... é uma prática islâmica, mais concretamente sufi, de oração repetitiva e ritmada. O dhikr consiste na repetição sincronizada, feita por várias pessoas em simultâneo, do nome de Allah ou de uma das suas variantes.
Escutar a recitação de um dhikr é uma experiência única. Dos poucos que ouvi, gostei especialmente deste, que se chama Dhikr Kalwati (aqui dirigido pelo shaik Nazim, da tariqah Naqshbandi). Nesta gravação escutamos, durante muito tempo, a repetição da palavra allah em escalas descendentes.
O dhikr, mesmo sendo uma prática sufi (e portanto inserida na tradição islâmica) é perfeitamente análogo aos mantras hindus e a outras orações de tipo ritmado que se encontram em várias tradições espirituais pelo Mundo fora.
No cristianismo oriental, de tradição ortodoxa, encontramos algo de semelhante na prática do hesicasmo, a repetição ritmada do nome de Jesus. De forma mais ou menos ostinata, encontramos em quase todas as religiões conhecidas algum tipo de oração repetitiva. A prática da oração repetitiva é vista por muitos ateus e agnósticos como uma forma de inebriar massas de crentes ignorantes. Uma tal opinião é, ela mesmo, uma grosseira manifestação de ignorância. O que já é mais espantoso e grave é encontrar, nos dias que correm, crentes que minimizam a importância da oração (o que sucede muito no catolicismo moderno), ou que parecem não dar qualquer relevo a orações repetitivas ou ritmadas, sinal de que já lhes escapa o sentido profundo da importância do ritmo e do som na actividade espiritual.
Sigamos Guénon:
«(...) a [repetição da] palavra dhikr, que, no esoterismo islâmico se aplica a fórmulas ritmadas que correspondem exactamente aos mantras hindus, (...) tem por objectivo produzir uma harmonização de diversos elementos do ser, e de determinar as vibrações susceptíveis, pela sua repercussão através da série de estados, em hierarquia indefinida, de abrir uma comunicação com os estados superiores, o que aliás, de forma geral, é a razão essencial e primordial de todos os ritos» - René Guénon, La Langue des Oiseaux, artigo publicado em Le Voile d'Isis, Novembro de 1931.
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