terça-feira, 30 de dezembro de 2003

Fudamentalismo

É interessante o artigo de opinião de Eduardo Prado Coelho, no Público, intitulado "Teoria dos Sinais".

O artigo discorre sobre o cansaço geral relativamente à já massacrada questão da penalização da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez).

Alguns dos comentários deixaram-me perplexo. A dada altura, Prado Coelho diz que um dos lados começa a "abrir fissuras". Refere-se, claro, ao campo do "Não".

É certo que esse será o lado que abrirá fissuras. Melhor, esse lado cairá totalmente. Será mais um dos claros sinais dos tempos em que vivemos, desta triste Idade Escura.

Contudo, cairá, esperemos, com dignidade.
E a dignidade está, por exemplo, em apontar e identificar a iniquidade de algumas ideias.
Como, por exemplo, quando Prado Coelho se aproveita da triste frase do Bispo do Porto.
Ou quando o comentador diz, por exemplo, que "a lei não pode decidir sobre algo que diz respeito à consciência de cada um face a dados científicos e filosóficos que são manifestamente controversos e que podem ser susceptíveis de interpretações diversas". Muito bem!

Sugeria que fosse feita a mesma ilacção em relação a outras "interrupções voluntárias", como por exemplo, o suicídio (já vem a caminho a Eutanásia), ou até mesmo o homicídio.

"O homicídio não!", reagiriam chocados os partidários da despenalização da IVG. Mas não se dão conta de que o fundo da questão é o mesmo. Não se trata de liberdade de consciência coisa nenhuma! Trata-se de protecção legal para um ser humano ainda não nascido.

A certo ponto, Prado Coelho teoriza que "os que se opõem à despenalização do aborto começam a ter dúvidas e a deixar entrever que estão dispostos a ceder na prática para poderem manter uma posição de princípio no campo dos valores". Como diz que disse? O que é isto de "ceder na prática"? Se se trata de uma posição de princípio, seria imbecil fazer concessões de natureza "prática" ou pragmática.

Prado Coelho está com este artigo de opinião, sublinhe-se, a criticar uma crónica de José António Saraiva, do Expresso.
Entre vários pontos desta crítica do que chamou "Teoria dos Sinais", Prado Coelho critica, e com razão, que José António Saraiva diga que ninguém pretende "punir as mulheres que abortam". Segundo Prado Coelho, nenhuma lei deve ser feita para "dar sinais" à sociedade.

Concordo com esta crítica a José António Saraiva, porque a postura deste último deixou-o encurralado num beco argumentativo. Mas discordo profundamente do sentido que Prado Coelho quer dar a esta crítica!

Concordo que todas as leis sejam aplicadas.
Se há uma pena associada à violação de uma lei, pois então, nada mais natural que punir o infractor. Parece-me uma questão básica em termos de Direito.
Como também, para comentar outra polémica, não me perturba nada a redução da pena feita pelo Senhor Presidente da República a uma das condenadas pela prática ilegal da IVG. Trata-se de um procedimento normal.

Bernardo

P.S.: Apenas mais uma nota, relativa ao uso da palavra "fundamentalismo"... Quem tem Prado Coelho contra o fundamentalismo? Como a palavra indica, trata-se de uma postura assente em fundamentos! Talvez tivesse sido mais adequado usar a expressão "fanatismo", se bem que eu acho que a postura conservadora do "Não" nada tem de fanática em si, apesar de algumas demonstrações esporádicas e marginais de fanatismo, que infelizmente existem sempre.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2003

A Time dá uma ajuda a Dan Brown

Na edição desta semana, a Time traz o seguinte artigo: "The Lost Gospels".
Fala-se no artigo da crescente popularidade dos "evangelhos proibidos", os apócrifos. O artigo discorre sobre a forma como o universo multimédia está cada vez mais a ressuscitar velhas heresias como o gnosticismo. E dá dois exemplos: a trilogia cinematográfica "Matrix" dos irmãos Wachowsky, e o inevitável best-seller instantâneo "The Da Vinci Code" de Dan Brown.

Contudo, como sempre, a Time dá os seus tí­picos "toques" de parcialidade. A certa altura, o artigo cita um excerto do Evangelho de Pedro, um dos apócrifos. Após a citação, vem este trecho:

«You probably haven't heard of [The Gospel of] Peter because by A.D. 350 church fathers had tarred it as heresy, along with dozens of other early Scriptures with names like the Gospel of Mary, the Acts of John, the Homilies of Clement, and the Gospel of Truth. Thus Peter and the others languished in ignominy, more or less forgotten.»

Não percebo qual é o problema que alguma mentalidade moderna tem com a questão das heresias e dos textos apócrifos.
Do mesmo modo que, no trabalho cientí­fico moderno, se rebatem teses absurdas, eliminando-as para subsistirem as mais válidas, também em Teologia se fez este importante trabalho de destrinçar a falsidade da verdade.
O facto de estes erros terem sido condenados há 1.700 anos, sem nunca mais terem sido readmitidos, deveria servir de comprovativo da estabilidade da doutrina.

O preconceito anti-clerical revolve frequentemente em torno da ideia de que a religião católica funciona com base no binómio "poder das autoridades" versus "massa de fiéis ignorantes e crédulos". Por isso, sucede que, de vez em quando, lá temos que suportar estas posturas pseudo-intelectuais de quem diz vir em socorro dos fiéis, enganados por uma Igreja tirana, falsa e déspota.

Não vou sequer debruçar-me sobre o tema da sexualidade de Jesus.
É bem sabido que alguns textos apócrifos mencionam, com margem para dúvidas, uma relação entre Jesus e Maria Madalena. Contudo, não foi tanto por isso que a Igreja Católica os rejeitou, mas sobretudo pelos seus erros teológicos.

Mais adiante no artigo, a Time "recupera" algumas posturas heréticas: a dos Ebionitas, a dos Marcionitas, e sobretudo a dos Gnósticos, que é a mais popular nos dias que correm.

Numa mensagem posterior, escreverei sobre estas heresias, para explicar sucintamente porque é que elas constituem graves erros teológicos, e porque é que os textos que as reflectiam não foram incluí­dos no cânone da Igreja.

Bernardo

terça-feira, 16 de dezembro de 2003

De novo à carga...

Depois de uma longa ausência, justificada pelos melhores motivos, regresso com uma referência a um artigo que surgiu na edição desta semana da revista "U.S News", intitulado "The Jesus Code - Americans may be unique in revising the Christ story to get back to the original human preacher".

É um artigo muito preocupante, mas que só espanta os mais distraídos.
Tudo gira à volta de um romance de Dan Brown, que se está a tornar rapidamente num best-seller, chamado "The Da Vinci Code". Para quem conhece os meandros do mistério de Rennes-le-Château, tudo isto não será novo. Durante largos anos dediquei-me, e ainda o faço, a este mistério. Por isso, livros como o de Dan Brown, francamente, têm um estilo que já me enjoa. Já não se pode mais com as teorias do "segredo que a Igreja ocultou", do Jesus que casou com Maria Madalena, do Jesus que teve filhos, enfim, com a típica lista interminável de hipóteses revisionistas, feitas para causar escândalo, provocar o êxodo em massa dos crentes que ainda restam, e para gerar lucros aos autores e editores.

Dan Brown é tudo menos inovador. Há duas décadas atrás, o trio Michael Baigent, Henry Lincoln e Richard Leigh, autores do explosivo "The Holy Blood and the Holy Grail", avançava com exactamente as mesmas teorias, mas na forma de obra documental, o que é consideravelmente mais grave.
O livro de Dan Brown é um romance. Por isso, o autor pode escudar-se atrás do argumento de que a obra é ficcional.
O enredo, confesso que não o conheço com detalhe, gira à volta do tal segredo que a Igreja Católica ocultou. Na trama de Brown, a protecção e ocultação deste segredo está a cargo do Opus Dei. Como se lê no referido artigo, o "timing" é muito oportuno, numa altura em que os Estados Unidos estão a braços com os escândalos da Igreja Católica norte-americana. Mas não há qualquer base real na trama deste romance, o que o torna muito perigoso para os 4,3 milhões (número de cópias a colocar à venda) de potenciais compradores pelo mundo fora.
Insinua-se gratuitamente que a Igreja Católica é um covil de farsários, que se dedicam há 2 milénios a uma profunda e sofisticada fraude sobre a pessoa de Jesus. Ainda bem que surgiu o cérebro evoluido do senhor Dan Brown para, finalmente, depois de 2 mil anos de enganos e ilusões, ser detectada esta grande fraude.

Bem sei que estamos a falar de um romance, mas este deveria ganhar um prémio de subtileza. As hipóteses usadas por Brown na sua trama são tão subtis como um elefante numa loja de cristais.

Ao longo dos próximos dias regressarei a este tema, visto que considero o livro de Dan Brown tão perigoso que nunca será demais falar sobre o assunto. Até porque este best-seller será eventualmente publicado em português dentro de pouco tempo.

Para terminar, um aviso: o já velhinho livro de Baigent, Leigh e Lincoln foi recentemente reeditado em português. É uma obra a evitar, a não ser pelos interessados no pitoresco universo alucinado criado pelos seus autores. Trata-se de uma obra cujos danos intelectuais demorarão décadas a recuperar. O recente livro de Dan Brown piora, obviamente, ainda mais esta triste situação.

Concordo com o U.S. News, "americans are unique". Então em matéria de religião...

Bernardo

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

A guerra contra o terrorismo

Bem a propósito do atentado do dia de hoje em Istambul, aqui deixo um artigo de opinião de Miguel Sousa Tavares.

"Que Alá seja misericordioso!"

Para ler, e reler...

Bernardo

quarta-feira, 12 de novembro de 2003

Atlântida

A existência da Atlântida é um tema sempre polémico.
Não podemos, contudo, deixar que a eufórica tendência "New Age", sempre pronta para alucinações e fantasias, nos "tape a vista", fazendo-nos recusar a hipótese.

A postura do cepticismo radical, em relação a esta questão da Atlândida mas não só, sempre me pareceu irracional. É certo que, quando Platão escreveu sobre o continente perdido, já a história da Atlântida era um eco distante. Contudo, nada nos escritos de Platão nos faz pensar que este duvidasse da sua existência.

Hoje saiu no Público uma notícia deveras interessante:

"Especialistas situam a Atlântida em extremos opostos do Mediterrâneo"

Deixo a questão da localização da Atlântida para os arqueólogos.
O que me interessa afirmar aqui é que recusar a existência do continente é mais perigoso do que aceitá-la, visto que temos os relatos fiáveis de Platão, já para não falar na tradição oral.

A Terra pode mudar radicalmente em poucos milhares de anos.
Se sucedesse hoje um cataclismo à escala mundial, e a civilização ocidental como a conhecemos desaparecesse de vez, dentro de alguns milhares de anos tudo voltaria a ser paisagem selvagem.

O fundo dos mares, bem como a história da humanidade para lá dos 10.000 anos antes de Cristo, são dois abismos de desconhecimento profundo para a ciência moderna.

Aqueles que ridicularizam estas tentativas arqueológicas deveriam lembrar-se de que o mesmo foi feito no século XIX a Heinrich Schliemann quando este disse que iria encontrar Tróia só com base nos escritos de Homero.

Schilemann encontrou Tróia.

Bernardo

segunda-feira, 10 de novembro de 2003

Os dois problemas fundamentais da epistemologia

A epistemologia, para os mais distraídos, estuda o conhecimento científico. É um ramo essencial do conhecimento na medida em que serve de regulador e de observador crítico ao trabalho das ciências.
Segundo Karl Popper, os dois problemas fundamentais da epistemologia são a indução e a demarcação entre ciência e metafísica.

Hoje interessa-me falar sobretudo do segundo.
É certo que o que é entendido hoje por metafísica, que significa literalmente "o que está para além da física", difere muito do sentido que lhe dava, por exemplo, Aristóteles. Sucede o mesmo com o conceito de "física", hoje em dia convertido num ramo muito específico do conhecimento. Por isso, a leitura dos filósofos e epistemólogos modernos pode ser, por vezes, desconcertante devido à estreiteza da linguagem como ferramenta de comunicação (principalmente para tratar temas como a metafísica) e à alteração do significado dos conceitos ocorrida ao longo da História.

Karl Popper agrada-me, sobretudo, pela sua análise fortemente crítica. Para Popper, uma questão fundamental é a separação dos dois domínios. Ele recusou duas teorias de demarcação que tinham sido avançadas antes:

a) a demarcação pela "base observacional"; ou seja, tudo o que não fosse observável estaria fora das ciências empíricas e pertenceria ao domínio da metafísica
b) a demarcação pelo uso do método indutivo; ou seja, tudo o que não seguisse métodos indutivos pertenceria ao domínio da metafísica.

Popper apontou, e bem, as falhas destas teorias de demarcação. Existe um imenso conjunto de teorias abstratas e altamente especulativas, por exemplo, na física moderna através de Einstein. Por isso, cai por terra a demarcação pela "base observacional". O segundo critério de demarcação é também facilmente refutado pela constatação de que, fora da ciência, existem numerosos exemplos do uso do método indutivo. Popper exemplifica com a Astrologia, que ele classificou de "pseudo-ciência".

Como demarcar então conhecimento científico e conhecimento metafísico?
Popper sugere a "refutabilidade ou falsificabilidade de um sistema teórico".

Assim, apesar de Popper não se interessar por metafísica, o que deriva da sua inclinação ou gosto pessoais, pelo menos não foge da necessidade de imposição de uma demarcação. Fica por discutir se a opinião de Popper em relação à metafísica era tão depreciativa como a de muitos colegas seus. Depreciar a metafísica é depreciar o superior em detrimento do inferior. A própria etimologia da palavra "metafísica" é suficiente para o demonstrar cabalmente.

Bernardo

quinta-feira, 6 de novembro de 2003

Camarate

Saiu hoje no Público a seguinte notícia:

"Auditoria ao Fundo de Defesa do Ultramar revela irregularidades"

O artigo avança, dir-se-ia a medo, com a seguinte frase introdutória: "Poderá sair reforçada a teoria de atentado no caso Camarate".

"Poderá sair reforçada"?
Ainda haverá alguém que duvide do atentado e das suas razões?
Obviamente, estas razões prendem-se com as movimentações do Fundo de Defesa do Ultramar, autêntico "saco azul" que foi usado repetidas vezes para negócios de armamento que importa esclarecer.

O livro de Ricardo Sá Fernandes, "O Crime de Camarate" já tem alguns anos, mas aparentemente não provocou ondas nenhumas, e isto apesar de ser um trabalho de investigação extenso, exaustivo e convincente. De que é que estamos à espera? Alguém ainda espera alguma coisa desta Comissão Parlamentar de Inquérito? Que andam eles a inquirir?

O problema é que alguns culpados e responsáveis ainda estão vivos. Só quando estas pessoas morrerem é que se poderá "saber" a verdade, até às últimas consequências. Estão envolvidas pessoas de todos os quadrantes políticos e também das Forças Armadas, sempre intocáveis.

Adelino Amaro da Costa foi assassinado no preciso momento em que ia iniciar uma investigação ao Fundo do Ultramar. Sá Carneiro teve o azar de partilhar o Cessna com Amaro da Costa.
E assim partiram juntos para o Porto naquela noite fatídica, numa viagem que terminou poucos minutos depois da descolagem com a detonação de um engenho explosivo.

As provas existem. Sá Fernandes apresenta-as de forma irrefutável. Vestígios de explosivos. Peritagem dos destroços. Depoimentos de pessoas envolvidas. Relatos de testemunhas oculares.

O português comum, como sempre, nada sabe sobre isto. Pior... Não se interessa.

Bernardo

quarta-feira, 5 de novembro de 2003

Twin Peaks

A não perder!
A Sic Radical (quem diria?) está a repor a série de culto de David Lynch.

Ontem, terça-feira, já transmitiram à noite o primeiro episódio.
Como é tão raro dar alguma coisa aproveitável na televisão, aqui fica o aviso.

Bernardo

ESTUDANTES!!!

O ano lectivo começou em Setembro e desde então até ao dia de hoje, 5 de Novembro, temos assistido a greves, invasões, vigílias e manifestações, protagonizadas e organizadas pelos estudantes do nosso ensino superior.

Tendo em conta o tempo despendido na participação e organização de tão distintos e importantes eventos, será que resta algum tempo aos estudantes para estudarem e assistirem às aulas?

Pois... é natural que também estejam contra a lei das prescrições!

Abraço,
Duarte

Mito Moderno nº. 4 - Freud e a Psicanálise

Foi editado recentemente, pela editora Campo das Letras, o livro de Richard Webster "Fred estava errado. Porquê?".
Este livro é uma fortíssima crítica ao legado de Freud. Webster não é, obviamente, pioneiro na crítica a Freud. Inúmeros académicos já se tinham manifestado contra a psicanálise e a sua classificação como ciência.

Os argumentos de Webster são muitos, mas aqui ficam os mais importantes:

Freud destruiu registos e documentos numa clara tentativa de dificultar o trabalho dos biógrafos futuros.
Freud não foi original: Webster explica e expõe quem foram os seus inspiradores.
A psicanálise nunca produziu resultados claros da cura de um ou mais pacientes, ou seja, o efeito terapêutico da psicanálise deixa muito a desejar (na minha opinião, mais do que ser ineficaz na cura a psicanálise pode mesmo ser prejudicial).
O número de casos em que Freud se baseou é extremamente limitado, não tendo existido, portanto, ampla comprovação das suas teorias em casos-prova concretos.

Resumindo, Webster classifica a psicanálise de pseudo-ciência porque o trabalho de Freud não cumpriu os mais básicos requisitos do método científico e o resultado final dificilmente pode ser classificado de "ciência".

Esta é uma das características da fase do ciclo em que nos encontramos. As teorias "sensação" desta era moderna, recebidas no início com um entusiasmo quase fanático, estão agora a ser contestadas e mesmo recusadas definitivamente. O turbilhão metamórfico do conhecimento científico actual deveria levar o espectador atento a questionar-se sobre o fundamento de toda a ciência moderna.

O problema principal da ciência moderna está na ausência de principios transcendentais.
A falsa questão "religião vs. ciência" tem-nos atormentado tempo a mais. Não se tratam de conceitos incompatíveis em absoluto. Tratam-se de dois domínios hierarquicamente diferentes da mesma Verdade. Contudo, a ciência moderna não deve iludir-se: sem estar apoiada em princípios transcententais não irá a lado nenhum. Andará em círculos, numa cadeia permanente de produção de novas teorias e subsequente refutação das mesmas.

Bernardo

sexta-feira, 31 de outubro de 2003

SOBRE ESTA PEDRA

O Papa está a fazer uma coisa muito difícil, em que o “corpo é que paga”. Está a morrer diante de nós, depois de envelhecer diante de nós, restituindo a uma parte da vida, que escondemos em lares sórdidos para nosso conforto, uma dignidade essencial. É uma opção que muitos não compreenderam, porque têm o culto da juventude e da eficácia, da energia e da vitalidade, e não perceberam a última lucidez deste homem – a de nos devolver a integridade da vida toda.

O Papa é um dos homens de estado com maior influência na história do século XX, e, junto com Reagan, acabou com o império soviético. Mas não se ficou por aí: devolveu, pelo exemplo, à Igreja católica, uma imagem pública espiritual, que a burocratização do papado tinha perdido nos últimos séculos. A Igreja vai torná-lo santo rapidamente, mas desta vez o milagre está a ver-se todos os dias.


Pacheco Pereira
BLOG: Posted 18:35 by JPP em 01/10/2003


Abraço,
Duarte.

quinta-feira, 30 de outubro de 2003

A anarquia de alguns "estudantes"...

Quem me conhece sabe que tenho pouca paciência para estudantes contestatários.
Sobretudo no que toca ao eterno assunto das propinas.

"Estudantes de Letras de Lisboa interrompem reunião de Conselho Directivo", li hoje no Público...

«Os estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa interromperam hoje uma reunião do Conselho Directivo em que devia ser aprovado o valor das propinas para este ano, o que levou à suspensão do encontro. O mesmo aconteceu há uma semana, quando os alunos interromperam a mesma reunião.

Os estudantes recorrem a este expediente para mostrar a sua oposição à fixação de qualquer valor para a propina na faculdade em resposta ao "sucessivo desinvestimento do Estado no ensino superior", tendo em conta que a nova legislação atribui às universidades a responsabilidade de fixar o valor de propina anual.»


O caos a que isto chegou é bem claro. A interrupção de uma reunião do Conselho Directivo parece-me, a mim que sou antiquado, uma ofensa grave por parte de todos os que nela participem.

Castigos?
Sanções disciplinares para estes pequenos anarcas, para estes jovens revolucionários?
Não me parece que venham a fazê-las...

Os "estudantes" da Faculdade de Letras que participaram nesta fantochada, e que serão na esmagadora maioria iletrados, mostram desta maneira como estão claramente contra conceitos como autoridade, respeito, dignidade, obediência, decência, civismo, educação, JUSTIÇA, entre tantos outros.

Ao menos quando se interrompem as sessões parlamentares em São Bento lá surge a PSP para mostrar aos abusadores o caminho para a saída!

Bernardo

terça-feira, 28 de outubro de 2003

J. K. Rowling e a Sociedade Teosófica

Que raio de título! Explico-me...

Volto de novo ao Harry Potter da escritora J. K. Rowling.
Não resisti a escrever estas linhas depois de saber que, na escola de feitiçaria de Hogwarts, é usado pelos alunos (não sei bem em que contexto, talvez numa aula) um livro de Adivinhação, obviamente ficcional, chamado "Unfogging the Future", cuja autora se chama Cassandra Vlabatsky.

Todos sabemos que J. K. Rowling tem especial mestria na escolha dos nomes dos lugares e das personagens, e que os usa como jogos de palavras e charadas verdadeiramente surpreendentes e de grande efeito cómico.

Agora, o nome escolhido por Rowling para a autora deste livro ficcional é um nome, no mínimo, muito suspeito.
Cassandra Vlabatsky?
Claro que o grande público, nomeadamente 99,9 % dos leitores de Rowling, não deve fazer ideia de quem foi Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891), nem em que consistiu e consiste a sua Sociedade Teosófica.

A Sociedade Teosófica, fundada por Blavatsky, foi a percursora do New Age. Blavatsky introduziu no Ocidente uma verdadeira avalanche de pseudo-doutrinas que não são mais do que a deturpação consciente e desonesta das verdadeiras doutrinas orientais. Blavastky e a Sociedade Teosófica exerceram uma enorme influência, prejudicial, nas mentalidades do século XX, e sucede que hoje em dia já quase se esqueceu esta mulher e a sua obra infernal.

Não vou atacar os livros de J. K. Rowling, nem menosprezar as suas histórias, que admito serem bastante complexas e empolgantes, apesar de não fazerem parte dos meus gostos de leitura. É obviamente desejável recuperar a literatura de aventura e o entusiasmo pela leitura em si, sobretudo junto da juventude, e J. K. Rowling é, nesse aspecto, uma autora que merece destaque.

Agora, não posso deixar de questionar que motivações estarão por trás da escolha do nome Vlabatsky por parte de Rowling. Pura coincidência? A pura coincidência parece-me muito pouco provável. Se, por outro lado, Rowling conhece bem Blavatsky e a sua obra, e quis fazer uma charada com o seu nome, lanço aqui um alerta aos leitores, e sobretudo aos pais dos leitores: estejam atentos e informem-se sobre quem era Blavatsky e sobre o que ela fez.

Seria muito perigoso, sobretudo para os leitores mais novos, se J. K. Rowling estivesse a deixar "transpirar" para as suas obras, e para um público não preparado, os ideais e as teorias da Sociedade Teosófica. Repito, já é bastante suspeito que ela brinque com coisas sérias, fazendo a deturpação Blavatsky/Vlabatsky. Faz-me pensar o que achará J. K. Rowling das ideias de Blavatsky, e na inspiração que poderá ter tirado de obras desta como "The Secret Doctrine" ou "Isis Unveiled".

Espero estar a exagerar, mas aqui fica o aviso.

Bernardo

segunda-feira, 27 de outubro de 2003

Potter e o Panteão

Não vou comentar, apenas citar:

«Duelos de "varinhas mágicas", malabarismos com fogo e uma mesa para preparar "poções" serviram para recriar, no Panteão Nacional, a escola de feitiçaria de Hogwarts, durante a cerimónia de lançamento de "Harry Potter e a Ordem da Fénix".

Às 21h45 nem a chuva afastava os convidados para o espectáculo que a Editorial Presença levou três meses a preparar, e cerca de duzentas pessoas concentravam-se à porta do monumento, aguardando o início da festa de lançamento do quinto volume da saga de J. K. Rowling, que tem exactamente 750 páginas.

E, a avaliar pelo entusiasmo de miúdos e graúdos, a espera compensou os fãs do mundo mágico da escritora inglesa, pois o Panteão animou-se a partir das 22h00 com intervenções de alunos do colégio Valsassina e da Escola EB 2,3 de Telheiras nº1, vestidos com um uniforme similar ao da escola de magia de Hogwarts.»
- Público, "Magia não evita chuva, mas segura leitores da saga Harry Potter".

Sem comentários.
O que eu mais gostava de saber era o nome da pessoa ou da instituição que autorizou que semelhante barbaridade profanasse o Panteão Nacional.

Bernardo

Liberdade de Educação

Este fim-de-semana tive o prazer e a honra de participar numa conferência organizada pelo Fórum para a Liberdade de Educação.

Este fórum, composto por pessoas cuja motivação é única e exclusivamente o seu elevado sentido cívico, tem como objectivo garantir que o direito à liberdade de educação, contemplado na nossa constituição, seja efectivamente garantido. Coisa que, actualmente, não acontece.

Nesse sentido o fórum tem vindo a organizar um conjunto de sessões de esclarecimento, tais como conferências, debates, mesas redondas, etc., abertas a quem quiser participar, e procurado exercer um lobying organizado junto das entidades competentes, para que esta situação, objectivamente ilegal, possa ser alterada.

Para aqueles que estiverem interessados em saber mais informações sobre este interessantíssimo e importantíssimo projecto, sugiro que consultem o site, www.liberdade-educacao.org.

Gostaria mais uma vez de tirar o chapéu a este grupo de pessoas pela seu espirito empreendedor e pelo elevado sentido cívico.

Abraço,
Duarte

sexta-feira, 24 de outubro de 2003

Criação

Volto de novo a esta noção essencial de Criação, começando por traduzir um pequeno excerto de René Guénon:

«Estas últimas considerações levam-nos directamente a explicar a ideia de "criação": esta concepção, que é tão estranha aos Orientais, excepto aos Muçulmanos, como o foi na antiguidade greco-romana, aparece como especificamente judaica na sua origem; a palavra que a designa é latina na sua forma, mas não na acepção que recebeu com o Cristianismo, porque "creare" não queria dizer à partida nada mais que "fazer", sentido que sempre permaneceu, em sânscrito, o da raíz verbal "kri", que é idêntica a esta palavra; ocorreu uma modificação profunda do significado, e este caso é, como o dissemos, similar ao caso do termo "religião". Foi evidentemente do Judaísmo que a ideia passou ao Cristianismo e ao Islamismo; e quanto à sua razão de ser essencial, ela é no fundo a mesma da interdição dos símbolos antropomorfos. Com efeito, a tendência a conceber Deus como "um ser" mais ou menos análogo aos seres individuais e particularmente aos seres humanos, teve por corolário natural, onde quer que ocorreu, a tendência de se lhe atribuir um papel simplesmente "demiúrgico", ou seja uma acção que se exerce sobre uma "matéria" suposta exterior a ele, o que é o modo de acção próprio dos seres individuais.
Nestas condições, era necessário, para salvar a noção de unidade e infinidade divinas, afirmar expressamente que Deus "fez o mundo do nada", ou seja, de nada que lhe fosse exterior, e cuja suposição teria por efeito limitá-lo, dando origem a um dualismo radical. A heresia teológica não é senão a expressão de um absurdo metafísico, o que é o caso habitual; mas o perigo, inexistente quanto à metafísica pura, torna-se muito real no ponto de vista religioso, porque o absurdo, sob esta forma derivada, não aparece tão imediatamente. A concepção teológica da "criação" é uma tradução apropriada da concepção metafísica da "manifestação universal"; e a melhor adaptada à mentalidade dos povos ocidentais; mas não existe equivalência a estabelecer entre estas duas concepções, desde logo que há necessariamente entre elas toda a diferença dos pontos de vista respectivos aos quais elas se referem: é mais um exemplo que vem apoiar o que expusemos no capítulo precedente."
- René Guénon, "Introduction Génerale à L'Étude des Doctrines Hindoues" (1921), pp. 120 e 121.

O que Guénon quer dizer é que a noção de Criação surgiu como conceito teológico para evitar precisamente o abaixamento de Deus, o Criador, ao papel de um simples "demiurgo", de um ser que produzisse o Mundo a partir de algo que lhe era exterior.

Há dois erros que importa evitar no que diz respeito à Criação:

1. Deus não criou o Mundo a partir de algo que lhe fosse exterior
2. O Mundo não emanou de Deus, no sentido em que houve uma transferência de substância entre Deus e a Criação.

Estes dois erros foram repetidamente apresentados pela Igreja Católica como constituindo anátema. Também o Islão repousa num puro conceito monoteísta que rejeita, portanto, estes dois erros.

O erro nº.1 é relativamente simples de aceitar como tal, porque admitir que Deus tivesse criado o Mundo a partir de algo que lhe fosse exterior seria dizer imediatamente que Deus não era infinito e uno.

O erro nº.2 é mais complicado de entender. Para o entendermos, podemos recorrer ao Credo, na forma do Símbolo de Niceia:

"Credo in unum Deum, Patrem omnipotentem, factorem caeli et terrae, visibilium omnium et invisibilium.
Et in unum Dominum Iesum Christum, Filium Dei unigenitum, et ex Patre natum ante omnia saecula.
Deum de Deo, Lumen de Lumine, Deum verum de Deo vero, genitum non factum, consubstantialem Patri; per quem omnia facta sunt.
Qui propter nos homines et propter nostram salutem descendit de caelis.
Et incarnatus est de Spiritu Sancto ex Maria Virgine, et homo factus est.
Crucifixus etiam pro nobis sub Pontio Pilato, passus et sepultus est, et resurrexit tertia die, secundum Scripturas, et ascendit in caelum, sedet ad dexteram Patris.
Et iterum venturus est cum gloria, iudicare vivos et mortuos, cuius regni non erit finis.
Et in Spiritum Sanctum, Dominum et vivificantem, qui ex Patre Filioque procedit.
Qui cum Patre et Filio simul adoratur et conglorificatur: qui locutus est per prophetas.
Et unam, sanctam, catholicam et apostolicam Ecclesiam.
Confiteor unum baptisma in remissionem peccatorum.
Et expecto resurrectionem mortuorum, et vitam venturi saeculi.

Amen."


Como podemos ler, relativamente à segunda pessoa da Trindade, Jesus Cristo, é dito:

"(...) et ex Patre natum ante omnia saecula. (...) genitum non factum, consubstantialem Patri"

ou seja

"(..) nascido do Pai antes de todos os séculos. (...) gerado não criado, consubstancial ao Pai"

Isto implica claramente duas coisas:

1. Jesus Cristo é "anterior" à Criação, com o cuidado de não dar à palavra "anterior" um significado cronológico mas sim causal
2. Jesus Cristo é da mesma substância do Pai ("homoousion" em grego), ao contrário da Criação.

Por isso, vemos que a Criação não emana do Pai, ou seja, a substância da Criação não é a mesma da do Pai. Por isso, a Criação "ex nihilo", "do nada", é uma verdade essencial para as religiões monoteístas.

Como advertência final, devo referir que a citação de Guénon deve ser contextualizada.
Guénon colocou a Teologia num plano inferior ao que ele chamou de "metafísica" e que corresponde à "jaina" hindu, e à "gnose" grega. Tal posição foi fortemente contestada, e sobressai como um dos grandes problemas para a compreensão do legado de Guénon.

A recusa da parte de Guénon em usar o termo "gnose", preferindo o termo "metafísica", vem do facto de que o repugnava ser acusado de "gnóstico". Frequentemente Guénon distinguiu o que se devia entender como "gnose" daquilo que era clara heresia, o "gnosticismo".
Mas este assunto, demasiado extenso, fica para outra altura.

Bernardo

quarta-feira, 22 de outubro de 2003

Mito Moderno nº. 3 - A Meditação Transcendental

A Time brinda-nos de novo com uma capa em grande:

"The Science of Meditation"

E continua na capa:

"New Age mumbo jumbo? Not for millions of people who meditate for health and well-being. Here's how it works"

Aqui temos todo o tipo de exemplos da mediocridade e ignorância que grassa em muitos periódicos modernos. O destaque na capa faz-nos pensar que vamos encontrar no interior da revista um artigo jornalístico de alto gabarito e repleto de informações importantes sobre a "meditação". Errado!
Para já, o que a Time entende por "meditação" é, nada mais nada menos, que a famigerada "transcendental meditation", ou afectivamente "TM" (como eles adoram as siglas!), da qual a moderna cultura anglo-saxónica tanto gosta. O mundo ocidental moderno já esqueceu que deve todas estas prostituições das verdadeiras doutrinas orientais a uma senhora, de seu nome Helena Petrovna Blavatsky, que fundou a famigerada Sociedade Teosófica há um século atrás. Foi esta senhora a culpada pela introdução no Ocidente de uma pseudo-doutrina, altamente heterodoxa e sincretista, que teve tanto sucesso no mundo anglo-saxónico, e não só.
A Sociedade Teosófica, da qual falaremos mais detalhadamente noutra altura, deu origem a uma onda de "redescoberta" das doutrinas orientais, mas infelizmente através das piores fontes e inspirações. O triste legado de Blavatsky subsiste hoje (ainda existe a Sociedade Teosófica) através de uma série de movimentos que por ela foram influenciados: a Cientologia, os Raelianos, a Antroposofia, etc, etc...
Nesta vaga de entusiasmo, que durou todo o século XX, e que graças à New Age vai entrar agora vitoriosamente no século XXI, surgiram no Ocidente uma série de pseudo-gurus como o vigarista Maharishi Mahesh Yogi, entre outros, que lançaram as bases para o estabelecimento de uma quantidade enorme de escolas de falso Yoga e de falsa meditação, todas elas cheias de pseudo-mestres.

Mas sigamos a Time, regressando de novo à capa, onde várias coisas podem ser ditas:

1. "New Age mumbo jumbo?". Resposta: SIM!
2. "Not for millions of people who meditate for health and well-being.". Aqui temos de novo a mania moderna da Quantidade. Porque uma coisa é feita por muita gente, automaticamente é boa.
3. "Here's how it works". Ou seja, vamos lá encaixar milénios das mais variadas tradições dentro das folhinhas da Time, para que o leitor médio fique a saber "tudo" sobre meditação. Bravo! Que tal isto como exemplo fantástico de "massificação do conhecimento"?

Basta de capa.
Ficamos a saber, por uma fotografia nas páginas 46 e 47, que existe uma "Maharishi School of the Age of Englightment", onde vemos um grupo de adolescentes a praticar TM (lá está a sigla!), que segundo nos dizem, acontece duas vezes ao dia.
Este detalhe é delicioso! Porque é um psedo-guru vindo directamente da Índia e que se afirma hindu, Maharishi Maheshi Yogi, que dá o nome a esta escola de "meditação" auto-intitulada "School of the Age of Englightment"! Isto é fantástico, sobretudo se tivermos em consideração que as doutrinas hindus defendem que vivemos presentemente no Kali Yuga, ou "Idade Escura", conforme escrevi aqui há dias. Que tal para uma completa perversão do Hinduismo?

Em frente...
Na página 48, a Time mostra-nos em 4 simples passos, numerados de 1 a 4 (para ser mais fácil), como meditar. Que poder de síntese!
Depois temos um quadro científico, reforço, CIENTÍFICO, onde se pode ver um esquema do cérebro, e da actividade cerebral medida a indivíduos em suposta "meditação". Os cientistas verificaram (graças a Deus que o fizeram) que o cérebro emitia menos ondas beta durante a meditação. O que não deixa de espantar é que a obcessão moderna com o "medir" chega ao cúmulo de querer validar realidades espirituais usando instrumentos de medição!
Ninguém nega, pois, que o cérebro baixa a sua actividade durante a tal "meditação". Contudo, esta "meditação" nada tem a ver com a verdadeira meditação. Pelo simples facto de que o Princípio está ausente! Onde está o fundamento, a razão para meditar? De que vale meditar, então? Para o bem-estar, dizem-nos. Pois isso é bom, mas não seria melhor procurar esse bem-estar nas tradições verdadeiras de todas as culturas, em vez de experimentar graves perigos psíquicos usando metodologias ocas que vieram de pretensos gurus, de intrujões?

Parece-me evidente que todo aquele que procurar uma "calma" através do abaixamento da sua actividade física e mental vai obter vantagens.
Agora não se chame a isto "meditação" e não se queira comparar o que é um simples exercício de descontracção com o que é a profundidade e intensidade da verdadeira espiritualidade.

Haveria muita asneira a apontar neste artigo, mas fazê-lo seria monótono e muito deprimente.
Termino com uma referência a uma fotografia intitulada "Monk", na página 50, onde se vê um monge tibetano a ser enfiado dentro de um aparelho de Ressonância Magnética.

Para um aprofundamento desta questão dos falsos gurus, recomendo vivamente o artigo de Rama Coomaraswamy, "Hinduism for Western Consumption".

Para acabar em beleza, uma salva de palmas à Time!

Bernardo

terça-feira, 21 de outubro de 2003

Casa Pia

E no final de tudo...

No final das inquirições e audiências, dos recursos e dos acordãos, das escutas, das suspeitas, das intrigas e das cabalas....

No final de tudo isto... ainda alguém acredita que se fará justiça?

Eu não... e isso angustia-me muito.

Abraço,
Duarte.

segunda-feira, 20 de outubro de 2003

Jornalismo moderno

Que há bom e mau jornalismo, toda a gente sabe.

Sou um leitor assíduo da Time desde há uns dois anos. Na euforia posterior ao 11 de Setembro, recordo-me que me revoltava a extrema parcialidade dos jornalistas relativamente às medidas de política externa da Administração Bush. Os artigos de um comentador em particular, Michael Elliot, por sinal um dos mais importantes comentadores assíduos da revista, roçavam por vezes o extremo do mau gosto. Naqueles tempos, tudo era permitido à América ferida.

Também a selecção de cartas dos leitores que constitui a primeira parte da revista sempre me pareceu constituir uma forma subtil de moldar a opinião pública. A postura frequentemente anti-europeia também sempre me irritou, sobretudo porque a edição que me chega às mãos é a edição europeia.

Habituei-me que poderia encontrar bom e mau jornalismo na Time, se bem que comecei a achar que o mau jornalismo estava a ganhar pontos naquela revista.

Recentemente, com o desaparecimento misterioso das "armas de destruição maçiça" no Iraque, notei na Time uma lenta mas decidida mudança de equipa. Bush começou a aparecer nas capas ou nos artigos de política internacional como um homem em apuros. Começaram a surgir as primeiras críticas vindas dos comentadores da praxe. Enfim, o "volte-face" estava consumado...

Tudo isto me fez ver que aquela revista, que antes de conhecer de perto eu respeitava, afinal poderia conter jornalismo do mais grosseiro e da mais baixa qualidade, nas linhas do nosso "Tal e Qual", do "24 Horas" ou de outras pérolas do nosso jornalismo. Lá por ser "estrangeira", e a nós tanto nos deslumbra o que é estrangeiro, a revista Time poderia também como tantas outras, "chafurdar no lodo" se me é permitida a expressão.

Por isso, devo admitir, não me surpreendeu ver Bragança transformada na "red light district" europeia, segundo a Time. Não contesto a veracidade dos factos, nem a vergonha que se abateu sobre Bragança (merecerá o relevo de caso "exemplar" europeu que lhe foi dado?), mas simplesmente parece-me demais para a capa da Time europeia. Todos os países têm telhados de vidro, e não vou sequer entrar em polémicas face às medidas tomadas, talvez despropositadamente, pelo Estado no que diz respeito à revista Time e aos anúncios ao Euro 2004.
Li o artigo da Time, e só acho que se trata de uma patética lição de mau jornalismo. Mais nada...

Mas porquê ir buscar esta notícia antiga?
Porque vem a propósito de mais uma pérola jornalística, desta vez do El País, pela caneta do jornalista Luis Gómez: "Portugal, en quiebra política y social".

Aqui fica um excerto para quem não leu:

"En medio de los incendios que devastaban el país, un viaducto cercano a Lisboa se derrumbó este verano y pudo haber causado un gran desastre cuando dos días antes había recibido el visto bueno de los inspectores. El incidente fue interpretado como otro síntoma de que el Estado no funciona, de que la crisis es algo más profunda en Portugal. La sensación de declive ha ido en aumento desde entonces. La euforia de 1998 ha dado paso a una pesadilla, repleta de malos augurios."

Vamos dizer o mesmo em relação ao metro descarrilado em Londres neste fim-de-semana? Que é um mau augúrio para o trabalho dos inspectores ferroviários britânicos?
Vamos lembrar ao senhor Luis Gómez que a Galiza está banhada pelo crude há largos meses, naquele que é talvez o pior desastre ecológico ibérico de sempre?

Francamente, "una pesadilla" é este artigo pobre e cheio de alarmismo e sensacionalismo.

"El colegio de los horrores" é como Luis Gómez chama à Casa Pia:

"Los casos de pederastia en la Casa Pía, la institución educativa más prestigiosa de Portugal, hipotecan la agenda política del país (...)"

Ficamos, pois, a saber que a Casa Pia é a instituição educativa mais prestigiosa de Portugal. Bravo!
De facto, quem ler este artigo do El País fica com uma esplêndida, e mui precisa, ideia de Portugal e do seu estado actual.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra...

Bernardo

sexta-feira, 17 de outubro de 2003

Cegueira ideológica

Há poucos dias, o Duarte publicou uma citação de Saramago.
Porventura esta citação terá gerado alguma polémica entre os estimados leitores deste blogue, pelo que gostaria de dizer algumas palavras.

Apesar de estar no oposto ideológico de Saramago, e até de pessoalmente desgostar da sua escrita, não posso deixar de concordar com a citação que o Duarte apresentou. A expressão de Saramago é uma justa e importante crítica ao perigo da tecnologia.
A tecnologia em si não é má, mas podem ser-lhe dados usos desumanos que geram realidades paródicas como a que Saramago descreve.
Como não concordar com ele?

Quem diz a Verdade merece ser ouvido.
Porque não citar Saramago quando ele diz verdades?
Causa assim tanto horror aos nossos leitores de direita?
Somos assim tão cegos, surdos e insensíveis?

Faz-me lembrar o grande Carlos Paredes, cuja música sofre por vezes de igual depreciação...
Não nos deu ele um reflexo da alma lusa em sublime forma musical?
Não será a sua música uma obra-prima de inspiração divina?
Então porque é que recusaríamos o extraordinário legado de Paredes, que tanta saúde dá à alma lusitana, tão esquecida nestes dias do que significa ser português?
Só devido às opções ideológicas, e estritamente pessoais, do próprio Paredes?

Tenhamos juízo, e estejamos atentos à Beleza e à Verdade que nos rodeia...

Bernardo

quinta-feira, 16 de outubro de 2003

O Monte EVEREST

A descrição de João Garcia quando em 1999 atingiu o cume do monte Everest:

“Olhamos à volta e não há nada mais alto. O céu azul é o limite”

Abraço,
Duarte

quarta-feira, 15 de outubro de 2003

A noção de Criação e os católicos modernos

«É profundamente erróneo supor que, no que diz respeito às verdades da fé, seja indiferente o que se pense sobre a criação desde que se tenha uma concepção exacta de Deus, porque um erro sobre a natureza da criação reflectirá sempre uma errónea noção de Deus.» - S. Tomás de Aquino.

(esta citação foi retirada de uma tradução espanhola de um excerto do livro "Ciência Moderna e Sabedoria Tradicional", de Titus Burckhardt, no site Textos Tradicionales)

Quero deixar aqui uma sugestão de reflexão, baseada nestas palavras de S. Tomás de Aquino: os católicos modernos não podem demitir-se da obrigação fulcral de "resolverem" a nível pessoal, ou seja, na fé de cada um, este antagonismo entre a Criação ex nihilo ("do nada"), conforme diz a doutrina Católica, e as modernas teorias evolucionistas e cosmológicas.

Não é possível ter o "melhor de dois mundos", ou seja, acreditar no Deus católico, e na doutrina da Igreja Católica, e tentar "encaixar" à força Charles Darwin e os seus sucessores, e teorias como a do Big Bang.

A solução para este dilema não passa pela leitura literal do Génesis. Passa por um sério e moroso esforço de aprofundamento do conhecimento e da fé.

Ninguém disse que ser católico no século XXI era fácil!

Bernardo

De novo os "estudantes"...

Ontem assistimos de novo ao triste espectáculo pseudo-estudantil (aquela gente estuda?) dos protestos anti-propinas.

Até quando vamos ter que aturá-los?

Aquele pequeníssimo grupo de "estudantes" deveria dar-se conta de duas coisas:

1. Eles sabem MUITO POUCO, ou seja, a ignorância média de um aluno do Ensino Superior é gritante.
2. Eles estão MUITO POUCO preparados para o mercado de trabalho, ou seja, mais do que não saber nada eles não sabem FAZER nada.

Mais cedo ou mais tarde vão ter que sair do conforto e da protecção da universidade e "fazer pela vida". Ora se eles não estão preparados para fazer nada, não deveria ser essa a sua principal preocupação?

A questão não pode ser a do dinheiro, ou da falta dele.
Lanço aqui algumas sugestões aos contestatários, para que possam reunir facilmente os eurozitos que precisam para pagar a propina:

1. Não comprem trajes académicos, sobretudo se não estiverem a estudar na Universidade de Coimbra! É ridículo... E os trajes são quase tão caros como a propina média;
2. Não peçam tanto dinheiro aos vossos paizinhos para gasolina, álcool e tabaco; aproveitem antes para lhes pedir que vos paguem as propinas, e assim o português médio não terá que pagar a vossa vida diletante;
3. Àqueles estudantes mais politizados, que tal pegar no dinheiro que vos chega dos partidos, fazer um bolo, e pagar as propinas a vocês e aos vossos amigos?

Bernardo

terça-feira, 14 de outubro de 2003

Mundo Absurdo

"Nós vivemos neste mundo absurdo em que duzentas e vinte e cinco pessoas têm a riqueza de quarenta e sete por cento da humanidade. E vivemos ainda num mundo absurdo em que somos capazes de enviar a Marte um aparelho para saber qual é a composição das rochas de Marte ao mesmo tempo que neste mesmo mundo morrem milhões de pessoas de fome. É um mundo realmente esquizofrénico".

José Saramago

Abraço,
Duarte

Os estudantes e as propinas

Os protestos ridículos e as estranhas cenas que parte dos estudantes do nosso ensino superior têm protagonizado nos últimos tempos, são o reflexo dos erros estruturais do ensino básico e secundário.

A verdade é que os alunos, pelo menos aqueles que frequentam os estabelecimentos de ensino público, crescem num ambiente pervertido, no que respeita a questões como a exigência e o rigor.

Parece-me inconcebível que a progressão de carreira dos docentes esteja assente num único elemento, os ANOS DE SERVIÇO, decepando à partida toda a eventual motivação na preparação das aulas e na procura da qualidade (o facto de um docente ser BOM ou MAU profissional não tem relevância absolutamente nenhuma na avaliação e progressão da sua carreira).

Para além desta evidência temos ainda que acrescentar o despesismo na gestão escolar, colocando invariavelmente as escolas no papel do miserável que implora uns tostões ao estado.

Obviamente que no final deste percurso, no mínimo sinuoso, os estudantes estão encarcerados numa espécie de paralisante dependência do Estado, que está na base de um conjunto de motivações erradas e pouco saudáveis como “...não temos que pagar NADA para frequentar o ensino superior...”

Se por último acrescentarmos os efeitos da nossa recente cultura pimba, temos o resultado final ...AS TRISTES CENAS DOS ESTUDANTES DO NOSSO ENSINO SUPERIOR...

Um abraço,
Duarte

Evolucionismo - Um ataque cego?

A todos os que podem achar as minhas críticas algo cegas, obscuras e fanáticas, ou até àqueles que rapidamente me poderiam atribuir uma leitura literal do Génesis, queria deixar algumas palavras...

Infelizmente, não é raro ver pessoas sem preparação, munidas apenas de uma fé pouco esclarecida, atacarem o modelo evolucionista. E contra mim falo!

Por isso, saio de cena e deixo falar outros muito mais esclarecidos.
Hoje quero aqui deixar um texto do tradicionalista Titus Burckhardt (1908-1984): "El Origen de las Especies". Este texto é uma tradução espanhola e encontra-se no site Textos Tradicionales.

Bernardo

segunda-feira, 13 de outubro de 2003

Erros meus...

Uma questão tão complicada como a da crítica da Evolução e do Progresso não pode ser resolvida em mensagens de blogue, por muitas que escrevessemos.

Os argumentos apresentados pelo Pedro Cordeiro são, sem dúvida, muito importantes e pertinentes, e vêm no sentido de corrigir erros num texto que apresentei há dias.

Com os erros e imperfeições próprios do meu amadorismo, poderei ter confundido quem me leu. Para permitir que se siga o "fio à meada" não vou alterar a versão original do texto que apresentei. Daqui para a frente farei sempre assim, ou seja, irei identificar e reconhecer os meus erros em mensagens posteriores, sem alterar a mensagem original.

Acredito que Verdade que tento transmitir deve permanecer, independentemente dos meus erros de expressão.

Sugiro, para uma primeira abordagem à crítica que o Tradicionalismo faz à teoria evolucionista, que se leia com atenção a posição do tradicionalista Frithjof Schuon.

A leitura do site Sophia Perennis é muito interessante, se bem que, pessoalmente, não partilhe da totalidade do pensamento de Schuon.

Também devo sugerir uma saltada a Biblical Implications of Creation vs Evolution, onde são apresentados argumentos contra a evolução das espécies, e mesmo contra a selecção natural. Tenho sempre um ENORME cuidado ao ler tudo o que se apresente como "religioso" e "americano" ao mesmo tempo, porque normalmente não presta. Faço a mesma recomendação a quem consultar este site que, aparentemente, parece ser uma feliz e útil excepção...

Bernardo

Uma batatada a jeito!

O Pedro mandou-me hoje uma bela batatada, directamente do seu blogue.

De certo modo já a esperava!
Trata-se da minha crítica às teorias evolucionistas e ao conceito de Progresso em geral.

Gostei das críticas do Pedro, que são muito pertinentes.
E gostei sobretudo das suas correcções. Obrigado, Pedro!

A minha seguinte frase:
"Então o que nos diz o senhor Darwin? Diz-nos que as espécies transformam-se ao longo do tempo, que alterações no código genético das espécies levam-nas a evoluir de formas primitivas para formas mais sofisticadas."
está profundamente errada.

No tempo de Darwin, ainda se estava longe de conhecer a Genética.
Além disso, Darwin fala sobretudo da "selecção natural", e a sua tónica é sempre na sobrevivência das espécies mais capazes de resistir às alterações do seu ambiente. Também não foi correcto da minha parte falar na "Teoria da Evolução das Espécies", uma vez que a obra de Darwin se chama "A Origem das Espécies".

Mas tentarei, agora com mais cuidado, explicar melhor aquilo que quis transmitir.

No campo da Genética, foram e estão a ser descobertas coisas surpreendentes. A transmissão hereditária de características em todas as espécies é algo que não se pode negar. De certo modo, Darwin, e isso correctamente, deu-se conta, como o Pedro refere e muito bem, que mudanças no meio provocam a extinção das espécies menos preparadas para as ditas.

Assim, numa dada altura da História, constatamos a existência das espécies que melhor suportaram as adversidades do meio.

Darwin deu à sua obra o título de "A Origem das Espécies", e nela trata o que chamou de "selecção natural". Talvez, em rigor, Darwin não tenha defendido, pelo menos por escrito, a "evolução das espécies" mas sim a sua modificação no contexto da "selecção natural", por outras palavras, o "devir" das espécies. Mas certamente motivou e influenciou directamente uma escola de seguidores que acentuaram fortemente o conceito de "evolução", talvez mascarado ou até inexistente em Darwin.

E é esta "evolução" que eu critico! Porque "evolução" significa claramente "mudança para melhor". E esta coisa da "mudança para melhor" é algo claramente contrário às teorias cíclicas das mais variadas tradições.

Se as condições do meio mudam, não podemos ter a veleidade de classificar estas mudanças como "boas" ou "más", uma vez que as mesmas condições podem ser benéficas para umas espécies e prejudiciais para outras. Por isso, a constante e lenta adaptação das espécies (e entendendo adaptação por "sobrevivência dos que se possuem características adaptáveis") às metamorfoses do meio não permite que se diga que as espécies "evoluem". O Homem incluído!

Mais... As espécies existentes sobre a Terra no ano 2000 não são as "vencedoras", nem as mais bem adaptadas em absoluto! Como poderíamos sustentar essa ideia se as condições estão, também elas, em permanente mudança desde o início dos tempos?

Regressando à espécie humana, eu não nego a realidade do "homo erectus" ou do "homo habilis". O que eu recuso é que se admita imediatamente que essas criaturas são "antepassados" do Homem moderno. As descobertas arqueológicas nesta área são importantíssimas, e deveriam fazer-nos pensar o quanto desconhecemos do nosso passado. Mas seguramente não devemos, na ausência de quaisquer provas, aderir à suposição não fundamentada de que o Homem moderno é, biológica e intelectualmente, uma Lucy "evoluída".

Posto em linguagem sintética:

1. Se existe uma criatura "A" sobre a Terra no ano X;
2. E se existe uma criatura "B" sobre a Terra no ano Y, em que Y>X;

Não se pode concluir que A se transformou em B ao longo desses Y-X anos, só porque "A" é suficientemente parecido com "B" e não foram encontradas provas arqueológicas de que B já existia no ano X.

Exemplificando: porque é que se nega que no tempo de Lucy não existiam já civilizações sobre a Terra? Só porque não foram encontrados vestígios arqueológicos?

Indo mais longe...
Supondo que se provava, e se calhar já se provou, que o património genético da Lucy era idêntico ou semelhante ao do Homo sapiens. Mesmo assim, não podemos ter a tentação dos medíocres raelianos! A identidade dos genes não equivale à identidade dos seres! A acepção de "ser" que uso aqui é a mais geral e abrangente possível, e não apenas a acepção da Biologia e da Genética.
Deixemos a pateta Dra. Brigitte Boisselier, ou pior, aqueles que a seguem, acreditar que é possível ressuscitar seres humanos pela clonagem!

Aquilo que eu mais quis atacar com o texto que escrevi foi que a mentalidade hodierna relativamente à História do Homem desde as origens está errada. E que o Homem não está coisíssima nenhuma no seu pico de sofisticação "intelectual", como tanta e tanta gente supõe. Quando muito, como todas as espécies, o Homem está a adaptar-se biologicamente às condições, também elas em constante mudança, do Mundo em que vive. Esta adaptação é muito lenta. Mas eu procurava sobretudo criticar a crença na "evolução intelectual", ou melhor, no "progresso intelectual".

Eu acredito que estamos a viver a Idade Escura de que falei, e que estamos em acelerada decadência intelectual (dando a esta palavra uma acepção o mais geral possível).

Os sinais dos tempos estão por todo o lado!

Bernardo

Manuais escolares

Os meus parabéns aos responsáveis pela Educação em Portugal.
Os meus parabéns ao Governo e aos vários Ministros da Educação.
Os meus parabéns aos autores de manuais escolares.
E finalmente, os meus parabéns ao bom gosto e profissionalismo dos editores de livros escolares.

Li agora no Público que o manual "Comunicar" (Porto Editora) da disciplina de Português do 10º ano inclui nas suas páginas o regulamento do concurso televisivo Big Brother.

Palavras para quê?
Aqui fica um pequeno excerto da notícia:

«Gabriela Lança e Conceição Jacinto, autoras do manual "Comunicar", esclarecem as suas opções.
Em primeiro lugar, é o próprio programa de Língua Portuguesa que prevê a leitura de "regulamentos de concursos televisivos", conteúdo que deve ser abordado no âmbito da "oralidade". O objectivo é que os alunos revelem a sua compreensão do texto que vai ser lido, lembram.

Quanto à escolha do regulamento do Big Brother, as autoras justificam que o facto de sugerirem a audição de um texto sobre um concurso televisivo que os alunos conhecem "possibilitará uma escuta activa por parte destes, pois o conhecimento prévio do concurso em causa facilita a compreensão do seu regulamento".»


O que eu gostaria de saber é como é que deixam pessoas como estas escrever manuais de Português...

Uma sugestão para as senhoras Gabriela Lança e Conceição Jacinto, para a próxima pérola didáctica que venham a escrever: que tal uma parceria com o próprio Zé Maria, já que é uma pessoa que possibilita a escuta activa das crianças porque é um "famoso" do qual elas possuem um "conhecimento prévio"?
Ou quem sabe, incluir nos Trabalhos para Casa algumas sugestões de boa leitura contemporânea como Margarida Rebelo Pinto? Esta última, contudo, talvez fosse mais adequada para o 12º ano, logo após os alunos tomarem contacto pela primeira vez com Camões e Saramago. Se o programa ficasse "apertado" em termos de tempo, talvez as professoras pudessem simplesmente eliminar o primeiro, que é tão complicado para as crianças (e professores)!

Bernardo

sábado, 11 de outubro de 2003

Alegoria

“Uma criança que se perde na floresta e que depois encontra uma pessoa e diz: ainda bem que o encontrei. Você vai indicar-me o caminho. A pessoa responde: eu estou perdido como tu, também procuro o caminho. Mas há uma coisa que eu te posso dizer: não vás por ali porque de lá já eu vim”.

Esta alegoria foi utilizada por D. José Policarpo alertando para o perigo dos fanatismos religiosos, étnicos e culturais neste novo século e para a necessidade de um mundo mais fraterno.

Abraço,
Duarte

sexta-feira, 10 de outubro de 2003

Nobel da Paz

Os acontecimentos sucedem-se a um ritmo alucinante, por isso, cá vai mais um comentário...

Já é conhecido o nome do galardoado com o Nobel da Paz.
Chama-se Shirin Ebadi.
Trata-se de uma iraniana que tem desenvolvido um enorme trabalho pelos direitos humanos e pela dignidade da mulher nas sociedades islâmicas.

Não posso deixar de emitir a minha opinião.


Primeira Parte - O Papa

Para já, não foi feliz a colocação do Papa na lista dos nomeados para o Nobel, e isto principalmente por duas razões:
a) para os crentes, o Papa é o "fazedor de pontes" entre o Céu e a Terra, é esse o significado da palavra "pontifex", ou "pontífice"; para os crentes, colocar o trabalho deste Papa em prol da paz, que é intrínseco à sua função, ao nível do trabalho desenvolvido pelos outros nomeados pode ser ofensivo. Não por uma questão de esforço ou empenho pessoal, mas por uma questão de hierarquia. Mas enfim, o mundo hoje em dia é laico e isso é uma realidade.

b) ao colocar o Papa como nomeado, parece-me ainda mais ofensivo não lhe atribuir o Nobel; deste modo, o comité Nobel desiludiu-me mais uma vez; se eu atribuia ainda o benefício da dúvida ao comité por parecer querer afirmar de boa vontade o valor do trabalho de João Paulo II, desta vez tudo parece ser maquinado para relativizar a importância do Papa.

Segunda Parte - A nomeada Shirin Ebadi

Apesar de louvar o esforço de quem quer que trabalhe em prol dos Direitos Humanos, paira no ar uma sensação estranha, que mais uma vez é verificada pela notícia que li hoje no Público, na qual alguns comentadores realçaram a importância de se distinguir uma lutadora pela democracia no Islão.

Democracia no Islão?
Já não basta termos que sofrer com os nossos imperfeitos modelos de governação, e temos agora que impô-los à força numa sociedade plenamente tradicional como é o (verdadeiro) Islão?
Não chegam as aventuras de Bush na construção do "Iraque democrático"?

Devo explicar-me...

O Islão, como qualquer tradição que se preze, DEVE defender os direitos humanos, DEVE proteger e respeitar as mulheres, DEVE condenar o terrorismo, DEVE combater a ignorância e a superstição.

O Islão é feito, tal qual o cristianismo, de várias pessoas, vários grupos, vários movimentos, várias correntes, várias opiniões.

Como é evidente, algumas destas opiniões serão mais puras no seu islamismo, outras serão mais impuras, e nalguns casos mais extremos, poderão mesmo ser heréticas.

Os Taliban não são o Islão. São assassinos e criminosos fanáticos.
O regime iraniano idem. O Corão pode ser lido e interpretado ao sabor dos erros dos homens. Pode, mas não deve!

Mais uma vez, a obsessão do homem moderno ocidental em sistematizar tudo, e em simplificar demasiado assuntos que são complexos, pretende etiquetar o Islão como fanático, opressor, retrógrado, etc, etc...

E o cristianismo?

Não temos na História do Cristianismo uma lista de pessoas e movimentos que tentaram perverter a mensagem de Cristo?

Não temos a Teologia da Libertação e as suas perigosas aproximações marxistas?
Não tivemos Teilhard de Chardin que tentou materializar o cristianismo com o seu "Cristo evolutor"?
Não tivemos Alfred Loisy, o pai francês do Modernismo, cujas nefastas influências na intelectualidade cristã ainda hoje se fazem sentir?

Porque não então admitir que está a suceder o mesmo no Islão?
A função clara dos Taliban é, sob a máscara da ortodoxia (que é sempre desejável), destruir o Islão por dentro.

Um islâmico defensor da democracia é tão ilógico com um Taliban dizer-se islâmico...

Temos, isso sim, que olhar para estes acontecimentos a partir de um ângulo mais generalista.

O que se passa é que assistimos, por toda a parte, à destruição das tradições e da verdadeira espiritualidade. Este trabalho começou há alguns séculos, com mudanças sociais e mentais. Neste momento, o trabalho continua através da implosão das religiões que ainda subsistem.

Assim, para quem lê nas entrelinhas, este Nobel até pode ter sido bem atribuido, mas o contexto que o rodeia, sobretudo o abuso anti-tradicional que se faz dele, é mais um sinal dos tempos, da "Idade Escura" de que escrevi há pouco.

Bernardo

O Triunfo da Estética

É um erro tremendo subestimar a capacidade que os nossos políticos têm de nos surpreender a cada dia, a cada hora.

Temos que tirar o chapéu a Ferro Rodrigues e seus amigos, pela criatividade delirante que demonstraram na última Quarta-feira e que lhes permitiu alcançar uma das mais revolucionárias descobertas no domínio da cirurgia estética.

As potencialidades da Assembleia da República postas a nu pela equipa socialista não deixam dúvidas. De hoje em diante qualquer cidadão, desde que inserido no famosíssimo jogo de influências, poderá deslocar-se à Assembleia da República para sofrer as seguintes intervenções: 1- Lavagem de Imagem; 2- Retoques no Peeling; 3- (a jóia da coroa) a já famosa operação ...de criminoso a herói nacional...

Estou profundamente convencido que esta sublime descoberta de Ferro e seus camaradas, permitirá tornar este país num projecto de futuro e além fronteiras.

Resta-me, como cidadão, agradecer e deixar uma palavra de incentivo.

E VIVA A PIMBALHADA...

Um abraço,
Duarte

No reino do Dragão...

O senhor Jorge Nuno Pinto da Costa fez ontem, infelizmente, mais uma das suas aparições.

Ao referir-me a ele não usarei o costumeiro título "Dr.", porque me parece que ele não é douto em nada. Quando muito, será douto em boçalidade.

E, desta vez, o que é que nos incomodou nas suas palavras?

Como sempre, a boçalidade, mas desta vez, também a profunda ignorância dos mais básicos conceitos de protocolo, e de forma mais geral, de vivência em sociedade.

Relativamente à inaguração do estádio do Dragão, o dito senhor Pinto da Costa afirmou às antenas da Comunicação Social que não iria convidar para a cerimónia o Dr. Rui Rio, presidente da Câmara Municipal do Porto.

"Só se eu fosse maluco!", disse, "depois de tudo o que ele fez!"

Pois sim, então talvez seja conveniente lembrar ao senhor Pinto da Costa alguns factos:

1. Ele não é o dono do Futebol Clube do Porto, é um presidente eleito por sufrágio, logo, o clube não lhe pertence;
2. Por acréscimo, o estádio do Dragão também não lhe pertence; o estádio pertence ao FCP e aos Portugueses que o pagaram com esforço e trabalho; e como o estádio se encontra dentro da cidade do Porto, é também natural que faça parte do equipamento social da cidade; se não, veja-se a estrutura de custos:

Estádio do Dragão
- Promotor: Futebol Clube do Porto
- Custo total (estimado) € 97.755.318
- Comparticipação do Estado
€16.859.369 (estádio)
€ 1.571.587 (estacionamentos)

3. O FCP é o promotor, mas usa fundos do erário público, e portanto não é o proprietário único do estádio; por isso, o senhor Pinto da Costa não está a convidar amigos para a festa de inauguração do seu estádio; deve estar, isso sim, a convidar, entre outros, os representantes dos portugueses, e mais especificamente, dos portuenses; e ao convidá-los, deve fazê-lo não como Pinto da Costa, mas sim como Presidente do FCP;

4. Se o senhor Pinto da Costa, no cargo de Presidente do FCP, convida, por exemplo, o Dr. Jorge Sampaio ou o Dr. Durão Barroso, ele não os está a convidar pelas suas pessoas, ele está, em representação do FCP, a convidar o Exmo. Senhor Presidente da República e o Exmo. Senhor Primeiro Ministro; do mesmo modo, não é mais que a sua obrigação convidar também o Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto, que eleito como foi para o cargo que ocupa, representa os portuenses, TODOS!

Assim, em vez de se comportar como uma menina de colégio que não convida a amiga que lhe roubou o namorado, o senhor Pinto da Costa deveria cumprir as suas obrigações, ao abrigo do cargo que ocupa e do poder que lhe foi concedido pelos sócios do FCP, e convidar todas as entidades de direito.

É que ele não deve convidar o Dr. Rui Rio, "per se".
Deve, isso sim, convidar o Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto.

É a profunda ignorância destas realidades que transforma lentamente este país numa paródia.

Bernardo

A Idade Escura

"A doutrina hindu ensina que a duração de um ciclo humano, ao qual ela dá o nome de Manvantara, se divide em quatro Idades, que marcam um número idêntico de fases de um obscurecimento gradual da espiritualidade primordial; são estes mesmos períodos que as tradições da antiguidade ocidental, por sua vez, designavam como as idades do ouro, da prata, do bronze e do ferro. Nós estamos presentemente na quarta idade, o Kali Yuga, ou «idade escura», e nela nos encontramos, diz-se, desde há mais de seis mil anos, ou seja, desde uma época bem anterior a todas as que são conhecidas da história «clássica»." - René Guénon, "L'Age Sombre" em "La crise du monde moderne", pág. 14, Éd. Gallimard

Este texto de René Guénon vem muito a propósito do que escrevemos sobre o conceito moderno de Progresso.

O Kali Yuga hindu, ou seja, a «idade escura» em que nos encontramos presentemente, e que equivale à Idade do Ferro, apresenta características que estão em perfeita concordância com os textos proféticos das religiões do Livro.
Trata-se de uma idade profundamente materialista, quantitativa, individualista, anti-tradicional, antropocêntrica, anti-metafísica, enfim, uma idade de profunda e inconsciente atrofia intelectual.

Estas são palavras duras, mas que correspondem à realidade!
Contudo, mesmo nesta Idade de fim de ciclo, existem ainda, e felizmente, algumas pessoas que se destacam da tendência geral, e que escapam àqueles adjectivos.

O que se seguirá no curso deste ciclo humano?
Não se segue nada! Este ciclo vai terminar para dar lugar a outro.

Não nos aproximamos do "Fim do Mundo", como tantos julgam e temem, mas sim do "Fim de um mundo", o que é bem diferente!

Como se pode constatar, a linguagem tradicional dos ciclos nada tem em comum com o conceito fantasioso e ilusório de "Progresso", que tanto entusiasma a nossa moderna civilização ocidental...

Bernardo

quinta-feira, 9 de outubro de 2003

Blógica da Batata

Queria agradecer ao meu amigo Pedro Cordeiro (Blógica da Batata) a mensagem espectacular que nos dedicou nestes nossos primeiros dias de blogosfera. Já nos conhecemos há muito, muito tempo, e ao longo destes anos todos as nossas divergências ideológicas só têm alimentado muitas e boas horas de conversa.

Por isso, só posso encaminhar os visitantes deste blogue para a Blógica da Batata, onde eu sei que estará sempre um amigo atento ao que eu e o Duarte escrevemos, e sempre pronto a largar a sua batata no nosso caldeirão bloguístico.

Ou a dar-nos umas batatadas, se for preciso!

Um grande abraço, Pedro!

Bernardo

Mito Moderno nº. 2: O Progresso

Este é, sem dúvida, um dos mais potentes mitos modernos.
Entenda-se "mito", obviamente, numa acepção pejorativa.

Nos tempos que correm, é já bem difícil encontrar alguém cuja convicção neste mito do Progresso não esteja profundamente enraizada.

Este mito constituiu novidade há 200 ou 300 anos atrás, mas hoje em dia, nas escolas, nas universidades, nas famílias, e pasme-se, mesmo por vezes nalgumas Igrejas, aceita-se tranquilamente este Progresso e doutrinam-se as pessoas com esta mentira perigosa.

O que nos diz o mito do Progresso?
Em linhas gerais, no que toca ao ser humano, diz-nos que o Homem resultou da evolução de espécies primitivas. A Teoria da Evolução das Espécies, como se sabe, é obra de Charles Darwin.

Desde a sua origem, esta teoria tem-se vindo a infiltrar de tal forma que é hoje em dia uma verdade dogmática para a comunidade científica, e para a população que se deixou enfeitiçar por esta "ciência moderna".

Então o que nos diz o senhor Darwin? Diz-nos que as espécies transformam-se ao longo do tempo, que alterações no código genético das espécies levam-nas a evoluir de formas primitivas para formas mais sofisticadas.

Nada é mais absurdo e contraditório!
Os próprios defensores deste modelo teórico são os primeiros a reconhecer que as mutações genéticas são um fenómeno raro, ou seja, são a excepção em vez de serem a regra. Adicionalmente, é reconhecido por estes cientistas que as mutações genéticas são quase sempre degenerativas!

Dirá quem me lê: "E as ossadas encontradas? E o homo habilis? E o homo erectus?".
Pois sim. Temos indícios claros da existência de espécies de primatas hoje extintas, que se parecem situar em termos de desenvolvimento entre o Homem moderno e outros primatas como o chimpanzé ou o gorila.

Podemos então extrapolar a realidade destes achados para a conclusão de que estas espécies extintas sofreram mudanças até se tornarem no Homem moderno? Não! Tal conclusão é absurda...

Mas onde querem chegar os defensores do Progresso?
Eles pretendem sugerir que o Homem está em constante evolução, e que estamos neste preciso momento a caminhar para um Super-Homem, para um ser dotado de elevadas capacidades intelectuais.

É mentira.

A evolução tecnológica é um facto inegável. Temos hoje melhores condições de saúde, melhores transportes, enfim, melhor qualidade de vida em termos gerais.
E intelectualmente? Intelectualmente regredimos...

A ciência moderna apoia-se sobretudo no Empirismo. O que não pode ser verificado empiricamente, não existe! O que não couber no estreitíssimo conceito de Método Científico simplesmente não é real, ou pelo menos não é "de confiança".

Não deixa de pasmar tão radical mudança intelectual em tão pouco tempo:

1. Na Idade Média, os vários ramos do conhecimento, ou seja, as várias ciências, apoiavam-se em princípios transcendentes. Destes princípios gerais e universais deduziam-se todas as particularidades do Mundo.

2. Na Idade Moderna, os vários ramos deste novo "conhecimento", ou seja, as "ciências modernas", apoiam-se em princípios empíricos, que devem ser validados pela experimentação, pela medição, pela verificação sensorial. Destes métodos particulares pretendem os cientistas de hoje extrair por indução um conhecimento geral.

Esta mudança, como podemos ver, caracteriza-se pela aniquilação de princípios, pela subjugação do geral e universal à caótica desordem do particular. Esta mudança intelectual é uma verdadeira regressão.

Não admira, portanto, que ensinemos às nossas crianças que vivemos numa época altamente informada e esclarecida. Trata-se de uma mentira aceite pela generalidade das pessoas. As pessoas acreditam nela.

Olha-se hoje para os nossos antepassados como quem olha para selvagens, para ignorantes, para "homens primitivos". Para homens "obscurecidos pelas trevas da religião".
Ridicularizam-se os textos sagrados, e tentam-se ler estes textos como quem lê um compêndio científico.
Numa profundíssima ignorância das verdades simbólicas, dos vários níveis de leitura destes textos, da universalidade da sua mensagem, reduz-se a nada um trabalho de séculos, uma sabedoria milenar.

Recordo-me de me ensinarem no liceu que a Alquimia era uma espécie de Química primitiva. Patético exemplo de ignorância...

O Progresso...
Este é, sem dúvida, um dos mais potentes mitos modernos!

Bernardo

quarta-feira, 8 de outubro de 2003

A Democracia

Pegando na dica do Duarte, vivemos hoje em dia na ilusão de liberdade.
Por isso, hoje quero começar a falar daqueles que considero serem os Mitos Modernos.

Honestamente, devo dizer que o eterno discurso da democracia, dos valores democráticos, "democracia e cidadania", sempre me soou a falso.

Vamos à etimologia do termo "democracia".
Como se sabe, a palavra significa "povo+poder", ou seja, "o poder ao Povo". Imediatamente abrem-se duas questões ao espírito inquiridor deste vosso amigo:

1. Neste momento, ou em qualquer momento da História, o Povo chegou alguma vez a ter o Poder?

2. É desejável que o Povo tenha o Poder?

(interregno meditativo)

A questão nº. 1 tem desde sempre inquietado os mais entusiastas defensores do modelo democrático. Por isso, nesta questão os defensores da democracia deparam-se, e isso é normal, com o eterno dilema entre um modelo teórico que lhes parece bom, e a forma como ele é posto em prática.

Mas antes de começarem a chover tomates, passo a explicar imediatamente o ponto 2, que é mais polémico!

Então, qual é a principal característica do modelo democrático de governo?
É simples: o recurso ao sufrágio. Votar é o lema.

Ora votar é, nada mais nada menos que, subjugar os destinos de uma nação à força da quantidade, ao peso maciço da maioria.

Chegamos assim a uma das características fundamentais do mundo ocidental moderno: é o mundo da Quantidade.

Em tempos, pesava-se a Qualidade. Hoje vive e reina a Quantidade.
E isso vê-se nos modelos de governo que escolhemos.

Ora façamos um exercício simples: imaginemos que, por uma razão misteriosa, poderia ser uma súbita doença degenerativa do córtex cerebral, 99% da população portuguesa deixava de conseguir raciocinar, deixava de conseguir pensar, deixava de conseguir criar, ter ideias, produzir.

Contudo, estes 99% conseguiam ainda preencher com uma cruz um boletim de voto. Apesar de não perceberem nada, RIGOROSAMENTE NADA de finanças, de diplomacia, de educação, de saúde, de administração interna, etc, etc, ainda teriam a desvantagem de, devido à tal doença degenerativa, não conseguirem pensar NADA!

Por isso, seguindo o raciocío, uns escassos 30% da população, os que não quisessem ficar a ver a bola, lá se arrastariam até aos locais de voto, para colocar a malfadada cruzinha "nos menos maus".

Seria isto "democracia"?
Eu bem sei que os entusiastas defensores do modelo democrático não hesitariam em dizer-me: "eu não concordo com as suas ideias, mas defenderia até à morte o seu direito de voto". Entendo esta postura.
Mas não concordo!
É esta, absolutamente, a melhor solução para o governo de uma nação?

Já percebem que eu não defendo o modelo democrático de governo "per se".
Contudo, entendo que nos tempos adversos que correm, se calhar é uma forma de governo conveniente. É um mal menor.

Porque se vivemos TODOS desgovernados e perdidos, e isso é tão real quanto respirarmos, ao menos que possamos tentar contrariar os desgovernos uns dos outros, sempre na óptica de "o mal o menos".

(pequena pausa antes de concluir)

Então temos já o Mito Moderno nº. 1: A Democracia
Deixo para amanhã o Mito Moderno nº. 2: O Progresso

Bernardo

O Duarte apresenta-se...

Caros todos,

Tal como o meu amigo Bernardo escreveu, a ideia de criar este Blog, não assume qualquer outro contorno que não seja o de opinar... Opinar sobre o que se quiser e quando se quiser.

Chamo-me Duarte, sou casado e recém licenciado. Gosto de partilhar as minhas ideias, confesso que por vezes sou um bocadinho chato, mas neste Blog, não será o caso!

Deixo-vos, para os que tiverem paciência, com a minha primeira intervenção!

Insólitos Democráticos

Como grande parte dos Portugueses, a Democracia é mais um dos pacientes que espera na imensa lista da saúde, para se curar de doenças terríveis como a esquizofrenia ou a profunda amnésia em que tem vivido nos últimos anos.

O caso é realmente grave, se não veja-se. Numa altura crucial para o País, em que urgem reformas na educação, na função pública, na indústria (entre outras), a Nação pára e debate-se ferozmente, o governo oscila porque a jovem Diana quer, porque quer, entrar em medicina, independentemente de ter direito ou não.
Casos como este são inúmeros no passado recente da nossa vida política. Quem não se lembra do caso Vitorino e a Sisa ou das contas milionárias na Suíça.

O País vai realmente mal e a classe política vai ainda pior. O que transparece é que caímos numa total cegueira governativa, onde a única coisa que interessa é tirar os que estão no poder, para assegurar mais tachos. O princípio de governar pelo interesse Nacional há muito que deixou S. Bento, se é que alguma vez lá parou.

Mas o mais bizarro é a passividade da opinião pública. Vivemos o dia a dia numa doce apatia, conduzida exemplarmente pelos Órgãos de Comunicação Social, que vão ditando aquilo que devemos ver, falar e até pensar.

Valha-nos a ilusão da liberdade, nem que esteja confinada ao Zapping...

Duarte

terça-feira, 7 de outubro de 2003

O Bernardo apresenta-se...

O Homem tem uma vontade desmedida de comunicar.
A Mulher ainda mais, como se sabe...

Este canto da Internet, onde vão começar a aparecer opiniões sobre os mais diversos assuntos, assume sobretudo a função de válvula de escape.

Todos opinam. Não quero, neste aspecto, ser diferente dos outros.
Gosto de opinar...

O impacto das minhas opiniões é, sem dúvida, muito limitado.
Ninguém muda o mundo com um blogue opinativo.

Não é essa a minha intenção.
Escrevo para me divertir, e para comunicar as minhas ideias e opiniões àqueles que não estão a trabalhar, mas sim a perder tempo na Internet a ler blogues desinteressantes!

Antes de começar a disparar os meus disparates em todas as direcções, acho importante falar um pouco, muito pouco, sobre mim. Parece-me essencial que os escassos leitores deste blogue possam contextualizar correctamente a minha verborreia à medida que ela for acontecendo.

Temas que me interessam: quase tudo.

Vai-se, contudo, notar que há uma ligeiríssima obcessão da minha parte por estes temas:

- religião
- religião e espiritualidade
- espiritualidade
- espiritualidade religiosa
- religião espiritual
- etc, etc...

Também gosto de opinar sobre política, se bem que nesta área quase não se arranja nada de bom para dizer, e por isso, o blogue pode tornar-se rapidamente muito depressivo.

Como todos sabem, política e religião são dois temas explosivos, e que fazem um belo conjunto.

Vou certamente dizer coisas muito horrorosas e polémicas e que poderão causar indigestões aos que por cá passem, por isso, que fique muito claro que isto é um aviso prévio.

A vantagem de um blogue é que não vou ser agredido, nem fisicamente nem verbalmente, pelos muitos que discordarão de mim.

Possivelmente o meu amigo Duarte poderá dinamitar a minha casa, visto que mora mesmo por baixo de mim, mas à parte dele, acho que estarei em relativa segurança.

Sobre a minha pessoa, para concluir:

- Espiritualmente, TENTO ser católico...
- Politicamente, TENTO ser conservador...

Contudo, como irão reparar em breve, tenho a língua solta no que toca a críticas ao mundo Católico, e no que toca à classe política conservadora.

Para já é tudo!

Se interrompeu o seu trabalho para ler isto, por favor, volte a trabalhar... O país precisa de si!!

Bernardo Sanchez da Motta

O dia da inauguração...

Inauguração do blogue. A ideia partiu de Duarte Fragoso e Bernardo Motta.