domingo, 14 de abril de 2019

Conferência NEC: " Progresso da Ciência - O fim da Fé?" (Parte II)


Parte II - Notas sobre Curas em Lourdes



As aparições a Bernardette Soubirous (1844-1879) decorreram entre 11 de Fevereiro e 16 de Julho de 1858, em Lourdes, nos Pirinéus franceses, quando Bernardette tinha 14 anos.

Uma pequena amostra da sua personalidade:
  • Quando o Padre Corbin lhe perguntou: “O que dirias se o Bispo de Tarbes julgasse que estavas enganada?”, ela respondeu: “Eu nunca seria capaz de dizer que não não vi [o que vi] e que não ouvi [o que ouvi].”
  • Quando um intelectual a pressionou com dúvidas acerca das visões, Bernardette respondeu: “É meu dever falar-lhe delas, [mas] não é o meu dever fazê-lo acreditar nelas.” 
  • Extremamente humilde: Bernardette não chegou a assistir à consagração da Basílica de Lourdes  em 1876, pois seguiu a vida religiosa junto com as Irmãs da Caridade em Nevers; a dada altura da sua vida religiosa, comentou desta forma as aparições da qual ela foi a protagonista: “A Virgem usou-me como uma vassoura para varrer o pó. Quando o trabalho está terminado, a vassoura é colocada de novo atrás da porta”
  • Morreu aos 35 anos de tuberculose
Primeiros relatos de curas surgem logo em 1858.
Primeiros atestados médicos em 1873.
Médicos-residentes em Lourdes:
  • G. F. Dunod de Saint-Maclou, 1883–91
  • Gustave Boissarie, 1891–1917 (assistido por Pierre Cox)
  • Edouard Le Bec (1919–23)
  • A. Marchand e M. Petitpierre
  • Auguste Vallet (1927 a 1947)

O Bureau Médico de Lourdes terá registado entre 1858 e 1976 uma estimativa de 4.516 curas.

Apenas 68 curas foram reconhecidas como milagres pela Igreja Católica (1,5% das curas):
  • 7 milagres em 1862
  • 33 milagres entre 1907 e 1913
  • 22 milagres entre 1946 e 1965
  • 5 milagres entre 1976 e 2005

A cura de Maire Bailly

A cura de Marie Bailly não faz parte da lista de curas milagrosas reconhecidas pela Igreja Católica, mas é interessante na medida em que foi atestada por um médico muito famoso.


Testemunha principal: o médico francês Alexis Carrel (1873-1944), que recebeu o Prémio Nobel da Medicina em 1912 pelo seu trabalho pioneiro em técnicas de sutura vascular e no transplante de vasos sanguíneos e órgãos.

Acompanhou e documentou o processo de cura de Marie-Louise Bailly (23 anos), quando esta estava num estado terminal de peritonite tuberculosa. 

Marie nasceu a 29 de Janeiro de 1879, em Lyon. Os seus pais morreram ambos por volta dos 50 anos com tuberculose pulmonar. Um dos seus irmãos morreu também de tuberculose. Marie contraiu tuberculose pulmonar em 1898, com apenas 9 anos de idade. A situação evoluiu para meningite tuberculosa. Quando estava às portas da morte, ter-lhe-á sido aplicada água de Lourdes, e os sintomas desapareceram (não conheço testemunhos médicos relativos a esta cura), e não é desta primeira cura que vou falar. 
A segunda cura está bem documentada e atestada por vários médicos. Marie contraiu peritonite tuberculosa em 1901. O seu abdómen ficou cada vez mais distendido, e cada vez consumia menos alimentos, muitos dos quais vomitava. Foi considerada pelo Dr. Roy, do Sanatorium de Lyons, como inoperável. Marie estava convencida de que seria curada por um milagre, pois dizia ter tido uma locução interior de Nossa Senhora, com estas palavras: “Je guérirai”. 
De forma mais intrigante, Marie dizia que Nossa Senhora lhe daria uma cura milagrosa para obter a conversão de um descrente. À data, ela não conhecia ainda Alexis Carrel, que só se converteria à Fé católica por volta de 1942, dois anos antes de morrer. Toda a vida, Carrel procurou uma explicação natural para a cura que ele presenciou em 1902, em Lourdes.

As notas que o Dr. Carrel recolheu sobre essa cura estão no Dossiê 54 dos Arquivos de Lourdes.
Em 1949, Carrel escreveu o relato da cura de Marie Bailly sob forma literária: “Le Voyage de Lourdes”. O que se segue foi retirado desta obra, bem com dos depoimentos de Carrel que se encontram nos Arquivos de Lourdes.

Marie estava decidida a ir a Lourdes para obter o milagre que esperava, apesar do estado terminal da sua doença.
Carrel cruza-se pela primeira vez com Marie Bailly a bordo do comboio de Lyons para Lourdes, que partiu à uma da tarde de 26 de Maio de 1902.
Marie já não comia há 4 dias, e foi com a ajuda da enfermeira Gabrielle Goirand que ela se conseguiu esgueirar para dentro do comboio, contra todas as indicações médicas de que não poderia viajar. 
A meio da madrugada, Carrel é chamado pela enfermeira para acorrer a Marie, que estava no compartimento 56 e tinha entrado em coma.

Sigamos o relato literário de Carrel (o autor usa o nome “Marie Ferrand” para Marie Bailly, e usa consigo mesmo o pseudónimo “Lerrac”, o inverso de “Carrel”):
“A noite parecia demasiado longa. Para todos os desafortunados, para os doentes que tremem e sofrem assim como para os que deles cuidam, as três horas da madrugada - aquela hora mesmo antes que o dia venha substituir a noite - é uma hora de medo, angústia e desespero. Quando o comboio entrou na próxima estação, a enfermeira que estava a tomar conta de Marie Ferrand [Bailly] toda a noite, assustada quando a sua paciente entrou em coma, foi a correr chamar Lerrac [Carrel].Marie Ferrand [Bailly] estava deitada no seu colchão, meia vestida, a sua cara estava verde, mas tinha recuperado a consciência. Só havia uma luz ténue no compartimento. O calor era abrasador. Lerrac [Carrel] baixou a janela e a corrente de ar fresco trouxe-lhe os sentidos de volta.“Nunca chegarei a Lourdes”, suspirou ela angustiada.De cada vez que o longo comboio se detia numa paragem, os passageiros chocavam uns contra os outros e estes choques repetidos infligiam um sofrimento inimaginável nos doentes.“Ela parece agonizante”, disse a enfermeira, “de cada vez que o comboio entra numa estação. Estou sempre a pensar que ela vai desmaiar e não sei o que fazer por ela”.“Vamos dar-lhe uma injecção imediatamente”, disse Lerrac [Carrel].A enfermeira puxou a manga descobrindo o braço macerado de Marie Ferrand [Bailly]. Lerrac [Carrel] encheu a seringa hipodérmica Pravaz com uma solução de morfina, e, dado que não tinha uma lâmpada a álcool, colocou a seringa contra a luz de um fósforo aceso; depois enfiou a seringa sob a pele branca, e a seringa manchada de fumo deixou uma pequena mancha preta [na pele].“Daqui a cinco minutos a dor terá desaparecido”, disse ele. “Entretanto, deixe-me olhar para o abdómen e aplicar-lhe algum láudano”.Com destreza, a enfermeira destapou a barriga distendida de Marie Ferrand [Bailly]. A pele reluzente estava esticada e dos lados as costelas apareciam salientes. O inchaço era aparentemente causado por massas sólidas, e havia uma bolsa de fluido sob o umbigo. Era um caso clássico de peritonite tuberculosa. Lerrac [Carrel] tocou no abdómen com as costas dos seus dedos indicador e médio. A temperatura estava acima do normal. As pernas estavam inchadas. Quer o batimento cardíaco quer a respiração estavam acelerados.”
O comboio chegou a Lourdes ao meio-dia do dia 27. Marie estava então inconsciente. Só recuperou a consciência à noite e passou-a no Hospital. Entretanto, o Dr. Carrel conversa com um colega acerca do caso de Marie:
“Esta infeliz rapariga está no estágio final de uma peritonite tuberculosa. Conheço a história dela. A família toda morreu de tuberculose. Ela teve lesões tuberculosas, lesões nos pulmões, e desde os últimos meses uma peritonite diagnosticada quer por um médico de clínica geral quer pelo bem conhecido cirurgião de Bordeaux, Bromilloux. A sua condição é muito grave; tive que lhe dar morfina durante a viagem. Ela pode morrer a qualquer momento (…). Se um caso como o dela fosse curado, seria sem dúvida um milagre. Eu nunca mais duvidaria; tornar-me-ia num monge!”
No dia seguinte, dia 28, a enfermeira Goirand pediu a Marie, às portas da morte, que escrevesse uma última carta para a sua família. Ela recusou, dizendo que só escreveria uma carta à família depois de curada. A enfermeira Goirand, pressentindo um milagre, pede uma maca e com ajuda, leva Marie para os banhos de Lourdes. No seu testemunho posterior, Marie diz que não se lembra de ser levada para as águas de Lourdes, mas lembra-se de uma forte dor ardente abdominal quando lhe despejaram água de Lourdes sobre o abdómen. Por causa dos seus gritos, pararam de lhe aplicar a água, mas pouco depois, aliviada a dor, e com a concordância de Marie, voltaram a despejar água sobre o abdómen. Marie disse que, da segunda vez, a água de Lourdes já não provocou dor, nem ardor, mas sim “doçura”. Nesse momento, começou a respirar normalmente (o que antes não era possível). Perante isto, várias pessoas aproximam-se de Marie, incrédulas.
À terceira vez que se aplicou água sobre o abdómen, a distensão abdominal começou a diminuir. Ela levantou-se da maca e pediu que a levassem à igreja. Muitas pessoas, perante estes factos, começaram a rezar e a cantar. Marie foi levada ao Bureau Médico e foi analisada por vários médicos que lhe disseram que ela estava francamente melhor.

Assim a encontrou Carrel:
Marie Ferrand [Bailly], num casaco branco, estava sentada na cama. Embora a sua cara estivesse ainda cinzenta e emaciada, estava iluminada com vida; os seus olhos brilhavam, uma cor ténue tingia as suas bochechas. As linhas nos cantos da sua boca, marcadas pelos anos de sofrimento, ainda se viam. Mas uma indescritível serenidade emanava da sua pessoa que parecia iluminar aquela triste ala [de hospital] com alegria.

“Doutor”, disse ela, “eu estou completamente curada. Sinto-me muito fraca, mas acho que até consigo andar.”
Lerrac [Carrel] colocou a sua mão no pulso dela. A pulsação estava calma e regular, oitenta vezes por minuto. E todavia apenas poucas horas atrás estava tão acelerada, tão trémula, que ele mal a podia medir. A sua respiração tinha-se também tornado completamente normal; o seu peito subia e descia com uma regularidade lenta. (…)
A pele [do abdómen] estava macia e branca. Acima das costelas estreitas estava o pequeno, achatado e ligeiramente côncavo abdómen de uma jovem rapariga mal nutrida. Levemente, ele colocou as suas mãos nas paredes do abdómen e pressionou; estava macio, flexível e extremamente fino. Sem lhe causar qualquer dor, ele conseguiu palpar o abdómen, os lados, a pélvis, à procura de vestígios da distensão e das massas duras que ele tinha antes encontrado. Tinham desaparecido como se fossem um sonho mau. Toda a região do abdómen parecia completamente normal. Apenas as pernas estavam inchadas. Ela estava curada. No espaço de poucas horas, uma rapariga com a face já azul, um abdómen distendido, e um coração fatalmente acelerado estava agora recuperada, excepto pela sua fraqueza e emaciação. (…)
Ele não tinha ouvido os Doutores J. e M. a entrarem (…). Subitamente, deu por eles, de pé ao seu lado.
“Ela parece curada”, disse ele. “Não encontro nada de mal. Por favor examinem-na vós mesmos.”
Enquanto os seus dois colegas palpavam cuidadosamente o abdómen de Marie Ferrand [Bailly], Lerrac [Carrel] pôs-se de lado a vê-los com olhos cintilantes. Não podia haver dúvida alguma de que a rapariga estava curada. Era, obviamente, a coisa mais portentosa que ele alguma vez vira. Era ao mesmo tempo assustador e maravilhoso ver a vida a voltar a um organismo que estava praticamente destruído por anos de doença. (…)
Virando-se para M., que ainda palpava o abdómen de Marie Ferrand [Bailly], Lerrac [Carrel] perguntou se encontrara alguns sintomas.
“Absolutamente nenhum”, respondeu M. “Mas eu quero auscultar a sua respiração”.
Ele encostou o seu ouvido ao peito de Marie Ferrand [Bailly]. Ao mesmo tempo, o Dr. J. estava a medir a pulsação. (…)
Finalmente, os dois médicos terminaram o seu exame.
“Ela está curada”, disse o Dr. J., profundamente comovido.
“Não encontro nada”, disse M. “A sua respiração é normal. Ela está boa. Ela pode-se levantar.”
“Não há nenhuma explicação para esta cura”, disse o Dr. J.
“É um milagre”, disse C. “Eu rezei por si, Dr. Lerrac [Carrel]. Talvez isto o traga de volta para a Igreja?”
“É certamente um milagre”, disse Lerrac [Carrel] em voz baixa, “a não ser que eu me tenha enganado no meu diagnóstico”. (…)
“O que é que vai fazer”, perguntou Lerrac [Carrel] a Marie Ferrand [Bailly], “agora que se sente curada?”
“Vou juntar-me às irmãs de São Vicente de Paula, e tratar dos doentes”, respondeu ela.

Para esconder a emoção, Lerrac [Carrel] saiu do quarto.” 
No dia seguinte, 29 de Maio, Marie vestiu-se. Já se conseguia levantar e sentar sem dores. Nesse dia, quis mergulhar por inteiro nas águas de Lourdes. Fê-lo sem qualquer dor.
Marie fez a viagem de volta para Lyons, uma viagem de 24 horas, e saiu pelo seu pé do comboio para a estação. Escreveu ela: “Apanhei o eléctrico, o que não me cansou, e corri em lágrimas para os braços da minha família que nem me reconhecia”. 

Em Lyons, o Dr. Roy, bem como o próprio Carrel, acompanharam-na nas semanas seguintes. Das notas do Dr.  Roy a 15 de Julho: “A cura parece completa. O seu peso aumenta um quilograma por semana. A condição geral é excelente. Examinámos o seu estado psicológico. Ela parece normal. Uma jovem senhora muito modesta e calma. Razoavelmente inteligente. Memória muito lúcida. Sem misticismo. Tímida e discreta. Fala da sua cura apenas quando lhe perguntam. Aparenta não ter desequilíbrio mental.”

A 5 de Setembro, o Dr. Roy parece procurar despistar perturbações do foro psicológico, mas encontra tudo normal: “A paciente está alegre. Fala prontamente. Inteligência normal. Memória perfeita. Nada perturbada pelo interrogatório, olha na cara sem insistência ou reserva excessiva”. O Dr. Roy estava convencido de que Marie teria um relapso no espaço de um ano.

A 6 de Agosto foi aceite como postulante pelas Irmãs da Caridade de Lyons. Em meados de Novembro tinha recuperado 16 quilogramas. A 29 de Novembro foi para Paris, seguir vocação religiosa no convento da Rue du Bac. Foi lá visitada pelo Dr. Boissarie, do Bureau Médico de Lourdes, em Fevereiro de 1903. Em 1905, três anos depois da cura, Marie continuava a receber, e a responder a, pedidos periódicos de análises à urina e ao sangue por parte do Dr. Boissarie. Marie fez os votos a 8 de Dezembro de 1907, e antes de os fazer, foi pedido um parecer médico que refere: “a sua força física não lhe falha. Ela tem força para lavar a roupa e engomar”. Morreu de morte natural em Montolieu, a 22 de Fevereiro de 1937, com 58 anos de idade.

Depoimento do Dr. Carrel - 28 e 29 de Maio de 1902
14:20: parece que apenas o abdómen foi tocado por uma pequena quantidade de água. A sua aparência não mudou. A sua respiração está talvez menos rápida. Ela é agora levada para a frente da Gruta para a primeira fila reservada para os doentes. Poucas pessoas ainda se encontram no local. As cerimónias religiosas ainda não começaram. Ela está perfeitamente visível. Fácil de ser observada.
14:30-14:40: O ritmo da respiração abrandou e torna-se mais regular. A sua face muda um pouco. Um leve toque de cor-de-rosa espalha-se sobre a pele. Ela parece ligeiramente melhor. Ela reconhece a enfermeira e ri-se para ela.
14:55: O perfil do corpo modifica-se e a protuberância do abdómen parece achatar-se um pouco. O seu estado geral melhora e de forma visível.
15:10: As mãos, as orelhas e o nariz estão quentes. A respiração abrandou para cera de 40 por minuto. O batimento cardíaco, muito rápido a 140 por minuto, está mais forte e regular. A nossa paciente diz-me que se sente melhor. A enfermeira tenta levá-la a beber um pouco de leite. Ela bebe-o. Não vomita.
15:20: Ela levanta a cabeça de forma espontânea e olha à volta. Ao nível do abdómen, a manta está achatada. As pernas movem-se e o corpo vira-se a partir da direita. A face tornou-se calma e rosada.
15:45: A paciente é levada, ainda deitada na maca, até à Igreja do Rosário
16:15: A melhoria é ainda mais marcada e torna-se óbvia para pessoas à volta que não estão familiarizadas com assuntos médicos. Ela ainda está deitada de costas. A respiração é calma. A face um pouco rosada. A protuberância no abdómen desapareceu completamente. Ela diz-me que se sente muito bem e, se tivesse coragem, levantar-se-ia. A sua aparência mudou tanto que toda a gente repara. No meio do entusiasmo delirante da multidão ela é levada para o Bureau Médico do Dr. Boissarie.
19:30: A parede abdominal é flexível, elástica, e com uma ligeira depressão normal para uma senhora de 22 anos de idade e muito magra. Esta depressão permite uma exploração minuciosa dos órgãos sob [a pele]. A aorta bate sob o dedo. O cólon é investigado. Algumas bolas de matéria fecal no cólon sigmoidal estão a descer. Do lado direito, na profundidade do abdómen, há uma massa dura que ocupa a cavidade abdominal inferir e chega à região lombar. Encontro, usando as duas mãos, um nódulo muito duro mas não doloroso, do tamanho de um antebraço, encaixado contra a parede posterior do abdómen que não se move durante a respiração. Os rins não estão caídos. Nenhumas fezes desde a partida de Lyons. Nenhuma descarga urinária. Micturição normal. 
29 de Maio, 6:30: Condição geral perfeita. A paciente levanta-se sozinha e toma o pequeno almoço. Respiração 18 [vezes] por minuto, batimento cardíaco 88 [vezes por minuto]. O abdómen está absolutamente normal. A massa dura, observada ontem na região ilíaca lombar, desapareceu completamente. Existe ainda alguma tumefacção na cavidade abdominal inferior.

Depoimento do Dr. Paul Geoffray, natural de Rive-de-Gier, no Loire
“O abdómen era uma massa hemisférica enorme e muito dura e formava um só bloco muito sensível à qualquer palpação. A paciente perguntou-nos, através das suas enfermeiras, se estava proibida de ir à Gruta. É claro que a deixámos em completa liberdade, embora receássemos que o desfecho pudesse ser fatal e iminente. Mademoiselle Bailly foi levada à Gruta num estado de total prostração. Encontrei-a a caminho. À noite, a caminho do Hospital, encontrei-a, para meu espanto, com a sua cabeça levantada, respondendo às minhas questões com um sorriso e respirando facilmente. Eram cerca de 7 horas da noite. Não a examinei pois estava apertado de tempo. Admito que esperava apenas uma melhoria fictícia, causada pelas emoções. O meu espanto foi profundo esta manhã, Quinta-feira, 29 de Maio de 1902, quando eu me aproximei da cama da Mademoiselle Bailly, ao ver, atrevo-me a dizer, a mudança visível que tinha tido lugar em alguém tão doente na véspera. A respiração e a pulsação quase normais. Em relação ao abdómen, nada restava daquela enorme massa dura registada ontem. O abdómen recuperou o seu [estado] normal, absolutamente normal, flexibilidade. Total ausência de dor sob qualquer palpação. Medi o pulso na aorta abdominal. Do enorme tumor registado ontem só um pequeno nódulo resta, não maior do que um pequeno rim, situado no hipocôndrio direito, sem causar dor alguma. A paciente sente-se tão bem que quer caminhar até à Gruta, o que não está autorizada a fazer devido à sua fraqueza. Ela diz-me que se levantou de manhã sozinha por poucos momentos. Este atestado médico que eu assino é a pura verdade. Devo dizer ainda que nunca uma peritonite tubercular foi curada, por meios humanos, em poucas horas, como aconteceu aqui? Lourdes, 29 de Maio de 1902. [assinatura] Dr. Geoffray (Paul).”

Conversão de Carrel
  • Foi um processo muito longo, o da conversão de Carrel, durou quase a vida toda
  • Em 1902, Carrel chegou agnóstico a Lourdes, e depois de ver a cura de Marie Bailly, regressou a casa agnóstico, embora certamente abalado e perplexo com o que viu, sem saber explicar a cura
  • Teve ainda mais uma oportunidade de presenciar outro milagre em 1910, durante a sua terceira viagem a Lourdes: uma criança de 18 meses que nasceu cega e recuperou a visão, mas também não foi desta vez que Carrel se converteu; o bebé curado estava nos braços da enfermeira Anne-Marie de la Motte, com quem Carrel se casou no Natal de 1913
  • Quase até ao fim da vida, Carrel estava convencido de que a oração e a religião abriam as portas para uma parte desconhecida da Natureza, que devia ser estudada cientificamente, procurando talvez de forma subconsciente uma explicação “cientifica” para os milagres que presenciou, mas sem aceitar um Deus pessoal a quem se pode rezar
  • Em 1942, encontramos no seu diário as seguintes palavras, sinal de uma mudança grande: “Acredito na existência de Deus, na imortalidade da alma, na Revelação e em tudo o que a Igreja Católica ensina, na sua admirável doutrina de sacrifício que é o seu cerne”.
  • Em 1943, sofre um ataque cardíaco pouco grave, seguido de outro mais grave em 1944
  • Por volta de Outubro de 1944, já tinha regressado em força à Igreja Católica da sua infância e juventude
  • Poucos dias antes de morrer, diz a um Padre seu amigo (Monsenhor Hamoyon): “Quando nos aproximamos na própria morte, apercebemo-nos do nada de todas as coisas. Ganhei fama. O mundo fala de mim e das minhas obras, e no entanto eu sou uma mera criança perante Deus, e uma pobre criança ainda por cima.”
  • Morreu na madrugada de 5 de Novembro

Estatísticas de curas em Lourdes (1909-1914, 1947-1950, 1950-1976)





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