segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Gaston Isaye e a fundamentação rigorosa da metafísica

Eis o livro que me deu a volta à cabeça durante o Verão:

L'affirmation de l'être et les sciences positives

Uma obra pequena, humilde, mas muito sintética e poderosa. Se compreendesse esta obra, e fosse intelectualmente honesto, Dawkins nunca teria escrito um só livro ateísta.

O sonho do padre Isaye era grande, mas belo: montar uma argumentação racional para defender os primeiros princípios da metafísica. Defender de quem? Daqueles que ele chama os “hipercríticos”, ou seja, aqueles loucos que preferem o suicídio intelectual a aceitar a força dos primeiros princípios. Contra esses cépticos irrazoáveis, Isaye lança toda a força do velho método de retorsão, por ele refrescado e actualizado.

Isaye demonstra que o problema do ateísmo, ou seja, da convicção de que não existe um Ser necessário e infinito, é um problema epistemológico, e não lógico. Contra aqueles crentes que procuram o fugitivo argumento ontológico, ou seja, uma forma de provar que o ateísmo é ilógico e o teísmo é logicamente necessário, Isaye segue outra via, muito mais eficaz. Segundo Isaye, a afirmação ateísta é lógica, ou seja, não apresenta contradição interna. Isaye demonstra que o erro do ateísmo está no exercício de fazer afirmações que se pretendem verdadeiras. Então, é “in actu” que o ateu se demonstra incoerente. A frase “Deus não existe” não apresenta contradição interna, assim como a frase “Deus existe” também não a apresenta (ao contrário do que afirmava o pateta do Sartre). O problema, ensina Isaye, não se resolve acusando a outra parte de contradição nos termos das respectivas afirmações. O problema resolve-se analisando filosoficamente o acto de afirmar. E aí, quem sai mal é o ateu. O ateu que pretende afirmar coisas verdadeiras dá um tiro filosófico no pé.
Mais para breve…

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