Jr.). Guilherme quer ler uma obra de Aristóteles sobre comédia, enquanto que Jorge de Burgos, claramente incomodado com a presença de tal obra no "corpus aristotelicum", condena o riso como incompatível com a piedade cristã. Antes de Jorge de Burgos entrar em cena, enquanto Guilherme de Baskerville e Adso de Melk analisam a obra incompleta dos monges misteriosamente assassinados, um monge sobe para um banco de madeira, assustado com um rato. Os restantes monges riem-se da cena. Mas Jorge de Burgos interrompe o momento lúdico, com a tempestiva frase: "verba vana aut risui apta non loqui" ("não pronuncieis palavras vãs, aptas a provocar o riso").

Quem constrói a sua cultura com base em romances e novelas acaba por ter uma visão algo indirecta, na melhor das hipóteses, ou mesmo errada, na pior das hipóteses, acerca da História. Sem querer tirar valor ao romance como género literário, e Umberto Eco é o meu romancista favorito, é arriscadíssimo fundamentar conhecimentos históricos em romances. Se tomamos a ficção de Eco por retrato fiel da realidade medieval, corremos o risco de pegar em Jorge de Burgos e fazer dele o paradigma do escriba medieval. Para além do facto de que Eco não escreve romances de realismo histórico, preferindo estruturar histórias nas quais a verdade se mistura com a ficção de forma por vezes quase imperceptível, no caso particular da personagem Jorge de Burgos e da sua vontade férrea em manter escondido o livro de Aristóteles dedicado à comédia, o retrato de Eco contrasta fortemente com a verdade histórica, como bem explica o Prof. Jean Lauand:

«Deus brinca. Deus cria, brincando. E o homem deve brincar para levar uma vida humana, como também é no brincar que encontra a razão mais profunda do mistério da realidade, que é porque é “brincada” por Deus. Bastaria enunciar essas teses - como veremos, fundamentalíssimas na filosofia do principal pensador medieval, Tomás de Aquino - para reparar imediatamente que entre os diferentes preconceitos que ainda há contra a Idade Média, um dos mais injustos é aquele que a concebe como uma época que teria ignorado (ou mesmo combatido...) - o riso e o brincar.
Naturalmente, não se trata só de Tomás de Aquino; a verdade é que o “homem da época” [2] é muito sensível ao lúdico, convive com o riso, e cultiva a piada e o brincar [3] . Tomás, por sua vez, situa o lúdico nos próprios fundamentos da realidade e no ato criador da Sabedoria divina.
Assim, diante do panegírico do brincar feito por Tomás - e diante da prática do lúdico em toda a educação medieval - torna-se difícil compreender como um erudito do porte de Umberto Eco [4] possa ter querido situar no centro da trama de seu O Nome da Rosa [5] , o impedimento “medieval” da leitura de um tratado de Aristóteles sobre o riso (e no romance S. Tomás é citado como autoridade respeitada não só pelo abade - p. 48 -, mas também pelo fanático bibliotecário Jorge - p. 158 - , para quem o riso é o pior dos males e está disposto a matar para obstruir o acesso a um livro de Aristóteles sobre o tema - pp. 529 e ss.) [6] . É difícil compreender o empenho de proibir essa leitura de Aristóteles, quando o próprio Aquinate - já solenemente canonizado antes de 1327, ano em que se dá a ação do romance - vai muito mais longe do que o Estagirita [7] no elogio do lúdico...», in Deus Ludens - O Lúdico no Pensamento de Tomás de Aquino e na Pedagogia Medieval

Deste modo, a manobra arriscada (para o leitor incauto) de Eco está em retratar a bizarra personagem de Jorge de Burgos como, ao mesmo tempo, um admirador da obra de um São Tomás de Aquino já canonizado, e um defensor da incompatibilidade do riso com a vida cristã. Atrevo-me a sugerir uma resposta à interrogação do Prof. Lauand, pois parece-me que Umberto Eco faz do bibliotecário Jorge de Burgos uma espécie de tomista imaturo, alguém que admirando a obra de São Tomás, não chegou a compreendê-la a fundo, nomeadamente rejeitando a parte em que o Aquinate faz o elogio do riso. Mas Jorge de Burgos não é um defensor da ignorância, abominando o Estagirita, o Pai dos Filósofos, como quem abominasse toda a cultura pagã ou não cristã, uma leitura que poderia ser feita à luz da propaganda anti-medieval dos nossos tempos. A personagem é bem mais rica do que esses estereótipos superficiais, como costumam ser ricas todas as personagens de Eco: Jorge de Burgos admira Aristóteles, e não pode deixar de admirar o já então (a ficção passa-se em 1327) canonizado São Tomás de Aquino. A desilusão de Jorge de Burgos é para com Aristóteles (e talvez também para com a defesa tomista do riso), a quem o bibliotecário não perdoa a impiedade de ter escrito um livro dedicado ao enaltecer da comédia. Jorge de Burgos, que já tinha construído uma ideia "perfeita" de Aristóteles, não aceita nem tolera que o seu autor favorito tenha dedicado o seu génio e tempo ao estudo da "vã" comédia. Jorge de Burgos dá, assim, um excelente exemplo daquele triste estado da mente, que consiste na negação da realidade, quando esta choca com os nossos preconceitos, estado esse tão bem descrito pelo padre Bossuet: "Le plus grand dérèglement de l’esprit, c’est de croire les choses parce qu’on veut qu’elles soient, et non parce qu’on a vu qu’elles sont en effet." (Traité de la connaissance de Dieu et de soi-même, 1670).
A sofisticação da cultura e da escrita de Umberto Eco não permitem leituras simplistas, como a que o comentador anónimo pretendeu fazer, lendo errada e inadvertidamente, nos pensamentos da personagem Jorge de Burgos, a mente do típico escriba medieval.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

São Tomás de Aquino sobre o lúdico

(Nossa Senhora jogando às cartas com o Menino Jesus - painel de azulejos na nave da Sé Catedral de Beja)

É frequente a crítica que se faz à Igreja Católica por esta ser, alegadamente, uma força de bloqueio às coisas boas da vida e ao divertimento. Essa crítica é absurda, sobretudo no contexto da verdadeira revolução que o cristianismo operou durante a Idade Média, e que lançou as bases para a melhor parte do nosso legado cultural. O humor é um legado medieval. Uma das melhores defesas das virtudes do humor, da brincadeira e dos jogos vem do maior teólogo cristão do período, São Tomás de Aquino.

Eis um excerto do segundo artigo da Questão 168 da parte II-II, no qual São Tomás responde à questão de se não haverá alguma virtude nas actividades lúdicas, "Videtur quod in ludis non possit esse aliqua virtus" (a tradução completa deste artigo encontra-se aqui):

«RESPONDO. Assim como o homem precisa de repouso para refazer as forças do corpo, que não pode trabalhar sem parar, pois tem resistência limitada, proporcional a determinadas tarefas, assim também a alma, cuja capacidade também é limitada e proporcional a determinadas operações. Portanto, quando realiza certas atividades superiores à sua capacidade, ela se desgasta e se cansa, sobretudo porque nessas atividades o corpo se consome juntamente, pois a própria alma intelectiva se serve de potências que operam por meio dos órgãos corporais. Ora, os bens sensíveis são conaturais ao homem. Por isso, quando a alma se eleva sobre o sensível para se dedicar a atividades racionais, gera-se aí certa fadiga psíquica, seja nas atividades da razão prática, seja nas da razão especulativa. Mas a fadiga é maior quando o homem se entrega à atividade contemplativa, porque é assim que ele se eleva ainda mais sobre as coisas sensíveis, embora em certas ações exteriores da razão prática possa haver, talvez, um cansaço físico maior. Em ambos os casos, porém, ocorre o cansaço da alma, tanto maior quanto mais se entrega às atividades da razão. Ora, assim como a fadiga corporal desaparece pelo repouso do corpo, assim também é preciso que o cansaço mental se dissipe pelo repouso mental. O repouso da mente é o prazer, como acima se explanou ao se falar das paixões (I-II, q. 25, a. 2; q. 31, a. 1, ad 2). Daí a necessidade de buscar remédio à fadiga da alma em algum prazer, afrouxando o esforço do labor mental. Nesse sentido, lê-se nas “Conferências dos Padres”, que João Evangelista, quando alguém se escandalizou de o ver jogando com os discípulos, mandou um deles de arco na mão que disparasse uma seta. Depois que ele repetiu isso muitas vezes, perguntou-lhe se poderia fazê-lo sem parar, ao que o outro respondeu que, se assim procedesse, o arco se quebraria. Então, o santo observou que, da mesma forma, a alma se romperia se permanecesse sempre tensa.
Essas palavras e ações nas quais não se busca senão o prazer da alma chamam-se divertimentos ou recreações. Lançar mão delas, de quando em quando, é uma necessidade para o descanso da alma. E é o que diz o Filósofo, quando afirma que “em nosso dia-a-dia, é com os jogos que gozamos de algum repouso”. Por isso, é preciso praticá-los de vez em quando.» (o negrito é meu)

Há algo de elementar que os adversários da Igreja Católica, na sua maioria, ainda não entenderam. A Igreja Católica, propondo um credo exigente (como o são todas as coisas verdadeiras), não poderia manter, durante mais de dois mil anos, o seu imenso apelo se esse credo não respondesse às aspirações mais genuínas do ser humano. Se o divertimento, os jogos, o sentido de humor, são características excelentes do ser humano, a Igreja Católica não teria sobrevivido todo este tempo se não fosse compatível com elas, e se não as encorajasse...
Se Chesterton ainda fosse vivo, e perante o colapso do Comunismo do final dos anos oitenta, ele provavelmente diria que essa ideologia morreu por falta de humor. Os comunistas, ao contrário dos cristãos, eram demasiado sérios. Morreram de tédio, e por essa razão (e por outras) desapareceram da face da Terra.

Tárrega - Capricho Árabe

O norte-americano Jason Vieaux, numa interpretação incrível do "Capricho Árabe", uma peça do espanhol Francisco Tárrega (1852-1909). Vieaux usa toda a gama dinâmica da guitarra, aplicando todos os artifícios expressivos nos sítios certos, nos momentos certos. Quando eu for grande, gostava de tocar assim...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Patiño - Nevando Está

O guitarrista sueco Göran Söllscher interpreta a peça Nevando Está, do compositor boliviano Adrian Patiño Carpio (1895-1951).

De notar que a peça, em ritmo "fox trot", não foi escrita por Patiño para guitarra. Söllscher interpreta uma adaptação para guitarra da autoria do guitarrista e compositor argentino Eduardo Falú (1923-). Este arranjo de Falú tornou a peça Nevando Está numa das peças favoritas para guitarra clássica. Na minha opinião, a interpretação de Söllscher é uma das mais bem sucedidas. É uma peça riquíssima, quer melódica, quer harmónica, quer ritmicamente. Note-se, no final da execução, o uso da tâmbora, que consiste em percutir o tampo da guitarra, mais especificamente a ponte, usando-se a ressonância do instrumento para acrescentar uma camada de percussão à peça.

A peça original


A interpretação de Falú, autor do arranjo para guitarra

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Barrios - Un Sueño en la floresta

O paraguaio Agustín Pío Barrios (1885-1944), que se auto-intitulava "Agustín Barrios Mangoré" (em honra da cultura Guarani), é um dos mais geniais compositores para guitarra. Há quem o chame o Bach das Américas, mas o estilo de Barrios é suficientemente único e brilhante para não precisar de comparações. Barrios não era apenas um grande guitarrista, era também um grande homem, com uma grande alma. "Un sueño en la floresta", aqui executada pela sua conterrânea Berta Rojas, é uma das suas obras mais notáveis, sobretudo pela beleza das frases em trémolo.