Eis uma entrevista ao filósofo francês André Glucksmann, feita pelo Le Figaro, e extraída de "O Mundo Depois da Guerra no Iraque", da Relógio d'Água:
«AG: O terrorismo niilista não é uma especificidade muçulmana, é por isso que sou completamente contra a tese do conflito das civilizações entendido como uma guerra de religião. O niilismo é o denominador comum das grandes ideologias extreminadoras que temos conhecido e conhecemos. Nazismo, comunismo e islamismo vestem diferentemente a mesma pulsão de aniquilamento que permite também essas iniciativas mais individuais e locais.
LF: Em que consiste essa pulsão destruidora?
AG: O niilismo religioso reclama-se de um deus mais aniquilador do que criador; os niilistas sem Deus alinham com os outros pretextos como a raça, a história, para se dedicarem do mesmo modo a fazer "tabula rasa". As crenças variam, mas não o furor que as instrumentaliza. Quer seja muçulmano, judeu ou cristão, o religioso tradicional fica desorientado. Ultrapassado.
LF: No fundo, essa pulsão destruidora tem pouco a ver com a religião?
AG: Estamos perante uma dissolução da religião, muito mais do que perante a sua afirmação fanática. A essência do niilismo não é religiosa.
(...)»
As palavras de Glucksmann estão plenas de lucidez.
O que ele chama de "niilismo" é o que eu referi aqui há meses como "anti-tradição" no contexto da "Idade Escura" dos hindus.
A crise do mundo moderno, em todas as suas vertentes, tem a sua razão profundamente enraizada em motivações anti-tradicionais, ou como diz Glucksmann, motivações "niilistas", que de facto nada têm de religiosas.
Bernardo
1 comentário:
Um texto muito bem elaborado em termos de raciocinio. Qual e a conclusão ? O que ta certo? filosofia ou religiao?
Enviar um comentário