Depois de ler a animada troca de comentários entre o Machogrosso e o CA relativamente ao meu último post, apeteceu-me escrever estes desabafos. Peço a quem me lê que veja isto como meros desabafos, cujo reduzido valor serve como boa desculpa para a linguagem ligeira por mim utilizada.
Agradecendo a ajuda do Machogrosso, meu amigo transatlântico, que muitas vezes por cá passa para me demonstrar que eu não estou louco, e que, graças a Deus, ainda há pessoas a tentar pensar e a colocar questões com clareza, queria tecer alguns comentários, à laia de desabafo, depois de ter lido o que escreveu o CA.
O CA recorda-me uma fase da minha vida, na qual eu também diabolizava as "estruturas" do Vaticano, e procurava colocar todas as minhas ignorâncias dentro dessa grande caixa negra de "futilidades vaticanas". Assim, nessa óptica, eu era um protestante sem o saber. Era um protestante que ia à missa, convicto de que não precisava de toda aquela "tralha" inventada por um Vaticano "burocrático" e "déspota".
Mas caramba, eu tinha então vinte anos e era muito ingénuo!
Estava profundamente formatado pela opinionite inculcada pelos mass media.
Desde essa altura, tenho feito um esforço considerável para me instruir em doutrina católica, para aprender o máximo que posso sobre a História da Igreja Católica, para esclarecer as minhas inúmeras dúvidas junto de fontes sérias e credíveis.
Faz-me uma imensa confusão que se considerem as ilacções doutrinárias da Congregação para a Doutrina da Fé como coisas acessórias para a fé do católico.
E porquê?
Porque, do meu estudo das heresias e da história agitada dos primeiros séculos de cristianismo, recordo-me dos excessos de certas seitas que, detestando todo o tipo de estrutura hierárquica, procuravam, numa quase anarquia, o que eles achavam que era "cristianismo original".
A hierarquia foi estabelecida, à luz da doutrina, pelo próprio Jesus Cristo, que escolheu a figura de Pedro como cabeça do seu movimento:
Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam
Não poucas vezes, vejo crentes católicos repudiarem dogmas como o da Infalibilidade Papal, ou o da Imaculada Conceição de Maria, só porque são, para eles, "invenções modernas". Estes dogmas, mesmo surgindo na era moderna, são os frutos da tradição apostólica, do desabrochar das potencialidades da fé crística. Será a maçã, recentemente formada, de natureza diferente da árvore que a gerou?
A tradição apostólica faz da Igreja Católica um dos mais complexos, mas também dos mais coerentes, movimentos que a Humanidade já conheceu.
É da mais simples e discreta humildade que o crente, perante uma naturalíssima dúvida, dê o benefício a uma doutrina com dois mil anos de tradição.
Por outro lado, é da mais abjecta arrogância recorrer à diabolização do Vaticano (transformado em máquina infernal de fúteis invenções doutrinárias) para tentar ocultar atrás de uma opinionite aguda graves deficiências de cultura católica.
Como é possível que um crente, profundamente desconhecedor das questões fundamentais do cristianismo, seja tão egocêntrico ao ponto de achar que a sua opinião ignorante, puro flatus voci, vale alguma coisa contra a solidez de temas tratados durante milénios pelas mais brilhantes cabeças que o Ocidente conheceu?
Usa-se, hoje em dia, e abusa-se, de termos como "tolerância", ou "liberdade de expressão", ou ainda "liberdade de opinião".
Nada tenho a opor-me a estes termos, nem às liberdades por eles defendidas. Contudo, ninguém me poderá negar o direito a expor este vício moderno, a opinionite, pela qual a ignorância pretende subir ao palanque para arrancar à força os louros que antes cabiam à sabedoria.
Opiniões, todos as podemos ter.
Contudo, evitemos confundir opiniões com factos.
É um facto que a doutrina católica professa a existência do Diabo, dos seres intermédios (vulgo "anjos" e "demónios"), bem como usa rituais adequados para lidar com certas situações de real possessão demoníaca.
A opinionite dos católicos "modernistas", cuja intelectualidade está já irremediavelmente materialista, positivista e empirista, nada poderá fazer contra este facto, mesmo que hoje em dia poucos sejam aqueles que o reconhecem como facto.
Ajudados como estão por, também eles "modernos" e "progressistas", teólogos que hoje em dia já são sobretudo "kantianos", "hegelianos", "schopenauerianos", "cartesianos", "jamesianos", teólogos que já não se interessam pela santa doutrina que herdaram dos nossos antepassados na fé, os modernos crentes católicos tentam transformar o catolicismo numa grande tenda, onde cabem todos, bem ao estilo dos tempos modernos.
No que me toca, da minha miserável condição de ser humano que nunca poderá evitar a "marcha do mundo", não me calarei e não prescindirei da denúncia dos vícios modernistas, que se infiltram ininterruptamente e subrepticiamente na doutrina católica.
Os católicos "modernistas", não se dão conta que, de facto, são meros instrumentos nesta marcha inexorável em direcção à dissolução do temporal. Lêem, entusiasmados, um Teilhard de Chardin (criador da excentricidade do "deus evolutor"), com o fascínio com que deveriam ler um São Tomás de Aquino!
O que quererá isto dizer sobre o catolicismo moderno, e sobre o destino que muitos lhe querem imprimir?
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