A Flammarion publicou, no já longínquo ano de 1957, uma obra que deveria ser de leitura obrigatória ao nível liceal. Nesta obra, Détérminisme et finalité, o francês Louis Bounoure, Professor de Biologia na Faculdade de Ciências de Estrasburgo, consegue um feito notável: apresentar uma boa argumentação para fundamentar aquela que ele considera ser a "dupla lei da vida", o determinismo e a finalidade.
Apoiado nestes dois pilares, que o autor estuda e aprofunda ao longo da obra, Bounoure consegue a proeza intelectual de gerir um espantoso tour de force contra dois dos maiores perigos anti-científicos dos tempos modernos: o evolucionismo e o panpsiquismo.
Contra os dogmas evolucionistas, Bounoure propõe, para salvar a Ciência, a constatação da finalidade, de que todo o organismo vivo diverge profundamente da matéria inanimada no sentido em que demonstra ter um objectivo funcional estável. Bounoure não se propõe a explicar como surge esta finalidade: ele remete essa questão para uma "causa da vida" inexplicável para o cientista. Ele assume, como pressuposto, que a vida é como é. Que o ser vivo se explica pela sua embriologia, e que a embriologia de um ser vivo se explica pelo mecanismo de reprodução do ser vivo seu progenitor. Ou seja, Bounoure constata uma cadeia de causalidade que remonta até aos tempos mais recuados, sem que se possa vislumbrar como a vida surgiu.
Para Bounoure, o biólogo pode e deve estudar os mecanismos complexos da vida, mas está totalmente sem resposta perante o enigma de como esta terá surgido. O autor argumenta profundamente acerca da sua primeira tese, a de que a finalidade, o facto de os organismos vivos serem regidos por um objectivo final concreto, destrói totalmente a pretensão anti-científica dos evolucionistas, que procuram impor uma tese não verificável nem testável à comunidade científica apenas devido a um pressuposto emocional também ele não científico: o do materialismo.
Bounoure explica que o materialismo forma um ciclo vicioso de causalidade explicativa: o evolucionista assume que todo o real é material, sem qualquer base ou razão para tal; o evolucionista assume que a complexidade da vida tem que ter a sua origem causal apenas e exclusivamente na própria matéria, auto-organizada pelo acaso; o evolucionista vê-se forçado a partir o milagre da vida em vários pequenos milagres, esmiuçando cada vez mais estes pequenos milagres em micro-milagres, até que se atinjam passos evolutivos (usando a escala dos milhões de anos) tão pequenos que já não parece insensato supô-los. O que é insensato para um cientista, como afirma Bounoure, é supor o transformismo: que uma espécie, apresentando sempre espantosas características de estabilidade, se transforme noutra. Bounoure, é bem certo, não duvida da Selecção Natural darwinista, da sucessiva filtragem, por efeito do meio ambiente e da interacção do ser vivo com este, dos indivíduos dentro de uma população que se adaptam melhor ao contexto. Bounoure não duvida de que a matéria viva é plasmática e elástica ao ponto de permitir pequenas variações intra-espécie, refinadas pela ferramenta temporal da selecção natural.
Mas Bounoure, como bom cientista, constata que o transformismo é uma suposição gratuita, sem qualquer suporte empírico ou factual.
Contra outra ideia obstinada e errada, o panpsiquismo, Bounoure discorre bastante, tentando vincar o segundo pilar da sua tese acerca da vida, o pilar do determinismo. Para Bounoure, tentar colocar Deus, ou uma espécie de alma, no coração dos mecanismos celulares é ecoar, uma vez mais, o velho sonho do panteísmo ou do panpsiquismo. A ideia, velha como o mundo, e não obstante, uma ideia errada, de que toda a matéria está animada por uma espécie de entidade psíquica, vulgo "alma".
Bounoure deixa bem claro que não tolera que se admitam explicações divinas para os processos intracelulares, que regem espantosamente as leis da vida. Segundo Bounoure, e admita-se, cheio de razão, assim que se der esse passo, o cientista não progredirá mais no conhecimento biológico. Bounoure sustenta que, existindo uma razão puramente empírica e determinista para explicar um determinado fenómeno biológico, invocar Deus ou uma alma só irá bloquear a compreensão desse fenómeno, tornando até gnoseologicamente irrelevante a pesquisa científica.
É, então, espantosa a defesa da verdadeira Ciência por parte de Bounoure: o autor não se atreve a proclamar o criacionismo, por temer sair demasiado da sua esfera do cientista natural, mas por outro lado constata que a observação científica só pode conduzir à constatação da finalidade dos organismos vivos, algo que a matéria inanimada não possui e não é capaz de gerar por si só. O autor não se cansa de dizer que, por muito que áreas como a da cibernética tentem imitar a vida, não a conseguem reproduzir.
Por outro lado, o autor insiste no facto de que o dever do cientista natural está em procurar explicações naturais para os fenómenos naturais, mesmo que lhe esteja vedado o conhecimento de qualquer facto sobrenatural, mesmo lhe que esteja vedado o acesso à explicação final para a origem do fenómeno espantoso que é a vida.
Na minha modesta opinião, isto parece-me ser verdadeira ciência natural. Com a vantagem adicional de que Bounoure tem a sua Filosofia bem estudada, o que lhe permite ter uma ideia muito bem sedimentada acerca da Epistemologia e das fronteiras da Ciência. Algo que, obviamente, escapa ao fanatismo proselitista de muitos dos modernos arautos do Evolucionismo.
1 comentário:
O século XX mais uma vez na parede. Pois apesar Darwin ser do Séc. XIX o séc. XX que montou uma verdadeira muralha para proteger uma teoria esdruxula como essa da evolução. Foi protegida porque dava suporte à visão materialista do mundo, que acabou se impondo, pela força das armas e do dinheiro. O pobre Charles Darwin certamente não tinha essa intenção, mas de boa intenção Sr. Darwin, o inf......
Vamos por a mão na massa e desmontar a bomba antihumanidade que o malfadado século XX armou. Vejamos os dejetos que nos deixaram para serem removidos:
Capitalismo, nazi-facismo, comunismo, anarquismo, evolucionismo, psiquiatria, pentecostalismo, espiritismo, materialismo, progressismo, etc, etc, etc.
Vai dar trabalho, mas dá pra fazer. Deus não nos imporia uma missão que não nos fosse possível executar, portanto mãos à obra!!!
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