Do Público de hoje, a respeito de declarações de Condoleezza Rice:
«Em defesa da CIA, Rice afirmou que não é surpreendente que a Casa Branca se tenha enganado em relação ao Iraque, porque "era um país fechado, com muito secretismo, que estava a fazer tudo o que era possível para enganar as Nações Unidas e o mundo".»
Se não fosse um assunto muito grave, e se a intervenção armada dos E.U.A. no Iraque não fosse um grave crime de guerra, até que daria vontade de rir ao ler estas palavras da Sr.ª Rice...
Bernardo
"Mas, no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça" - Primeira Carta de São Pedro, cap. 3, vs. 15.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2004
segunda-feira, 19 de janeiro de 2004
Terrorismo e niilismo
Eis uma entrevista ao filósofo francês André Glucksmann, feita pelo Le Figaro, e extraída de "O Mundo Depois da Guerra no Iraque", da Relógio d'Água:
«AG: O terrorismo niilista não é uma especificidade muçulmana, é por isso que sou completamente contra a tese do conflito das civilizações entendido como uma guerra de religião. O niilismo é o denominador comum das grandes ideologias extreminadoras que temos conhecido e conhecemos. Nazismo, comunismo e islamismo vestem diferentemente a mesma pulsão de aniquilamento que permite também essas iniciativas mais individuais e locais.
LF: Em que consiste essa pulsão destruidora?
AG: O niilismo religioso reclama-se de um deus mais aniquilador do que criador; os niilistas sem Deus alinham com os outros pretextos como a raça, a história, para se dedicarem do mesmo modo a fazer "tabula rasa". As crenças variam, mas não o furor que as instrumentaliza. Quer seja muçulmano, judeu ou cristão, o religioso tradicional fica desorientado. Ultrapassado.
LF: No fundo, essa pulsão destruidora tem pouco a ver com a religião?
AG: Estamos perante uma dissolução da religião, muito mais do que perante a sua afirmação fanática. A essência do niilismo não é religiosa.
(...)»
As palavras de Glucksmann estão plenas de lucidez.
O que ele chama de "niilismo" é o que eu referi aqui há meses como "anti-tradição" no contexto da "Idade Escura" dos hindus.
A crise do mundo moderno, em todas as suas vertentes, tem a sua razão profundamente enraizada em motivações anti-tradicionais, ou como diz Glucksmann, motivações "niilistas", que de facto nada têm de religiosas.
Bernardo
«AG: O terrorismo niilista não é uma especificidade muçulmana, é por isso que sou completamente contra a tese do conflito das civilizações entendido como uma guerra de religião. O niilismo é o denominador comum das grandes ideologias extreminadoras que temos conhecido e conhecemos. Nazismo, comunismo e islamismo vestem diferentemente a mesma pulsão de aniquilamento que permite também essas iniciativas mais individuais e locais.
LF: Em que consiste essa pulsão destruidora?
AG: O niilismo religioso reclama-se de um deus mais aniquilador do que criador; os niilistas sem Deus alinham com os outros pretextos como a raça, a história, para se dedicarem do mesmo modo a fazer "tabula rasa". As crenças variam, mas não o furor que as instrumentaliza. Quer seja muçulmano, judeu ou cristão, o religioso tradicional fica desorientado. Ultrapassado.
LF: No fundo, essa pulsão destruidora tem pouco a ver com a religião?
AG: Estamos perante uma dissolução da religião, muito mais do que perante a sua afirmação fanática. A essência do niilismo não é religiosa.
(...)»
As palavras de Glucksmann estão plenas de lucidez.
O que ele chama de "niilismo" é o que eu referi aqui há meses como "anti-tradição" no contexto da "Idade Escura" dos hindus.
A crise do mundo moderno, em todas as suas vertentes, tem a sua razão profundamente enraizada em motivações anti-tradicionais, ou como diz Glucksmann, motivações "niilistas", que de facto nada têm de religiosas.
Bernardo
quarta-feira, 7 de janeiro de 2004
Reis Magos
Ontem foi dia de Reis.
Como sucede todos os anos, a imprensa recuperou a eterna questão da estrela. "Que estrela seria? Em que dia e em que mês teria sido vista?".
Contudo, o episódio da visita dos Reis Magos a Jesus traz em si uma mensagem muito mais importante do que uma aula de astronomia. Mais uma vez, é o intenso e profundo simbolismo do episódio que parece nunca ganhar a atenção e a compreensão merecidas.
Por isso, socorro-me de novo da obra de René Guénon:
"A este propósito, precisaremos também um ponto que parece nunca ter sido explicado de uma maneira satisfatória, e que, não obstante, é muito importante: fizemos alusão anteriormente aos «Reis Magos» do Evangelho, como unindo em si os dois poderes; diremos agora que estes personagens misteriosos representam na realidade nada mais que os três representantes do Agartha. O Mahânga oferece a Cristo o ouro e saúda-o como «Rei»; o Mahâtma oferece-lhe o incenso e saúda-o como «Sacerdote»; e finalmente, o Brahmâtmâ oferece-lhe a mirra (o bálsamo da incorruptibilidade, imagem do Amritâ) e saúda-o como «Profeta», o Mestre espiritual por excelência.
A homenagem rendida assim a Cristo nascido, nos três mundos que são os seus domínios respectivos, pelos representantes autênticos da tradição primordial, é ao mesmo tempo, observe-se bem, a prova da perfeita ortodoxia do Cristianismo em relação a esta." - René Guénon, "Le Roi du Monde", citado de Textos Tradicionales.
É esta a mensagem essencial e profunda da visita dos Reis Magos ao menino Jesus acabado de nascer, e que mostra o Cristianismo nascente pela pessoa de Jesus como uma tradição viva, autêntica e perene.
Bernardo
Como sucede todos os anos, a imprensa recuperou a eterna questão da estrela. "Que estrela seria? Em que dia e em que mês teria sido vista?".
Contudo, o episódio da visita dos Reis Magos a Jesus traz em si uma mensagem muito mais importante do que uma aula de astronomia. Mais uma vez, é o intenso e profundo simbolismo do episódio que parece nunca ganhar a atenção e a compreensão merecidas.
Por isso, socorro-me de novo da obra de René Guénon:
"A este propósito, precisaremos também um ponto que parece nunca ter sido explicado de uma maneira satisfatória, e que, não obstante, é muito importante: fizemos alusão anteriormente aos «Reis Magos» do Evangelho, como unindo em si os dois poderes; diremos agora que estes personagens misteriosos representam na realidade nada mais que os três representantes do Agartha. O Mahânga oferece a Cristo o ouro e saúda-o como «Rei»; o Mahâtma oferece-lhe o incenso e saúda-o como «Sacerdote»; e finalmente, o Brahmâtmâ oferece-lhe a mirra (o bálsamo da incorruptibilidade, imagem do Amritâ) e saúda-o como «Profeta», o Mestre espiritual por excelência.
A homenagem rendida assim a Cristo nascido, nos três mundos que são os seus domínios respectivos, pelos representantes autênticos da tradição primordial, é ao mesmo tempo, observe-se bem, a prova da perfeita ortodoxia do Cristianismo em relação a esta." - René Guénon, "Le Roi du Monde", citado de Textos Tradicionales.
É esta a mensagem essencial e profunda da visita dos Reis Magos ao menino Jesus acabado de nascer, e que mostra o Cristianismo nascente pela pessoa de Jesus como uma tradição viva, autêntica e perene.
Bernardo
domingo, 4 de janeiro de 2004
A "linhagem" de Jesus
Deu hoje no Canal História um documentário, que suponho seja já antigo e repetido, sobre a eterna especulação em torno das hipóteses fantasiosas de uma descendência humana de Jesus.
Pergunto-me quantos foram os espectadores, sentados no conforto de suas casas, que se deram conta do fraquíssimo conteúdo histórico deste documentário? Não terá o Canal História como objectivo a divulgação da (verdadeira) História?
Todo o documentário gira à volta de expressões como "diz-se que..." ou "pensa-se que...". Mas quem diz? Quem pensa?
Ao que parece, ninguém "pensa" neste documentário, visto estar cheio de falsidades.
Eis apenas algumas:
Jesus casou com Maria Madalena e teve descendência. Esta descendência, a chamada "linhagem sagrada", veio dar origem à primeira dinastia da actual França, os Merovíngios. Os cavaleiros Templários, eternamente arrastados para todo o tipo de especulações pseudo-esotéricas, teriam como principal função a "protecção da linhagem".
Os erros grosseiros do documentário são tantos que demoriaria muito mais tempo a corrigi-los que deu a cometê-los.
Godofredo de Bulhão, campeão da Cruzada que tomou Jerusalém em 1099, surge como figura de proa na tomada de Jerusalém, segundo o documentário, porque "era da linhagem de Jesus".
Claro que a Igreja Católica, o eterno inimigo, quando ataca os hereges cátaros no século XIII está, segundo o documentário, a atacar a "linhagem", verdadeira ameaça para o poder católico instituido.
Chega-se ao ponto de sugerir que o trovador germânico Wolfram von Eschenbach (séc. XIII), no seu Parzival, aludia à "linhagem sagrada" quando falava nos cavaleiros do Graal.
Numa deturpação abusiva, "santo graal" passa a "sangraal" ou seja "sang raal". Daqui, salta-se para "sang real".
Assim, o Graal seria o "sangue real" de Jesus, a sua dinastia perpetuada secretamente através de 2.000 anos de História. E o inimigo desta dinastia seria, claro, a Igreja Católica, usurpadora do poder que pertenceria por direito a esta "linhagem sagrada". Como não ver nestas teorias, para além do interesse económico de editoras e canais televisivos sem escrúpulos, uma agenda anti-católica clara e evidente? Baseada na ignorância generalizada da opinião pública em relação a estes assuntos?
Tudo isto transpira, é claro, às fantasias modernas do Prieuré de Sion e da mitologia moderna de Rennes-le-Château. Todo o suporte pseudo-histórico deste documentário foi inventado há menos de 50 anos atrás.
Fica aqui o aviso: cuidado com a péssima qualidade dos documentários do Canal História. Pergunto-me que objectivos terá o Canal História para permitir que material de tão má qualidade e tão tendencioso possa ter direito a aparecer num Domingo à tarde, como documentário para toda a família assistir...
Enfim, já quase não há nada no cenário audiovisual moderno em que se possa verdadeiramente confiar e que esteja isento de "agendas"...
Bernardo
Pergunto-me quantos foram os espectadores, sentados no conforto de suas casas, que se deram conta do fraquíssimo conteúdo histórico deste documentário? Não terá o Canal História como objectivo a divulgação da (verdadeira) História?
Todo o documentário gira à volta de expressões como "diz-se que..." ou "pensa-se que...". Mas quem diz? Quem pensa?
Ao que parece, ninguém "pensa" neste documentário, visto estar cheio de falsidades.
Eis apenas algumas:
Jesus casou com Maria Madalena e teve descendência. Esta descendência, a chamada "linhagem sagrada", veio dar origem à primeira dinastia da actual França, os Merovíngios. Os cavaleiros Templários, eternamente arrastados para todo o tipo de especulações pseudo-esotéricas, teriam como principal função a "protecção da linhagem".
Os erros grosseiros do documentário são tantos que demoriaria muito mais tempo a corrigi-los que deu a cometê-los.
Godofredo de Bulhão, campeão da Cruzada que tomou Jerusalém em 1099, surge como figura de proa na tomada de Jerusalém, segundo o documentário, porque "era da linhagem de Jesus".
Claro que a Igreja Católica, o eterno inimigo, quando ataca os hereges cátaros no século XIII está, segundo o documentário, a atacar a "linhagem", verdadeira ameaça para o poder católico instituido.
Chega-se ao ponto de sugerir que o trovador germânico Wolfram von Eschenbach (séc. XIII), no seu Parzival, aludia à "linhagem sagrada" quando falava nos cavaleiros do Graal.
Numa deturpação abusiva, "santo graal" passa a "sangraal" ou seja "sang raal". Daqui, salta-se para "sang real".
Assim, o Graal seria o "sangue real" de Jesus, a sua dinastia perpetuada secretamente através de 2.000 anos de História. E o inimigo desta dinastia seria, claro, a Igreja Católica, usurpadora do poder que pertenceria por direito a esta "linhagem sagrada". Como não ver nestas teorias, para além do interesse económico de editoras e canais televisivos sem escrúpulos, uma agenda anti-católica clara e evidente? Baseada na ignorância generalizada da opinião pública em relação a estes assuntos?
Tudo isto transpira, é claro, às fantasias modernas do Prieuré de Sion e da mitologia moderna de Rennes-le-Château. Todo o suporte pseudo-histórico deste documentário foi inventado há menos de 50 anos atrás.
Fica aqui o aviso: cuidado com a péssima qualidade dos documentários do Canal História. Pergunto-me que objectivos terá o Canal História para permitir que material de tão má qualidade e tão tendencioso possa ter direito a aparecer num Domingo à tarde, como documentário para toda a família assistir...
Enfim, já quase não há nada no cenário audiovisual moderno em que se possa verdadeiramente confiar e que esteja isento de "agendas"...
Bernardo
sexta-feira, 2 de janeiro de 2004
As cartas anónimas
É a indignação no PS relativamente ao mais recente fait-divers do caso Casa Pia:
Veja-se o que diz o Público:
«"Dizer-se que a situação é gravíssima, não chega por ser pouco", comentou hoje à Lusa um dos principais dirigentes do PS.».
Também não seria para mais, dada a situação. O magistrado João Guerra decidiu incluir no dossier do processo duas cartas anónimas que implicam Jorge Sampaio e António Vitorino, duas personalidades consideradas pela opinião pública como acima de qualquer suspeita.
Contudo, há que ter sempre a mais alta precaução relativamente a tudo o que sai da Comunicação Social, porque já nada é fiável. Neste caso, a Procuradoria Geral da República já emitiu um comunicado em que confirma a anexação das ditas cartas, mas afirmando que nem o Presidente da República nem o comissário europeu tiveram qualquer relação com a matéria investigada.
A inclusão de documentos "irrelevantes" (foi esta a expressão usada por João Guerra) num processo não é permitida pela lei. Por isso, parece-me pertinente enumerar as possíveis explicações, caso seja verdade que João Guerra o tenha mesmo feito. Primeiro, partamos do acto em si:
A) a inclusão dos documentos é totalmente ilegal, sem lugar a qualquer excepção;
B) existem determinadas situações em que tal acção pode ser legítima, e João Guerra poderá escudar-se atrás destas.
Deixo a opção B para quem sabe de Direito, que não é o meu caso.
Se, segundo alguma Comunicação Social, a opção A está correcta, então podemos ir mais além, enumerando as possíveis explicações:
1. Uma pura e inocente distracção levou ao cometimento de uma ilegalidade, ou seja, a inclusão de documentos irrelevantes para o processo;
2. A inclusão das cartas foi um acto pensado, e João Guerra não sabia que estava a incorrer numa ilegalidade;
3. A inclusão das cartas foi um acto pensado, e João Guerra sabia que estava a incorrer numa ilegalidade.
Não existem mais possibilidades.
As opções 1 e 2 parecem-nos estranhas, porque nos levariam a duvidar da competência do magistrado.
A opção 3 leva-nos a questionar que razões levaram o magistrado a cometer uma ilegalidade, se os documentos eram, como ele o diz, "irrelevantes".
O que se pode verificar é que qualquer uma das opções enfraquece sempre o processo e a credibilidade da Justiça.
Seja como for, há um facto que sobressai de todo este infeliz incidente: a inclusão de nomes que a opinião pública coloca acima de qualquer suspeita é um forte golpe no processo Casa Pia.
Se João Guerra fez uma ilegalidade premeditada, quem ganha com isso?
Bernardo
Veja-se o que diz o Público:
«"Dizer-se que a situação é gravíssima, não chega por ser pouco", comentou hoje à Lusa um dos principais dirigentes do PS.».
Também não seria para mais, dada a situação. O magistrado João Guerra decidiu incluir no dossier do processo duas cartas anónimas que implicam Jorge Sampaio e António Vitorino, duas personalidades consideradas pela opinião pública como acima de qualquer suspeita.
Contudo, há que ter sempre a mais alta precaução relativamente a tudo o que sai da Comunicação Social, porque já nada é fiável. Neste caso, a Procuradoria Geral da República já emitiu um comunicado em que confirma a anexação das ditas cartas, mas afirmando que nem o Presidente da República nem o comissário europeu tiveram qualquer relação com a matéria investigada.
A inclusão de documentos "irrelevantes" (foi esta a expressão usada por João Guerra) num processo não é permitida pela lei. Por isso, parece-me pertinente enumerar as possíveis explicações, caso seja verdade que João Guerra o tenha mesmo feito. Primeiro, partamos do acto em si:
A) a inclusão dos documentos é totalmente ilegal, sem lugar a qualquer excepção;
B) existem determinadas situações em que tal acção pode ser legítima, e João Guerra poderá escudar-se atrás destas.
Deixo a opção B para quem sabe de Direito, que não é o meu caso.
Se, segundo alguma Comunicação Social, a opção A está correcta, então podemos ir mais além, enumerando as possíveis explicações:
1. Uma pura e inocente distracção levou ao cometimento de uma ilegalidade, ou seja, a inclusão de documentos irrelevantes para o processo;
2. A inclusão das cartas foi um acto pensado, e João Guerra não sabia que estava a incorrer numa ilegalidade;
3. A inclusão das cartas foi um acto pensado, e João Guerra sabia que estava a incorrer numa ilegalidade.
Não existem mais possibilidades.
As opções 1 e 2 parecem-nos estranhas, porque nos levariam a duvidar da competência do magistrado.
A opção 3 leva-nos a questionar que razões levaram o magistrado a cometer uma ilegalidade, se os documentos eram, como ele o diz, "irrelevantes".
O que se pode verificar é que qualquer uma das opções enfraquece sempre o processo e a credibilidade da Justiça.
Seja como for, há um facto que sobressai de todo este infeliz incidente: a inclusão de nomes que a opinião pública coloca acima de qualquer suspeita é um forte golpe no processo Casa Pia.
Se João Guerra fez uma ilegalidade premeditada, quem ganha com isso?
Bernardo
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