«Abbiamo avuto conoscenza di un’intervista rilasciata da Mons. Richard Williamson, membro della nostra Fraternità San Pio X, alla televisione svedese. In questa intervista, egli si esprime su questioni storiche, in particolare sulla questione del genocidio degli ebrei da parte dei nazionalsocialisti. È evidente che un vescovo cattolico non può parlare con autorità ecclesiastica che su questioni che riguardano la fede e la morale. La nostra Fraternità non rivendica alcuna autorità sulle altre questioni. La sua missione è la propagazione e la restaurazione della dottrina cattolica autentica, esposta nei dogmi della fede. È per questo motivo che siamo conosciuti, accettati e apprezzati nel mondo intero. È con grande dolore che costatiamo quanto la trasgressione di questo mandato può far torto alla nostra missione. Le affermazioni di Mons. Williamson non riflettono in nessun caso la posizione della nostra Fraternità. Perciò io gli ho proibito, fino a nuovo ordine, ogni presa di posizione pubblica su questioni politiche o storiche. Noi domandiamo perdono al Sommo Pontefice e a tutti gli uomini di buona volontà, per le conseguenze drammatiche di tale atto. Benché noi riconosciamo l’inopportunità di queste dichiarazioni, noi non possiamo che costatare con tristezza che esse hanno colpito direttamente la nostra Fraternità discreditandone la missione. Questo non possiamo ammetterlo e dichiariamo che continueremo a predicare la dottrina cattolica e di amministrare i sacramenti della grazia di Nostro Signore Gesù Cristo.Menzingen, 27 gennaio 2009+ Bernard Fellay, Superiore Generale»
Retirado do blogue de Andrea Tornielli.
"Mas, no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça" - Primeira Carta de São Pedro, cap. 3, vs. 15.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
A noção filosófica de "forma substancial"
Preâmbulo
Ensina a escolástica que a "alma humana" é a "forma substancial" do ser humano.
A palavra "alma" tornou-se, nos dias de hoje, num alçapão linguístico. Não por culpa do termo em si, certamente, mas devido à ignorância filosófica. Crentes usam-na sem conhecer as suas raízes filosóficas, não crentes repudiam-na como se se tratasse de jargão supersticioso e obscuro. A ignorância está na base destas atitudes erradas.
É, por isso, cada vez mais premente a recuperação das bases filosóficas do conceito, a defesa da justeza dessas bases, e o vincar da importância do mesmo, sobretudo no diálogo entre filosofia e ciência.
Filosofia e Ciência
A filosofia e a ciência são companheiras no eterno trabalho de estudo do mundo natural. Uma não serve para nada sem a outra.
A base da ciência é empírica: está no uso dos sentidos para obter informação sobre a realidade sensível que nos rodeia. A evolução tecnológica tem permitido levar as fronteiras dos sentidos do ser humano para limites surpreendentes, sendo hoje possível descobrir com os mesmos cinco sentidos aspectos da realidade que desconhecíamos por completo. No entanto, a evolução tecnológica não altera em nada o carácter empírico da ciência.
A base da filosofia é intelectual: está no uso da razão humana para compreender, compilar, unificar e estruturar o conhecimento científico.
Certos cientistas trabalham sem se darem conta de que, no dia-a-dia, filosofam (bem ou mal) sobre dados empíricos.
Por outro lado, certos filósofos especulam "ad libitum" sem se preocuparem com o confronto das suas teorias com os dados empíricos.
Este "divórcio", na prática, entre os dois pilares do conhecimento humano tem gerado dissabores, equívocos e atrasos no seu desejável progresso.
A alma e os seus vários tipos
Antes de passarmos à questão filosófica da forma substancial, há que fazer alguns esclarecimentos sobre terminologia, no âmbito do quadro filosófico que defendemos (que é o da filosofia clássica tomista-aristotélica).
Como se disse, a alma humana é a forma substancial do ser humano. Mas a alma, em geral, é a forma substancial dos seres vivos.
O termo "alma" vem do latim "anima". Todo o ser vivo tem alma, porque todo o ser vivo está animado por definição (está vivo). A alma distingue o ser vivo da matéria inanimada. No entanto, há diferenças importantes nos vários tipos de alma, consoante as faculdades que esta apresenta em cada classe de ser vivo.
Há seres vivos cuja actividade fisiológica apenas consiste na nutrição e na reprodução: é o caso dos membros do reino vegetal.
Há seres vivos cuja actividade fisiológica, para além da nutrição e da reprodução, inclui ainda a locomoção e a sensação (o uso dos sentidos): é o caso dos membros do reino animal. Alguns dos membros deste reino têm ainda faculdades de memória, que lhes permitem armazenar no seu sistema neuronal determinados padrões obtidos por via sensorial. O chamado "instinto" impele estes animais a executar certas acções quando um determinado padrão sensorial se lhes apresenta, sem que no entanto exista intelecção e compreensão desses padrões.
Por fim, há seres vivos que, para além de tudo isto, ainda apresentam actividade intelectiva e racional: é o caso (único) dos seres humanos. São os únicos seres capazes de abstracção intelectual, ou seja, de formar ideias abstractas que transcendem os dados empíricos.
Forma substancial e alma
A forma substancial, termo filosófico, designa a forma (composição, arranjo, estrutura) única e irrepetível de um dado agregado material. Na tradição filosófica clássica, a forma substancial dos seres vivos recebe o nome de "alma".
A forma substancial é uma realidade indetectável pelos sentidos, ou seja, só é "detectada" com o raciocínio filosófico próprio do intelecto humano. Por isso, a forma substancial não é um termo científico, mas sim filosófico. Não pode ser provada pelo método científico, mas é demonstrável como necessária e essencial para o pensamento humano.
Estamos em crer que o equívoco fatal do Intelligent Design, não obstante tratar-se de uma sugestão interessante e merecedora de atenção, está em procurar provas empíricas para a realidade filosófica que é a forma substancial das coisas (neste caso, dos seres vivos).
Forma substancial como princípio da individuação
A noção filosófica de individuação está em crise na filosofia moderna, mas não há razões de fundo para tal, senão a incompreensão de muitos filósofos modernos.
1. É possível individuar alguma entidade? Por exemplo, um átomo de Hidrogénio?
Não só é possível como é forçoso. A actividade intelectiva do ser humano está dependente da sua capacidade inata para distinguir coisas, mesmo quando pertecem a uma mesma categoria (real ou artificial). Uma certa corrente filosófica, bem antiga mas que costuma ressurgir de tempos a tempos com novas vestes, quis afirmar que as distinções eram todas artificiais, e que as coisas que nos pareciam diferentes eram, afinal, parte de um mesmo Todo indistinto.
Ora, isto é um absurdo: é razoável defender a distinção das coisas como uma realidade concreta, que o nosso intelecto é capaz de apreender, contra quem defende que as distinções são subjectivas, ou seja, são criações do nosso intelecto subjectivo. No entanto, é inegável que este trabalho de distinção, apoiando-se nos sentidos, é um trabalho filosófico.
É possível falar de uma entidade, enquanto tal, atendendo aos conceitos de "coesão" e de "estabilidade". Se uma dada entidade permanece estavelmente coesa, por muito ou por pouco tempo, mesmo usando o actual sentido da palavra "estabilidade" na moderna Teoria do Controlo, então essa entidade tende a realimentar negativamente toda e qualquer perturbação externa até certo limite. Por exemplo: nos animais ditos de "sangue quente", uma perturbação como a descida ou subida da temperatura ambiente é compensada por mecanismos internos de regulação térmica, que permitem que a temperatura do corpo não saia do seu valor estável. É através da compensação de perturbações que o ser vivo consegue resistir, coeso, a factores exteriores que o poderiam destruir. Algo de análogo sucede com a estabilidade de entidades inanimadas: é pela força da atracção gravítica gerada pelo campo gravítico da Terra que esta se mantém coesa e não se desfaz no vazio do espaço. É essa capacidade de auto-preservação que marca a fronteira entre uma entidade e outra, e que nos permite que as consigamos distinguir.
É evidente que tanto o ser vivo, como a Terra, como o átomo de Hidrogénio, todos têm um tempo de existência finito, seja ele pequeno ou grande. Enquanto um determinado átomo de Hidrogénio mantiver estável a sua coesão, poder-se-á falar "nesse átomo", ou "desse átomo": ele está individuado.
2. Como se individua um determinado átomo de Hidrogénio perante outros átomos de Hidrogénio?
Não pode ser com base apenas na sua posição no tempo ou no espaço. Isso não basta. Suponhamos que fixamos a nossa atenção numa zona limitada do espaço. Um observador que vigie esse espaço num instante t1 e lá veja um átomo de Hidrogénio poderia depois fechar os olhos e vigiar o mesmo espaço mais tarde no instante t2. Se visse de novo um átomo de Hidrogénio, estaria a ver o mesmo, mas noutra posição (ou na mesma), ou estaria perante um átomo diferente do que viu no início?
Poderíamos dizer que, com a precisão suficiente, seria possível diferenciar os átomos: afinal, poderíamos usar, para os distinguir, factores de medida como a distância do electrão ao núcleo, ou a evolução temporal da trajectória do mesmo. Mas, por muito improvável que tal seja, poderia dar-se o caso de tais factores serem idênticos nos dois casos. Em todo o caso, tais distinções, à escala atómica, são muito difíceis, entre outras razões, por causa do princípio da incerteza de Heisenberg, e à nossa escala, são também muito difíceis pela complexidade material das coisas que nos rodeiam. Sabemos distinguir uma maçã de uma pêra. Mas, perante maçãs idênticas, com a mesma cor, com o mesmo peso, sem diferenças macroscópicas, temos um problema: só uma análise mais detalhada permite uma distinção segura. E o problema não é apenas distinguir, mas saber que a maçã A, aqui e agora, será reconhecida como a mesma maçã A, noutro local e noutro tempo. Atrelado ao problema da distinção, costuma vir o da correlação.
É por isso que a simples observação, por muito sofisticada, precisa e potente que seja, não chega para a individuação. A observação tem limites. Duas coisas distintas podem ser tão parecidas entre elas que iludem as nossas faculdades de observação. Deve-se defender, em filosofia, um realismo moderado, no qual as coisas tenham existência real, independentemente de nós as conseguirmos observar, bem ou mal, ou de nós as conseguirmos distinguir, bem ou mal. Mesmo que tivéssemos maus aparelhos de medida, uma maçã que fosse metida num navio de Lisboa para Nova Iorque seria a mesma maçã em Nova Iorque que era em Lisboa, mesmo que lá ninguém a conseguisse identificar como a maçã que saiu de cá.
O que distingue um átomo de Hidrogénio de outro átomo de Hidrogénio, ou o que distingue uma maçã de outra maçã, é a forma substancial. A forma substancial é o princípio da individuação. É a causa filosófica que faz uma coisa ser única e individual, mesmo que essa coisa possa pertencer a uma classe ou categoria de coisas com uma ou mais propriedades comuns.
Estamos a entrar na crítica questão filosófica dos "universais". Categorias como "maçãs" ou "pêras" são categorias reais ou são meras convenções humanas? Não falamos dos nomes que damos às categorias, mas sim das próprias categorias. Se aceitamos os "universais" como categorias de coisas com propriedades em comum, então é fundamental que tomemos algum princípio de individuação das várias instâncias dentro de uma categoria. Esse princípio é que nos salva de não confundir, filosoficamente, uma maçã com outra parecida, dentro da categoria das maçãs.
Conclusão
Vimos como a forma substancial é o conceito filosófico chave que permite individuar coisas materiais. E vimos que a forma substancial não é perceptível pelos sentidos (apesar de estes "alimentarem" a sua "detecção" intelectual). Por esta razão, a necessidade das formas substanciais (já vimos que são necessárias) serve como argumento anti-materialista. Se há certas coisas reais (como as formas substanciais) que não se percepcionam de forma suficiente pelos sentidos, ou seja, se a interacção física entre os nossos sistemas sensoriais e as coisas físicas não é suficiente para percepcionarmos as formas substanciais, então estas são imateriais, e o materialismo está errado.
Vimos também que as coisas são, elas mesmas, individuais, independentemente de nós as conseguirmos individuar através dos nossos sentidos e intelectos. E vimos ainda que certas coisas podem estar naturalmente correlacionadas em categorias de propriedades que partilham entre si, independentemente dos nomes que os seres humanos dão a tais categorias ou às propriedades partilhadas.
No caso concreto do ser humano, é o conceito de forma substancial que "salva" a eventual confusão entre gémeos verdadeiros que possuem códigos genéticos idênticos. Se a simples manifestação de um dado código genético fosse suficiente para individuar o ser humano, então os gémeos verdadeiros seriam um mesmo indivíduo, e o mesmo sucederia com um dado ser humano e um seu clone. E, como já vimos, as coordenadas que um ser humano ocupa, ao longo da sua vida, no tempo e no espaço, não servem como factor decisivo na individuação.
Assim, mesmo perante clones, ou mesmo perante gémeos verdadeiros, estamos perante dois indivíduos distintos: não o sabemos graças aos sentidos, ou aos instrumentos científicos, ou ao método científico. É graças ao raciocínio filosófico, que percepciona intelectualmente a forma substancial (partindo de dados empíricos, é certo), que sabemos com segurança que cada ser humano, mesmo que seja um clone de outro ser humano, é sempre único e irrepetivel.
Ensina a escolástica que a "alma humana" é a "forma substancial" do ser humano.
A palavra "alma" tornou-se, nos dias de hoje, num alçapão linguístico. Não por culpa do termo em si, certamente, mas devido à ignorância filosófica. Crentes usam-na sem conhecer as suas raízes filosóficas, não crentes repudiam-na como se se tratasse de jargão supersticioso e obscuro. A ignorância está na base destas atitudes erradas.
É, por isso, cada vez mais premente a recuperação das bases filosóficas do conceito, a defesa da justeza dessas bases, e o vincar da importância do mesmo, sobretudo no diálogo entre filosofia e ciência.
Filosofia e Ciência
A filosofia e a ciência são companheiras no eterno trabalho de estudo do mundo natural. Uma não serve para nada sem a outra.
A base da ciência é empírica: está no uso dos sentidos para obter informação sobre a realidade sensível que nos rodeia. A evolução tecnológica tem permitido levar as fronteiras dos sentidos do ser humano para limites surpreendentes, sendo hoje possível descobrir com os mesmos cinco sentidos aspectos da realidade que desconhecíamos por completo. No entanto, a evolução tecnológica não altera em nada o carácter empírico da ciência.
A base da filosofia é intelectual: está no uso da razão humana para compreender, compilar, unificar e estruturar o conhecimento científico.
Certos cientistas trabalham sem se darem conta de que, no dia-a-dia, filosofam (bem ou mal) sobre dados empíricos.
Por outro lado, certos filósofos especulam "ad libitum" sem se preocuparem com o confronto das suas teorias com os dados empíricos.
Este "divórcio", na prática, entre os dois pilares do conhecimento humano tem gerado dissabores, equívocos e atrasos no seu desejável progresso.
A alma e os seus vários tipos
Antes de passarmos à questão filosófica da forma substancial, há que fazer alguns esclarecimentos sobre terminologia, no âmbito do quadro filosófico que defendemos (que é o da filosofia clássica tomista-aristotélica).
Como se disse, a alma humana é a forma substancial do ser humano. Mas a alma, em geral, é a forma substancial dos seres vivos.
O termo "alma" vem do latim "anima". Todo o ser vivo tem alma, porque todo o ser vivo está animado por definição (está vivo). A alma distingue o ser vivo da matéria inanimada. No entanto, há diferenças importantes nos vários tipos de alma, consoante as faculdades que esta apresenta em cada classe de ser vivo.
Há seres vivos cuja actividade fisiológica apenas consiste na nutrição e na reprodução: é o caso dos membros do reino vegetal.
Há seres vivos cuja actividade fisiológica, para além da nutrição e da reprodução, inclui ainda a locomoção e a sensação (o uso dos sentidos): é o caso dos membros do reino animal. Alguns dos membros deste reino têm ainda faculdades de memória, que lhes permitem armazenar no seu sistema neuronal determinados padrões obtidos por via sensorial. O chamado "instinto" impele estes animais a executar certas acções quando um determinado padrão sensorial se lhes apresenta, sem que no entanto exista intelecção e compreensão desses padrões.
Por fim, há seres vivos que, para além de tudo isto, ainda apresentam actividade intelectiva e racional: é o caso (único) dos seres humanos. São os únicos seres capazes de abstracção intelectual, ou seja, de formar ideias abstractas que transcendem os dados empíricos.
Forma substancial e alma
A forma substancial, termo filosófico, designa a forma (composição, arranjo, estrutura) única e irrepetível de um dado agregado material. Na tradição filosófica clássica, a forma substancial dos seres vivos recebe o nome de "alma".
A forma substancial é uma realidade indetectável pelos sentidos, ou seja, só é "detectada" com o raciocínio filosófico próprio do intelecto humano. Por isso, a forma substancial não é um termo científico, mas sim filosófico. Não pode ser provada pelo método científico, mas é demonstrável como necessária e essencial para o pensamento humano.
Estamos em crer que o equívoco fatal do Intelligent Design, não obstante tratar-se de uma sugestão interessante e merecedora de atenção, está em procurar provas empíricas para a realidade filosófica que é a forma substancial das coisas (neste caso, dos seres vivos).
Forma substancial como princípio da individuação
A noção filosófica de individuação está em crise na filosofia moderna, mas não há razões de fundo para tal, senão a incompreensão de muitos filósofos modernos.
1. É possível individuar alguma entidade? Por exemplo, um átomo de Hidrogénio?
Não só é possível como é forçoso. A actividade intelectiva do ser humano está dependente da sua capacidade inata para distinguir coisas, mesmo quando pertecem a uma mesma categoria (real ou artificial). Uma certa corrente filosófica, bem antiga mas que costuma ressurgir de tempos a tempos com novas vestes, quis afirmar que as distinções eram todas artificiais, e que as coisas que nos pareciam diferentes eram, afinal, parte de um mesmo Todo indistinto.
Ora, isto é um absurdo: é razoável defender a distinção das coisas como uma realidade concreta, que o nosso intelecto é capaz de apreender, contra quem defende que as distinções são subjectivas, ou seja, são criações do nosso intelecto subjectivo. No entanto, é inegável que este trabalho de distinção, apoiando-se nos sentidos, é um trabalho filosófico.
É possível falar de uma entidade, enquanto tal, atendendo aos conceitos de "coesão" e de "estabilidade". Se uma dada entidade permanece estavelmente coesa, por muito ou por pouco tempo, mesmo usando o actual sentido da palavra "estabilidade" na moderna Teoria do Controlo, então essa entidade tende a realimentar negativamente toda e qualquer perturbação externa até certo limite. Por exemplo: nos animais ditos de "sangue quente", uma perturbação como a descida ou subida da temperatura ambiente é compensada por mecanismos internos de regulação térmica, que permitem que a temperatura do corpo não saia do seu valor estável. É através da compensação de perturbações que o ser vivo consegue resistir, coeso, a factores exteriores que o poderiam destruir. Algo de análogo sucede com a estabilidade de entidades inanimadas: é pela força da atracção gravítica gerada pelo campo gravítico da Terra que esta se mantém coesa e não se desfaz no vazio do espaço. É essa capacidade de auto-preservação que marca a fronteira entre uma entidade e outra, e que nos permite que as consigamos distinguir.
É evidente que tanto o ser vivo, como a Terra, como o átomo de Hidrogénio, todos têm um tempo de existência finito, seja ele pequeno ou grande. Enquanto um determinado átomo de Hidrogénio mantiver estável a sua coesão, poder-se-á falar "nesse átomo", ou "desse átomo": ele está individuado.
2. Como se individua um determinado átomo de Hidrogénio perante outros átomos de Hidrogénio?
Não pode ser com base apenas na sua posição no tempo ou no espaço. Isso não basta. Suponhamos que fixamos a nossa atenção numa zona limitada do espaço. Um observador que vigie esse espaço num instante t1 e lá veja um átomo de Hidrogénio poderia depois fechar os olhos e vigiar o mesmo espaço mais tarde no instante t2. Se visse de novo um átomo de Hidrogénio, estaria a ver o mesmo, mas noutra posição (ou na mesma), ou estaria perante um átomo diferente do que viu no início?
Poderíamos dizer que, com a precisão suficiente, seria possível diferenciar os átomos: afinal, poderíamos usar, para os distinguir, factores de medida como a distância do electrão ao núcleo, ou a evolução temporal da trajectória do mesmo. Mas, por muito improvável que tal seja, poderia dar-se o caso de tais factores serem idênticos nos dois casos. Em todo o caso, tais distinções, à escala atómica, são muito difíceis, entre outras razões, por causa do princípio da incerteza de Heisenberg, e à nossa escala, são também muito difíceis pela complexidade material das coisas que nos rodeiam. Sabemos distinguir uma maçã de uma pêra. Mas, perante maçãs idênticas, com a mesma cor, com o mesmo peso, sem diferenças macroscópicas, temos um problema: só uma análise mais detalhada permite uma distinção segura. E o problema não é apenas distinguir, mas saber que a maçã A, aqui e agora, será reconhecida como a mesma maçã A, noutro local e noutro tempo. Atrelado ao problema da distinção, costuma vir o da correlação.
É por isso que a simples observação, por muito sofisticada, precisa e potente que seja, não chega para a individuação. A observação tem limites. Duas coisas distintas podem ser tão parecidas entre elas que iludem as nossas faculdades de observação. Deve-se defender, em filosofia, um realismo moderado, no qual as coisas tenham existência real, independentemente de nós as conseguirmos observar, bem ou mal, ou de nós as conseguirmos distinguir, bem ou mal. Mesmo que tivéssemos maus aparelhos de medida, uma maçã que fosse metida num navio de Lisboa para Nova Iorque seria a mesma maçã em Nova Iorque que era em Lisboa, mesmo que lá ninguém a conseguisse identificar como a maçã que saiu de cá.
O que distingue um átomo de Hidrogénio de outro átomo de Hidrogénio, ou o que distingue uma maçã de outra maçã, é a forma substancial. A forma substancial é o princípio da individuação. É a causa filosófica que faz uma coisa ser única e individual, mesmo que essa coisa possa pertencer a uma classe ou categoria de coisas com uma ou mais propriedades comuns.
Estamos a entrar na crítica questão filosófica dos "universais". Categorias como "maçãs" ou "pêras" são categorias reais ou são meras convenções humanas? Não falamos dos nomes que damos às categorias, mas sim das próprias categorias. Se aceitamos os "universais" como categorias de coisas com propriedades em comum, então é fundamental que tomemos algum princípio de individuação das várias instâncias dentro de uma categoria. Esse princípio é que nos salva de não confundir, filosoficamente, uma maçã com outra parecida, dentro da categoria das maçãs.
Conclusão
Vimos como a forma substancial é o conceito filosófico chave que permite individuar coisas materiais. E vimos que a forma substancial não é perceptível pelos sentidos (apesar de estes "alimentarem" a sua "detecção" intelectual). Por esta razão, a necessidade das formas substanciais (já vimos que são necessárias) serve como argumento anti-materialista. Se há certas coisas reais (como as formas substanciais) que não se percepcionam de forma suficiente pelos sentidos, ou seja, se a interacção física entre os nossos sistemas sensoriais e as coisas físicas não é suficiente para percepcionarmos as formas substanciais, então estas são imateriais, e o materialismo está errado.
Vimos também que as coisas são, elas mesmas, individuais, independentemente de nós as conseguirmos individuar através dos nossos sentidos e intelectos. E vimos ainda que certas coisas podem estar naturalmente correlacionadas em categorias de propriedades que partilham entre si, independentemente dos nomes que os seres humanos dão a tais categorias ou às propriedades partilhadas.
No caso concreto do ser humano, é o conceito de forma substancial que "salva" a eventual confusão entre gémeos verdadeiros que possuem códigos genéticos idênticos. Se a simples manifestação de um dado código genético fosse suficiente para individuar o ser humano, então os gémeos verdadeiros seriam um mesmo indivíduo, e o mesmo sucederia com um dado ser humano e um seu clone. E, como já vimos, as coordenadas que um ser humano ocupa, ao longo da sua vida, no tempo e no espaço, não servem como factor decisivo na individuação.
Assim, mesmo perante clones, ou mesmo perante gémeos verdadeiros, estamos perante dois indivíduos distintos: não o sabemos graças aos sentidos, ou aos instrumentos científicos, ou ao método científico. É graças ao raciocínio filosófico, que percepciona intelectualmente a forma substancial (partindo de dados empíricos, é certo), que sabemos com segurança que cada ser humano, mesmo que seja um clone de outro ser humano, é sempre único e irrepetivel.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Acerca do artigo “O Código Escondido da Virgem Maria”
(Publicado na Revista Sábado em 18-12-2008)
Serve o presente texto para corrigir uma série de erros factuais e interpretativos que surgem no referido artigo da revista Sábado. As citações do artigo surgem entre aspas, enquanto que os comentários e correcções surgem logo a seguir a cada citação. Por simplicidade, este "post" não contém notas de rodapé nem referências: estas podem ser consultadas na versão Acrobat PDF deste texto, na secção lateral "Artigos". O autor deste texto agradece a quem identificar eventuais erros nas correcções que aqui são feitas.
Porquê “impensável”?
É uma consequência lógica da doutrina cristã: sem o “sim” voluntário de Maria, Cristo não teria nascido. Logo, Maria desempenha um papel decisivo na salvação da Humanidade. O prefixo “co” em “co-redentora” vem do latim “cum”, ou seja, “com”. Não implica igualdade entre Maria e Cristo, mas sim uma cooperação entre ambos.
Trata-se de um erro factual. O nome concreto de Maria surge dezanove vezes, o dobro do indicado no artigo. Mas se procurarmos por “mãe de Jesus” ou por “sua mãe” (de Jesus), surgem trinta e três ocorrências, o triplo do indicado no artigo. Ver no Anexo (disponível na versão Acrobat PDF deste texto, na secção lateral "Artigos") o elenco completo das referências à mãe de Jesus em todo o Novo Testamento.
Paulo (Saulo de Tarso) não conheceu Maria pessoalmente, nem acompanhou Jesus no seu percurso terreno. No entanto, esse distanciamento físico dos acontecimentos não implica um distanciamento em relação à doutrina cristã sobre Maria. As cartas de Paulo têm funções específicas e um conteúdo teológico concreto: transmitir aos gentios a doutrina da Incarnação de Deus em Cristo, proclamar a sua Morte e Ressurreição, bem como o carácter salvífico de Cristo. Paulo não pretendeu com as suas cartas narrar episódios históricos como o da infância de Jesus ou o da Anunciação a Maria.
Mas ao mesmo tempo, Lucas, o evangelista que mais escreve sobre Maria, foi companheiro de viagem de Paulo e seu colaborador próximo , pelo que certamente teriam tido ampla oportunidade para falar sobre Maria e o seu papel na salvação. Pela elevada estima que Paulo demonstra pelo médico Lucas , é inverosímil que não partilhassem da mesma doutrina acerca de Maria. Lucas recolheu os detalhes acerca de Maria nas suas viagens, quando ia ao encontro dos apóstolos e dos demais discípulos que conheceram Cristo e Maria pessoalmente.
Paulo refere (Gálatas 4, 4) que Cristo nasceu de uma mulher tendo em mente a promessa de Deus feita acerca da Mulher e da serpente (Génesis, 3, 15): que seria através de uma mulher que se venceria o Mal, devido à perpétua inimizade fixada por Deus entre a descendência de Eva e a da serpente e da superioridade daquela em relação a esta. Por isso, esse único ponto em que Paulo fala concretamente sobre Maria é crucial porque demonstra que ele tinha bem presente o carácter central e providencial de Maria para a salvação da Humanidade.
Paulo cita ainda na sua carta a Timóteo (Timóteo 5, 18) um versículo do Evangelho de Lucas (Lucas 10, 7), o que prova que conhecia o texto; e fá-lo usando a expressão “como diz a Escritura” o que permite constatar que Paulo considera o texto de Lucas como parte integrante das Sagradas Escrituras.
A imagem de uma mãe com o filho ao colo é suficientemente universal na cultura da humanidade, e por isso não é necessário forçar ligações ao Antigo Egipto. Se é certo que, nos primeiros séculos da nossa era, existia um importante culto popular a Ísis e a Hórus, há que afirmar que esse culto subsistia já desligado da tradição sacerdotal egípcia. A religião egípcia enquanto tal, à falta de representantes autênticos, estava praticamente extinta.
Se é legítimo afirmar que um artista cristão, eventualmente exposto à arte egípcia, se poderia inspirar nas formas artísticas das representações de Ísis e Hórus para criar obras representativas de Maria com o Menino, por outro lado, é ilegítimo fazer derivar todas estas representações artísticas cristãs da tradição artística relativa a Ísis e Hórus.
As conquistas de Alexandre, o Grande, espalharam a cultura helénica pela bacia do Mediterrâneo e pelo Médio Oriente. Nos primeiros séculos da nossa era, Alexandria era a capital dessa cultura, que sem dúvida marcou muito mais o cristianismo do que a egípcia.
Não é correcto falar em facção ariana, uma vez que os cristãos sempre procuraram preservar uma doutrina comum de tradição apostólica. Mas é certo que, ao longo da História, surgiram correntes que se desviaram dessa tradição, e por isso mesmo foram rejeitadas pelo cristianismo, como é o caso de Ário de Alexandria e dos seus seguidores, mas esta corrente, mesmo no auge da sua importância, era minoritária no colégio episcopal, como se vê pela sua derrota esmagadora, por voto, no Concílio de Niceia em 325. As ideias do bispo Ário contrariavam a tradição apostólica, e por isso mesmo, foram rejeitadas pela clara maioria dos bispos reunidos em Niceia. De um total aproximado de 220 bispos, apenas são conhecidos dois apoiantes de Ário: Teónas de Marmarica e Segundo de Ptolemais.
• O Concílio de Niceia não se reuniu para definir o culto a Jesus ou reduzir o papel de Maria, mas sim para condenar as ideias heréticas do bispo Ário, que contra a tradição apostólica, pretendia reduzir a divindade de Cristo; o Concílio definiu ainda a forma de calcular a data da Páscoa, uma festa móvel ;
• Porquê “demonstração radical de força”? Uma votação “inter pares”, entre bispos, sobre questões de doutrina é uma demonstração radical de força?
• Em Niceia, não se votou Jesus como Deus: deliberou-se o afastamento dos que não O viam plenamente como tal, os seguidores da heresia de Ário, tendo o Concílio sugerido a palavra “consubstancial” (em grego «homoousios») como expressão verbal da unidade divina (em substância) do Pai com o Filho; Jesus sempre foi visto como Deus pelos seus seguidores: um bom exemplo desta doutrina encontra-se na obra de Santo Ireneu, datada do final do século II , e portanto, anterior ao Concílio de Niceia;
• O Concílio de Niceia em 325 não determinou os textos do cânone: o tema nem sequer constou da ordem de trabalhos;
• Os textos do Novo Testamento datam do século I d.C, conforme o acordo dos especialistas; quando muito, o Evangelho de São João e o Livro do Apocalipse de São João datarão do início do século II;
• As compilações do Novo Testamento já estavam consolidadas no final do século II d.C. (o Codex Muratori , a mais antiga compilação conhecida dos textos neotestamentários, é datada quase unanimemente entre 180-200 d.C.);
• O Proto-evangelho de Tiago não foi deixado de parte por se referir a Maria: o texto não apresenta problemas doutrinais, e de facto, não poucos dos seus elementos passaram a integrar a tradição popular cristã; o texto foi excluído do cânone do Novo Testamento por conter detalhes fantasiosos e inverosímeis .
Custa a acreditar que uma transformação tão profunda, a ter ocorrido, como se pretende no artigo, teria ocorrido em apenas dez dias. Qual é a base histórica para esta afirmação? Porque razão seria a mãe de Cristo (Deus para os cristãos) um “segredo envergonhado”? A conclusão de Éfeso, de que Maria é Mãe de Deus (“teotokos”), é a conclusão lógica e necessária para todo aquele que defende que Cristo é Deus, uma vez que Maria é mãe de Cristo.
• Porque razão se diz que o concílio “foi no mínimo escandaloso”?
• Porque razão se diz que “Cirilo partia em desvantagem”, quando era o séquito de Cirilo (50 bispos) o maior, quando comparado com os apoiantes de Nestório (16 bispos)? Para mais, o papa Celestino I, numa carta de 11 de Agosto de 430, encarrega o Patriarca Cirilo da responsabilidade de dirigir o Concílio; o imperador bizantino, não tendo autoridade em teologia, tomou inicialmente o partido de Nestório, mas após o fecho do concílio, aceitou as suas conclusões;
• Quais são as evidências históricas dos ditos “subornos”?
• “Foi o primeiro a chegar a Éfeso” é um erro factual: Nestório chegou antes de Cirilo, ou na melhor das hipóteses, chegou no mesmo dia que este (vide Actas Coptas), um pouco antes do Pentecostes;
• O papa Celestino I, tendo declarado heréticas as ideias de Nestório, deu-lhe dez dias para as repudiar; a intenção do Papa era usar o concílio para julgar as ideias de Nestório; no entanto, este não quis comparecer nas sessões: foi três vezes convocado para comparecer, e recusou todas; o mandato de Cirilo dava-lhe poder para iniciar o concílio após os dez dias concedidos a Nestório; Cirilo deu um prazo maior, tendo iniciado o concílio apenas a 22 de Junho;
• Não se sabe se o atraso do Patriarca João de Antioquia, amigo de Nestório, foi um atraso propositado ou acidental; ao chegar ao concílio apenas no dia 27 de Junho, João decidiu acusar Cirilo de heresia, mas a sua posição foi rejeitada por todos os restantes bispos, e foi o próprio João a ver-se excomungado pelo Concílio .
Esta afirmação é incompreensível no contexto cristão. Sabe-se que, em certos politeísmos, certas deusas eram associadas à sexualidade e à maternidade. Mas no cristianismo, só há um Deus, e Deus não tem sexo, nem masculino nem feminino. Maria não é nenhuma “deusa”, nem nunca foi definida como divina pela doutrina cristã.
A doutrina cristã é muito explícita no considerar Maria como humana e não divina. A doutrina da Imaculada Conceição, definindo que Maria desde o seu início não foi tocada pelo pecado original, entre outras coisas equipara-a ao estado de Adão e Eva antes de pecarem, pelo que essa doutrina não a eleva a um estatuto divino. A doutrina da sua assunção aos céus também não altera a sua natureza humana, bem como a doutrina da sua virgindade perpétua. Ser declarada mãe de Deus também não a torna divina: ela é a progenitora humana de Cristo, que é Deus feito Homem.
É preciso dizer que a dita obra Alethes Logos, do filósofo platónico Celso (que seria romano e não grego), está desaparecida há séculos e só a conhecemos através da extensa obra (oito volumes) de refutação escrita pelo escritor cristão Orígenes em 248, Contra Celsum . Orígenes teve tanto cuidado na sua refutação que foi possível a partir dela reconstruir a quase totalidade do texto original de Celso. Este facto vai contra a ideia geral do artigo, que seria a de que a Igreja teria tentado ocultar verdades sobre Maria e sobre Jesus. Ora a verdade é que só sabemos desta teoria de Celsus acerca do soldado romano Panthera porque um autor cristão, Orígenes, a contestou por escrito. Se o objectivo fosse a ocultação do segredo, porque não teria Orígenes ficado calado?
Para mais, a teoria proposta por Celso é uma corruptela de uma teoria hebraica mais antiga. Segundo algumas fontes hebraicas que visavam desacreditar o relato cristão , Jesus seria filho de Pandira (ou Panthira) e Stada e teria vivido no tempo dos Macabeus, ou seja, um século antes de Cristo. Ele teria aprendido magia no Egipto, teria sido um “sedutor do povo” e teria sido enforcado numa árvore na véspera da Páscoa. O objectivo desta propaganda hebraica anticristã estava em situar a vida de Cristo um século antes da destruição do Segundo Templo, para contrariar a associação de Cristo às profecias do Antigo Testamento acerca do destino do Templo.
Não compreendemos como é que isto pode ser considerado sequer um indício histórico. Em História não se trabalha com bases tão frágeis. Pantera era um apelido muito frequente, sobretudo entre soldados romanos . Descobrir um soldado de apelido Pantera na província da Galileia por altura do nascimento de Cristo não faz desse soldado pai de Cristo.
A dar voz aos relatos dos apócrifos, nomeadamente ao Proto-Evangelho de Tiago, José teria idade avançada quando se casou com Maria, e para permanecer virgem, bastaria que Maria não tivesse voltado a casar depois de enviuvar. Mas certos apócrifos, como o Proto-Evangelho de Tiago, não foram incluídos no cânone precisamente por conterem dados inverosímeis, e a tradição apócrifa de José ser idoso quando se casou com Maria pode representar um desses casos. Para mais, os Evangelhos são omissos quanto a este ponto.
Independentemente desta questão, o que é estranho nas palavras de Rui Alberto Silva, mesmo admitindo um contexto cultural adverso ao celibato, é que este parece sugerir que, entre o povo judeu ao tempo de Jesus, não existiria nem um só caso de uma mulher que tivesse permanecido virgem durante toda a vida!
Por outras palavras, um contexto cultural adverso a votos de virgindade não implica a total inexistência de mulheres ou homens virgens durante toda a vida!
Trata-se de um equívoco: a palavra grega “adelphos” deve ser traduzida literalmente como “irmão” . Pode significar, quer um irmão biológico, quer um “irmão” na fé cristã. Os primeiros cristãos não se chamavam a si mesmos “cristãos” mas sim “irmãos” . Sem factos que o comprovem, não há razões para interpretar a palavra “adelphos” em São Marcos 6 no sentido biológico.
Em relação à frase do artigo, há ainda outro equívoco quando se diz que Marcos teria “traduzido mal a palavra grega adelfós”,: o Evangelho segundo São Marcos é já uma obra grega no seu original. Logo, o autor do evangelho escreveu-o em grego, e portanto, não fez qualquer tradução.
Não se trata de uma prova: o facto de os autores do texto gnóstico intitulado “Evangelho de Tomé” atribuírem tais palavras a Jesus não prova que tal tenha ocorrido de facto. O dito Evangelho de Tomé é a segunda obra do códice II de Nag Hammadi, está escrito em copta e data do século IV. Provavelmente, foi composto na Síria. É quase certo que este texto se baseou parcialmente em textos ou fragmentos mais antigos , mas a datação e identificação das fontes usadas no Evangelho de Tomé é um tema ainda em aberto. Nenhum historiador sério afirma que este texto é da autoria do apóstolo Tomé.
Bernardo Motta
Serve o presente texto para corrigir uma série de erros factuais e interpretativos que surgem no referido artigo da revista Sábado. As citações do artigo surgem entre aspas, enquanto que os comentários e correcções surgem logo a seguir a cada citação. Por simplicidade, este "post" não contém notas de rodapé nem referências: estas podem ser consultadas na versão Acrobat PDF deste texto, na secção lateral "Artigos". O autor deste texto agradece a quem identificar eventuais erros nas correcções que aqui são feitas.
«Maria poderia ser consagrada co-redentora e isso significaria que Jesus teria tido a ajuda da mãe na salvação da Humanidade. Algo impensável para a Igreja mais conservadora»
Porquê “impensável”?
É uma consequência lógica da doutrina cristã: sem o “sim” voluntário de Maria, Cristo não teria nascido. Logo, Maria desempenha um papel decisivo na salvação da Humanidade. O prefixo “co” em “co-redentora” vem do latim “cum”, ou seja, “com”. Não implica igualdade entre Maria e Cristo, mas sim uma cooperação entre ambos.
«Os evangelhos canónicos (…) quase não falam dela. (…) Em todo o Novo Testamento, o seu nome é designado uma dezena de vezes (…)»
Trata-se de um erro factual. O nome concreto de Maria surge dezanove vezes, o dobro do indicado no artigo. Mas se procurarmos por “mãe de Jesus” ou por “sua mãe” (de Jesus), surgem trinta e três ocorrências, o triplo do indicado no artigo. Ver no Anexo (disponível na versão Acrobat PDF deste texto, na secção lateral "Artigos") o elenco completo das referências à mãe de Jesus em todo o Novo Testamento.
«Paulo, o apóstolo mais importante no desenvolvimento do cristianismo e autor de 14 dos 27 textos que constituem o Novo Testamento, nunca se refere a Maria.»
Paulo (Saulo de Tarso) não conheceu Maria pessoalmente, nem acompanhou Jesus no seu percurso terreno. No entanto, esse distanciamento físico dos acontecimentos não implica um distanciamento em relação à doutrina cristã sobre Maria. As cartas de Paulo têm funções específicas e um conteúdo teológico concreto: transmitir aos gentios a doutrina da Incarnação de Deus em Cristo, proclamar a sua Morte e Ressurreição, bem como o carácter salvífico de Cristo. Paulo não pretendeu com as suas cartas narrar episódios históricos como o da infância de Jesus ou o da Anunciação a Maria.
Mas ao mesmo tempo, Lucas, o evangelista que mais escreve sobre Maria, foi companheiro de viagem de Paulo e seu colaborador próximo , pelo que certamente teriam tido ampla oportunidade para falar sobre Maria e o seu papel na salvação. Pela elevada estima que Paulo demonstra pelo médico Lucas , é inverosímil que não partilhassem da mesma doutrina acerca de Maria. Lucas recolheu os detalhes acerca de Maria nas suas viagens, quando ia ao encontro dos apóstolos e dos demais discípulos que conheceram Cristo e Maria pessoalmente.
Paulo refere (Gálatas 4, 4) que Cristo nasceu de uma mulher tendo em mente a promessa de Deus feita acerca da Mulher e da serpente (Génesis, 3, 15): que seria através de uma mulher que se venceria o Mal, devido à perpétua inimizade fixada por Deus entre a descendência de Eva e a da serpente e da superioridade daquela em relação a esta. Por isso, esse único ponto em que Paulo fala concretamente sobre Maria é crucial porque demonstra que ele tinha bem presente o carácter central e providencial de Maria para a salvação da Humanidade.
Paulo cita ainda na sua carta a Timóteo (Timóteo 5, 18) um versículo do Evangelho de Lucas (Lucas 10, 7), o que prova que conhecia o texto; e fá-lo usando a expressão “como diz a Escritura” o que permite constatar que Paulo considera o texto de Lucas como parte integrante das Sagradas Escrituras.
«”A imagem que conhecemos de Nossa Senhora ao colo tem origem nas imagens de Ísis com o filho Horus”, explica Paulo Mendes Pinto.»
A imagem de uma mãe com o filho ao colo é suficientemente universal na cultura da humanidade, e por isso não é necessário forçar ligações ao Antigo Egipto. Se é certo que, nos primeiros séculos da nossa era, existia um importante culto popular a Ísis e a Hórus, há que afirmar que esse culto subsistia já desligado da tradição sacerdotal egípcia. A religião egípcia enquanto tal, à falta de representantes autênticos, estava praticamente extinta.
Se é legítimo afirmar que um artista cristão, eventualmente exposto à arte egípcia, se poderia inspirar nas formas artísticas das representações de Ísis e Hórus para criar obras representativas de Maria com o Menino, por outro lado, é ilegítimo fazer derivar todas estas representações artísticas cristãs da tradição artística relativa a Ísis e Hórus.
As conquistas de Alexandre, o Grande, espalharam a cultura helénica pela bacia do Mediterrâneo e pelo Médio Oriente. Nos primeiros séculos da nossa era, Alexandria era a capital dessa cultura, que sem dúvida marcou muito mais o cristianismo do que a egípcia.
«Os cristãos dividiam-se em facções e uma delas, a dos arianos, defendia mesmo que Jesus era o filho natural de Maria e José e só depois se tornara o Messias»
Não é correcto falar em facção ariana, uma vez que os cristãos sempre procuraram preservar uma doutrina comum de tradição apostólica. Mas é certo que, ao longo da História, surgiram correntes que se desviaram dessa tradição, e por isso mesmo foram rejeitadas pelo cristianismo, como é o caso de Ário de Alexandria e dos seus seguidores, mas esta corrente, mesmo no auge da sua importância, era minoritária no colégio episcopal, como se vê pela sua derrota esmagadora, por voto, no Concílio de Niceia em 325. As ideias do bispo Ário contrariavam a tradição apostólica, e por isso mesmo, foram rejeitadas pela clara maioria dos bispos reunidos em Niceia. De um total aproximado de 220 bispos, apenas são conhecidos dois apoiantes de Ário: Teónas de Marmarica e Segundo de Ptolemais.
«Perante uma situação que ameaçava tornar-se incontrolável, era urgente definir o culto a Jesus e reduzir o papel de Maria. Foi com este objectivo que, no ano de 325, se convocou o primeiro concílio fundador da Igreja – que só podia acabar da pior maneira, com uma demonstração radical de força. Os bispos reuniram em Niceia (Turquia) e, por maioria, afirmaram Jesus como filho de Deus.»
• O Concílio de Niceia não se reuniu para definir o culto a Jesus ou reduzir o papel de Maria, mas sim para condenar as ideias heréticas do bispo Ário, que contra a tradição apostólica, pretendia reduzir a divindade de Cristo; o Concílio definiu ainda a forma de calcular a data da Páscoa, uma festa móvel ;
• Porquê “demonstração radical de força”? Uma votação “inter pares”, entre bispos, sobre questões de doutrina é uma demonstração radical de força?
• Em Niceia, não se votou Jesus como Deus: deliberou-se o afastamento dos que não O viam plenamente como tal, os seguidores da heresia de Ário, tendo o Concílio sugerido a palavra “consubstancial” (em grego «homoousios») como expressão verbal da unidade divina (em substância) do Pai com o Filho; Jesus sempre foi visto como Deus pelos seus seguidores: um bom exemplo desta doutrina encontra-se na obra de Santo Ireneu, datada do final do século II , e portanto, anterior ao Concílio de Niceia;
«Atanásio, Bispo de Alexandria, aproveitou o momento e determinou os textos que fariam parte do cânone da Igreja. (…) Sem surpresa, ficou de fora o texto que mais se refere a Maria, o Proto-Evangelho de Tiago.»
• O Concílio de Niceia em 325 não determinou os textos do cânone: o tema nem sequer constou da ordem de trabalhos;
• Os textos do Novo Testamento datam do século I d.C, conforme o acordo dos especialistas; quando muito, o Evangelho de São João e o Livro do Apocalipse de São João datarão do início do século II;
• As compilações do Novo Testamento já estavam consolidadas no final do século II d.C. (o Codex Muratori , a mais antiga compilação conhecida dos textos neotestamentários, é datada quase unanimemente entre 180-200 d.C.);
• O Proto-evangelho de Tiago não foi deixado de parte por se referir a Maria: o texto não apresenta problemas doutrinais, e de facto, não poucos dos seus elementos passaram a integrar a tradição popular cristã; o texto foi excluído do cânone do Novo Testamento por conter detalhes fantasiosos e inverosímeis .
«De tal forma que, no século V, a Igreja foi obrigada a reconhecê-lo. (…) E, em 10 dias, Maria passaria de segredo envergonhado a rainha da Igreja»
Custa a acreditar que uma transformação tão profunda, a ter ocorrido, como se pretende no artigo, teria ocorrido em apenas dez dias. Qual é a base histórica para esta afirmação? Porque razão seria a mãe de Cristo (Deus para os cristãos) um “segredo envergonhado”? A conclusão de Éfeso, de que Maria é Mãe de Deus (“teotokos”), é a conclusão lógica e necessária para todo aquele que defende que Cristo é Deus, uma vez que Maria é mãe de Cristo.
«O concílio decorreu em Julho de 431 na cidade de Éfeso (Turquia) e foi no mínimo escandaloso. Cirilo, que partia em desvantagem, uma vez que o imperador apoiava Nestório, enviou agentes a Constantinopla e distribuiu prendas e subornos entre os bispos. Depois, aproveitou a sorte. Foi o primeiro a chegar a Éfeso e nem esperou pelos bispos partidários de Nestório. Sem autorização imperial, abriu o concílio e, recorrendo-se de todos os textos antigos, mesmo dos não reconhecidos pela Igreja, contou a história de Maria e acrescentou novidades. Apresentou-a como virgem perpétua e garantiu que, depois de morrer, fora elevada ao céu ali mesmo, em Éfeso.»
• Porque razão se diz que o concílio “foi no mínimo escandaloso”?
• Porque razão se diz que “Cirilo partia em desvantagem”, quando era o séquito de Cirilo (50 bispos) o maior, quando comparado com os apoiantes de Nestório (16 bispos)? Para mais, o papa Celestino I, numa carta de 11 de Agosto de 430, encarrega o Patriarca Cirilo da responsabilidade de dirigir o Concílio; o imperador bizantino, não tendo autoridade em teologia, tomou inicialmente o partido de Nestório, mas após o fecho do concílio, aceitou as suas conclusões;
• Quais são as evidências históricas dos ditos “subornos”?
• “Foi o primeiro a chegar a Éfeso” é um erro factual: Nestório chegou antes de Cirilo, ou na melhor das hipóteses, chegou no mesmo dia que este (vide Actas Coptas), um pouco antes do Pentecostes;
• O papa Celestino I, tendo declarado heréticas as ideias de Nestório, deu-lhe dez dias para as repudiar; a intenção do Papa era usar o concílio para julgar as ideias de Nestório; no entanto, este não quis comparecer nas sessões: foi três vezes convocado para comparecer, e recusou todas; o mandato de Cirilo dava-lhe poder para iniciar o concílio após os dez dias concedidos a Nestório; Cirilo deu um prazo maior, tendo iniciado o concílio apenas a 22 de Junho;
• Não se sabe se o atraso do Patriarca João de Antioquia, amigo de Nestório, foi um atraso propositado ou acidental; ao chegar ao concílio apenas no dia 27 de Junho, João decidiu acusar Cirilo de heresia, mas a sua posição foi rejeitada por todos os restantes bispos, e foi o próprio João a ver-se excomungado pelo Concílio .
«"Maria tinha as características necessárias para ser uma figura divina: era mulher e mãe (…)", explica o professor de Ciência das Religiões Paulo Mendes Pinto.»
Esta afirmação é incompreensível no contexto cristão. Sabe-se que, em certos politeísmos, certas deusas eram associadas à sexualidade e à maternidade. Mas no cristianismo, só há um Deus, e Deus não tem sexo, nem masculino nem feminino. Maria não é nenhuma “deusa”, nem nunca foi definida como divina pela doutrina cristã.
A doutrina cristã é muito explícita no considerar Maria como humana e não divina. A doutrina da Imaculada Conceição, definindo que Maria desde o seu início não foi tocada pelo pecado original, entre outras coisas equipara-a ao estado de Adão e Eva antes de pecarem, pelo que essa doutrina não a eleva a um estatuto divino. A doutrina da sua assunção aos céus também não altera a sua natureza humana, bem como a doutrina da sua virgindade perpétua. Ser declarada mãe de Deus também não a torna divina: ela é a progenitora humana de Cristo, que é Deus feito Homem.
«Os primeiros indícios desta teoria surgiram por volta do ano 178 d.C. No texto Da Verdadeira Doutrina, o filósofo grego Celso escreveu que Maria “engravidara de um soldado romano chamado Panthera”»
É preciso dizer que a dita obra Alethes Logos, do filósofo platónico Celso (que seria romano e não grego), está desaparecida há séculos e só a conhecemos através da extensa obra (oito volumes) de refutação escrita pelo escritor cristão Orígenes em 248, Contra Celsum . Orígenes teve tanto cuidado na sua refutação que foi possível a partir dela reconstruir a quase totalidade do texto original de Celso. Este facto vai contra a ideia geral do artigo, que seria a de que a Igreja teria tentado ocultar verdades sobre Maria e sobre Jesus. Ora a verdade é que só sabemos desta teoria de Celsus acerca do soldado romano Panthera porque um autor cristão, Orígenes, a contestou por escrito. Se o objectivo fosse a ocultação do segredo, porque não teria Orígenes ficado calado?
Para mais, a teoria proposta por Celso é uma corruptela de uma teoria hebraica mais antiga. Segundo algumas fontes hebraicas que visavam desacreditar o relato cristão , Jesus seria filho de Pandira (ou Panthira) e Stada e teria vivido no tempo dos Macabeus, ou seja, um século antes de Cristo. Ele teria aprendido magia no Egipto, teria sido um “sedutor do povo” e teria sido enforcado numa árvore na véspera da Páscoa. O objectivo desta propaganda hebraica anticristã estava em situar a vida de Cristo um século antes da destruição do Segundo Templo, para contrariar a associação de Cristo às profecias do Antigo Testamento acerca do destino do Templo.
«Mas em 1859 foi descoberta na Alemanha uma nova peça do puzzle. Num cemitério romano foi encontrada uma lápide de um soldado romano chamado Tiberius Julius Abdes Pantera. No epitáfio lia-se que Pantera era de Sídon, uma vila a norte da Galileia, e prestara serviço na primeira coorte de arqueiros, a mesma que segundo registos romanos esteve presente na Rebelião da Galileia, no ano 4 a.C. – o que coloca Panthera perto de Nazaré na altura em que Maria teria engravidado»
Não compreendemos como é que isto pode ser considerado sequer um indício histórico. Em História não se trabalha com bases tão frágeis. Pantera era um apelido muito frequente, sobretudo entre soldados romanos . Descobrir um soldado de apelido Pantera na província da Galileia por altura do nascimento de Cristo não faz desse soldado pai de Cristo.
«A Igreja ensina que, mesmo depois de dar à luz Jesus, Maria permaneceu virgem até morrer. Uma ideia estranha se pensarmos que no tempo de Jesus o conceito de voto de virgindade não existia na cultura judaica. “Permanecer virgem era impensável, todas as mulheres judias sonhavam em conceber o Messias”, explica Rui Alberto Silva.»
A dar voz aos relatos dos apócrifos, nomeadamente ao Proto-Evangelho de Tiago, José teria idade avançada quando se casou com Maria, e para permanecer virgem, bastaria que Maria não tivesse voltado a casar depois de enviuvar. Mas certos apócrifos, como o Proto-Evangelho de Tiago, não foram incluídos no cânone precisamente por conterem dados inverosímeis, e a tradição apócrifa de José ser idoso quando se casou com Maria pode representar um desses casos. Para mais, os Evangelhos são omissos quanto a este ponto.
Independentemente desta questão, o que é estranho nas palavras de Rui Alberto Silva, mesmo admitindo um contexto cultural adverso ao celibato, é que este parece sugerir que, entre o povo judeu ao tempo de Jesus, não existiria nem um só caso de uma mulher que tivesse permanecido virgem durante toda a vida!
Por outras palavras, um contexto cultural adverso a votos de virgindade não implica a total inexistência de mulheres ou homens virgens durante toda a vida!
«Outros responsabilizam o autor do evangelho por ter traduzido mal a palavra grega adelfós, que significaria primos.»
Trata-se de um equívoco: a palavra grega “adelphos” deve ser traduzida literalmente como “irmão” . Pode significar, quer um irmão biológico, quer um “irmão” na fé cristã. Os primeiros cristãos não se chamavam a si mesmos “cristãos” mas sim “irmãos” . Sem factos que o comprovem, não há razões para interpretar a palavra “adelphos” em São Marcos 6 no sentido biológico.
Em relação à frase do artigo, há ainda outro equívoco quando se diz que Marcos teria “traduzido mal a palavra grega adelfós”,: o Evangelho segundo São Marcos é já uma obra grega no seu original. Logo, o autor do evangelho escreveu-o em grego, e portanto, não fez qualquer tradução.
«Tiago seria o verdadeiro sucessor de Jesus, e não Pedro, como acabou por acontecer. Uma das provas reside no Evangelho de Tomé, descoberto no Egipto em 1945, e onde está escrito que Jesus designou Tiago como seu sucessor.»
Não se trata de uma prova: o facto de os autores do texto gnóstico intitulado “Evangelho de Tomé” atribuírem tais palavras a Jesus não prova que tal tenha ocorrido de facto. O dito Evangelho de Tomé é a segunda obra do códice II de Nag Hammadi, está escrito em copta e data do século IV. Provavelmente, foi composto na Síria. É quase certo que este texto se baseou parcialmente em textos ou fragmentos mais antigos , mas a datação e identificação das fontes usadas no Evangelho de Tomé é um tema ainda em aberto. Nenhum historiador sério afirma que este texto é da autoria do apóstolo Tomé.
Bernardo Motta
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