Os meus últimos textos sobre o Diabo e sobre os fenómenos demoníacos atraíram a atenção do Ludwig, que dedicou um “post” à questão.
Antes de irmos a esse “post”, uma curta introdução: escrevi esses textos sobre o Diabo, pelas mesmas razões que escrevi outros dedicados ao mesmo tema, e que se encontram no passado deste blogue, sob a etiqueta "Diabo".
Os textos destinam-se a cristãos (mas gosto sempre de ser lido por não cristãos), e as razões são simples: recordar aos cristãos do meu tempo a importância destes aspectos da doutrina, e se o faço é porque me parece importante frisar que eles nunca foram abandonados: há quem pense que sim! O Magistério da Igreja Católica nunca, em momento algum, abandonou a doutrina acerca dos anjos e dos demónios, e em particular, a existência real do Diabo e a sua influência na Criação, e mais especificamente na vida humana, desde o Pecado Original até aos nossos dias (veja-se, como exemplo recente do Magistério, datando de 1985, a instrução sobre o Exorcismo, da Congregação para a Doutrina da Fé). Jesus Cristo menciona o Diabo várias vezes, e a dada altura é mesmo tentado pelo dito. Cristo pratica exorcismos vários. Na oração que Ele ensina aos seus discípulos, o Pai Nosso, a última petição diz assim: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal”. Nunca esta última palavra “Mal” foi interpretada com sendo alegórica ou figurativa. No tempo de Jesus, ninguém duvidaria de que a expressão final era para interpretar como sinónima de “… mas livrai-nos do Maligno”.
Então porquê recordar o que todo o cristão deveria conhecer? É que o materialismo, uma das mais atraentes modas filosóficas contemporâneas, é como a água mole, e faz furos até em pedra dura. Essa doutrina filosófica, mesmo desprovida de fundamento racional, tem vindo a corroer a visão cristã do Mundo. Não são só os não crentes que aderem a ela. Hoje em dia, inúmeros cristãos, alguns mesmo sacerdotes, estão sob o jugo do erro materialista e aderiram à visão redutora que essa filosofia implica. Desse modo, surgem, no nosso tempo, e pela primeira vez na História da Igreja, cristãos que interpretam o Diabo metaforicamente e que não acreditam na realidade dos fenómenos demoníacos!
É então por estas razões que tenho vindo a recordar estes aspectos da doutrina católica. Há quem diga que a crença na existência do Diabo e nos fenómenos demoníacos nos faz parecer ridículos aos olhos do Mundo, e que somos gozados por isso. Ora essa afirmação é espantosa: que outra coisa é o cristianismo senão algo que nos faz parecer ridículos aos olhos do Mundo? Dar a outra face? Amar o inimigo? Morrer pelo outro? Um Deus que Se fez Homem e que Se deixou morrer na cruz para resgatar os pecados da Humanidade? Ao pé destas ideias loucas e radicais, convenhamos que a da existência do Diabo é coisinha pouca.
Tenho sincera pena de todo o cristão que não acredita no Diabo por recear ser gozado pelo Mundo. Provavelmente, esse cristão não acredita no Diabo porque a sua fé se deteriorou e adquiriu um sabor materialista, e o receio do ridículo é só algo que se acrescenta ao materialismo. Já o cristão que entende e vê a doutrina cristã como um todo, quando confrontado com a incompreensão e com a sátira de quem não partilha da mesma fé, que pode fazer? Quando se sabe que algo é verdadeiro, e se é alvo da chacota de quem ainda não chegou lá, que fazer? Podemos encolher os ombros e não fazer nada (atitude pouco cristã), ou então insistir na pertinência e na verdade da doutrina que defendemos.
Mas insisto que é pura tontice um cristão temer contrariar a opinião dos não cristãos. Se teme isso, então está na religião errada, e encontra no imenso espectro das religiões do Mundo uma série de doutrinas que são muito mais “religiosamente correctas” para a ortodoxia contemporânea. No imenso supermercado das multiformes crenças, há toda uma panóplia de tretas de aspecto moderno como a Meditação Transcendental, o Teosofismo, a Cientologia, ou mesmo a mixórdia de meditação e física quântica do Deepak Chopra. Até se pode criar uma fé pessoal que seja um “mix” de várias doutrinas heteróclitas! Monta-se uma fé ao gosto do freguês, e nada melhor para receber os louvores dos nossos pares, e para estarmos alinhados com as telenovelas, as revistas “light” e os romances de Verão.
No entanto, é claro que o cristão sério não quer nada disto, e encara o seu cristianismo como uma doutrina coerente e perfeitamente adequada à realidade, ou seja, verdadeira.
Terminada esta introdução, regressemos ao Ludwig…
Olhando para o “post” do Ludwig, não é fácil encontrar uma metodologia. Claro que o Ludwig pode ter, simplesmente, desabafado por escrito acerca desta questão, sem preocupações rigoristas ou metodológicas. Tem todo o direito. Mas se o “post” dele não apresenta argumentos substanciais contra a existência do Diabo, enquanto que faz críticas rasteirinhas aos argumentos da outra parte (criticando de forma subjectiva, fazendo chacota, equiparando coisas diferentes, minimizando a outra parte, etc.), o debate tende a ficar atolado. Também é justo se o Ludwig não considerar que existe um patamar mínimo para debater, mas eu sei que ele gosta de um bom debate.
Procurando então, na atitude subjacente ao texto do Ludwig, algo de estruturante, penso ter encontrado o que me parece ser central à sua crítica: uma atitude de desconfiança. Essa atitude é perfeitamente consistente com o materialismo do Ludwig, e não se esperava outra coisa de um materialista.
Porque o problema do Ludwig está longe de ser raro, intitulei este texto “Desconfiados do Diabo”. Deliberadamente, deixei de parte a palavra “cépticos” e preferi a palavra “desconfiados”. Convenhamos que um céptico tem sempre mais pinta, e parece mais moderno, do que um desconfiado. Facilmente, com esse tipo de malabarismos eufemísticos, o problema da desconfiança do Ludwig, originado pela sua filosofia materialista, poderia ser comutado, erradamente, numa espécie de virtude do cepticismo do Ludwig. Ora o Ludwig julga que, na raiz da sua desconfiança, está uma atitude racional, que ele confunde com atitude científica. Ora racional é tudo o que é conforme à razão, ou seja, aos ditames da lógica e do pensamento estruturado. O científico é a aplicação dessa atitude racional a tudo o que é empírico. Por definição, a Ciência não trata, nem pode tratar, de explicar fenómenos que ultrapassem a sua própria (e auto-definida) esfera de trabalho. Se uma explicação científica é sempre, por definição, uma explicação que faz uso exclusivo de causas naturais, tudo o que é sobrenatural está fora do seu âmbito.
Ora, por uma estranha patologia do pensamento, aquela cultura cristã que deu origem ao pensamento científico, que de nos deu tantos e tão bons cientistas cristãos desprovidos de preconceitos materialistas, deteriorou-se em poucos séculos apenas, e transformou-se numa subcultura de elites descrentes, tão bem satirizada pelo genial John Cleese:
Essa subcultura manteve a Ciência, mas trocou de filosofia. Trocou a filosofia cristã pela filosofia materialista. Ficou pior com a troca, porque a boa filosofia é crucial para se interpretar Ciência. E aos olhos desta filosofia degenerada, aquilo que a Ciência não trata (as realidades imateriais), simplesmente não existe. Material e real tornam-se sinónimos. Se algo realmente existe, só será reconhecido como tal se for demonstrado cientificamente, ou seja, materialmente. A refutação evidente deste erro é esta: há montes de coisas que experimentamos, e que aos olhos desta filosofia, não deveriam existir. Mas se as experimentamos, é porque existem. Por exemplo, o amor não existe para os materialistas pois não é cientificamente demonstrável. O livre arbítrio também não. Apesar de os materialistas serem capazes de amar e de usarem o seu livre arbítrio para serem materialistas. É esta a patética incoerência da filosofia materialista: ela auto-refuta-se.
Essa subcultura manteve a Ciência, mas trocou de filosofia. Trocou a filosofia cristã pela filosofia materialista. Ficou pior com a troca, porque a boa filosofia é crucial para se interpretar Ciência. E aos olhos desta filosofia degenerada, aquilo que a Ciência não trata (as realidades imateriais), simplesmente não existe. Material e real tornam-se sinónimos. Se algo realmente existe, só será reconhecido como tal se for demonstrado cientificamente, ou seja, materialmente. A refutação evidente deste erro é esta: há montes de coisas que experimentamos, e que aos olhos desta filosofia, não deveriam existir. Mas se as experimentamos, é porque existem. Por exemplo, o amor não existe para os materialistas pois não é cientificamente demonstrável. O livre arbítrio também não. Apesar de os materialistas serem capazes de amar e de usarem o seu livre arbítrio para serem materialistas. É esta a patética incoerência da filosofia materialista: ela auto-refuta-se.
É, então, nesta nova filosofia degenerada que encontra berço a ideia peregrina de que uma explicação científica (material) é equivalente, no sentido de ser o mesmo, a uma explicação racional.
- Explicação científica e explicação racional
A atitude do materialista, exemplificada na visão do Ludwig, é a de rejeitar a existência do Diabo e os fenómenos demoníacos porque não pode haver explicação científica para eles. Apenas esta última parte está correcta: essa explicação não existe nem existirá. A não ser que a Ciência passe a admitir explicações sobrenaturais, o que me parece má ideia. A Ciência chegou onde chegou porque delimitou bem o seu âmbito às causas naturais. Mas nem tudo o que pensamos de forma racional e com qualidade é raciocínio científico. Por exemplo, a Ciência nunca demonstrou, nem demonstrará, a verdade dos princípios da Lógica. Em bom rigor, a Ciência nunca demonstrou, sequer, um teorema matemático, pois os teoremas matemáticos são demonstrados por intelectos humanos, cuja essência é imaterial. Um teorema matemático não é demonstrado pela matéria, mas sim pelo intelecto. Por essa razão, todo o cientista não contaminado pelo materialismo tem a noção do papel superior (na hierarquia do conhecimento) das matemáticas, e do seu carácter imaterial e transcendente. Uma lei matemática não se “monta” com coisas materiais. Ela pode ser descoberta pela observação empírica, ou não. Mas quem descobre é sempre o intelecto, que pode, nalguns casos, fazer uso dos sentidos para obter os necessários dados empíricos. O último teorema de Fermat, recentemente demonstrado em 1995, não foi deduzido de observações empíricas. Já as leis da termodinâmica e as leis de Newton, leis da Física, surgiram pela aplicação do intelecto humano a observações empíricas. O movimento começa na indução: o cientista intui a lei científica, e depois procura refutá-la ou confirmá-la. Deduz dela previsões e compara as previsões com medições. Não parte da dedução, ou seja, fazendo surgir uma lei directamente a partir de dados empíricos. A descoberta de uma nova lei científica não nasce de um somar de dados materiais, ela é feita no intelecto e principia com uma intuição.
Mas regressemos à Matemática: ela é uma área racional do saber humano que não parte, nem se apoia, em processos materiais. Logo, as verdades matemáticas caem fora da esfera das explicações científicas.
Mas regressemos à Matemática: ela é uma área racional do saber humano que não parte, nem se apoia, em processos materiais. Logo, as verdades matemáticas caem fora da esfera das explicações científicas.
Responde o materialista: “mas hoje há computadores que demonstram teoremas matemáticos! Logo, até a matemática é material como o computador”. Pobre materialista: esses computadores não são mais do que complexos emaranhados de interruptores microscópicos, auxiliados por suportes físicos de memória: eles executam demonstrações previamente preparadas pelos respectivos programadores, e fazem-no com base em regras de sintaxe: nada sabem de semântica, e para eles, demonstrar um teorema ou montar um vídeo caseiro tem o mesmo significado. Os computadores não têm real inteligência, e trabalham graças ao engenho do intelecto humano. A real inteligência é a humana, e é imaterial. É que há certas e determinadas verdades matemáticas que o intelecto humano demonstrou serem verdadeiras, enquanto que um computador nunca o conseguirá fazer. O matemático austríaco Kurt Gödel, nos seus teoremas da incompletude, demonstrou de forma brilhante que, num sistema formal consistente, existem proposições indecidíveis com base nas regras e nos axiomas do sistemas, mas que o matemático demonstrou serem, não obstante, verdadeiras. Reflectindo filosoficamente sobre o alcance dos resultados do trabalho de Gödel, chegamos à conclusão (como o filósofo John Lucas e o físico Roger Penrose) de que o nosso intelecto não pode ser apenas um computador biológico (material) sofisticado, visto que somos capazes de atingir verdades matemáticas impossíveis de serem obtidas por formalização matemática (ou computacional). O nosso intelecto, mesmo que no futuro possa ser demonstrado como mais lento ou com menos memória quando comparado com um computador avançado, vai sempre ser capaz de ir mais longe, em termos de poder gnoseológico, que esse computador: é esta a necessária conclusão filosófica a tirar do trabalho de Gödel.
Mas regressemos às explicações racionais…
Há, também, outro tipo de explicações racionais: as explicações pessoais. Quando eu decido, a seguir ao almoço, comer um gelado, não está por detrás dessa opção nenhuma lei cósmica ou matemática. A opção livre de comer um gelado não está no âmbito da Ciência e nunca poderá estar. É uma opção livre de um intelecto livre. E é também uma opção racional: para satisfazer um desejo, toma-se a opção que o irá, realmente, satisfazer: age-se de forma estruturada e consistente com vista ao fim determinado previamente. O materialista, esse sim, refém de uma filosofia pobrezinha, tem que admitir ser escravo de umas quaisquer leis cósmicas que o levam a comer um gelado depois do almoço. Em bom rigor, o pobre do materialista é forçado, assim lhe exige a sua filosofia, a admitir que ele mesmo é materialista por causa de determinismos no seu cérebro. O materialista não tem qualquer base filosófica para afirmar que o materialismo é verdadeiro, pois afinal, tudo o que o materialista pensa, diz e faz, está determinado pela matéria.
Podíamos dar inúmeros exemplos: a convicção de que o Universo está regido por leis, convicção essa reforçada (mas nunca provada) pelas observações empíricas, nunca pode ser uma certeza: poderíamos viver num Universo “matrix”, no qual dados empíricos adulterados seriam induzidos no nosso intelecto por uma rede sofisticada de mecanismos de engano. Obviamente, ninguém no seu juízo acredita num Universo “matrix”, e este é um exemplo de convicção racional, mas não demonstrada cientificamente. Usei a palavra convicção para ser mais facilmente compreendido, mas poderia ter usado a palavra “fé”. Temos fé em como não vivemos num Universo “matrix”, como temos fé em como vivemos num Universo explicável por leis estáveis e constantes. São tipos perfeitamente racionais de fé. Aceitamo-los de forma axiomática e dogmática, não os questionamos (se quisermos manter a sanidade mental), mas não os podemos demonstrar cientificamente.
- O lugar da confiança nas explicações racionais
“Enquanto não vir, não acredito”. Este vício do intelecto, ilustrado pela conhecida história de São Tomé, que duvidava da ressurreição do Divino Mestre só porque ainda não O vira ressuscitado, é um vício de sempre. Por isso, as palavras de Cristo, “Felizes os que crêem sem terem visto” são palavras sempre úteis, e hoje em dia, quem sabe ainda mais úteis. Evidentemente, não se pede, nem se defende, que se acredite em tudo. Cristo não pede uma suspensão da razão, mas sim uma suspensão da desconfiança, quando há boas razões para tal. Deve-se, então, confiar em tudo e em todos? De forma alguma. O mesmo Cristo diz-nos para sermos “prudentes como as serpentes”. O cristianismo é sempre uma tensão entre dois pólos positivos: confiança e prudência, fé e razão, contemplação e acção, e assim por diante. Se juntarmos os dois conselhos cristãos atrás referidos, o da confiança e o da prudência, temos então a conclusão racional de que só devemos entregar a nossa confiança a quem julgamos merecê-la, e devemos ser prudentes nesse juízo.
O estilo de escrita do Ludwig passa uma mensagem de confusão: "... apesar do feitiço ser simples a bruxaria só funciona...", escreve. O Ludwig pensa que entre a demonologia dos cristãos e o professor Karamba não há grande diferença. Isso confunde tudo, pois mascara as reais e cruciais diferenças:
a) O professor Karamba cobra, e o exorcista não;
b) O professor Karamba diz que a sua pessoa tem poderes mágicos especiais, enquanto que o exorcista diz que todo o poder vem de Cristo;
c) O objectivo dos métodos do professor Karamba pode ser instrumental (ganhar dinheiro, ter sorte no amor, prever o futuro, etc.), enquanto que o objectivo do exorcista nunca é instrumental (em caso algum se faz um exorcismo se não for apenas para curar alguém de influências demoníacas);
d) A Igreja Católica, e consequentemente o exorcista, sempre condenou as práticas mágicas; para a Igreja, não há boa magia, toda a magia é má; para o professor Karamba, a magia que ele faz é boa;
e) Os métodos do professor Karamba não estão assentes numa filosofia coerente e que pretenda explicar toda a realidade, quer visível quer invisível; o exorcista assenta os seus métodos na filosofia cristã (veja-se São Tomás de Aquino), pelo que as explicações dos fenómenos demonológicos e da eficácia dos exorcismos encontram explicações racionais na filosofia e na teologia cristã, explicações que se encaixam na visão global do cristianismo;
f) O professor Karamba é um recém-chegado; o cristianismo anda nisto há 2.000 anos; os Bispos da Igreja Católica, os únicos dotados de autoridade de nomear exorcistas, conseguem traçar a sua sucessão apostólica, indicando nome a nome os seus antecessores, até aos Apóstolos e Jesus Cristo; e o professor Karamba?
g) O exorcista colabora sempre com os médicos e não interfere com o seu trabalho; o exorcista nunca trata com o exorcismo aqueles casos que são do foro psiquiátrico ou fisiológico, pois ele respeita o âmbito dos saberes científicos: ele sabe que um fenómeno psiquiátrico ou fisiológico tem causas naturais, pelo que o exorcismo nesses casos é inútil; o professor Karamba, ao invés, pretende estar na posse de uma “ciência oculta” que dispensa totalmente as ciências positivas.
E poderia elencar mais, e mais…
O Padre Amorth é o exorcista de Roma, a diocese do sucessor de Pedro. Tem aprovação e mandato directo do seu superior, o Bispo de Roma, o Papa Bento XVI. O professor Karamba mete os anúncio dos seus serviços no Destak. Para o Ludwig, tudo isto são diferenças menores, mas para outras pessoas, as diferenças são abissais.
Essas diferenças abissais permitem a qualquer cristão atribuir confiança a um exorcista, que para mais, é designado caso a caso por um Bispo. O exorcista encaixa numa hierarquia, e está sujeito a vários mecanismos de controlo interno. O professor Karamba é um “free lancer”: não tem cartas de patente, não se sabe de onde vem, ao que vem, nem para onde vai. Por tudo isto, o Padre Amorth, e os exorcistas em geral, merecem confiança. Pelo menos, muito mais confiança do que os professores Karamba desta vida.
- Duas formas diferentes de explicar os fenómenos demonológicos e a eficácia dos exorcismos
a) Para o cristão, a coisa é simples, e sempre foi simples, desde que Cristo o exemplificou: o exorcista é eficaz graças a Cristo, que realmente é o agente do exorcismo e da cura: é a Ele que os demónios temem; exorcisar, neste caso, nada mais é do que invocar Jesus Cristo para libertar alguém de influências demoníacas, ou nos casos mais graves, para libertar alguém de possessão demoníaca; o cristão não se admira quando ouve relatos de exorcismos nos quais ele não participou, pois o cristão sabe que Cristo exorcizou e que a história da Igreja está repleta de casos de exorcismo, e que eles têm explicação filosófica e teológica
b) Para o materialista, a coisa também é simples: ou os exorcistas mentem conscientemente, ou então mentem inconscientemente; ou seja, ou são aldrabões, ou são vítimas de alucinações (são loucos)
Como se vê, o materialista, neste caso o Ludwig, não explica nada. A explicação que ele nos quer dar, e que devemos supostamente aceitar, renegando a nossa fé, é uma explicação tonta, que consiste em achar que os outros é que são tontos. Curiosamente, justificaríamos então a nossa estreiteza filosófica de vistas com base em patologias atribuídas arbitrariamente a outras pessoas. É a velha máxima: “os outros é que são os malucos”.
O materialismo força o Ludwig a rejeitar uma explicação decente, só porque ela não se coaduna com a filosofia que ele decidiu adoptar, sem explicar essa opção. Pelo contrário, o cristão é muito mais sensato: em momento algum, o cristão considera impossíveis as explicações dos materialistas, pois realmente não é impossível que todos os exorcistas fossem aldrabões ou loucos, ou ambas as coisas. E a tese do Ludwig até poderia ser testada cientificamente: o detective demonstrava, caso a caso, a aldrabice dos exorcistas aldrabões, e o psiquiatra demonstrava, caso a caso, a loucura dos exorcistas loucos.
No entanto, o cristão é sensato: ele prefere uma simples explicação sobrenatural para os fenómenos demonológicos do que uma rebuscada explicação científica para os ditos. O cristão sabe que ninguém tem tempo para demonstrar a tese do Ludwig, e que nem vale a pena fazê-lo, pois é uma tese que não faz muito sentido.
À laia de síntese, o Ludwig poderia afirmar: “tu nunca viste fenómenos sobrenaturais, e por isso não devias acreditar neles, e eu só acredito neles se os vir”. Mas isso é um tiro ao lado. Eu não preciso de ver tudo o que é real, para saber o que é real. Isso é, mais uma vez, um “a priori” filosófico, o de achar que apenas o empírico, o experimentável sensorialmente, é que é real. E, caso o Ludwig, ou qualquer outro materialista, visse fenómenos sobrenaturais, caso eles acompanhassem um exorcista e o vissem em acção, de nada serviria tal experiência pessoal, se eles mantivessem a sua filosofia materialista. É que um materialista, ao ver um exorcismo, pode manter-se materialista e arranjar a sua explicação naturalista para aquilo que ele está a ver, a cheirar ou a ouvir. Neste caso, e em qualquer caso, presenciar um fenómeno natural de causa sobrenatural não é suficiente para curar um materialista desse vírus mental, pois o vírus é resistente: o materialista, de forma circular, vai dizer que aquilo que ele viu, cheirou e ouviu tem que ser explicado por causas naturais. E porquê? Porque, segundo o materialismo, só há causas naturais. E porquê? Porque, segundo o materialismo, só é real o que é demonstrado cientificamente, e como a Ciência só trabalha sobre causas naturais, não há causas sobrenaturais. E assim por diante…
Toda uma existência explicada pelo materialismo!
Grande programa, o desta filosofia da treta que se auto-refuta, pois o materialista não tem livre arbítrio para atingir a verdade sobre o que quer que seja: para o materialista coerente, o seu materialismo não é nem verdadeiro nem falso, é aquela conclusão à qual ele chega pelo labutar interno do seu cérebro, ou seja, pela actividade electroquímica dos seus neurónios, e em última análise, pelas leis da Física. O neurónio faz surgir o raciocínio científico sobre neurónios, que por sua vez, explicam o neurónio. Esta é a triste circularidade de uma filosofia que abdicou da razão livre e da procura da verdade, seja ela qual for…
20 comentários:
Quanto a considerar um exorcista ou qualquer outra pessoa que lida com o sobre-natural como louco, mentiroso ou mero farsante te muito que se lhe diga.
Obviamente que o ramo do sobrenatural é um terreno fértil para aldrabões e vigaristas. O mesmo se passa com alegações pseudo-cientificas para vender banha da cobra. Isto não implica que toda a gente que lida com ciência ou sobrenatural sejam doidos ou vigaristas.
A tradição de retirar ou afugentar espíritos prejudiciais está presente em muitas culturas. Na macumba e santeria os espíritos incorporam nos crentes e mãe de santo. Em muitas religiões africanas passa-se o mesmo. No oriente cabe também ao sacerdote chamar os espíritos benéficos e afugentar os maléficos.
Na tradição cristã o exorcismo faz parte do sistema de crenças.Assim como a bruxaria - normalmente associada a mulheres.
O exorcismo e as artes mágicas tem como fim agir sobre os espíritos conseguindo-se com a acção benefícios ou , no caso da magia, malefícios.
Os actores do acto mágico tem plena confiança no método e na obtenção de resultados. Não estão a mentir ou a simular. É normal que durante as cerimónias haja alterações do nível de consciência e percepções sem objecto.
Nada disto significa que as pessoas tenham doenças mentais ou estejam deliberadamente a enganar.
Penso que estas tradições por toda a riqueza cultural que tem são de preservar.
Deve-se, é claro, tomar a precaução de despistar doenças mentais que podem ser agravadas por estas práticas.
E o que parece não levantar dúvidas é que para muitas pessoas a macumba, a ida a uma igreja evangélica, a sessões de espiritismo ou similares confere bem estar e confiança na resolução de problemas.
Negar que as pessoas que vão a Fátima, Meca, Santiago ou a qualquer outro local de culto experimentam uma sensação de bem estar é tentar negar evidências.
O que me parece é que deveria haver algum controlo do estado sobre estas actividades para evitar abusos.
Bernardo,
«Mas se o “post” dele não apresenta argumentos substanciais contra a existência do Diabo,»
Eu não posso apresentar "argumentos substanciais" contra a existência do Diabo, nem de Hórus, nem de Zeus, nem do Pai Natal nem do Superhomem. Qualquer evidência que eu apresente como contradizendo às hipóteses destes seres existirem pode ser rejeitada como irrelevante invocando algum atributo arbitrário inventado na altura. Que o Pai Natal consegue viajar mas rápido que a luz, que o Superhomem se disfarça de jornalista, etc.
O que se pode dizer nestes casos todos é que a evidência apresentada a favor da existência destes seres é perfeitamente compatível com a hipótese alternativa, de serem mera ficção.
O Diabo pode ser uma tradição muit isto e aquilo. Mas não há nada de concreto que permita distinguir a hipótese do Diabo existir da hipótese disso ser tudo treta, teatro e fantasia.
Ludwig:
No caso dos exorcismos, na magia e no geral tudo que se relaciona com o sobre-natural não é relevante Hórus, o diabo ou Oxum existirem.
Os rituais fazem parte duma tradição e provocam nos agentes uma sensação de bem estar.
São tradições.
É absolutamente irrelevante se em Santiago de Compostela esteve ou não enterrado um dos apóstolos.
Os peregrinos sentem-se bem e isso chega.
Para uma mãe de santo Oxum é uma personagem real com determinadas características. Mais do que isso faz parte dum mundividência e dum sistema de valores.
Num sistema católico, mais conservador, do sul da Europa o diabo faz parte do processo.
Logo é errado dizer que Oxum ou o diabo não existem. São construções culturais importantes.
Ludwig,
«Eu não posso apresentar "argumentos substanciais" contra a existência do Diabo, nem de Hórus, nem de Zeus, nem do Pai Natal nem do Superhomem.»
Ou seja, a tua atitude é a do agnóstico face ao Diabo, a Hórus, a Zeus, ao Pai Natal, ao Superhomem?
Só há três posições, pela força da lógica, essa chata da lógica:
a) convicção de existência
b) convicção de inexistência
c) ausência de ambas (agnosticismo)
Só neste último caso, por força da lógica, podes esquivar-te de apresentar argumentos.
«Qualquer evidência que eu apresente como contradizendo às hipóteses destes seres existirem pode ser rejeitada como irrelevante invocando algum atributo arbitrário inventado na altura.»
Tu usas muito este espantalho: o de que os teus adversários alteram os conceitos a seu bel-prazer, para se esquivarem das tuas balas. Ainda estou para ver em que caso é que isso se aplica aos conceitos cristãos que eu defendo, e que estão bem definidos.
«O Diabo pode ser uma tradição muit isto e aquilo. Mas não há nada de concreto que permita distinguir a hipótese do Diabo existir da hipótese disso ser tudo treta, teatro e fantasia.»
Há, pelo menos, uma coisa que te recusas a admitir: se o Diabo for uma ideia auto-contraditória, ele nunca pode existir. Mostraste essa auto-contradição? E há outra coisa que não admites: que o conceito cristão de Diabo é compatível com todo o nosso conhecimento científico (positivo). Dito de outra forma, não há uma só lei da Ciência que impeça a existência de seres imateriais.
Posto isto, deverias então ter a postura prudente do agnóstico, visto teres afinal de contas a convicção de que tu não encontras argumentos bons, nem a favor, nem contra a existência do Diabo.
Devemos ficar-nos pelo agnosticismo? Se eu achasse isso, eu seria agnóstico. Toda a originalidade da experiência apostólica, que o não cristão rejeita como fantasias inventadas pelos primeiros cristãos, serve de razão forte, fortíssima, para o cristão moderno ser cristão, e para o cristão de todos os tempos ser cristão. A omnipresença, nos últimos dois mil anos, de testemunhos a favor da eficácia dos exorcismos cristãos são tidos em conta por aquelas pessoas que adoptaram a coerente cosmovisão cristã.
Tu, pelo contrário, face aos relatos, sempre existentes, e sempre novos, dos exorcismos, tens três possibilidades, todas desanimadoras para as tuas convicções:
a) convenceres-te da sua veracidade, e então, pela força da lógica, abrires a tua mente à possibilidade da verdade do cristianismo
b) arranjares uma qualquer explicação materialista da treta para os ditos fenómenos
c) afirmares-te como agnóstico
Um abraço,
Bernardo
Caro Sousa,
Não só é profundamente errado, como até quase que roça o criminoso: Sem o Diabo, que necessidade teria a plebe de Deus? Sem o fogo eterno do inferno, para amedrontar os espíritos das massas, que motivo teriam elas para continuar a acreditar em Deus? E sem Deus, que falta sentiriam as massas dos parasitas que se intitulam intermediários do divino e se alimentam dos lucros fáceis que tão lucrativa actividade gera?
No estado actual da economia, promover o Diabo, não é apenas um dever cívico, é também contribuir para a salvaguarda de milhares de postos de trabalho que na ausência de tão imaterial criatura, não lhes restaria outra alternativa que irem engrossar as filas dos centros de emprego... E uma catástrofe dessas, não podemos deixar acontecer, pois não? :)
A bem da nação...
Xiquinho,
A Igreja Católica é um negócio?
Mas ainda tem alguma dúvida, Bernardo? Qualquer religião é um grande negócio e no caso da católica, altamente rentável: ou acha que um padre (Maciel) acumular uma fortuna de 25 biliões de euros, não é negócio?
Olhe, confira aqui o que eu digo (de fonte católica, para depois não vir dizer que é propaganda dos ateus…)
http://ncronline.org/news/accountability/how-fr-maciel-built-his-empire
(e depois o Ludwig é que é o materialista, LOL )
Opps, o link acima é a segunda parte do artigo, a primeira está aqui:
http://ncronline.org/news/accountability/money-paved-way-maciels-influence-vatican
Boas leituras :)
Se depois do almoço decidires comer um gelado, só pode ser um Magnum ahah
muito giro como texto
agora, o verdadeiro espectador desfruta do que os sentidos lhe oferecem,se procura observar e escutar, se tenta prescutar a essência das coisas por detrás da inconstância das suas formas...não é um espectador nu corespund
Încercaţi din nou
é um hari ghac'q, cette terrible nouritoure lui est utile, car il mange leurs tripes pleines et s'en rassassie
Aqui discordo, o exorcista durante muito tempo até há 50 anos, raramente colaborou com os médicos e interferiu com o seu trabalho;
o exorcista tratou com o exorcismo casos que são do foro psiquiátrico ou fisiológico,e tratou-os com sucesso nalguns casos
isto é uma generalização
há um exorcista típico?
só o ortodoxo cristão faz exorcismo?
e estes têm todos a mesma formatação mental?
sabe que um fenómeno psiquiátrico ou fisiológico tem causas naturais, pelo que o exorcismo nesses.....aqui muito fraquito
dura câteva momente până când comentariul dvs. va apărea pe site,ora isto é perfeitamente claro, sobre a mentalidade do kripphal e a sua, que eu desconheço,quem seja, não é que conheça melhor o outro
mas o seu antagonista, ignora mas não censura
exorcisa os seus demónios, mas admite a dúvida
o vídeo foi melhor escolhido, que o Gödel, que o faz parecer um editor da Broteria, ou um jesuita e digo isto sem desprimor, mas é uma redução a uma realidade matemática muito restrita, é como negar a nova (por enquanto) física
e não me refiro à quântica...
O Diabo não existe. Pura invenção desses desocupados, a começar do Bernando, continuando com o Jairo e com o fake deste, chamado Banda The Second (não tinha um nome melhor?)
Por quê voces são tão idiotas a ponto de acreditarem num ser imaginário?
Luciano Henrique,
Eu, por mim, não acredito em deus, esse ser imaginário.
Caro João,
«Se depois do almoço decidires comer um gelado, só pode ser um Magnum ahah»
O Magnum é a minha desgraça. E agora há tantas variedades... ;)
Abraço
walter levin, como físico, um velho fóssil.
glórias passadas...enfim
Va dura câteva momente până Walter
sequitur
Caro Sr. Bernardo,
Como sabe, a Religião nasceu do medo. A religiosidade dos selvagens demonstra isso muito bem, ao reverenciar o trovão, não porque não saibam explicá-lo mas porque conhecem os estragos subsequentes que o raio pode causar: matar, machucar, queimar sua cabana.
Então, em uma tentativa de controlar a ameaça, desenvolve reverência por essa força intangível na esperança de evitar suas manifestações.
O medo do MAL é notável e, por isso, os primeiros esforços foram feitos no sentido de estabelecer uma relação "amigável" com os agentes do MAL, e não do BEM; simplesmente porque o BEM não causa transtornos. A demonolatria existe hoje. Está nas manchetes policiais do mundo inteiro; e vai continuar existindo até que o senso comum do homem mediano perceba ou resgate o significado das palavras e a delicada relação ontológica entre o BEM, o BOM e o BELO.
Hoje, mais do que nunca, a demonolatria, só não é mais patética porque é imensamente trágica. O demonólatra contemporâneo não tem a desculpa do primitivismo desinformado de um "tupinambá". O demonólatra da pós-modernidade, é algo entre um doente e um monstro perigoso, candidato a hóspede de cadeia ou de hospício; alguém cujo grau de humanidade está abaixo da média necessária para um ser vivo ser considerado gente.
Um abraço (cósmico)!!!
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