(este ficheiro PDF contém mais "slides" do que os que eu usei: na minha primeira parte, usei todos os "slides" até ao 19, mas saltei o slide 12; os restantes "slides" eram de reserva, e só mostrei alguns deles na minha segunda parte, quando foi necessário)
Na minha primeira intervenção, apresentei dois argumentos filosófico-científicos a favor da existência de Deus:
A1: Argumento Cosmológico (versão de Leibniz):
Demonstrei existir uma entidade:
- Que tem em si mesma a sua razão de existir
- Que não poderia não existir, e portanto é eterna (ou pelo menos perpétua)
- Que é imaterial: não é feita de massa / energia
A2: Argumento Teleológico (versão de Robin Collins):
- Apresentei diversos exemplos de que o nosso Universo está afinado para existir vida, e em alguns casos, está afinado para haver Química elementar (uma tabela de elementos suficientemente variada) e afinado para termos estabilidade atómica, essencial para toda a Química (e portanto, para a existência de qualquer forma de vida conhecida ou desconhecida):
- Que as leis da Natureza estão afinadas
- Que as constantes que figuram nas equações das leis da Natureza estão afinadas
- Que as condições iniciais do nosso Universo estavam afinadas
- Mostrei que a afinação do Universo é muitíssimo mais expectável dado o teísmo do que dado o ateísmo, e por isso, perante essa afinação, a atitude racional é acreditar que Deus existe
- Expliquei que este argumento A2 aponta para a inteligência da entidade que o argumento A1 demonstrou existir, pela razão de que o nosso Universo está minuciosamente estruturado e afinado de forma inteligente
Perante estes argumentos, o Ricardo tinha que fazer duas coisas:
- Refutar os argumentos que apresentei em defesa da existência de Deus
- Apresentar argumentos seus em defesa da inexistência de Deus
Na sua primeira intervenção, o Ricardo colocou as seguintes objecções aos meus argumentos:
A1: Argumento Cosmológico de Leibniz: o Ricardo criticou a necessidade de terminar a regressão infinita de explicações / causas, alegando que era arbitrário fazer parar a regressão num primeiro ente, ou seja, numa "causa primeira".
A2: Argumento Teleológico: o Ricardo sugeriu o multiverso como a melhor explicação para a afinação do nosso Universo.
Na minha segunda intervenção, respondi da seguinte forma às objecções do Ricardo:
A1: Argumento Cosmológico de Leibniz:
Este argumento parte de duas premissas:
- Que é válido o Princípio da Razão Suficiente (PRS), que diz que toda a coisa C existente é explicada:
- ou por algo já existente, e que explica a coisa C
- ou pela própria coisa C, caso essa coisa C tenha em si mesma a sua razão de existir (C teria existência obrigatória)
- Que o nosso Universo existe
Em resposta a esta objecção, regressei ao esquema do "slide" 8 e expliquei que, mesmo que existam várias coisas encadeadas entre o Universo e uma primeira coisa, uma primeira coisa tem que existir, e tem que ter em si mesma a explicação para a sua existência, ou seja, tem mesmo que ser uma "primeira" coisa, e não podemos ter uma regressão infinita de explicações / causas.
Aviso: o argumento de Leibniz também se aplica caso o Universo fosse eterno: as explicações para a existência do Universo fazem sempre falta, mesmo que o Universo seja eterno, porque se o Universo podia ser diferente do que é, então não tem existência obrigatória (não tem em si mesmo a sua razão de existir) e por isso requer uma explicação distinta dele mesmo. Por isso, quando digo "primeira coisa", falo em "primeira explicação", uma explicação fundamental que não requer mais explicações.
Vamos ver porquê, supondo que o Ricardo tinha razão. Vamos supor que há uma cadeia infinita de explicações das explicações das explicações, e assim por diante, cadeia essa que numa das direcções termina no Universo, mas que na outra direcção não tem fim: regride infinitamente. Se assim fosse, aplicaríamos o PRS a essa cadeia infinita para perguntar: porque é que existe esta cadeia infinita, em vez de nada? Porque é que esta cadeia infinita existe, e porque é que ela é como é? Como o Universo faz parte dessa cadeia, e o Universo podia ser diferente do que é, então a cadeia como um todo, mesmo sendo infinita, poderia ser diferente do que é. Então, a cadeia infinita não teria em si mesma a sua própria explicação para existir. Então, como vemos, a cadeia infinita necessitaria de uma explicação distinta dela mesma. Logo, caímos sempre na necessidade de uma primeira explicação, na necessidade de existir uma primeira coisa que tem em si mesma a sua razão de existir.
Sugerir uma cadeia infinita de explicações, como fez o Ricardo, é tentar fugir do PRS, para acabar por ter que voltar a recorrer ao PRS para confirmar que é forçoso existir uma "primeira coisa" de existência obrigatória. Uma primeira coisa distinta do Universo, que existe por si própria, que tem existência obrigatória, e que é imaterial, porque tudo o que é feito de matéria ou energia podia ser diferente do que é.
A2: Argumento Teleológico: o Ricardo sugeriu o multiverso como a melhor explicação para a afinação do nosso Universo. Contra esta resposta, argumentei:
- Que o multiverso é ainda especulação sem suporte experimental
- Que o multiverso não resolve a afinação das leis da natureza: apenas "transporta" o problema da afinação do nosso Universo para o patamar mais fundamental do multiverso
- Que um eventual multiverso no qual são gerados os inúmeros universos teria que ser muito especial e afinado para produzir universos afinados para a existência de vida
Em suma:
- O Ricardo não conseguiu refutar os meus argumentos, pelo que eles permaneceram válidos durante todo o debate e até ao final da noite
- O Ricardo fez uma série de críticas à ideia de existir Deus, sobretudo à ideia de existir um Deus Bom, levantou várias questões, e eu apenas respondi a algumas delas
Respostas às questões e objecções do Ricardo
Aproveito agora para deixar respostas resumidas e breves às questões e objecções importantes levantadas pelo Ricardo durante o debate, para as quais não dei resposta na altura, ou então respondi de forma incompleta por falta de tempo. Como se pode ver abaixo, a grande variedade de questões que o Ricardo levantou durante as suas comunicações mostra bem que, caso eu tivesse optado por responder ponto por ponto, o debate teria claramente descarrilado para fora do tema central.
- Há provas científicas de que Deus existe?
- O conhecimento científico de São Tomás de Aquino está ultrapassado.
- Porque não uma regressão infinita de explicações ou causas?
- Porque não uma regressão circular de explicações ou causas?
- Porque é que o multiverso não explica as evidências de afinação do nosso Universo?
- Porque é que o Universo é tão grande? Para quê?
- Porque é que há mal no Universo? Imperfeições? Doenças? Desastres naturais?
- Poderá Deus ser Bom? Paradoxo de Epicuro.
- Todas as alegações de milagres têm sido cientificamente refutadas.
- O livre-arbítrio é uma ilusão.
- A Igreja Católica limita a investigação científica com os seus dogmas morais.
- A alma é uma ficção.
- Uma pessoa de outra religião que teve o azar de não nascer na religião "certa" não se vai salvar?
- Se a mensagem do cristianismo é assim tão importante, porque é que Deus a não a torna mais óbvia? Porque é que Deus não se torna mais óbvio?
- Onde está a "assinatura" de Deus?
- Porque é que Deus deixou o Universo ao acaso?