"Mas, no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça" - Primeira Carta de São Pedro, cap. 3, vs. 15.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
O caso "Carlos Morín": o que não se mostra por cá
El historial de Morín incluye su paso por prisión por abortos ilegales en Alicante
"Usted tiene su moral, yo la mía", dice Carlos Morín, el rey del aborto de Barcelona
Prisión para Carlos Morín, su mujer y una empleada
La red de abortos ilegales de Carlos Morín se desmonta también en Madrid
Una testigo protegida destapa una red de abortos ilegales en Barcelona
Coerência e unidade
O Prof. José Manuel Pureza escrevia ontem, em texto divulgado no Ecclesia, acerca da Mensagem de Paz do Papa Bento XVI, expressando-se nestes termos:
Sem qualquer consideração moral sobre a pessoa do Prof. José Manuel Pureza, e sem colocar minimamente em causa o seu trabalho na Comissão Nacional Justiça e Paz, devo confessar que achei o seu texto perturbante, por mostrar aquilo que me parece ser uma clara contradição num católico com carreira universitária, e louvável activismo católico.
Dito de outra forma, nem pessoas como o Prof. José Manuel Pureza estão a salvo de incorrerem em gravíssimas incoerências. Refiro-me à sua conhecida posição aquando do referendo de Fevereiro passado sobre o aborto, essa clara violência física, estrutural e cultural que é o avesso de uma condição familiar.
O Prof. José Manuel Pureza, não só votou "SIM" ao aborto legal, livre e subsidiado, como fez questão de dar o seu nome para vários destes movimentos. Surge listado no blogue Eu voto SIM. Foi também mandatário do Movimento de Cidadania e Responsabilidade pelo SIM.
Esta sua posição é incompreensível. Sem colocar em questão o perfeito catolicismo daqueles que procurariam uma redução da pena para o crime de aborto, ou até a sua eliminação em circunstâncias específicas, já o voto "SIM" no referendo de Fevereiro teria necessariamente que andar às arrecuas do catolicismo.
Sem querer reproduzir aqui, de novo, os argumentos que invoquei para explicar o mal ético do aborto, e o erro fatal de um católico votar "SIM" em tal referendo, remeto os interessados nos detalhes para o documento que se encontra na parte lateral deste blogue, na secção Artigos. Na sua versão longa, chamo a atenção para o capítulo 3.4, que principia na página 33, onde se encontra a argumentação para o que vou afirmar de seguida.
Todo o votante no "SIM", para além de concordar com a despenalização do crime de aborto (o que é evidente, e relativamente inócuo), também concordou com a legalização desse crime (uma contradição nos termos), e pior ainda, concordou com o uso de dinheiros públicos do Sistema Nacional de Saúde para efectuar esses crimes.
Não é evidente a razão pela qual qualquer pessoa de bom senso, amiga da verdade, respeitadora da vida, deveria ter votado "não"?
E, sendo tal pessoa um católico, não é de bradar aos céus tal incoerência? Tal nítida contradição, que rompe profundamente a união de tal pessoa com o catolicismo, e no seu âmago?
O Prof. José Manuel Pureza, juntamente com todos os que votaram "SIM", é co-responsável de duas graves consequências sociais:
a) a de o crime de aborto deixar de ser visto legalmente como tal (falência ética)
b) a de o crime de aborto passar a ser pago pelos impostos de todos os portugueses (perversão moral)
E também vale de pouco invocar o facto que de a pergunta do referendo não legitimaria muitas das opções políticas do governo Sócrates. Tal invocação é sinal de ingenuidade e de falta de maturidade. Os projectos-lei estavam à vista de todos, bem antes do referendo, e sabia-se bem o que significava, politicamente, um "sim" ao referendo.
Deste modo, quando Portugal se assemelhar a Espanha, e o aborto se generalizar para fetos acima das "miraculosas" dez semanas (recorde-se, para os "intelectuais" pró-aborto, essa é a idade mágica com a qual ganhamos direito a viver), e começarmos a assistir ao circo perverso dos Carlos Moríns do nosso país, também deveremos chamar à barra o Prof. José Manuel Pureza, e todos os que com ele votaram "sim", uma vez que abriram caminho, na nossa sociedade, para o relativismo moral e ético.
É que a Ética, em sociedade, respeita-se quando todos somos responsáveis pelo seu respeito. Basta que um de nós, só um, vacile nesta responsabilidade, para toda a sociedade estar eticamente em risco. Isto permite, hoje em dia, que se fale na "ética de cada um", porque deixámos de concordar na "ética de todos": o barão do aborto, Carlos Morín, responsável pela morte de milhares de seres humanos, gravado ocultamente num documentário espanhol, e perante a pergunta de se considerava éticas as suas acções, afirmava: "vocês têm a vossa ética, eu tenho a minha!".
Votar "sim" foi uma contradição ética.
E toda esta contradição ética, note-se, sob a capa de movimentos cujo nome invoca termos tão louváveis como "cidadania" e "responsabilidade".
Cada ser humano morto nas clínicas infanticidas, públicas ou privadas, na sua curta vida terminada brutal e violentamente, é um grito que ecoa até aos céus, até ao âmago divino. Nada poderá apagar tais crimes, porque não são mortes por acidente, ou mortes por outro tipo de infortúnios sem culpa humana, como doenças, ou catástrofes naturais. Tais crimes são de bradar, porque são mortes de inocentes às mãos de seres humanos conscientes do crime que cometem.
Regressando aos católicos, há quem diga que as igrejas estão a ficar mais vazias porque a Igreja Católica não permite o aborto, não sanciona a homossexualidade, não reconhece os divórcios, não ordena as mulheres, não deixa os padres casarem, entre outras tontas (porque erradas) reivindicações.
É ver o problema ao contrário: as igrejas estão a ficar vazias, e a sociedade está a perder a espiritualidade que lhe dá vida, porque os católicos cada vez mais se esquecem da relação entre coerência e unidade. Não é ideal a unidade baseada na obediência (se bem que seja sensato obedecer a quem tem razão), mas sim a unidade baseada na adesão livre a uma proposta coerente, verdadeira e radical como é a de Cristo.
Coloco-me na pele do não católico: que interesse haverá em aderir a uma doutrina cujos professantes nem sequer se entendem a respeito da ética mais básica, do crime de retirar uma vida humana? Quando um não católico olha para teólogos como um frei Bento Domingues ou Anselmo Borges, o que vê? Quando um não católico olha para o Prof. José Manuel Pureza, o que vê? Muitos vêem teólogos e leigos católicos maduros, progressistas, clarividentes. É pena. Porque se vissem mais de perto veriam que um católico que votou "sim" no referendo de Fevereiro, está terrivelmente equivocado na forma como deveria defender a sua convicção cristã mais profunda: o Amor.
Para além disto, é certo o enorme mal que tais posições incoerentes provocam na sociedade, sobretudo nos adversários da proposta cristã. Veja-se este exemplo paradigmático, intitulado Sim de Crentes.
O que torna este texto recente do Prof. José Manuel Beleza no Ecclesia espantosamente vexante, é a circunstância da sua posição contraditória face ao aborto, porque o texto está correctíssimo no seu conteúdo e forma. Ao invocar a Paz, enquanto concorda com o aborto, dá sinais evidentes de uma grave contradição ética e moral.
Dizia Madre Teresa de Calcutá que o aborto era a maior ameaça à paz mundial. O insensato Richard Dawkins, na sua recente e medíocre obra de polémica contra Deus ("The God Delusion"), perguntava porque razão teriam dado o Nobel da Paz a uma "mulher tonta" (se as palavras não são estas, o sentido é este), porque, segundo ele, o aborto nunca poderia ser a maior ameaça à Paz.
Estas palavras foram escritas pelo mesmo homem que, bem perto deste trecho, escrevia que o nascimento era o "Rubicão" do direito à vida. Ou seja, defendia que era a saída do útero materno que conferia direito a viver. Seguindo este imbecil raciocínio, na "ética Dawkins", seria legítimo dar uma injecção fatal no coração da criança de nove meses, prestes a nascer. Segundo esta lógica profundamente errada, estar para lá ou para cá do útero parece ter qualquer tipo de significado ético.
O aborto é, sem dúvida, a maior ameaça à paz mundial. Porque se permitimos que se matem inocentes, invocando apenas as tristes razões do nosso conforto ou da nossa subsistência económica (oferecendo os Estados às mães em dificuldades a "solução final" para os seus filhos), se achamos bem que se destruam vidas humanas inocentes, que nem sequer tiveram a possibilidade de errar nesta vida, então o Mal está realmente à solta, e não há razão para imaginar que poderemos ter Justiça para com os adultos, culpados ou inocentes, visto que a negamos aos mais pequenos e frágeis de entre nós.
Finalmente, um humilde pedido de exame de consciência para todos os católicos (que também se aplica a mim). Uma reflexão acerca de coerência e unidade. Cada vez que, perante outros amigos e familiares, católicos ou não, fazemos um comentário negativo acerca de um movimento católico, ou fazemos chacota da devoção ou piedade de outro católico, ou quando, receosos da reacção do Mundo, fingimos discordar das opções fundamentais da Igreja, estamos a fazer anti-evangelização. Damos um sinal de contradição. E contradição é erro. E ninguém quer seguir pessoas erradas.
Sempre que, enquanto católicos, professamos uma ideia anti-católica, estamos a minar a nossa coerência, e com ela, a unidade de todos os cristãos. Numa altura em que o Papa Bento XVI move todos os esforços no sentido de recuperar a unidade entre católicos e ortodoxos, convenhamos que é bem triste constatar que tantos ainda marcham no sentido contrário, em direcção à incoerência.
Peçamos a Deus a coragem para sermos coerentes e unos. Só assim poderemos anunciar Cristo ao Mundo de forma convincente.
«As violências que marcam o nosso quotidiano, em todas as escalas - sejam físicas, estruturais ou culturais - são o avesso de uma condição familiar.»
Sem qualquer consideração moral sobre a pessoa do Prof. José Manuel Pureza, e sem colocar minimamente em causa o seu trabalho na Comissão Nacional Justiça e Paz, devo confessar que achei o seu texto perturbante, por mostrar aquilo que me parece ser uma clara contradição num católico com carreira universitária, e louvável activismo católico.
Dito de outra forma, nem pessoas como o Prof. José Manuel Pureza estão a salvo de incorrerem em gravíssimas incoerências. Refiro-me à sua conhecida posição aquando do referendo de Fevereiro passado sobre o aborto, essa clara violência física, estrutural e cultural que é o avesso de uma condição familiar.
O Prof. José Manuel Pureza, não só votou "SIM" ao aborto legal, livre e subsidiado, como fez questão de dar o seu nome para vários destes movimentos. Surge listado no blogue Eu voto SIM. Foi também mandatário do Movimento de Cidadania e Responsabilidade pelo SIM.
Esta sua posição é incompreensível. Sem colocar em questão o perfeito catolicismo daqueles que procurariam uma redução da pena para o crime de aborto, ou até a sua eliminação em circunstâncias específicas, já o voto "SIM" no referendo de Fevereiro teria necessariamente que andar às arrecuas do catolicismo.
Sem querer reproduzir aqui, de novo, os argumentos que invoquei para explicar o mal ético do aborto, e o erro fatal de um católico votar "SIM" em tal referendo, remeto os interessados nos detalhes para o documento que se encontra na parte lateral deste blogue, na secção Artigos. Na sua versão longa, chamo a atenção para o capítulo 3.4, que principia na página 33, onde se encontra a argumentação para o que vou afirmar de seguida.
Todo o votante no "SIM", para além de concordar com a despenalização do crime de aborto (o que é evidente, e relativamente inócuo), também concordou com a legalização desse crime (uma contradição nos termos), e pior ainda, concordou com o uso de dinheiros públicos do Sistema Nacional de Saúde para efectuar esses crimes.
Não é evidente a razão pela qual qualquer pessoa de bom senso, amiga da verdade, respeitadora da vida, deveria ter votado "não"?
E, sendo tal pessoa um católico, não é de bradar aos céus tal incoerência? Tal nítida contradição, que rompe profundamente a união de tal pessoa com o catolicismo, e no seu âmago?
O Prof. José Manuel Pureza, juntamente com todos os que votaram "SIM", é co-responsável de duas graves consequências sociais:
a) a de o crime de aborto deixar de ser visto legalmente como tal (falência ética)
b) a de o crime de aborto passar a ser pago pelos impostos de todos os portugueses (perversão moral)
E também vale de pouco invocar o facto que de a pergunta do referendo não legitimaria muitas das opções políticas do governo Sócrates. Tal invocação é sinal de ingenuidade e de falta de maturidade. Os projectos-lei estavam à vista de todos, bem antes do referendo, e sabia-se bem o que significava, politicamente, um "sim" ao referendo.
Deste modo, quando Portugal se assemelhar a Espanha, e o aborto se generalizar para fetos acima das "miraculosas" dez semanas (recorde-se, para os "intelectuais" pró-aborto, essa é a idade mágica com a qual ganhamos direito a viver), e começarmos a assistir ao circo perverso dos Carlos Moríns do nosso país, também deveremos chamar à barra o Prof. José Manuel Pureza, e todos os que com ele votaram "sim", uma vez que abriram caminho, na nossa sociedade, para o relativismo moral e ético.
É que a Ética, em sociedade, respeita-se quando todos somos responsáveis pelo seu respeito. Basta que um de nós, só um, vacile nesta responsabilidade, para toda a sociedade estar eticamente em risco. Isto permite, hoje em dia, que se fale na "ética de cada um", porque deixámos de concordar na "ética de todos": o barão do aborto, Carlos Morín, responsável pela morte de milhares de seres humanos, gravado ocultamente num documentário espanhol, e perante a pergunta de se considerava éticas as suas acções, afirmava: "vocês têm a vossa ética, eu tenho a minha!".
Votar "sim" foi uma contradição ética.
E toda esta contradição ética, note-se, sob a capa de movimentos cujo nome invoca termos tão louváveis como "cidadania" e "responsabilidade".
Cada ser humano morto nas clínicas infanticidas, públicas ou privadas, na sua curta vida terminada brutal e violentamente, é um grito que ecoa até aos céus, até ao âmago divino. Nada poderá apagar tais crimes, porque não são mortes por acidente, ou mortes por outro tipo de infortúnios sem culpa humana, como doenças, ou catástrofes naturais. Tais crimes são de bradar, porque são mortes de inocentes às mãos de seres humanos conscientes do crime que cometem.
Regressando aos católicos, há quem diga que as igrejas estão a ficar mais vazias porque a Igreja Católica não permite o aborto, não sanciona a homossexualidade, não reconhece os divórcios, não ordena as mulheres, não deixa os padres casarem, entre outras tontas (porque erradas) reivindicações.
É ver o problema ao contrário: as igrejas estão a ficar vazias, e a sociedade está a perder a espiritualidade que lhe dá vida, porque os católicos cada vez mais se esquecem da relação entre coerência e unidade. Não é ideal a unidade baseada na obediência (se bem que seja sensato obedecer a quem tem razão), mas sim a unidade baseada na adesão livre a uma proposta coerente, verdadeira e radical como é a de Cristo.
Coloco-me na pele do não católico: que interesse haverá em aderir a uma doutrina cujos professantes nem sequer se entendem a respeito da ética mais básica, do crime de retirar uma vida humana? Quando um não católico olha para teólogos como um frei Bento Domingues ou Anselmo Borges, o que vê? Quando um não católico olha para o Prof. José Manuel Pureza, o que vê? Muitos vêem teólogos e leigos católicos maduros, progressistas, clarividentes. É pena. Porque se vissem mais de perto veriam que um católico que votou "sim" no referendo de Fevereiro, está terrivelmente equivocado na forma como deveria defender a sua convicção cristã mais profunda: o Amor.
Para além disto, é certo o enorme mal que tais posições incoerentes provocam na sociedade, sobretudo nos adversários da proposta cristã. Veja-se este exemplo paradigmático, intitulado Sim de Crentes.
O que torna este texto recente do Prof. José Manuel Beleza no Ecclesia espantosamente vexante, é a circunstância da sua posição contraditória face ao aborto, porque o texto está correctíssimo no seu conteúdo e forma. Ao invocar a Paz, enquanto concorda com o aborto, dá sinais evidentes de uma grave contradição ética e moral.
Dizia Madre Teresa de Calcutá que o aborto era a maior ameaça à paz mundial. O insensato Richard Dawkins, na sua recente e medíocre obra de polémica contra Deus ("The God Delusion"), perguntava porque razão teriam dado o Nobel da Paz a uma "mulher tonta" (se as palavras não são estas, o sentido é este), porque, segundo ele, o aborto nunca poderia ser a maior ameaça à Paz.
Estas palavras foram escritas pelo mesmo homem que, bem perto deste trecho, escrevia que o nascimento era o "Rubicão" do direito à vida. Ou seja, defendia que era a saída do útero materno que conferia direito a viver. Seguindo este imbecil raciocínio, na "ética Dawkins", seria legítimo dar uma injecção fatal no coração da criança de nove meses, prestes a nascer. Segundo esta lógica profundamente errada, estar para lá ou para cá do útero parece ter qualquer tipo de significado ético.
O aborto é, sem dúvida, a maior ameaça à paz mundial. Porque se permitimos que se matem inocentes, invocando apenas as tristes razões do nosso conforto ou da nossa subsistência económica (oferecendo os Estados às mães em dificuldades a "solução final" para os seus filhos), se achamos bem que se destruam vidas humanas inocentes, que nem sequer tiveram a possibilidade de errar nesta vida, então o Mal está realmente à solta, e não há razão para imaginar que poderemos ter Justiça para com os adultos, culpados ou inocentes, visto que a negamos aos mais pequenos e frágeis de entre nós.
Finalmente, um humilde pedido de exame de consciência para todos os católicos (que também se aplica a mim). Uma reflexão acerca de coerência e unidade. Cada vez que, perante outros amigos e familiares, católicos ou não, fazemos um comentário negativo acerca de um movimento católico, ou fazemos chacota da devoção ou piedade de outro católico, ou quando, receosos da reacção do Mundo, fingimos discordar das opções fundamentais da Igreja, estamos a fazer anti-evangelização. Damos um sinal de contradição. E contradição é erro. E ninguém quer seguir pessoas erradas.
Sempre que, enquanto católicos, professamos uma ideia anti-católica, estamos a minar a nossa coerência, e com ela, a unidade de todos os cristãos. Numa altura em que o Papa Bento XVI move todos os esforços no sentido de recuperar a unidade entre católicos e ortodoxos, convenhamos que é bem triste constatar que tantos ainda marcham no sentido contrário, em direcção à incoerência.
Peçamos a Deus a coragem para sermos coerentes e unos. Só assim poderemos anunciar Cristo ao Mundo de forma convincente.
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Procura-se: notícias sobre Carlos Morín em Portugal
Enquanto a Espanha se escandaliza perante os relatos de horror nas clínicas do mega-milionário do aborto, e as detenções se seguem em ritmo acelerado em Madrid e Barcelona, por aqui está tudo sossegadinho. Procurando na Internet, encontra-se alguma coisa no Correio da Manhã, e até no motor de pesquisa do Sapo.
Admito que possa estar a ver mal: agradeço a quem me enviar notícias portuguesas acerca da mega-operação policial à rede de "clínicas" abortivas de Carlos Morín.
O caso é tão grave que até Zapatero já pondera inserir limites na actual lei espanhola. Recorde-se que o aborto é legal em caso de "risco psíquico", e que já toda a gente sabia, há anos a fio, que os abortos eram feitos em qualquer fase da gravidez, mediante atestados de "risco psíquico" assinados em branco por (pseudo-)psiquiatras.
Espanha...
Já aqui ao lado, e no entanto, tão longe no que diz respeito à imparcial cobertura de certas notícias mais incómodas para o nosso país, ainda jovem na senda do aborto livre...
Admito que possa estar a ver mal: agradeço a quem me enviar notícias portuguesas acerca da mega-operação policial à rede de "clínicas" abortivas de Carlos Morín.
O caso é tão grave que até Zapatero já pondera inserir limites na actual lei espanhola. Recorde-se que o aborto é legal em caso de "risco psíquico", e que já toda a gente sabia, há anos a fio, que os abortos eram feitos em qualquer fase da gravidez, mediante atestados de "risco psíquico" assinados em branco por (pseudo-)psiquiatras.
Espanha...
Já aqui ao lado, e no entanto, tão longe no que diz respeito à imparcial cobertura de certas notícias mais incómodas para o nosso país, ainda jovem na senda do aborto livre...
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
A última fronteira...
... para o sinistro, perdão, ministro Correia de Campos está no Código Deontológico dos Médicos, mais concretamente no artigo n.º 47 do mesmo, que considera e bem que a prática de aborto por parte de um médico é uma "falha grave". Faz todo o sentido. Qualquer aluno de Medicina sabe a razão pela qual está a estudar: para salvar e não para matar. Daí a "falha grave". Elementar...
Mas já falta pouco para a hegemonia do aborto, para a vitória da sanha anti-ética do nosso Ministro da Saúde, que ficará na história de Portugal como uma figura de triste memória.
Mais cedo ou mais tarde (eu apostaria mais tarde), quando os excessos anti-éticos se tornarem mais notórios (podemos vê-los já aqui ao lado, em Madrid, mas mais vale calar estas coisas para não melindrarem os amigos do aborto), quando o país arregalar os olhos e olhar de frente para a miséria do crime do aborto, pode ser que a Ética volte a ser o que era no nosso país.
Por enquanto, estamos bem longe disso: no que diz respeito a experiências pseudo-éticas no campo do aborto livre, Portugal ainda é jovem, ainda tem muito para testar e ensaiar em termos ideológicos. Só agora estamos a viver o nosso "Roe vs. Wade", trinta anos depois dos americanos, e caramba, temos direito a isso! Não é, senhor ministro?
Assim, Correia de Campos sabe bem que só falta uma coisa depois de enganada a opinião pública no último referendo. Convencer o português a votar "SIM" ao aborto foi fácil. Mesmo com imensa abstenção, a propaganda funcionou perfeitamente. Com enorme tranquilidade, a reboque de uma pretensa eliminação da penalização do aborto, ei-lo agora legalizado e liberalizado.
O aparato está montado. Numa boa. As mortes já são conduzidas nas melhores condições de higiene e de tranquilidade. Apoio psicológico, ar perfumado, luz ambiente suave, lençóis lavados, até existirá música "new age" relaxante. Matar já não custa. O Estado até subsidia a "cura" para este novo tipo de doença chamado "gravidez".
Mas ainda falta uma coisinha na mente maquiavélica de Correia de Campos: aqueles chatos dos médicos, que passam quase uma década a instruirem-se para salvar vidas humanas. E não é bem chato ter que convencer um profissional da saúde a matar pessoas em vez de as salvar? É complicada a argumentação. Aquela maçada da "objecção de consciência" não vem nada a calhar, sobretudo quando o Código Deontológico ainda insiste na "falha grave" do aborto...
Para alcançar o "paraíso abortivo Correia de Campos", há que transformar os médicos objectores numa minoria de fanáticos ultra-conservadores. E só há uma forma de o conseguir: mudar a ética. Mudar o Código.
O leitor mais atento interroga-se:
"mas faz sentido que a lei condicione a ética?"
Não, não faz.
"não deveria ser ao contrário?"
Pois deveria.
Há leis que não são éticas (como a actual lei do aborto). Como algumas leis raciais e eugénicas do Terceiro Reich, que eram leis "legais" (passe o pleonasmo) e nada éticas.
O que é ético, por sua vez, deve ser legal.
Já o que não é ético pode ou não ser ilegal, dependendo do contexto e da gravidade.
Um exemplo simples: mentir não é ético. Todos concordamos.
Se eu mentir num café, numa conversa de amigos, inflamando os meus dotes de pescador, isso não é ético, mas é perfeitamente legal.
Se eu mentir num Tribunal, continua a não ser ético, mas lá se vai o legal.
Mas o ético está lá, sempre a servir de referência. Mentir é feio. E o povo entende bem isto, porque é brutalmente simples. Não é preciso ter um curso de Filosofia ou de Ética Aplicada para entender que mentir é feio. Como matar é feio. Não é ético aquilo que não se deve fazer. Abortar é algo que não se deve fazer. Porque é matar. Não é ético. Ponto final.
Já ser legal ou não depende da lei, dos desvarios dos políticos, e da eficácia da sua propaganda ideológica junto das massas votantes.
O que Correia de Campos quer, e vai conseguir, é alterar o certo ou errado na deontologia médica graças à nova lei. Ou seja, a partir da vitória da sua lei iníqua abortiva, o senhor ministro quer transformar o errado (abortar) em certo. Porque mudar um Código Deontológico é, afinal, mexer no certo e no errado. Deturpar a ética dos médicos é a última fronteira para se estabelecer a hegemonia abortista de Correia de Campos.
Poderíamos discorrer sobre o "quero, posso e mando" do senhor ministro. Sobre o seu autoritarismo e prepotência.
Poderíamos interrogar-nos se tais impulsos ideológicos não serão manifestações tardias de alguns fantasmas gonçalvistas à solta no escuro armário da sua psique.
Mas a melhor interrogação é esta: que raio faz um ministro, um político, a tentar mexer no Código Deontológico de uma classe eminentemente técnica e competente com a dos médicos?
E não parece uma suprema estupidez querer mudar, por razões políticas, uma deontologia mais de duas vezes milenar, que remonta a Hipócrates, que já advogava que o médico não serve para matar mas sim para preservar o vivos?
De facto é uma suprema estupidez. Correia de Campos quer agora corrigir Hipócrates. Afinal, sinais dos tempos! É o progresso! O certo passa a errado e o errado passa a certo! Já não é o certo e o errado que definem aquilo que é legal ou não. Já não é a Lei que emana da Ética, mas sim a Ética que passa agora a ser escrava da Lei.
Enfim, o clássico caminho satânico da tirania e do mal puro, essa estrada que tantos políticos ainda insistem em trilhar, como flautistas a encaminhar uma imensa sociedade indiferente ou confusa em direcção ao abismo...
E para quem ainda deposita esperanças em Pedro Nunes, no actual bastonário da Ordem dos Médicos, é melhor não investir muito nelas. Infelizmente, Pedro Nunes, opondo-se a Correia de Campos, não está numa sólida posição ética: opõe-se à alteração do código deontológico, mas dá uma má razão, ao afirmar que os médicos não estão contra o aborto, apenas querem alguma liberdade de objecção de consciência. Ao usar este tipo de argumentação, Pedro Nunes não parte de uma posição eticamente sólida. Logo, vai ser derrotado. E, nas próximas eleições para a Ordem, já parte em desvantagem. É o único dos três candidatos que se opõe à alteração.
Os outros dois candidatos também faltaram às aulas de Ética: Miguel Leão, perante o choque entre o Código Deontológico e a Lei do Aborto já decidiu qual vai ter que ir à vida. O Código, claro:
Ainda bem que Miguel Leão está "à vontade". No bom espírito relativista, Miguel Leão lavou as suas mãos ao votar "Não" e não tem qualquer preocupação com as chatices do "certo" e do "errado": isso de debater o certo ou errado do aborto só dá amargos de boca. Mais vale alterar o artigozito que chateia o ministro! Bravo...
Vejamos o outro candidato, Carlos Santos, que também não entende que a Ética vem antes da Lei:
Este caso é mais chocante: Carlos Santos chegou à idade adulta, com formação universitária numa das áreas mais exigentes em termos intelectuais, sem que lhe explicassem que a Ética precede a Lei!
Com estes "opositores", Correia de Campos tem razões de sobra para sorrir...
Mas já falta pouco para a hegemonia do aborto, para a vitória da sanha anti-ética do nosso Ministro da Saúde, que ficará na história de Portugal como uma figura de triste memória.
Mais cedo ou mais tarde (eu apostaria mais tarde), quando os excessos anti-éticos se tornarem mais notórios (podemos vê-los já aqui ao lado, em Madrid, mas mais vale calar estas coisas para não melindrarem os amigos do aborto), quando o país arregalar os olhos e olhar de frente para a miséria do crime do aborto, pode ser que a Ética volte a ser o que era no nosso país.
Por enquanto, estamos bem longe disso: no que diz respeito a experiências pseudo-éticas no campo do aborto livre, Portugal ainda é jovem, ainda tem muito para testar e ensaiar em termos ideológicos. Só agora estamos a viver o nosso "Roe vs. Wade", trinta anos depois dos americanos, e caramba, temos direito a isso! Não é, senhor ministro?
Assim, Correia de Campos sabe bem que só falta uma coisa depois de enganada a opinião pública no último referendo. Convencer o português a votar "SIM" ao aborto foi fácil. Mesmo com imensa abstenção, a propaganda funcionou perfeitamente. Com enorme tranquilidade, a reboque de uma pretensa eliminação da penalização do aborto, ei-lo agora legalizado e liberalizado.
O aparato está montado. Numa boa. As mortes já são conduzidas nas melhores condições de higiene e de tranquilidade. Apoio psicológico, ar perfumado, luz ambiente suave, lençóis lavados, até existirá música "new age" relaxante. Matar já não custa. O Estado até subsidia a "cura" para este novo tipo de doença chamado "gravidez".
Mas ainda falta uma coisinha na mente maquiavélica de Correia de Campos: aqueles chatos dos médicos, que passam quase uma década a instruirem-se para salvar vidas humanas. E não é bem chato ter que convencer um profissional da saúde a matar pessoas em vez de as salvar? É complicada a argumentação. Aquela maçada da "objecção de consciência" não vem nada a calhar, sobretudo quando o Código Deontológico ainda insiste na "falha grave" do aborto...
Para alcançar o "paraíso abortivo Correia de Campos", há que transformar os médicos objectores numa minoria de fanáticos ultra-conservadores. E só há uma forma de o conseguir: mudar a ética. Mudar o Código.
O leitor mais atento interroga-se:
"mas faz sentido que a lei condicione a ética?"
Não, não faz.
"não deveria ser ao contrário?"
Pois deveria.
Há leis que não são éticas (como a actual lei do aborto). Como algumas leis raciais e eugénicas do Terceiro Reich, que eram leis "legais" (passe o pleonasmo) e nada éticas.
O que é ético, por sua vez, deve ser legal.
Já o que não é ético pode ou não ser ilegal, dependendo do contexto e da gravidade.
Um exemplo simples: mentir não é ético. Todos concordamos.
Se eu mentir num café, numa conversa de amigos, inflamando os meus dotes de pescador, isso não é ético, mas é perfeitamente legal.
Se eu mentir num Tribunal, continua a não ser ético, mas lá se vai o legal.
Mas o ético está lá, sempre a servir de referência. Mentir é feio. E o povo entende bem isto, porque é brutalmente simples. Não é preciso ter um curso de Filosofia ou de Ética Aplicada para entender que mentir é feio. Como matar é feio. Não é ético aquilo que não se deve fazer. Abortar é algo que não se deve fazer. Porque é matar. Não é ético. Ponto final.
Já ser legal ou não depende da lei, dos desvarios dos políticos, e da eficácia da sua propaganda ideológica junto das massas votantes.
O que Correia de Campos quer, e vai conseguir, é alterar o certo ou errado na deontologia médica graças à nova lei. Ou seja, a partir da vitória da sua lei iníqua abortiva, o senhor ministro quer transformar o errado (abortar) em certo. Porque mudar um Código Deontológico é, afinal, mexer no certo e no errado. Deturpar a ética dos médicos é a última fronteira para se estabelecer a hegemonia abortista de Correia de Campos.
Poderíamos discorrer sobre o "quero, posso e mando" do senhor ministro. Sobre o seu autoritarismo e prepotência.
Poderíamos interrogar-nos se tais impulsos ideológicos não serão manifestações tardias de alguns fantasmas gonçalvistas à solta no escuro armário da sua psique.
Mas a melhor interrogação é esta: que raio faz um ministro, um político, a tentar mexer no Código Deontológico de uma classe eminentemente técnica e competente com a dos médicos?
E não parece uma suprema estupidez querer mudar, por razões políticas, uma deontologia mais de duas vezes milenar, que remonta a Hipócrates, que já advogava que o médico não serve para matar mas sim para preservar o vivos?
De facto é uma suprema estupidez. Correia de Campos quer agora corrigir Hipócrates. Afinal, sinais dos tempos! É o progresso! O certo passa a errado e o errado passa a certo! Já não é o certo e o errado que definem aquilo que é legal ou não. Já não é a Lei que emana da Ética, mas sim a Ética que passa agora a ser escrava da Lei.
Enfim, o clássico caminho satânico da tirania e do mal puro, essa estrada que tantos políticos ainda insistem em trilhar, como flautistas a encaminhar uma imensa sociedade indiferente ou confusa em direcção ao abismo...
E para quem ainda deposita esperanças em Pedro Nunes, no actual bastonário da Ordem dos Médicos, é melhor não investir muito nelas. Infelizmente, Pedro Nunes, opondo-se a Correia de Campos, não está numa sólida posição ética: opõe-se à alteração do código deontológico, mas dá uma má razão, ao afirmar que os médicos não estão contra o aborto, apenas querem alguma liberdade de objecção de consciência. Ao usar este tipo de argumentação, Pedro Nunes não parte de uma posição eticamente sólida. Logo, vai ser derrotado. E, nas próximas eleições para a Ordem, já parte em desvantagem. É o único dos três candidatos que se opõe à alteração.
Os outros dois candidatos também faltaram às aulas de Ética: Miguel Leão, perante o choque entre o Código Deontológico e a Lei do Aborto já decidiu qual vai ter que ir à vida. O Código, claro:
"Face à questão jurídica, o código deontológico deve ser revisto porque vai ao arrepio da legislação. E eu estou à-vontade, porque votei `não` no referendo", declarou à agência Lusa o candidato às eleições de 12 de Dezembro Miguel Leão.
"Não quer dizer que a Ordem não possa ter recomendações éticas que sejam contrárias à legislação do país, mas defendo que há uma contradição que deve ser resolvida", considerou.
Ainda bem que Miguel Leão está "à vontade". No bom espírito relativista, Miguel Leão lavou as suas mãos ao votar "Não" e não tem qualquer preocupação com as chatices do "certo" e do "errado": isso de debater o certo ou errado do aborto só dá amargos de boca. Mais vale alterar o artigozito que chateia o ministro! Bravo...
Vejamos o outro candidato, Carlos Santos, que também não entende que a Ética vem antes da Lei:
Também o candidato Carlos Santos considera que "o código deontológico da Ordem dos Médicos tem de respeitar a legislação actual", ao mesmo tempo que defende que podem haver recomendações éticas "para o caso de os profissionais não quererem realizar determinada intervenção".
Este caso é mais chocante: Carlos Santos chegou à idade adulta, com formação universitária numa das áreas mais exigentes em termos intelectuais, sem que lhe explicassem que a Ética precede a Lei!
Com estes "opositores", Correia de Campos tem razões de sobra para sorrir...
quarta-feira, 5 de dezembro de 2007
"Meu amigo Judas"?
É mais um exemplo paradigmático. Se não fosse o aviso de um amigo (obrigado, Henrique Leitão!), eu não teria sabido disto.
Saiu a 1 de Dezembro, no New York Times, um artigo de April D. DeConick que dá conta de erros graves presentes no trabalho efectuado pela National Geographic, em 2006, sobre o dito "Evangelho de Judas".
Todo este assunto é um imenso novelo de erros polemizados e difundidos para provocar sensação mediática... O tratamento da questão tem sido sistematicamente mal feito, em virtude do desconhecimento dos jornalistas que o abordam.
Judas não escreveu este texto
O texto data de uns poucos séculos depois de Cristo e de Judas. Este último estaria já reduzido a ossadas quando uma comunidade gnóstica o escreveu e usou.
Este não é um texto cristão
Pode-se afirmar, não sem alguma cautela, que os textos gnósticos são de "inspiração" cristã. Mas apenas porque tais textos usam a figura de Cristo para a colocarem a afirmar coisas que nunca afirmou. Para dominar e compreender o universo doutrinal dos gnósticos, é preciso todo um vocabulário complexo e específico destas doutrinas: "pleroma", "demiurgo", "arconte", etc... O gnosticismo é uma religião totalmente diferente da de Cristo. Mostra-nos um mundo mau, criação de um maligno demiurgo. Ensina-nos que as almas estão presas aos grilhões desta vida maligna, e que só a morte é a libertação da alma em direcção ao Pleroma. O gnosticismo demoniza a existência terrena. Despreza-a. Demoniza a procriação, demoniza a natureza, demoniza a vida humana em todos os seus aspectos: é uma radical "fuga espiritual", mas equivocada porque baseada na ideia errada de que a Criação é obra demoníaca. Quando os gnósticos escreveram textos nos quais colocavam na boca de Cristo frases que Ele nunca poderia ter proferido, podemos falar tangencialmente de uma religião de inspiração cristã, mas nunca de uma religião cristã. Porque Cristo não ensinou a doutrina gnóstica (nem sequer existia no Seu tempo).
O texto não foi bem interpretado
Esta é a parte que constitui alguma novidade, e que é abordada pelo citado artigo no New York Times. Afinal, parece que a tradução "oficial" estava mal feita, e que se saltou precipitadamente para a conclusão de que Judas seria o "bom da fita". Uma das confusões mais graves da equipa da National Geographic seria a de não entender que, em grego, "daimon" tem uma conotação negativa, e que não pode ser traduzido para "espírito", pois para tal termo existe o grego "pneuma". Ao que parece, o dito "Evangelho de Judas", afinal, refere-se a Judas como um demónio!
Eventuais louvores a Judas não são estranhos neste contexto
Mesmo vendo Judas como um "daimon", como um colaborador do Mal, não é de estranhar que o grupo gnóstico cainita que escreveu este texto o visse, de alguma forma, como uma figura essencial no plano salvífico gnóstico. É que este grupo gnóstico tinha a particularidade de ver os "maus da fita", os agentes do Mal, como figuras-chave na vitória do Bem, porque as via como necessárias e indispensáveis na grande luta cósmica gnóstica entre as duas forças. O epíteto "cainita" atribuído a este grupo vem do facto de que tinham Caim em alta estima, bem como outras figuras que o judaísmo e o cristianismo consideram como más. Para o cristianismo, o Mal não é necessário nem indispensável. O Mal, no cristianismo, é uma consequência indesejada por Deus da liberdade da Criação (essa sim, desejada por Deus).
Por tudo isto, é necessária muita precaução ao analisar um texto tão antigo como este. Trata-se de uma genuína peça arqueológica de valor inestimável. Diz-nos pouco sobre o cristianismo (o de tradição apostólica, o que deriva dos ensinamentos de Cristo), mas diz-nos muito sobre os grupos heréticos gnósticos que abundavam nos primeiros séculos da nossa era, fruto do ímpeto que muitos sentiram em fazer uma fusão sincrética entre um neo-platonismo pouco consistente e uma interpretação deturpada do cristianismo emergente, inserindo ainda no caldeirão gnóstico muitas outras crenças antigas do Médio Oriente.
Vejamos um excerto do artigo:
Vale a pena ler até ao fim. Porque, com grande probabilidade, não vai encontrar este tema tratado nos media nacionais.
É pena que, como sempre, o desmascarar das burlas seja silenciado nos media. O que vende jornais e revistas, o que preenche aberturas de noticiários, é o revisionismo anti-cristão. Informar que a National Geographic errou ou mentiu, isso já não tem interesse nenhum...
O uso do termo "mentiu" não me parece excessivo: duvido que os tradutores que fizeram parte da equipa não soubessem grego ou copta. São as suas ferramentas de trabalho. Seria como imaginar que um engenheiro civil, encarregue de uma obra de grande envergadura, não soubesse trigonometria elementar...
Saiu a 1 de Dezembro, no New York Times, um artigo de April D. DeConick que dá conta de erros graves presentes no trabalho efectuado pela National Geographic, em 2006, sobre o dito "Evangelho de Judas".
Todo este assunto é um imenso novelo de erros polemizados e difundidos para provocar sensação mediática... O tratamento da questão tem sido sistematicamente mal feito, em virtude do desconhecimento dos jornalistas que o abordam.
Judas não escreveu este texto
O texto data de uns poucos séculos depois de Cristo e de Judas. Este último estaria já reduzido a ossadas quando uma comunidade gnóstica o escreveu e usou.
Este não é um texto cristão
Pode-se afirmar, não sem alguma cautela, que os textos gnósticos são de "inspiração" cristã. Mas apenas porque tais textos usam a figura de Cristo para a colocarem a afirmar coisas que nunca afirmou. Para dominar e compreender o universo doutrinal dos gnósticos, é preciso todo um vocabulário complexo e específico destas doutrinas: "pleroma", "demiurgo", "arconte", etc... O gnosticismo é uma religião totalmente diferente da de Cristo. Mostra-nos um mundo mau, criação de um maligno demiurgo. Ensina-nos que as almas estão presas aos grilhões desta vida maligna, e que só a morte é a libertação da alma em direcção ao Pleroma. O gnosticismo demoniza a existência terrena. Despreza-a. Demoniza a procriação, demoniza a natureza, demoniza a vida humana em todos os seus aspectos: é uma radical "fuga espiritual", mas equivocada porque baseada na ideia errada de que a Criação é obra demoníaca. Quando os gnósticos escreveram textos nos quais colocavam na boca de Cristo frases que Ele nunca poderia ter proferido, podemos falar tangencialmente de uma religião de inspiração cristã, mas nunca de uma religião cristã. Porque Cristo não ensinou a doutrina gnóstica (nem sequer existia no Seu tempo).
O texto não foi bem interpretado
Esta é a parte que constitui alguma novidade, e que é abordada pelo citado artigo no New York Times. Afinal, parece que a tradução "oficial" estava mal feita, e que se saltou precipitadamente para a conclusão de que Judas seria o "bom da fita". Uma das confusões mais graves da equipa da National Geographic seria a de não entender que, em grego, "daimon" tem uma conotação negativa, e que não pode ser traduzido para "espírito", pois para tal termo existe o grego "pneuma". Ao que parece, o dito "Evangelho de Judas", afinal, refere-se a Judas como um demónio!
Eventuais louvores a Judas não são estranhos neste contexto
Mesmo vendo Judas como um "daimon", como um colaborador do Mal, não é de estranhar que o grupo gnóstico cainita que escreveu este texto o visse, de alguma forma, como uma figura essencial no plano salvífico gnóstico. É que este grupo gnóstico tinha a particularidade de ver os "maus da fita", os agentes do Mal, como figuras-chave na vitória do Bem, porque as via como necessárias e indispensáveis na grande luta cósmica gnóstica entre as duas forças. O epíteto "cainita" atribuído a este grupo vem do facto de que tinham Caim em alta estima, bem como outras figuras que o judaísmo e o cristianismo consideram como más. Para o cristianismo, o Mal não é necessário nem indispensável. O Mal, no cristianismo, é uma consequência indesejada por Deus da liberdade da Criação (essa sim, desejada por Deus).
Por tudo isto, é necessária muita precaução ao analisar um texto tão antigo como este. Trata-se de uma genuína peça arqueológica de valor inestimável. Diz-nos pouco sobre o cristianismo (o de tradição apostólica, o que deriva dos ensinamentos de Cristo), mas diz-nos muito sobre os grupos heréticos gnósticos que abundavam nos primeiros séculos da nossa era, fruto do ímpeto que muitos sentiram em fazer uma fusão sincrética entre um neo-platonismo pouco consistente e uma interpretação deturpada do cristianismo emergente, inserindo ainda no caldeirão gnóstico muitas outras crenças antigas do Médio Oriente.
Vejamos um excerto do artigo:
The shocker: Judas didn’t betray Jesus. Instead, Jesus asked Judas, his most trusted and beloved disciple, to hand him over to be killed. Judas’s reward? Ascent to heaven and exaltation above the other disciples.
It was a great story. Unfortunately, after re-translating the society’s transcription of the Coptic text, I have found that the actual meaning is vastly different. While National Geographic’s translation supported the provocative interpretation of Judas as a hero, a more careful reading makes clear that Judas is not only no hero, he is a demon.
Several of the translation choices made by the society’s scholars fall well outside the commonly accepted practices in the field. For example, in one instance the National Geographic transcription refers to Judas as a “daimon,” which the society’s experts have translated as “spirit.” Actually, the universally accepted word for “spirit” is “pneuma ” — in Gnostic literature “daimon” is always taken to mean “demon.”
Vale a pena ler até ao fim. Porque, com grande probabilidade, não vai encontrar este tema tratado nos media nacionais.
É pena que, como sempre, o desmascarar das burlas seja silenciado nos media. O que vende jornais e revistas, o que preenche aberturas de noticiários, é o revisionismo anti-cristão. Informar que a National Geographic errou ou mentiu, isso já não tem interesse nenhum...
O uso do termo "mentiu" não me parece excessivo: duvido que os tradutores que fizeram parte da equipa não soubessem grego ou copta. São as suas ferramentas de trabalho. Seria como imaginar que um engenheiro civil, encarregue de uma obra de grande envergadura, não soubesse trigonometria elementar...
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