Decidi fazer uma busca rápida pela Internet, em sites de língua portuguesa, pelas palavras "Dan Brown"... Fiquei chocado!
Toda a gente está a ler o livro e a adorar... Era o que eu temia...
Ninguém, nem por um momento, duvida de Dan Brown, que é um autor e uma pessoa que eles nem conhecem! Não estamos a falar de Umberto Eco, cujos romances de conteúdo histórico deixam-nos sempre perplexos, a pensar no que é verdade e no que é mentira. Umberto Eco escreve e está connosco há décadas. E é uma pessoa séria...
E contudo, tantas vezes que vejo pessoas a compararem o "Código Da Vinci" ao "Nome da Rosa". Porquê? Porque é um romance sobre religião? É que não têm mais nada a ver!
Na firme esperança de que este comentário surgirá nos motores de busca, cá fica mais uma vez uma chamada de atenção para os leitores portugueses e brasileiros que estão fascinados com este livro:
1. Dan Brown é mal intencionado a partir do momento em que ele inicia o romance com a nota, nada inocente, de que os detalhes do romance são verídicos; nada é mais falso;
2. Dan Brown retirou material das obras de autores como Henry Lincoln, Michael Baigent, Richard Leigh, Clive Prince, Lynn Picknet, Margaret Starbird, entre tantos outros; estes autores não se queixam, porque escrevem todos o que escrevem com um mesmo objectivo comum;
3. Dan Brown não percebe nada de História: estamos a falar de um homem que acha que "Da Vinci" é o nome de Leonardo; de um homem que acha que os Templários foram queimados, e as suas cinzas lançadas ao Tibre, em Roma, quando o Papa Clemente V (que extinguiu os Templários), vivia no exílio em Avignon (França); de um homem que, ignorando que a Igreja Católica nem sempre esteve no Vaticano, insiste em chamar a Igreja Católica de "The Vatican"; de um homem que acha que Leonardo da Vinci pintou Maria Madalena ao lado de Cristo no mural da Última Ceia; de um homem que acredita que foi Constantino quem elevou Cristo a divindade (ignorando portanto profundamente o que foi e o que tratou o concílio de Niceia em 325); de um homem que acha que foram os Templários os construtores de igrejas na Idade Média; de um homem que acha que os Evangelhos Apócrifos foram escritos ao mesmo tempo (ou até antes!) dos Evangelhos Sinópticos; enfim, este texto poderia ocupar tantas páginas como as páginas do seu romance;
4. E por fim, e o que é mais grave, Dan Brown recuperou a mitologia de Rennes-le-Château! Como é possível que NENHUM dos seus adoradores aqui em Portugal conheça, sequer, o nome de Rennes-le-Château?? Quando foi precisamente a esta farsa de triste memória que Dan Brown foi buscar toda a sua inspiração?
Para quem não sabe, Rennes-le-Château é um lugarejo perdido no sul de França, onde teve lugar a criação de uma das mais longas, complexas, e terríveis farsas pseudo-históricas da modernidade. A lista de "grão-mestres" do pretensamente secular "Prieuré de Sion" que Dan Brown refere no romance foi retirada de um panfleto forjado, intitulado "Dossiers Secrets", que foi depositado na Biblioteca Nacional em Paris, nos anos sessenta, por Pierre Plantard, sob o pseudónimo de Henri Lobineau.
O "Prieuré de Sion" foi criado nos anos cinquenta, e que agruparia uma juventude "católica, monárquica e cavaleiresca" em torno de Pierre Plantard (que se auto-intitulava "Pierre de France"), o arrogante e pretenso "descendente" da Dinastia Merovíngia. Contudo, as origens bem mais modestas de Pierre Plantard, bem como a sua simpatia pelo regime de Vichy, a sua tendência anti-judaica, e o seu cadastro na polícia, são tudo coisas ocultadas da opinião pública.
Para quê ir mais longe? As pessoas que lêem Dan Brown nem sabem o que é Rennes-le-Château! Palavras para quê?! Por favor, informem-se. Até a Internet, que nestas coisas costuma não ser de fiar, está cheia de material refutatório...
A pior coisa é cair na esparrela do "génio criativo" de Dan Brown.
Para saber mais sobre Rennes-le-Château:
http://bmotta.planetaclix.pt
Para saber mais sobre o Prieuré de Sion:
http://www.priory-of-sion.com
Bernardo
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