A pedofilia na Igreja Católica
Já é uma situação muito estranha para um católico ter que criticar outros católicos para defender a Igreja Católica de ataques vis. É ainda mais estranha a situação de se ter que criticar um padre para defender a Igreja.
Consciente dessa situação estranha, queria destacar e criticar algumas afirmações do Padre Anselmo Borges, no artigo acima referido:
«Na semana passada, fui abordado por vários jornalistas sobre a calamidade dos padres pedófilos. Que achava?»
O artigo começa com esta frase...
Surge na minha cabeça uma pergunta imediata: porque abordam os jornalistas o Padre Anselmo Borges para lhe pedir a sua opinião? Acaso é ele dignitário da Igreja? Acaso representa ele a Igreja Católica em Portugal? Então porque razão há este fascínio do jornalista pelo Padre Anselmo Borges?
O próprio deveria fazer a si mesmo essa pergunta, e interrogar-se acerca do que fará dele uma pessoa interessante para ser entrevistada por um jornalista acerca de temas polémicos relacionados com a Igreja...
Regra geral, devo admitir que este artigo do Padre Anselmo Borges não tem tanta matéria criticável como outros textos seus. Mas mesmo assim...
«Mas, aqui, há quem pergunte se não foram ignoradas as responsabilidades do Vaticano nestes erros e silêncios.»
Pelos vistos, o próprio Padre Anselmo Borges também pergunta! Mas não dá a resposta. É pena: deixa a insinuação no ar, sem a defender ou refutar, e passa ao ponto seguinte. E a certa altura, rebenta a bomba:
«Até há pouco tempo, a Igreja pensou que era a guardiã da moral e queria impor os seus preceitos a todos, servindo-se inclusivamente do braço secular, ao mesmo tempo que se julgava imune à crítica.»
Esta frase poderia ter sido escrita pelo Afonso Costa, a figura-chave do anticlericalismo do início do século XX. Mas não: é uma frase escrita por um padre, por um sacerdote de Jesus Cristo.
A frase merece ser desmontada, para melhor a entendermos: o que me choca, realmente, é o Padre Anselmo Borges duvidar de que a Igreja Católica seja a guardiã da moral, da moral de Deus, incarnado em Jesus Cristo. Isso é que me choca, e chocará qualquer católico. Evidentemente, o que logo se segue é pacífico: toda a gente hoje em dia acha mal que a Igreja tivesse imposto, por vezes, a sua vontade pela força. Isso não se contesta. O que já é um erro histórico do Padre Anselmo Borges é, logo a seguir, ele achar que a Igreja se serviu "do braço secular", fazendo disso uma regra, quando na realidade, a História prova quantas inúmeras vezes o dito braço secular se serviu da Igreja para o que bem lhe apeteceu.
Depois, vem isto:
«A Igreja tem dificuldade em lidar com a nova situação, mas, de qualquer modo, tendo sido tão moralista no domínio sexual, tem agora de confrontar-se com este tsunami, que exige uma verdadeira conversão e até refundação, no sentido de voltar ao fundamento, que é o Evangelho.»
É espantoso ver um Padre católico a dizer que alguém é demasiado "moralista", como se defender a Moral fosse algo que tivesse um limite superior que implicasse perda de dignidade: como se alguém que defendesse a Moral para lá daquilo que a "vox populi" considera razoável, esse alguém tivesse que ser um maldito de um "moralista".
Francamente...
E o parágrafo termina com uma afirmação inacreditável: o Padre Anselmo Borges sugere à sua Igreja que volte "ao fundamento, que é o Evangelho". É caso para perguntar: de que Igreja fala Anselmo Borges?
Finalmente, Anselmo Borges termina com aquela que, pelos vistos, parece ter sido a sua motivação para escrever o artigo:
«Em todo o caso, será necessário pensar na rápida revogação da lei do celibato. Aliás, a Igreja não pode impor como lei o que Jesus entregou à liberdade. Enquanto se mantiver o celibato como lei, a Igreja continuará debaixo do fogo da suspeita.»
Neste parágrafo, está uma ofensa, talvez involuntária, a todos os sacerdotes: Anselmo Borges, na prática, está a sugerir que os homens que escolhem o sacerdócio não fazem uma escolha livre. Por outro lado, também entristece ver um padre tão preocupado com o "fogo da suspeita", tão amedrontado das vozes do Mundo...
Mas por detrás deste artigo, esconde-se algo de mais profundo.
É que os teólogos dissidentes padecem de uma tentação à qual cedem facilmente: orientam tudo em função da dissidência. Eles querem a revolução doutrinal, querem o "direito" a abortar, o "direito" ao divórcio, o "direito" à homossexualidade, o "direito" à contracepção artificial, o "direito" à ordenação das mulheres, o "direito" ao sexo antes (e fora) do casamento, o "direito" ao casamento dos sacerdotes. Defendem estes "direitos" todos, e não se cansam de os defenderem, mesmo quando para tal é preciso explorar, consciente ou inconscientemente, as misérias da humanidade.
Gary Wills, John Corwnell, e outros ex-seminaristas exploraram e alinharam nas "lendas negras" contra Pio XII só para poderem promover a sua agenda dissidente. Anselmo Borges aparece aqui na triste figura de quem está, na prática, a explorar mediaticamente estes casos de crimes de abuso sexual contra menores para promover a sua agenda dissidente.
É que é uma dupla tragédia: por um lado, ele não se dá conta de que a campanha mediática é contra o Papa e contra tudo o que a Igreja representa. E em vez de defender a sua Igreja (naquilo que se pode defender, entenda-se), alinha em muita da injustiça das críticas anticatólicas. Mas por outro lado, aproveita-se do caso mediático para usar os microfones, os jornais e os "sites" na Internet para promover o seu "catolicismo" dissidente.
Deveria ter vergonha!
3 comentários:
Surge a pergunta: qual é a motivação de um padre assim para não quebrar o celibato, e fazer tudo o que lhe apetece?
João,
É caso para perguntar, justamente, e com alguma tristeza, onde é que ainda estará o padre por debaixo da "pele" do Anselmo Borges...
O sacramento ainda estará lá, mas hoje em dia mal se vê.
Um abraço
O Padre Anselmo Borges, faz-me lembrar esta passagem.
«Ilusão das ilusões - disse Qohélet - ilusão das ilusões: tudo é ilusão.» Ecl 1,2
Abraço amigo em Cristo
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