sábado, 30 de janeiro de 2010

O "Casamento Homossexual"

Preâmbulo

Caros todos,

Apesar do meu nome constar neste blog desde o exacto dia da sua criação, tem sido parca a minha contribuição, quer em número de posts, quer em comentários aos post colocados pelo Bernardo. Resta-me a esperança que a quantidade não seja sinónimo de qualidade… Já agora, aproveito para felicitar e agradecer aos “comentadores residentes” pela qualidade dos vossos argumentos que, aliados às excelentes respostas do Bernardo, têm contribuído para o amadurecimento da minha Fé.

Duarte Fragoso


O "Casamento Homossexual"

Sinto-me como que sugado pelo turbilhão de informação sobre o tema, que não era tema mas passou a ser, do novo modelo de Casamento. De facto, toda esta informação, marcada por um radicalismo a raiar o fanático, tem lançado uma espécie de onda magnética sobre a opinião pública, deixando-a meio atordoada. De tal forma isto é assim que neste momento, em que supostamente já teria havido um debate profundo e esclarecedor sobre o tema, a pergunta que se impõe, pelo menos para mim, é a seguinte:

Mas afinal o que é que está em causa com o alargamento do Casamento a pessoas do mesmo sexo?

Se olharmos para o tema de uma forma objectiva, despindo-o de toda a “bull-shit” para aí apregoada, concluímos que não estão em causa nem direitos fundamentais nem tão pouco discriminações inaceitáveis, que tantos parecem interessados em fazer parecer. Na verdade, acabamos por concluir que tudo não passa de uma questão de concepção. Concebemos o Casamento como ele de facto é, ou seja, reflectindo a união entre um homem e uma mulher, ou, pelo contrário, achamos que o conceito de Casamento deve ser alargado, passando a reflectir também outro tipo de uniões, nomeadamente entre pessoas do mesmo sexo?
É tão só isto que está em causa.

É evidente que as consequências da adulteração do conceito de Casamento, nomeadamente com o alargamento do mesmo a uniões entre pessoas do mesmo sexo, é um erro grave com consequências nefastas para a sociedade. E considero que se trata de um erro grave pelas razões simples que abaixo enumero:

- Identificar de forma igual, relações que são absolutamente diferentes:
Uma relação entre um homem e uma mulher é, obrigatoriamente, diferente de uma relação entre dois homens ou duas mulheres. É diferente a todos os níveis; antropológico; filosófico; sociológico. E por isso mesmo, estes dois tipos de relação têm, obrigatoriamente, direitos e deveres diferentes, portanto devem ser enquadradas de forma diferente. Independentemente de um tipo de relação ser, ou não, melhor do que o outro, o que é um facto é que são diferentes. Assim como um jovem é diferente de um velho e ambos têm direitos e deveres diferentes na sociedade, sem que isso encerre algum tipo de discriminação negativa. Trata-se de situações distintas que devem ser olhadas como tal, sem prejuízo de ninguém.

- Construir uma igualdade artificial através da legislação:
Procura-se forçar uma igualdade falsa através da legislação. Chamar pelo mesmo nome, a partir do dia x, duas coisas que são diferentes e por isso denominadas de forma diferente. Isto é de tal forma absurdo que os defensores da causa, são os primeiros a apelidar este novo conceito de Casamento como o “Casamento Homossexual”. Se lhe chamassem apenas Casamento, as pessoas associariam a uma união entre um homem e uma mulher. Ou, pelo mesmo, não iriam perceber a que tipo de relação é que o seu interlocutor se estava referir, dado que este estaria a utilizar o mesmo nome para se referir a duas relações totalmente distintas entre si.

- Adulterar o Conceito de Casamento:
A partir do momento em que se adultera o conceito de casamento, alargando-o a relações entre pessoas do mesmo sexo, abrimos um precedente perigoso e que se pode
revelar perverso. A partir desse momento qual será o argumento para impedir o alargamento do conceito de Casamento a relações entre várias pessoas, a poligamia, ou a relações incestuosas?

- Estabilidade da família e defesa da procriação:
Não é por acaso que a sociedade se organizou, espontaneamente, em família e que daí tenha surgido o Casamento. A família é a base e o equilíbrio da sociedade. É o garante da sua continuidade. Ao adulterar aquilo que é o Casamento, o acto que oficializa publicamente a relação entre um homem e uma mulher e que os apresenta, perante a sociedade, como uma família apta, entre outras coisas, a procriar, pode ter consequências muito graves. O desmoronar da instituição família significa o desmoronar da sociedade.

- Aumento da homofobia:
Ao transformar um não tema num tema, apenas para servir todos os oportunismos políticos e dar palco a tantos pavões cheios de vaidades, podemos estar a aumentar a homofobia, dado que estamos a criar um ambiente propício ao extremar de posições. Alguém acha que os homossexuais que efectivamente têm uma vida difícil, não alguns histéricos que adoram desafiar a sua própria dignidade naquelas paradas deprimentes, que vivem no seu recato e que se dão ao respeito, estão interessados neste espectáculo? Alguém acha que esses homens e mulheres se vão casar?
Por tudo isto, parece-me claro que esta proposta de lei é um autêntico disparate. Um atentado social a todos os níveis. Em suma, uma inconsciência sem limites!
Ao mesmo nível desta proposta de lei, está a recusa da Assembleia da Republica face ao pedido de realização de um referendo sobre o tema, apresentado numa petição subscrita por mais de 90.000 Portugueses. Lembro que este elevadíssimo número de assinaturas foi recolhido em tempo recorde, sem recurso a qualquer máquina partidária, o que reflecte bem o sentimento colectivo dos Portugueses face a este assunto.

Os grupos parlamentares que recusaram o referendo justificaram a sua decisão tendo por base dois argumentos:

- Esta proposta já constava nos programas eleitorais do PS, PCP, BE e VERDES, sufragados nas últimas eleições e, portanto, a AR teria toda a legitimidade para legislar sobre este tema;

- Não se referendam direitos básicos.

Ora ambos os argumentos são fracos e facilmente refutáveis. O primeiro argumento cheira mesmo a batota… Digo isto porque seria fácil desafiar o PS a encontrar 1 só eleitor, que tenha votado no Partido Socialista, que conheça as mais de 700 medidas que constam no programa eleitoral do PS e, para além disso, concorde com todas essas medidas. É evidente que a existir algum eleitor nessas circunstâncias será, certamente, uma minoria.
Já o segundo argumento apresenta também inúmeras debilidades, a começar pelo facto de ser contraditório face ao primeiro. Se não se referendam direitos básicos, então porque estaria esse mesmo direito presente nos programas eleitorais acima referidos? Confuso não? Mas a resposta é simples. O alargamento do Casamento a uniões entre pessoas do mesmo sexo estava presente nos programas eleitorais dos partidos de esquerda porque, efectivamente o que está em causa não é um direito, é tão só uma questão de concepção do modelo de Casamento.
Resumindo, são dois argumentos frágeis que tentam justificar o injustificável. E o injustificável é o facto de a AR ter, pura e simplesmente, ignorado uma petição fortíssima, organizada de um dia para o outro que reflecte o pulsar da sociedade civil. É evidente que este tema deve ser alvo de um referendo, porque tem a ver com a mais elementar organização social. Isto é claro para todos aqueles que não foram dominados por este fanatismo absurdo.

Não há dúvida que no fim do dia a Assembleia da República, símbolo absoluto da democracia, fica manchada por um tique ditatorial inaceitável, protagonizado, sobretudo, por uma esquerda burguesa e arrogante, que se considera dona das vontades do povo e, como demonstra ao recusar ouvi-lo, o despreza profundamente.

Duarte Fragoso

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Os dezasseis salvadores crucificados

Num comentário anónimo recebido num "post" lá para trás, inserido por alguém que assina "Kikas", encontra-se esta frase, que aqui reproduzo porque revela um fenómeno de desinformação que está ainda activo na sociedade, e que importa desmontar:

«Sabia que Tanto Jesus, como Krisna, Bachus, Horus, Zeus, Buda e mais uma serie deles nasceram todos no dia 25 dezembro filhos de uma virgem?»


Isto é uma aldrabice, que não está sustentada em nenhum facto histórico ou documental. Uma das mais relevantes fontes desta treta encontra-se na obra pseudo-histórica "The World's Sixteen Crucified Saviors" (1875), da autoria do norte-americano Kersey Graves (1813-1883).

Esta aldrabice, que circula há décadas em vários formatos, assenta nas seguintes ideias-chave, que são transmitidas por várias pessoas, de forma acrítica, como se fossem verdade: que há dezenas ou mais de "salvadores", relevantes para as principais religiões mundiais, cujas vidas, alegadamente, teriam relatos idênticos: nascimento de uma virgem, realização de milagres, filiação divina, morte numa cruz, entre outras. Evidentemente, o facto de que os pontos em comum, que são apontados erradamente às vidas de Buda, Krishna, Mitra, Hórus, entre outros, são pontos da vida de Cristo mostra de forma clara a génese anti-cristã destas tretas.

Até o site ateu Infidels, diz o seguinte acerca das tretas de Graves:

«The World's Sixteen Crucified Saviors: Or Christianity Before Christ is unreliable» - ver Kersey Graves and The World's Sixteen Crucified Saviors (2003)

Graves não é o primeiro a disseminar estas tretas anti-cristãs e pseudo-históricas, pois elas não são inventadas de raiz no último quartel do século XIX. A imaginação de Graves era fértil, mas não ao ponto de ser ele o criador de tudo. Seria interessante fazer a história da montagem da obra de Graves. Mas, para o espectador atento destes fenómenos modernos, o que é relevante destacar é que, hoje em dia, estas tretas sobrevivem na Internet, em sites de porcaria, que se alimentam de lixo regurgitado por autores manhosos da vaga "new age" dos anos 60 e 70, que por sua vez foram beber a Graves, directa ou indirectamente, ou a outros autores anticristãos do estilo de Graves. Em bom rigor, a génese deste estilo "literário" e panfletário deverá estar localizada nos primórdios do "iluminismo" e do "deísmo" anti-cristão, por volta do início do século XVIII. Num "post" sobre o filme-propaganda "Hipátia", referi o escritor britânico John Toland (1670-1722), tão importante para a montagem do mito moderno em torno da filósofa neoplatónica Hipátia de Alexandria. É nos círculos intelectuais de ideias semelhantes às de Toland (evidentemente, não só na sociedade anglo-saxónica, mas também na francesa, na alemã, na portuguesa, na italiana, etc.) que podemos encontrar o primeiro fervilhar destas ideias, numa altura em que o entusiasmo panfletário levava à escrita e disseminação de obras, cujo objectivo era sobretudo político e não científico-histórico.

Quem estiver interessado pode encontrar no Google Books uma edição contemporânea (da Cosimo Classics) da obra de Graves aqui (se bem que a descrição de lombada desta edição seja tão má quanto a própria obra):

The World's Sixteen Crucified Saviors

Para terminar, transcrevo mais alguns comentários do site "Infidels" relativos à obra de Kersey Graves:

«Graves often does not distinguish his opinions and theories from what his sources and evidence actually state.
Graves often omits important sources and evidence.
Graves often mistreats in a biased or anachronistic way the sources he does use.
Graves occasionally relies on suspect sources.
Graves does little or no source analysis or formal textual criticism.
Graves' work is totally uninformed by modern social history (a field that did not begin to be formally pursued until after World War II, i.e., after Graves died).
Graves' conclusions and theories often far exceed what the evidence justifies, and he treats both speculations and sound theories as of equal value.
Graves often ignores important questions of chronology and the actual order of plausible historical influence, and completely disregards the methodological problems this creates.
Graves' work lacks all humility, which is unconscionable given the great uncertainties that surround the sketchy material he had to work with.
Graves' scholarship is obsolete, having been vastly improved upon by new methods, materials, discoveries, and textual criticism in the century since he worked. In fact, almost every historical work written before 1950 is regarded as outdated and untrustworthy by historians today.»


Apesar das fortes críticas que este site ateu faz a Graves, nem todos estes comentários são aceitáveis: é risível a afirmação gratuita de que qualquer trabalho histórico anterior a 1950 é visto como "datado" ou "não fiável" pelos historiadores de hoje.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Deus não muda ao sabor dos tempos!

Com a clareza a que já nos habituou, recomendo a leitura deste texto do Joaquim Mexia Alves:

Deus não muda ao sabor dos tempos!

A pouco e pouco...

UK Party Leader Says Faith Schools Must Teach Homosexuality is "Normal and Harmless"
By Thaddeus M. Baklinski

LONDON, January 13, 2010 (LifeSiteNews.com) – U.K. Liberal Democrat leader Nick Clegg is wooing the vote of British homosexuals by stating that his party (the third largest party in the U.K.) would legislate that all faith schools in the UK would be legally obliged to teach their students that homosexuality is normal and without any risk to physical or mental health.

In an interview with the gay lifestyle magazine Attitude, Clegg outlined a number of proposals to advance '"gay rights" in the UK, including forcing all schools, including faith-based schools, to implement anti-homophobia bullying policies and to teach that homosexuality is "normal and harmless."

Clegg said that faith schools must not become "asylums of insular religious identity."

"If they're suffering higher rates of homophobic bullying and violence then we need to put serious pressure on them. It needs to be a requirement; it just needs to be a requirement across the piece."

He also proposed to end the ban on homosexual men being allowed to give blood, and to allow same-sex couples the same legal rights as heterosexual married couples and the right to use the word "marriage" rather than civil partnership.

Clegg's proposals were quickly condemned by church leaders and pro-family groups.

One senior Anglican bishop, who was not identified, told The Independent, “I think this will go down badly even among the not overtly evangelical. Instituting something that must be taught, come what may, is frighteningly fascist.”

Janina Ainsworth, chief education officer for the Church of England, said she saw no reason for changing the current laws governing sex education in schools. “The Church’s traditional teaching is that sex should be set within the framework of a faithful marriage, and sex education in church schools will be delivered within that context,” she said.

"Further upheaval of the guidance for sex education would not be welcomed by many schools, church or otherwise,” Ainsworth added.

Norman Wells of the Family Education Trust, told the Daily Mail, ''Not only is Nick Clegg showing a woeful lack of respect for faith schools, but he is also totally disregarding the deeply-held views of parents."

"The vast majority of parents do not want their children’s schools to be turned into vehicles to promote positive images of homosexual relationships. It is a fundamental principle of education law that children must be educated in accordance with the wishes of their parents."

Wells further charged that "Nick Clegg is pushing a radical social agenda which would only cause confusion among vulnerable young people and expose them to increased risks to their physical and emotional health."

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ordem de Pio XII para acolher hebreus nos mosteiros

Após e durante a ocupação nazi de Roma, ocorrida em Setembro de 1943, e com o início da deportação dos judeus romanos para os campos de concentração, foram dadas ordens por Pio XII para salvar o máximo possível de judeus, escondendo-os em propriedades eclesiásticas.

As testemunhas orais sempre abundaram, mas os críticos de Pio XII sempre duvidaram. É a força do preconceito. Evidentemente, a raridade documental tem uma explicação: qualquer prova escrita relativa ao abrigo clandestino de hebreus constituía um documento muito perigoso para quem o detinha. As ordens eram orais, e raramente eram passadas a escrito.

No ano passado, o Padre Peter Gumpel trouxe à luz do dia um desses raros documentos escritos: o diário do ano 1943 das freiras agostinianas de clausura, do mosteiro dos Quatro Santos Coroados, em Roma:

«Chegadas a este mês de Novembro, devemos estar prontas a render serviços de caridade de uma forma totalmente inesperada.

O Santo Padre Pio XII, de coração paterno, sente todo o sofrimento do momento.

Com a entrada dos alemães em Roma, ocorrida no mês de Setembro, inicia-se uma guerra cruel contra os hebreus que se querem exterminar mediante atrocidades sugeridas na mais negra barbárie. Juntam-se os jovens italianos, os homens da política, para os torturarem e fazê-los morrer entre tremendos suplícios.

Nesta dolorosa situação, o Santo Padre quer salvar os seus filhos, mesmo os hebreus, e ordena que nos mosteiros se dê hospitalidade a estes perseguidos, e mesmo as clausuras devem aderir ao desejo do Sumo Pontífice, e ao dia 4 de Novembro, nós hospedamos até ao 6 de Junho próximo as pessoas a seguir elencadas:

(24 nomes)»
- ver texto completo.

Note-se a referência aos plurais "nos mosteiros" e "as clausuras", ou seja, para além de se depreender que a ordem fora dada a vários mosteiros de Roma (bem como aos seminários, mas isso não se depreende deste diário), também os mosteiros de clausura devem aderir ao pedido do Papa.

Para saber mais: O Santo Padre ordena...

. Antonio Gaspari, Nascosti in convento, Milão, Ancora, 1999
. Enzo Forcella, La resistenza in convento, Einaudi, 1999
. Alessia Falifigli, Salvàti dai conventi. L’aiuto della Chiesa agli ebrei di Roma durante l’occupazione nazista, Cinisello Balsamo, San Paolo, 2005
. Renzo de Felice, Storia degli ebrei italiani sotto il fascismo, Einaudi, 2005

Site valioso

Com vários dossiês actuais: http://www.documentazione.info/

Reengenharia linguística

Eles foram rápidos!

Do Dicionário "online" da Porto Editora:

casamento
nome masculino
1. acto ou efeito de casar
2. contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família em conjunto; matrimónio
3. cerimónia que celebra o estabelecimento desse contrato; núpcias
4. situação que resulta do acto de casar
5. estado de casado
6. figurado enlace, união
7. figurado combinação
(De casar+-mento)


Do Dicionário "online" da Priberam:

casamento
(casar + -mento)
s. m.
1. Acto! ou efeito de casar.
2. Contrato de união ou vínculo entre duas pessoas que institui deveres conjugais. = matrimónio
3. Cerimónia ou ritual que efectiva! esse contrato ou união. = boda
4. Fig. União, associação, vínculo.
5. Reg. Passa de figo recheada com pedaços de noz ou de outros frutos secos.
casamento de mão esquerda: mancebia.

casar - Conjugar
(casa + -ar)
v. tr.
1. Unir por casamento.
v. intr. e pron.
2. Unir-se por casamento.
3. Fig. Condizer.


Já no termo "matrimónio", o da Porto Editora ainda continua homófobo: é inadmissível!

matrimónio
nome masculino
1. DIREITO contrato perante a lei para um homem e uma mulher viverem em comum e beneficiarem de certos privilégios legais
2. união legítima, de carácter civil ou religioso, entre duas pessoas; casamento; união conjugal
3. bodas; núpcias
4. consórcio
(Do lat. matrimonìu-, «id.»)


O da Priberam já fez a sua reengenharia linguística, pois da sua definição de matrimónio já não resta nada que aluda à raiz etimológica, que vem de "protecção da maternidade" (algo que, evidentemente, também se pode aplicar a um "casal" homossexual, desde que lésbico e que possa adoptar):

matrimónio
(latim matrimonium, -ii )
s. m.
União legítima entre duas pessoas, legalizada com as cerimónias e formalidades religiosas ou civis para constituir uma família. = casamento


Decididamente, já não é só por causa do novo e pateta acordo ortográfico: desta é que vou mesmo guardar lá em casa umas cópias, para memória arqueológica, dos bons dicionários que ainda consegui comprar a tempo...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

São Paulo e a homossexualidade

Carta do Apóstolo São Paulo aos Romanos, Capítulo I, vs. 26 e 27:

«26 Foi por isso que Deus os entregou a paixões degradantes. Assim, as suas mulheres trocaram as relações naturais por outras que são contra a natureza. 27 E o mesmo acontece com os homens: deixando as relações naturais com a mulher, inflamaram-se em desejos de uns pelos outros, praticando, homens com homens, o que é vergonhoso, e recebendo em si mesmos a paga devida ao seu desregramento.»


Claro que um católico "liberal" arranja sempre uma maneira de ler isto de forma "LGBT friendly"... Talvez chamando São Paulo de "puritano", ou alegando que isto não é para se ler à letra, porque tem a ver com condicionantes culturais, e assim por diante. A coisa boa da desculpa das condicionantes culturais é que nos permite ler a Bíblia de tal maneira que é a Sagrada Escritura que se adapta às nossas convicções, e não o inverso.

Em toda esta discussão malsã, o que me desgasta mesmo não é ter que enfrentar a incompreensão de uma cultura moderna anti-cristã e moralmente naufragada, porque isso já era de esperar. A coisa mais desgastante, hoje em dia, para um cristão em busca da coerência, é o debate com aqueles outros cristãos que preferem ir abrindo rachas no casco do cristianismo, achando que isso é "diálogo" e "tolerância".

Amar o outro implica não lhe faltar à verdade, e não defraudar quem somos e a base das nossas convicções. Prefiro aceitar a realidade de ser odiado pelos modernos, enquanto cristão coerente, do que a miséria de ter que recorrer à mentira e à incoerência para ganhar a sua amizade e popularidade.

É que, do ponto de vista cristão, aceitar a homossexualidade como moral implica abandonar ao seu destino aqueles que padecem dessa inclinação. É de uma enorme falta de caridade cristã, perante casos de imensa aflição e drama humano, calar a verdade moral, e deixar estes nossos irmãos com uma cruel (mas "tolerante") palmadinha nas costas: "deixa lá, que a vida que levas não tem mal nenhum!".

Cristo disse: "Eu não vim trazer a paz, mas a espada.". A Paz de Cristo não é a paz deste mundo, ou a paz que este mundo quer ter, mas sim a Paz do Reino dos Céus. Para que venha a Paz de Cristo, é preciso, muitas vezes, fazer guerra ao mal deste mundo, cuja raiz é sempre a mentira. É na mentira que está a génese do mal, e é a mentira que devemos combater. A Palavra de Deus é a espada que corta a mentira a direito. Há vidas dilaceradas pela mentira, e tentar fazer da mentira uma verdade é pura loucura. Há que ouvir a Palavra de Deus e deixar que ela faça eco nas nossas vidas e as mude, e não tentar torcer a Palavra de Deus, para colá-la à força às nossas vidas.

Bento XVI e o "casamento" homossexual

In Ecclesia, Papa condena projectos que legalizam casamento entre pessoas do mesmo sexo

«Bento XVI pronunciou-se esta Segunda-feira sobre os projectos que legalizam casamento entre pessoas do mesmo sexo, classificando-os como "ataques" e considerando que, "em nome da luta contra a discriminação", os mesmos "atentam contra o fundamento biológico da diferença entre os sexos”.

Sem citar nenhum caso específico, o Papa lembrou que o mesmo se verificou “em países europeus ou do continente americano”. Num encontro com o corpo diplomático acredito no Vaticano, afirmou que “o caminho a seguir não pode ser fixado pelo que é arbitrário ou apetecível, mas deve, antes, consistir na correspondência à estrutura querida pelo Criador”.

“As criaturas são diferentes umas das outras e podem ser protegidas ou, pelo contrário, colocadas em perigo de diversas maneiras, como no-lo demonstra a experiência diária”, advertiu Bento XVI, frisando que “a liberdade não pode ser absoluta”.

"A natureza exprime um desígnio de amor e de verdade que nos precede e que vem de Deus”, disse o Papa no seu discurso.

Bento XVI afirmou que "o homem não é Deus, mas imagem de Deus, sua criatura. Para o homem, o caminho a seguir não pode ser fixado pelo que é arbitrário ou apetecível, mas deve, antes, consistir na correspondência à estrutura querida pelo Criador".

Na passada Sexta-feira, o Parlamento português aprovou o projecto de lei do governo que abre a porta ao casamento entre pessoas do mesmo sexo no nosso país, uma medida apresentada pelo primeiro-ministro José Sócrates como um “marco na história da luta contra a discriminação”.

Bento XVI manifestou ainda a sua tristeza por considerar que “em certos países, sobretudo ocidentais", se difundiu "nos meios políticos e culturais, bem como nos mass media, um sentimento de pouca consideração e por vezes de hostilidade, para não dizer menosprezo, para com a religião, particularmente a religião cristã”.

“É claro que, se se considera o relativismo como um elemento constitutivo essencial da democracia, corre-se o risco de conceber a laicidade apenas em termos de exclusão ou, mais exactamente, de recusa da importância social do facto religioso”, atirou, considerando esta atitude como “uma estrada sem saída”.

Por isso, afirmou o Papa, “é urgente definir uma laicidade positiva, aberta, que, fundada sobre uma justa autonomia da ordem temporal e da ordem espiritual, favoreça uma sã cooperação e um espírito de responsabilidade compartilhada”.

Notando “com satisfação” que o Tratado prevê que a União Europeia mantenha com as Igrejas um diálogo «aberto, transparente e regular» (art. 17), Bento XVI fez votos de que “a Europa, na construção do seu futuro, saiba sempre beber nas fontes da sua própria identidade cristã”, a qual, observou, tem “um papel insubstituível” na promoção de “um consenso ético de base”.

O Papa, que apresentara uma reflexão sobre a actual crise ecológica, deixou ainda aos presentes uma questão: “Se se quer construir uma paz verdadeira, como se poderia separar ou mesmo contrapor a protecção do ambiente e a da vida humana, incluindo a vida antes de nascer?”.»


E agora?
O que dirão os católicos que achavam bem o "casamento" homossexual, ou que lhe eram indiferentes? Que desculpas arranjarão agora?
Vou procurar citar aqui o texto completo do Papa, que deverá sair na edição da Zenit de amanhã.