sexta-feira, 6 de maio de 2011

Indigência estudantil


Que Portugal não é competitivo, já se sabe. Que está em marcha uma fuga para o estrangeiro das pessoas válidas deste país, também não é novidade. Que o ensino em Portugal anda pela hora da morte também é sabido. Que, todos os anos, lotes de alunos saem do Secundário praticamente analfabetos e entram dessa forma no Ensino Superior, também é sabido. E que, no final de um curso superior terminado dificilmente e com todo o conforto financeiro e bons hábitos consumistas suportados pelos paizinhos dos estudantes, os espera o desemprego e a virtualidade de uma carreira profissional inexistente, também corresponde à nossa triste realidade.

Tudo isto já é trágico. Mas o mau pode sempre ser superado pelo péssimo. Ontem, aqui no Parque das Nações, assisti a uma cena deprimente: ao longo da Alameda dos Oceanos, junto aos vulcões de água, estavam umas largas dezenas de alunos universitários enfiados dentro de água, com penicos na cabeça. A controlar a exibição edificante estavam também umas dezenas de "veteranos", essa espécie particularmente refinada de aluno burro repetente e calaceiro que não pretende fazer nada da sua vida já fútil, e que se diverte boçalmente em montar "praxes" degradantes, que normalmente envolvem fezes, urina e depravação sexual.

Ora não pode ser coincidência que, hoje de manhã, no dia a seguir a este triste espectáculo, enquanto ia a caminho do escritório, tenha ouvido na rádio a notícia do "show" lésbico na Queima das Fitas, um "evento" organizado por estudantes (se é que se pode usar esse termo para pessoas meramente inscritas num Curso Superior) de Engenharia Mecânica do ISEP. A notícia deste triste evento pode ser lida, por exemplo, aqui. Alguns presentes testemunharam que este evento degradante é uma "tradição" de alguns destes ditos "estudantes", o que confere um tom ainda mais deprimente a tudo isto.

O ISEP é uma instituição académica de prestígio e história. Em qualquer sociedade civilizada, os organizadores e participantes deste evento eram sumariamente expulsos da Universidade. O evento é uma vergonha, não só para os ditos, mas sobretudo para aquele instituto de ensino superior.

Portugal é um país pobre e não competitivo há vários séculos. Mas era tido, e justamente, como um país de gente bem educada e bem formada. Até isso estamos a perder. A indigência estudantil é um espectáculo tristemente célebre e actual em Portugal. Basta ver como se comportam os estudantes de universidades como Oxford, Cambridge, MIT ou outras universidades conceituadas em países realmente civilizados para vermos o estado em que Portugal caiu.

Mas, do ponto de vista do aluno que participa ou promove estas fantochadas, o drama é sempre mais vivo: aqui temos jovens adultos, com mentalidade ainda infantil, sem preparação, sem cultura, sem futuro profissional, a gastar o dinheiro dos pais e do Estado em trajes académicos caros, em bebedeiras, em penicos e em "strippers".

PS: Um detalhe sinistro, mas também revelador: soube da notícia do "show" lésbico através de uma rádio indigente e imbecil que dá pelo nome de SWtmn, algo que parece ser patrocinado, ou detido, pela operadora TMN. Ora não só os jovens ignorantes locutores estavam excitados com o "show" lésbico e com esssa nobre tradição académica, como um deles rematou a notícia da seguinte forma: "curiosamente ninguém protestou contra a presença das «strippers», a não ser pessoas de batina!». Sinal preocupante, mas ilustrativo, de que o anticlericalismo primário pode facilmente andar de mãos dadas com a indigência, com a boçalidade e com a ignorância.

8 comentários:

Amilcar Fernandes disse...

Bom não é propriamente uma iniciação a maçon ou a opus dei.

Espectadores disse...

Caro Anónimo,

O seu comentário saiu tão críptico quanto o seu nome. Pode aprofundar? Isto é, se estiver interessado em que alguém reaja de forma estruturada ao seu comentário.

Amilcar Fernandes disse...

Não estou interessado. Espero que chegue.

Amilcar Fernandes disse...

Ou então para completar

Multum in parvo. Parva leves capiunt animas. Deus misereatur. Deus tecum.

Espectadores disse...

Caro Anónimo,

Obviamente não chega, senão teria respondido ao teor do seu comentário, se é que se pode dizer que ele tem teor.
Sinceramente, não faço ideia do que quis insinuar com um comentário tão vago.

Amilcar Fernandes disse...

Obviamente ainda não entendeu, nem espero que entenda. Ao menos perceba que não estou disposto a comentar os seus comentarios. Poonto fiiiinal

Espectadores disse...

Caro Anónimo,

Você não consegue ser coerente em rigorosamente nada. Se não está interessado em comentar, porque razão comentou? Alguém o chamou?

Amilcar Fernandes disse...

O pá apeteceu-me fazer um comentario ao seu post, a porta estava aberta, mas era indefinido, alguém o chamou? ja deixei claro a minha posição.

Quem fala de uma festa academica e dai deriva para as praxes para ridicularizar o ensino como voce fala, quando muito pode falar em ileteracia, mas não nos moldes do obscurantismo anterior ao 25 abril. Que era ignorância pura, analfabetismo puro. Nunca tivemos geraçoes tão bem preparadas como actualmente e reconhecidas em qualquer lado do mundo

Eu compreendo esta parte do problema de quem assim fala, é que o ensino antes 25 abril era um ensino elitista, o ensino liceal dava uma formação genérica a todos os niveis. Muito mas muito avançada porque preparava as pessoas precisamente para ir para uma fase seguinte de ensino, a universidade. E podia se fazer isto porque não era acessivel a todos e havia outra componente na educação que abrangia aqueles que não queriam ir para a universidade, o ensino técnico, comercial e industrial e por isso a componente do ensino liceal era mais elitista e mais profunda nos conhecimentos transmitidos.

O senhor fala de ensino e bla bla bla e agora é tudo uma m.... , não distingue profundidade quando falamos em conhecimentos e utilidade desses mesmos conhecimentos.

O senhor pode dizer que antigamente se estudava mais coisas em profundidade, dou de barato isso, não pode falar em utilidade dessas mesmas coisas, podemos falar até que ponto podemos imprimir uma mesma educação e conhecimentos em profundidade curricular a todos sem fazer qualquer diversidade quanto a utilidade futura desses conhecimentos nessa educação.

E aqui a coisa é diferente e varia de época para época e geração para geração e de programas educativos para programas educativos. Eu conheci pessoas antigas que nos curriculos tinham latim, era geral para todos, inutil hoje em dia. Tenho familiares que sabem todos os rios, e afluentes das margens esquerdas e direitas desses mesmos rios, ou linhas férreas e todas as estações e apeadeiros, quando lhe pergunto que utilidade tiraram disso na vida, dizem nenhuma, mas fazia parte de um ensino que pretendia por as pessoas a macaquear coisas sem saber sequer onde elas se situavam geograficamente, mas sabiam. Embora isso pudesse ser util a um geografo ou outra profissão ligada a esse estudo.

Podemos daqui pensar se devemos todos estudar as mesmas coisas em profundidade até muito tarde só por saber isso, embora depois esqueçamos e passem a não ter qualquer utilidade futura ou se nos devemos orientar mais cedo para as varias opções profissionais. Ao contrário de antigamente onde se impunha uma memorização e consequente repetição acéfala de informação superficial e abordagens panorâmicas de “todo” o saber da disciplina, que criava nas pessoas uma imagem em que confundem uma pessoa intelectualmente educada com alguém que tem muita informação na cabeça e livros em casa. Como podemos querer que estudantes portugueses nas avaliações internacionais façam mais do que repetir e exibam mais do que a capacidade de memorizar.

Mas já lhe disse que não me interessa perder tempo a discutir isto consigo.