Ainda está para nascer, se é que alguma vez nascerá, o crente sensato que nunca teve dúvidas de fé. Que nunca duvidou da existência de Deus.
Existem, e existirão sempre, pessoas que não pensam sobre estas questões metafísicas. Crentes que são crentes sem pensar. Ateus que são ateus sem pensar. Agnósticos que são agnósticos sem pensar.
Contudo, o próprio processo humano de pensar obriga à dúvida, à confrontação de ideias opostas, de respostas contraditórias para as questões essenciais da vida.
Toda a comunicação social está em êxtase com as revelações das dúvidas de fé de Madre Teresa de Calcutá. Grande choque! Tudo é hiperbolizado, como se fosse impossível que tal pessoa tivesse dúvidas de fé.
Mas quem não as tem? Só os tontos.
A atitude de fé é indissociável da confiança interpessoal. Se não confiamos em ninguém, não podemos ter fé. A fé amadurece, e aprofunda-se, partindo da semente que é a confiança, e usando da inteligência e da razão para a aprofundar.
Se repararmos, é exactamente, a mesma atitude (só o âmbito do conhecimento é diferente) que o cientista deve adoptar. Nenhum cientista tem tempo nesta vida para estudar tudo, para verificar individualmente os resultados de todos os seus colegas cientistas em todas as áreas do saber empírico moderno. Por isso, qualquer cientista tem que, dentro da razoabilidade, aceitar os resultados dos trabalhos de outros cientistas. Poderá, aqui e acolá, sobretudo se se tratar de um trabalho na sua área, querer reproduzir esse trabalho para averiguar acerca da sua justeza. Mas um especialista em biologia, por exemplo, não teria tempo suficiente na sua vida para estudar, em paralelo, tudo o que há de publicações científicas sobre meteorologia, geologia, matemática, física, química, história, geografia, entre outras.
A inteligência humana adquire conhecimento através de um processo sempre igual, e que, se seguido de forma diligente, dá normalmente bons resultados:
a) uma atitude de fé: numa pessoa, numa obra ou trabalho, numa organização
b) uma atitude de investigação e trabalho intelectual individual
As dúvidas de fé são tão legítimas, na mente do crente pensante, como as dúvidas do cientista. Não há progresso científico sem a ajuda preciosa da dúvida. E não haveria Igreja Católica como a conhecemos hoje, com a estabilidade doutrinal que esta apresenta, sem vinte séculos de dúvidas e debates intelectuais acerca de todos os mais ínfimos e infindáveis detalhes doutrinais.
Sem comentários:
Enviar um comentário