No seu artigo "Crenças e Diferenças", o Ludwig defende a incompatibilidade entre crença científica e crença religiosa.
Pretendo brevemente apontar alguns erros no artigo em questão, aproveitando algumas afirmações específicas feitas pelo Ludwig:
«Os crentes mais moderados defendem que as crenças científicas e religiosas estão ao mesmo nível, assentando as primeiras na ideia de um universo regular e observável e as últimas num deus que revela os seus mistérios.»
Há aqui um problema claro de generalização. O Ludwig não o especifica, mas esta frase não pode ser escrita assim. Os hindus, por exemplo, não confiam na regularidade e observabilidade do universo. Nem entendem Deus como alguém que revela coisas sagradas à Humanidade.
Mas há outro problema mais grave: na esfera concreta da crença católica, nenhum católico pode defender que as crenças científicas e religiosas estão ao mesmo nível. Há duas nuances importantes:
a) para o crente católico, a fonte da crença religiosa é Deus e nessa qualidade, trata-se de crença infalivelmente verdadeira; a crença científica, tendo sempre uma fundamentação empírica (mais ou menos sólida), nunca é definitiva e é sempre passível de refutação (pior caso) ou melhoria (melhor caso)
b) para o crente católico, a realidade é toda a mesma e foi toda criada por Deus, ou seja, o objecto da crença científica faz parte da mesma realidade do objecto da crença religiosa: os milagres de Cristo foram realizados no mesmo mundo real no qual se desenrolam todos os fenómenos estudados pela ciência
Um pouco adiante, o Ludwig escreve:
«A crença do cristão é diferente. O cristão que crê que Maria era virgem não está a assumir que, algures, existem os exames ginecológicos necessários para substanciar esta proposição, que pode ter acesso a esses registos e que, se os analisar cuidadosamente, concluirá que Maria era mesmo virgem. Esta sua crença não é condicional. Não depende de assumir que há fundamento objectivo para a proposição. É uma crença categórica. O cristão crê. Ponto final.»
Não é nada disto que o cristão diz. A crença cristã não é cega. Por exemplo, nenhum cristão pode afirmar a crença numa proposição refutada pela experiência ou pelo conhecimento prático das coisas. A fé é entendida como a aceitação daquilo que é revelado por Deus, e tem como objecto proposições às quais nunca chegaríamos pela via empírica. No entanto, a via empírica não pode refutar uma proposição de fé, senão essa proposição era falsa.
Por exemplo: imaginemos que alguns dos discípulos de Cristo afirmavam que o Mestre era imaterial. Isso era facilmente refutado pelo simples facto de que os discípulos próximos de Cristo poderiam facilmente fazer o teste.
Outro exemplo: imaginemos que se descobria uma sepultura muito antiga, com os restos mortais de uma mulher da Galileia, e que era possível estabelecer, graças a inscrições e a tradições orais e escritas, que se tratava da sepultura de Maria, Mãe de Cristo. Automaticamente, estava refutado o dogma da assunção de Maria aos céus, pois esse dogma afirma de modo categórico que o corpo de Maria foi "absorvido para fora" da materialidade, para fora do tempo e do espaço.
Segundo a forma errada como o Ludwig vê a fé cristã, então o cristão deveria manter a crença no dogma da assunção de Maria, MESMO que surgissem restos mortais de Maria. Ora isso é totalmente falso, e nenhuma verdade cristã é assumida CONTRA verdades empíricas demonstradas.
1) Não só não podem existir incompatibilidades entre a doutrina e as verdades manifestas e indiscutíveis (incluídas as regras da lógica, essenciais ao raciocínio coerente e estruturado)
2) Como são tidos e pesados todos os argumentos a favor de uma tese doutrinal: não se chegou a nenhum dogma da Igreja através de argumentos puros de autoridade, ou através de literalismos escriturísticos, mas sim através de longos e extensos debates (basta conhecer a história dos concílios para se ver como a Igreja amadureceu a exposição da sua doutrina)
O cristão afirma que Maria era virgem por várias fortes razões, que vão desde a tradição oral de quem viveu na altura próximo a Maria, até à coerência teológica que foi procurada tenazmente nos primeiros séculos: para Cristo ser realmente Deus (e este postulado data do tempo dos primeiros doze) e realmente Homem, teria que ter um progenitor humano (Maria) e outro divino (Espírito Santo). A doutrina cristã é o resultado de séculos de consolidação doutrinal (eliminando incoerências e contradições) efectuada sobre tradição escrita e oral.
O cristão não afirma que Maria era virgem só porque "está escrito", ou porque "alguém disse". Isso é fideísmo (ver abaixo), e é uma heresia.
«Esta é uma razão importante para a incompatibilidade entre a ciência e as religiões.»
Não há qualquer incompatibilidade entre fé cristã e ciência. Até seria ilógico supô-lo, uma vez que o cristianismo foi o berço e a motivação do progresso da ciência moderna.
O que se passa é que o cristão não defende um absurdo reducionismo filosófico. É por puro preconceito filosófico que o ateu materialista julga que a realidade tem que ser toda material porque o método científico (por natureza empírico) não vai mais longe. Ora isto é ridículo. Seria o mesmo que afirmar que não existe amor humano só porque não o conseguimos medir com instrumentos. É que o ateu materialista confunde mesmo o real com o empírico, como se não pudesse existir nada que não pudesse ser medido empiricamente. Isto é um preconceito filosófico, e nada tem a ver com ciência.
Já no que toca à compatibilidade entre outras religiões e ciência, então é certo que há muita fé religiosa que é incompatível em maior ou menor grau com a ciência, e é por isso que erra todo e qualquer ateu, como o Ludwig, que trata a crença religiosa toda por igual. Ao não distinguir aqueles credos (como o cristão) que afirmam cabalmente que nenhuma verdade de fé contradiz uma verdade de ciência, o Ludwig generaliza demais e acaba por ser injusto para com o cristianismo.
Por exemplo, o Hinduismo desconfia profundamente dos sentidos (por causa do conceito de "maya"), e por isso, é impossível a integração no hinduísmo da abordagem empírica essencial ao trabalho científico.
Outro exemplo: no Islão, a crença religiosa pode ser irracional, algo impossível na crença cristã. Por isso, é complicado conciliar, na mente do crente muçulmano, a doutrina do Islão com a metodologia do trabalho científico.
«Como as crenças científicas são todas condicionadas à premissa de haver fundamento objectivo, acessível e compreensível, para as proposições em que se crê, os cientistas têm uma exigência quase paranóica de registos de resultados, descrições detalhadas dos procedimentos, conclusões cautelosas, crítica aberta, verificação independente e todo esse aparato que nos dá confiança que, quando chegam a acordo acerca de algo, há por trás um forte fundamento para o que defendem.»
Eu não vejo nada de paranóico nisso. Essa boa escola do cientista é a boa escola da cosmovisão judaico-cristã. O cristão só pode valorizar o empirismo, uma vez que o Cristão acredita que a realidade é boa, porque é obra de um Deus bom, que não engana, e que os sentidos do Homem, feitos por Deus, são fiáveis, e que o intelecto humano, feito à imagem do de Deus, é minimamente fiável, e que ambos os intelectos partilham do uso da razão e da lógica.
Desafio o Ludwig a explicar como é que essa escola científica teria chegado aos nossos dias se não tivesse sido precisamente a Igreja Católica a pior inimiga das heresias opostas a essa escola, como a heresia gnóstica, ou a tradição hermético/ocultista ocidental, que via magia e "poderes ocultos" na Natureza.
«As religiões fazem o contrário. A crença incondicional e dogmática vira as religiões para dentro, para as suas figuras de autoridade ou escritos sagrados onde o fundamento último de tudo é o mistério insondável da fé.»
Isto é uma heresia cristã: chama-se "fideísmo". É estranhíssimo, mas está longe de ser um caso raro, que tantos ateus continuem a insistir numa generalização que acaba por ser injusta para com a Igreja Católica.
Como se pode ver aqui, a Igreja justamente considerou herética a filosofia de crença que o Ludwig tanto critica, e que ele julga erradamente ser algo geral e comum a todas as religiões. Há muitas religiões, mas não a cristã, que pensam assim. Vendo bem, da heresia do "fideísmo" à superstição pura e dura vai um passo curto.
Termino com um desafio: peço ao Ludwig que me aponte uma contradição, basta apenas uma, entre doutrina católica e ciência. Note-se bem: não pergunto se há coisas na doutrina católica que a ciência não pode nem provar nem refutar (é certo que as há). Pergunto se há verdades científicas que tenham refutado pontos da doutrina cristã...
Porque será que não existem?
Será só sorte da doutrina cristã?
Estará a primeira refutação ao virar da esquina?
11 comentários:
Este artigo é um pouco ambíguo... não esclarece de todo a diferença entre facto religioso e facto científico, e de como é que se pode distinguir um do outro, qual a diferença metodológica, etc.
É que das duas uma, se é facto empírico que se trata, então é ciência, se não é facto empírico, então é fé no não-observável. E aí, todas as apostas são possíveis. Não há nada que as distinga.
Parece-me que és um Idealista, mas se o és deverias saber que não podes nem consegues demonstrar a natureza dessa metafísica, nem distingui-la do solipsismo, por exemplo. Aquilo que a ciência fez, foi desacreditar a linguagem metafísica, foi mostrar o quão obsoleta e inútil ela é. Pouco importa o que a "Realidade Absoluta" é de facto, se não temos ferramentas para discuti-la que não sejam... manipuláveis tão facilmente. Apague-se simplesmente essa conversa e fiquemo-nos pela Realidade Empírica, aquela que podemos falar, aquela que podemos medir.
Tudo o resto é "making shit up".
Desafio o Ludwig a explicar como é que essa escola científica teria chegado aos nossos dias se não tivesse sido precisamente a Igreja Católica a pior inimiga das heresias opostas a essa escola, como a heresia gnóstica, ou a tradição hermético/ocultista ocidental, que via magia e "poderes ocultos" na Natureza.
Vejo que manténs o mito de que a Ciência se deveria postrar aos joelhos do papa ;). A ciência cresceu e abandonou práticas irrelevantes e desnecessárias para o seu desenvolvimento. Entre elas, inclui-se a fé religiosa.
Quando muito, para o cientista mais sofreguedor de vertigens, basta-lhe um Realismo Modesto, à la Sokal. Tudo o resto é matemática e observação. Mas obrigado na mesma, foi divertido ;)
Bernardo,
O teu post precisa de mais tempo para o ler todo com calma. Mas posso adiantar já acerca disto:
«para o crente católico, a fonte da crença religiosa é Deus e nessa qualidade, trata-se de crença infalivelmente verdadeira»
Eu considero que qualquer crente que apresente a sua crença como infalível -- e, por implicação, se apresente a si próprio como sendo infalível na formação de tal crença -- não será um crente moderado mas um extremista. Seja quem for e sobre o que for, quem exclui por completo a possibilidade de errar não tem moderação nenhuma :)
Caro Barba Rija,
«Este artigo é um pouco ambíguo...»
Este artigo foi escrito em 20 minutos e não pretende ser grande coisa.
«não esclarece de todo a diferença entre facto religioso e facto científico, e de como é que se pode distinguir um do outro, qual a diferença metodológica, etc.»
Idem. Penso que os blogues não têm esse objectivo. Quando quero deixar algo mais consistente e mais demonstrado, escrevo um trabalho, e disponibilizo-o em PDF ali na coluna da direita.
«É que das duas uma, se é facto empírico que se trata, então é ciência, se não é facto empírico, então é fé no não-observável.»
Eu não disse que o empírico era a fronteira enquanto objecto, mas sim enquanto método. Os discípulos de Cristo que O viram ressuscitado, depois de O verem morto, usaram seguramente uma experiência empírica para depois contar aos outros o que viram. O empírico, neste caso, foi a base para o objecto da crença.
Mas é verdade que a marca da ciência é usar o empírico como método de trabalho. Aí, sim, há diferenças.
Mas cuidado com a terminologia: por exemplo, o cristão define "milagre" como algo que pressupõe sempre um fenómeno empírico. No entanto, o cristão não pretende explicar esse fenómeno por via científica, porque simplesmente a sua causa não é natural.
Milagre:
1) Causa sobrenatural (supra-empírica)
2) Efeito empírico
Fenómeno natural:
1) Causa natural (empírica)
2) Efeito empírico
É quanto ao método que crença cristã e crença científica diferem. Não necessariamente quanto ao objecto. Evidentemente, certos objectos (Deus) podem ser diferentes nos dois casos. Por definição, a ciência não tem Deus por objecto, visto que a ciência apenas pretende estudar e explicar o natural de forma natural.
(continua)
(continuação)
«Parece-me que és um Idealista»
Se sou alguma coisa, sou cristão.
«mas se o és deverias saber que não podes nem consegues demonstrar a natureza dessa metafísica, nem distingui-la do solipsismo, por exemplo.»
O cristianismo não tem nada a ver com solipsismo. De onde é que isso veio?
«Aquilo que a ciência fez, foi desacreditar a linguagem metafísica, foi mostrar o quão obsoleta e inútil ela é.»
A ciência não fez nada disso.
1) A ciência não é uma pessoa: as pessoas é que fazem coisas
2) A ciência é distinta da reflexão filosófica sobre ciência: esta reflexão chama-se epistemologia, e é um ramo da filosofia
3) Alguns epistemólogos, como por exemplo, os dos Círculo de Viena, tentaram na primeira metade do século XX provar precisamente aquilo que tu afirmas ser verdadeiro, ou seja, que a metafísica é um monte de disparates
4) Claramente, falharam: os seus pressupostos filosóficos estão votados ao fracasso: as suas várias tentativas de refutação formal da metafísica saíam sempre furadas e viravam-se contra os seus autores; hoje em dia, os resultados do Círculo de Viena são vistos à luz da História: foram desmontados até por epistemólogos ateus como Karl Popper
5) Pergunta ao Desidério Murcho, que deves conhecer dos blogues, o que é que ele pensa do que tu dizes sobre a metafísica: eu não sou filósofo, ele é que é: pergunta-lhe o que faz ele, enquanto filósofo ateu, a estudar e a dar aulas sobre metafísica
«Pouco importa o que a "Realidade Absoluta" é de facto, se não temos ferramentas para discuti-la que não sejam... manipuláveis tão facilmente.»
Claro que são ferramentas boas: a metafísica trabalha-se com base na lógica. Queres ferramenta melhor? E trabalha-se sobre matéria filosófica, uma das áreas do pensamento humano com mais séculos de existência.
«Apague-se simplesmente essa conversa e fiquemo-nos pela Realidade Empírica, aquela que podemos falar, aquela que podemos medir.
Tudo o resto é "making shit up".»
Dizes isso só porque não te interessas por filosofia e não tens pachorra para ler esse tipo de material, ou achas que isso é mesmo verdade?
Não sabes que a ciência precisa sempre da reflexão epistemológica, que é a única forma de interpretar o trabalho e o método científico, e que essa reflexão, para ser bem sustentada, precisa sempre da metafísica?
(continua)
«Vejo que manténs o mito de que a Ciência se deveria postrar aos joelhos do papa ;)»
Esta tua frase não faz qualquer sentido. Onde é que eu escrevi tal coisa? Eu não faço mais do que escrever aqui o resultado do que pensei. E não faço mais do que pensar sobre as coisas que aprendi ao ler o trabalho de quem sabe sobre estas coisas. E se há afirmação não polémica acerca da relação entre ciência e fé cristã é que a primeira, apesar da tentativa "abortada" na cultura grega, apenas deu frutos a sério em contexto cultural cristão. Do cristianismo, a ciência não só retirou a atitude confiante acerca do uso dos sentidos, não só retirou a motivação (o trabalho do cientista era visto como a leitura da mente de Deus, ou seja, descobrir como funcionam as coisas era interpretar a obra de Deus), mas recebeu ainda patrocínio financeiro, mecenato, e um sistema eficiente de propagação e preservação do conhecimento (bibliotecas, universidades, etc.).
Quem diz que isto é "mito" não sabe do que fala.
Com quem aprendeu Galileu a sua matemática? E Descartes? De quem retirou Newton ideias acerca do ímpeto dos corpos em movimento? O que é que fazia o "pai" das leis da genética? Qual era a sua profissão? E a profissão do autor da teoria que veio a ser conhecida como "Big Bang"?
Falas em Sokal?
Só conheço de nome. Nunca li nada dele. Ando ocupado a ler os que estão para trás. Preciso de perceber o contexto, entendes?
«Tudo o resto é matemática e observação.»
Sim. Vê o que pensava o Godel da filosofia materialista. O que é que o Godel fez aos materialistas, com os seus teoremas da incompletude.
«Mas obrigado na mesma, foi divertido ;)»
Sempre às ordens!
Ludwig,
«Eu considero que qualquer crente que apresente a sua crença como infalível -- e, por implicação, se apresente a si próprio como sendo infalível na formação de tal crença -- não será um crente moderado mas um extremista.»
Consideras mal.
E raciocinas mal.
Eu escrevi que era infalível na formação da crença?
Eu nunca disse isso. Os debates teológicos nos 2.000 anos de história do cristianismo demonstram que nunca ninguém achou que era infalível a formar crença. Nenhum católico "formou" crença. Nem um só Papa "formou" doutrina. Muito rapidamente, algumas noções básicas sobre a infalibilidade como os católicos a entendem:
1) A infalibilidade vem do dispensador da doutrina, que é Deus; só assim é que faz sentido falar em infalibilidade; é só porque Deus não falha quando ensina, ok?
2) A Igreja não "forma" doutrina, a Igreja procura expressar doutrina eterna, imutável e infalível através de palavras, conceitos, descrições, formulações
Quando muito, podes dizer que a formulação de doutrina, ou mesmo a formulação dogmática, é sempre um trabalho de "tangente", sempre aproximativo. Isso é verdade, até pelo problema colocado pela própria linguagem. O que não quer dizer que a linguagem que temos não sirva para se expressar um objecto em si mesmo infalível.
Mas à parte disso, nenhum católico "cria", "inventa" ou "formula" doutrina. Quando um Papa proclama um dogma, ele pode dar o seu aval a uma fórmula textual (é o que sucede), à fórmula que lhe parecer a melhor de modo a ficarem de parte ambiguidades (o que é perfeitamente possível, sobretudo quando quem lê o dogma está no contexto e entende os conceitos) mas o que se pretende é verter para texto uma verdade infalível.
Essa verdade é infalível.
Depois há o âmbito: a infalibilidade de um Papa, ou do Magistério, tem restrições:
a) só se aplica a doutrina e a moral
b) só se tem infalibilidade por graça divina: nenhum ser humano é infalível nestas matérias sem a graça divina; se o Papa consegue formular bem um dogma, é porque tem a assistência do Espírito Santo, que foi prometida verbalmente por Cristo
Os católicos não inventam nada. E têm bastante juízo, e gostam de coisas lógicas e consistentes.
Abraço,
Bernardo
Bernardo,
Vamos assumir, por hipótese, que tu és falível. Vamos assumir que é possível que tu julgues que algo é uma coisa que, na verdade, não é. Errar é humano.
Nesse caso, proponho que não podes excluir a possibilidade de considerares infalível uma fonte que não o seja e que até pode ser errada. Seria um erro teu. Pegavas num livro ou mensagem, julgavas que era infalível e afinal não era.
Se admites que podes cometer um erro desses então não podes considerar nada como infalível. Porque não podes considerar infalível a tua capacidade de distinguir o que é infalível e o que é errado.
Se dizes ter acesso a algo infalível estás, implicitamente, a afirmar que tu és infalível a distinguir, por exemplo, qual é a religião certa.
E isso penso que seria sobrestimar as tuas capacidades.
Se tiveres pachorra, escrevi há tempos um post sobre isso.
Como a carreira e as necessidades de um homem mudam as coisas...
O Sr.Motta agora é amigo de «novos» pedófilos e falsos «profetas», a única diferença sendo que os actuais têm mais dinheiro e melhores conexões...
Será maravilhoso vê-lo queimar, julgado por Cristo, no lago de enxofre no dia do juízo final.
Viva Cristo! Morte ao PAPA!!!
Olá Ludwig!
«Vamos assumir, por hipótese, que tu és falível.»
Não é preciso assumir isso como hipótese. Eu sou falível. Todo o ser humano é falível. Papa incluído. A infalibilidade de que falei tem a ver com o cargo de Pontífice, e não com supostas virtudes do indivíduo.
Mas não estou com isto a dizer que não há temas sobre os quais podemos falar de forma infalível (ver abaixo).
«Vamos assumir que é possível que tu julgues que algo é uma coisa que, na verdade, não é. Errar é humano.»
Claro que é. Essa é uma frase profundamente cristã, e até com bases teológicas (Pecado Original).
«Nesse caso, proponho que não podes excluir a possibilidade de considerares infalível uma fonte que não o seja e que até pode ser errada. Seria um erro teu. Pegavas num livro ou mensagem, julgavas que era infalível e afinal não era.»
Essa possibilidade existe. Em tempos, já li autores cuja obra me pareceu impecável à primeira vista.
«Se admites que podes cometer um erro desses então não podes considerar nada como infalível.»
Errado. Há coisas que eu sei que são infalíveis, e que tu também sabes. E que ninguém pode negar, e que são realmente infalíveis. Por exemplo, as leis da lógica. Por exemplo, as leis da matemática.
Para o cristão, a definição de Deus (sem discutir se Deus existe) obriga logicamente a considerá-lo omnisciente e infalível.
Deus até podia não existir, mas esta definição de Deus é internamente coerente e irrefutável em si mesma.
É sobre esse ponto, perfeitamente lógico, que assenta toda a argumentação tecida pelo bispo Gasser, o defensor da promulgação do dogma da infalibilidade durante o Vaticano I. Recomendo vivamente:
http://www.amazon.com/Gift-Infallibility-Official-Relatio-Vincent/dp/1586171747/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1255342397&sr=8-1
«Porque não podes considerar infalível a tua capacidade de distinguir o que é infalível e o que é errado.»
É que não é a minha. É a da Igreja. E a Igreja não a inventou nem a obteve por mérito próprio. Foi o próprio Cristo que entregou à Igreja esse dom. Porquê? Porque só Deus poderia dar a meros seres humanos o dom da infalibilidade nas matérias que foram ensinadas pelo próprio Deus.
Tu podes rejeitar a noção cristã de que há Deus, e a noção cristã de que Cristo é Deus. Mas não podes atacar a lógica impecável do dogma da infalibilidade. Ele decorre dos axiomas de fé dos cristãos, mas é uma dedução perfeitamente válida (sem falácia, sem incoerência).
«Se dizes ter acesso a algo infalível estás, implicitamente, a afirmar que tu és infalível a distinguir, por exemplo, qual é a religião certa.»
Não. Este ponto importante que referes está bem explicado no livro do Vincent Gasser. É um livro pequeno e baratinho e vale mesmo a pena comprar, porque não é todos os dias que temos, em inglês, a exposição lúcida, crítica e racional deste dogma tão incompreendido, escrita por um dos melhores cérebros do Vaticano I.
«E isso penso que seria sobrestimar as tuas capacidades.»
Já vimos que todos somos infalíveis em relação a certos axiomas fundamentais, como os da lógica. E isso sucede porque o nosso intelecto está estruturado de forma a não falhar nas operações básicas, sob pena de não existir eficácia intelectual propriamente dita.
Quando dizes que um indivíduo é infalível, há duas formas de o entender:
a) infalível por mérito próprio: o indivíduo teria nele mesmo as características intelectuais necessárias para não falhar em dada matéria
b) infalível porque segue uma autoridade infalível
A Igreja só entende e aceita o segundo tipo de infalibilidade. O Papa e o Magistério só são infalíveis porque seguem Cristo, e eu só sou infalível quando sigo ambos. Nunca por mérito próprio.
«Se tiveres pachorra, escrevi há tempos um post sobre isso.»
Vou ler! Obrigado.
Abraço
Ludwig,
Para sintetizar...
1) Podemos nunca falhar quando compreendemos certos axiomas fundamentais para o próprio intelecto humano: por exemplo, os princípios da lógica; por exemplo, quando sabemos com toda a certeza infalível que 317 é um número primo
2) Noutras matérias que não são fundamentais para o intelecto humano operar, como por exemplo, em matéria de moral, ou quando tecemos teorias acerca do mundo, o intelecto humano não é capaz, em si mesmo, de garantir a infalibilidade
3) Supondo que há uma fonte de infalibilidade, ou seja, uma autoridade infalível em certas matérias, todo aquele que recorre a esta fonte, por definição, não falha e partilha dos efeitos dessa infalibilidade (sem ele mesmo ser causa de infalibilidade)
4) Supondo os cristãos que Deus existe, e que por definição é infalível, e que Cristo falou como Deus e por meio de Deus, então os ensinamentos de Cristo são infalíveis
5) Sempre que a Igreja, no seu todo, ou em cada membro, segue os ensinamentos de Cristo, partilha dessa infalibilidade (nos seus efeitos, e nunca como causa)
A explicação mais sofisticada acerca do papel especial reservado ao Pontífice está muito bem exposta no tal livro do Gasser.
Abraço
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