quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Evangelho de hoje

«Chegado à outra margem, à região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. Vendo-o, disseram em alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?» Ora, andava a pouca distância dali, a pastar, uma grande vara de porcos. E os demónios pediram-lhe: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.» Disse lhes Jesus: «Ide!» Então, eles, saindo, entraram nos porcos, que se despenharam por um precipício, no mar, e morreram nas águas. Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos. Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região.», Mateus 8, 28-34.

Imagino como este trecho do Evangelho segundo São Mateus, que a Liturgia nos apresenta hoje, deve embaraçar e envergonhar tantos católicos "modernos" (ou modernistas). Quer a tradição cristã, quer os textos evangélicos, quer o Antigo Testamento, contêm tantos exemplos de doutrina acerca do Diabo e dos demónios que é de espantar, repito, é de espantar que ainda existam cristãos que acham que isto é discurso figurado, ou que o Diabo não existe, ou que as possessões demoníacas relatadas nas Escrituras devem ser todas entendidas como casos de psiquiatria.

De que têm medo esses cristãos? De serem gozados pelos seus contemporâneos? De serem incompreendidos por este "admirável mundo novo", em larga medida ignorante acerca das coisas realmente importantes, um mundo sem rumo, sem norte?

3 comentários:

Anónimo disse...

Ai isto é uma questão de gozo para os cristãos.

Voce não gosta mesmo da ciencia.

Para o Cristianismo, o remédio contra a possessão reside numa série de ritos ,passa pelo exorcismo , pela oração, confissão, comunhão, jejum e pelo uso de objectos bentos o estado de possessão aproxima‐se do transe e do êxtase, Um fenómeno que se dá em pessoas de natureza histérica e psicótica. As crises são explicadas pela ciencia segundo estruturas nevróticas e psicóticas que desencadeiam esse tipo de comportamentos. Por outro lado, as diferentes personalidades, por vezes manifestadas pelos possessos, poderão ter subjacentes traumatismos emocionais. Outros consideram ainda que a possessão pode ser desencadeada devido à alcalinidade do sangue, pela hipoglicémia, pelo uso de certas drogas, ou outros elementos bioquímicos.

Para combater a bruxaria e a denominada possessão diabólica, dá‐se um passo em frente na ciência o nascimento da psiquiatria. No século XVI, o cristianismo vê‐se confrontado com a reforma luterana e, posteriormente, com a contra reforma do concílio de trento, e surgem os primeiros médicos ligados à nova terapia como jean wier médico holandês, e paulus zachias médico italiano, este último, perito em medicina e em teologia. No século XVIII, alguns teólogos, e o próprio papa, consideram que muitos dos fenómenos de possessão tinham a sua origem em perturbações físicas: “Des théologiens et le Pape Benoit XIV lui‐même (1740‐1758) avaient déjà attiré l’attention des exorcistes et des médecins sur les phénomènes extraordinaires et apparamment diaboliques qui peuvent résulter de troubles physiques”

A nível da psicanálise, para freud, a explicação para os casos de possessão reside no recalcamento de desejos. Para o psicanalista, a vivência do ser humano baseia‐se num jogo de forças e de conflitos, cujas peças são o consciente, o pré‐ consciente e o inconsciente. O inconsciente era desconhecido no tempo de cristo e até muito depois. Essas alterações do comportamento, a nível da psicanálise, podem manifestar‐se sob várias formas: obsessão, histeria, neurose traumática, etc. Na maioria dos casos, estas manifestações são consequência de uma educação muito repreensiva ou por uma educação super‐protegida ou permissiva que desencadeiam, dentro das afectividades, esses conflitos.

Nos meios rurais grande parte da população tinha fracos recursos financeiros para poder recorrer à psiquiatria ou psicanálise, recorria a exorcismos praticados nas igrejas para curarem a epilepsia e outros problemas mentais e físicos. Pode crer que eu vivi parte da minha vida num meio rural e os idosos pensavam assim mesmo. Apesar das actuais explicações da ciência medicina e da psicanálise para os casos de possessão, na religiosidade popular, o problema adquire outros contornos. Na mentalidade do povo, a possessão consiste em estar possuído pelo demónio, incarnando o ódio, o conflito e a discórdia. A sua manifestação é expressa pelas alucinações, tentações e obsessões. Assim, num momento de crise, o possesso manifesta atitudes que vão desde as contorsões, ataques de raiva, palavras estranhas e incompreensíveis, blasfémias, transe, perda de controlo.

Anónimo disse...

Após os momentos de crise, o possesso entra num período de serenidade, não se lembrando de nada daquilo que disse ou fez anteriormente. Segundo os teólogos, os grandes sintomas da possessão são precisamente a força desmedida, o uso de uma linguagem desconhecida e, por vezes, o facto de o possesso revelar alguma vidência. Muitas das vezes, o próprio doente entrava e entra num jogo de emoções e de sentimentos que o levavam a acreditar que estava realmente possuído pelo demónio, aspecto que, na maior parte das vezes, é alimentado pelos membros da família e por toda a comunidade. Neste sentido, o indivíduo convence‐se de que está mesmo possuído pelo demónio

Ha um caso de um rapaz de 16 anos tinha crises que, para a família, eram inexplicáveis, considerando‐o possuído pelo demónio ou por uma alma do outro mundo. A família, em vez de encaminhar o rapaz para médicos que tentassem averiguar e diagnosticar o doente, andavam num rodopio de bruxo para bruxo , um dia, num hospital de lisboa ,é lhe diagnosticada a doença de nervos e muita fraqueza, mas a família continuou a frequentar pelo país fora diversos bruxos e exorcistas. Ainda recorreram à igreja de vera cruz de marmelar mas, curiosamente, o doente nunca manifestou nenhuma crise para que pudesse ser aí exorcizado pelo padre, segunda visita ao santo lenho. A família resolveu fazer nova tentativa, agora com melhores possibilidades de êxito porque a alma já falava. No santo lenho, o possesso devia ter um ataque ao entrar na igreja, como reacção da alma que não queria sofrer o exorcismo, mas tal não aconteceu: a missão falhou. A pressão sobre o adolescente foi tão grande que o levou até à tentativa de suicídio. Ainda frequentou algumas consultas de psiquiatria em lisboa, embora os familiares continuassem a frequentar outros locais ligados às artes mágicas . As crises duraram cerca de cinco anos, acabando por diminuírem gradualmente e chegando‐se, posteriormente, à conclusão de que o verdadeiro problema dele eram ataques epilépticos, doença hereditária, visto ter sido diagnosticada em outros familiares.

No decorrer dos exorcismos, seja qual for a filiação religiosa, a medicina cede assim o lugar ao irracional, ao pedaço de texto sagrado, à relíquia do santo, ao mana que daí se desprende. Em linha de consequência, a cura vai ligar‐se não ao raciocínio lógico, mas à recitação dum formulário, de novenas ou rezas, são assim as mentes esclarecidas.

Anónimo disse...

O espectadores devia ver menos Televisão...