"Mas, no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça" - Primeira Carta de São Pedro, cap. 3, vs. 15.
É o meu preferido. Um Artista na plena acepção da palavra. Uma vez perguntaram-lhe: "pode um intérprete desviar-se, nem que seja ao de leve, da partitura? tem um intérprete liberdade para isso?". A resposta dele foi cabal: "não, não pode". Um exímio perfeccionista, mas sem a frieza que poderia ser o defeito do perfeccionista demasiado preocupado com a técnica e com o rigor da execução: é que Richter tem a alma do artista. Ele faz viver a obra, e de que maneira.
É uma discussão que dá pano para mangas. Jorge Bolet era da opinião de que o intérprete, porque é capaz de dedicar anos de estudo a uma só peça, acaba por conhecer melhor a peça do que o próprio compositor, que a escreveu e que a seguir deixou de pensar nela e foi compor outras coisas. Não deixa de ter a sua razão.
Eu sou da opinião de que uma vez uma obra lançada, pronto, está "entregue". Não raras vezes os intérpretes descobrem sentidos - perfeitamente válidos - que escapam às intenções do próprio compositor. Experimente ouvir as polémicas interpretações do Pogorelich, capaz do Bach mais limpo e estrito, como do Rachmaninov mais adulterado - do ponto de vista formal - mas extasiante, constituindo uma experiência única.
No entanto, é, aparentemente, uma linha ténue, a que distingue um bêbedo (o que Schumann chamava a quem não seguia estritamente o que estava escrito), de um génio, que faz leituras que extrapolam a escrita. Mas será talvez daí que provenha algum do seu fascínio.
3 comentários:
Sem dúvida um gigante do piano.
É o meu preferido. Um Artista na plena acepção da palavra. Uma vez perguntaram-lhe: "pode um intérprete desviar-se, nem que seja ao de leve, da partitura? tem um intérprete liberdade para isso?".
A resposta dele foi cabal: "não, não pode". Um exímio perfeccionista, mas sem a frieza que poderia ser o defeito do perfeccionista demasiado preocupado com a técnica e com o rigor da execução: é que Richter tem a alma do artista. Ele faz viver a obra, e de que maneira.
É uma discussão que dá pano para mangas. Jorge Bolet era da opinião de que o intérprete, porque é capaz de dedicar anos de estudo a uma só peça, acaba por conhecer melhor a peça do que o próprio compositor, que a escreveu e que a seguir deixou de pensar nela e foi compor outras coisas. Não deixa de ter a sua razão.
Eu sou da opinião de que uma vez uma obra lançada, pronto, está "entregue". Não raras vezes os intérpretes descobrem sentidos - perfeitamente válidos - que escapam às intenções do próprio compositor. Experimente ouvir as polémicas interpretações do Pogorelich, capaz do Bach mais limpo e estrito, como do Rachmaninov mais adulterado - do ponto de vista formal - mas extasiante, constituindo uma experiência única.
No entanto, é, aparentemente, uma linha ténue, a que distingue um bêbedo (o que Schumann chamava a quem não seguia estritamente o que estava escrito), de um génio, que faz leituras que extrapolam a escrita. Mas será talvez daí que provenha algum do seu fascínio.
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