quinta-feira, 26 de março de 2009

segunda-feira, 23 de março de 2009

Esquizofrenia anti-papal

Num número demasiado grande de jornalistas (arriscaria dizer que se trata da maioria), vive um ódio bizarro à Igreja Católica e ao Papa, seja ele qual for. Hoje em dia, está na moda, para quem gosta de parecer "moderado", dizer que o Papa anterior é que era simpático, e que este é o mau da fita. Agem como se ninguém se lembrasse das bordoadas que então davam com gosto no Papa João Paulo II, sempre que este se pronunciava sobre o que quer que fosse.

Hoje em dia, nada mudou. Dão-se bordoadas no Papa Bento XVI por qualquer coisa que ele diga. Não por ser Bento XVI, porque também se davam bordoadas em João Paulo II, e em Paulo VI. Dão-se bordoadas porque uma boa parte dos "media" detesta a Igreja Católica e o papel de Papa. E não há quaisquer dúvidas de que muitos profissionais dos "media" têm conseguido imprimir à opinião pública os seus preconceitos ideológicos e as suas esquizofrenias.

A maralha decidiu recentemente linchar o Papa pelas suas corajosas declarações acerca da SIDA em África e da ineficácia das campanhas baseadas na distribuição de preservativos. O Papa afirmou que tais campanhas são claramente ineficazes, e mais, que tais campanhas estão a aumentar o flagelo da SIDA.

Imediatamente, tombou o anátema da Comunicação Social. Recordo-me de ouvir uma jovem jornalista na rádio, com um tom de voz revelador, muito irritada, dizer que tinha notícias "mais do que polémicas" relativamente ao Papa. Estava mortinha por repetir na antena as palavras de Bento XVI, e por lhes dar um tom pessoal de bazófia, de forma a transmitir a sua irritação contra o Papa, através dos feixes hertzianos, aos ouvintes da estação.

No entanto, o Papa não estava a mentir, nem a dizer uma novidade por aí além. Estava a dizer a mais pura das verdades. Estava alinhado com os melhores estudos sobre o tema, com aqueles estudos feitos sem objectivos ideológicos, com aqueles estudos que não são financiados por fabricantes de preservativos.

Edward C. Green, professor de Harvard, Director do AIDS Prevention Research Center, curiosamente concorda com Bento XVI na frase que tanta polémica gerou:

‘We have found no consistent associations between condom use and lower HIV-infection rates, which, 25 years into the pandemic, we should be seeing if this intervention was working.”

So notes Edward C. Green, director of the AIDS Prevention Research Project at the Harvard Center for Population and Development Studies, in response to papal press comments en route to Africa this week.

Benedict XVI said, in response to a French reporter’s question asking him to defend the Church’s position on fighting the spread of AIDS, characterized by the reporter as “frequently considered unrealistic and ineffective”:

I would say that this problem of AIDS cannot be overcome with advertising slogans. If the soul is lacking, if Africans do not help one another, the scourge cannot be resolved by distributing condoms; quite the contrary, we risk worsening the problem. The solution can only come through a twofold commitment: firstly, the humanization of sexuality, in other words a spiritual and human renewal bringing a new way of behaving towards one another; and secondly, true friendship, above all with those who are suffering, a readiness — even through personal sacrifice — to be present with those who suffer. And these are the factors that help and bring visible progress.


“The pope is correct,” Green told National Review Online Wednesday, “or put it a better way, the best evidence we have supports the pope’s comments. He stresses that “condoms have been proven to not be effective at the ‘level of population.’”

“There is,” Green adds, “a consistent association shown by our best studies, including the U.S.-funded ‘Demographic Health Surveys,’ between greater availability and use of condoms and higher (not lower) HIV-infection rates. This may be due in part to a phenomenon known as risk compensation, meaning that when one uses a risk-reduction ‘technology’ such as condoms, one often loses the benefit (reduction in risk) by ‘compensating’ or taking greater chances than one would take without the risk-reduction technology.”

Green added: “I also noticed that the pope said ‘monogamy’ was the best single answer to African AIDS, rather than ‘abstinence.’ The best and latest empirical evidence indeed shows that reduction in multiple and concurrent sexual partners is the most important single behavior change associated with reduction in HIV-infection rates (the other major factor is male circumcision).”
(negrito meu)


Este investigador, cuja lista de publicações sobre o tema é impressionante, corrobora as palavras do Papa. Quase ninguém deu por isso, enquanto muitos se esforçavam por criticar o Papa, mesmo de dentro da Igreja. D. Januário Torgal Ferreira fez declarações pouco felizes, ao dizer que «as pessoas que estão aconselhar o Papa deveriam ser mais cultas». A tragédia destas palavras torna-se mais evidente quando elas são comparadas com o apoio do Prof. Green ao Papa.

Mais artigos de Green sobre o tema:
AIDS and the Churches: Getting the Story Right
Uganda's HIV Prevention Success: The Role of Sexual Behavior Change and the National Response

PS: Note-se que o raciocínio de Green e do Papa Bento XVI é perfeitamente racional e até intuitivo. Aliás, a esmagadora maioria dos que vociferam contra o Papa estariam de acordo em aplicar exactamente o mesmo raciocínio noutra área não ideológica. Ninguém advoga, por exemplo, que a solução para as mortes na estrada passa, sobretudo, pelo fabrico de mais e mais viaturas apetrechadas de ABS e air-bags. Muitos, no caso dado como exemplo, advogam que o problema é comportamental, que o problema é o da condução em excesso de velocidade, ou sob o efeito de álcool ou estupefacientes. No caso dos acidentes na estrada, todos concordam que o problema é comportamental, e que o caminho certo é alterar comportamentos. No caso da SIDA, dá-se uma esquizofrenia ideologicamente motivada, na qual quase toda uma sociedade fica escrava daquilo que lhe dizem para pensar, fica escrava do politicamente correcto: e quase todos caem no ridículo de desprezar as causas comportamentais para a SIDA; e quase todos fecham os olhos à origem do problema. Com autismos ideologicamente motivados, não se vai longe...

PS2: Devia-se ler o artigo de Green sobre o "case study" do Uganda, para se ver, além de resultados concretos de uma estratégia comportamental anti-SIDA, o que a Igreja Católica tem andado a fazer por África, enquanto os anti-papistas da praxe vertem as suas baboseiras na Comunicação Social acerca de um tema que não conhecem, nunca estudaram, e para o qual nunca contribuíram.