A Internet tem, de facto, a vantagem de trazer glória fácil a certas pessoas cujo perfil intelectual nunca lhes permitiria grangear tanta facilidade comunicativa.
Fernanda Câncio, e colaboradores, costumam brindar-nos, de tempos a tempos, com pérolas opinativas bastante singulares.
Desta vez, apetece-me comentar dois pequenos textos, escritos num tom serôdio, que evidenciam certas lacunas em termos de educação e cultura.
Os dois textos comentam o recente protocolo de Estado por altura das comemorações do 25 de Abril. Infelizmente, revelam que os autores destes textos opinativos desconhecem o significado e a importância do protocolo, que estão ligados de forma umbilical à educação e à formação cívica.
O primeiro texto, de Nuno Simas, E la nave va..., escrito num tom jocoso pseudo-intelectual, mas a armar ao intelectual, pretende gozar com o texto protocolar. Contudo, lendo o texto protocolar, deparamo-nos com algo normal e regular. O autor destaca, em particular, um trecho a explicar o protocolo de contacto entre as mulheres de Cavaco Silva e de Jaime Gama. Porventura, o autor nunca terá lido mais nenhum documento protocolar na sua vida, mas é perfeitamente normal estabelecer, num documento de protocolo, o modo exacto como as pessoas presentes se deverão comportar e dirigir umas às outras. É isso que recebe o nome de... protocolo!
Num segundo texto, este já de Fernanda Câncio, A senhora de, a linguagem desce à sargeta, encontrando-se infelizmente algum vernáculo (também na moda para alguma pseudo-intelectualidade hodierna). Também se encontra um anglo-saxónico "helllooo?", resultado de uma subserviência cultural da autora face a séries televisivas norte-americanas.
Depois, a triste insistência num discurso fanático feminista, mostrando-se chocada com o uso da expressão "senhora de...". Pessoalmente, eu preferiria usar a expressão "mulher de...", mas seja como for, a expressão do documento parece-me muito aceitável, uma vez que as figuras de proa do protocolo são Cavaco Silva e Jaime Gama. As respectivas mulheres têm um papel protocolar subordinado ao dos seus maridos, que, esses sim, ocupam lugares de Estado. Se tivessemos um primeiro ministro mulher, certamente que o protocolo mudaria para se indicar "marido de...", uma vez que seria então a mulher a figura de proa do protocolo. Como é óbvio, um mínimo de cultura geral (não falo de uma formação específica em Protocolo de Estado, falo num mínimo de cultura geral) permitiria tirar quaisquer dúvidas face a um suposto machismo protocolar, que evidentemente não existe.
Depois ainda, encontramos este trecho:
«e nem vou comentar o facto de o caríssimo cardeal patriarca continuar a sentar-se ao lado dos presidentes da república, mantendo assim o lugar protocolar que foi atribuído pelo regime de salazar ao representante da igreja católica. já comentei isso que chegue, mais a óbvia violação da lei da liberdade religiosa e da constituição da república que obviamente é.»
Uma "óbvia" violação da lei da liberdade religiosa?
E da constituição?
Convidar para a cerimónia o representante hierarquicamente mais elevado da religião com maior representatividade em Portugal? Da religião que assistiu Portugal na fundação da nacionalidade? Porventura, Fernanda Câncio não saberá que a Ordem do Templo, organização militar e religiosa católica, ajudou o nosso Rei D. Afonso Henriques a consolidar a Nação? E só para dar um exemplo recuado no tempo? E o que dizer do facto de a autora achar que este lugar de destaque no protocolo foi instituido por Salazar? É por estas e por outras que é importante apostar no Ensino Básico e Secundário.
No fim de contas, e para usar um termo caro a Fernanda Câncio, toda esta sua agitação só é um claro sinal da "saloiice" do texto da autora.
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