A Palmira Silva, no final de Novembro, rejubilou com a "cache" jornalística acerca das famosas declarações do Papa Bento XVI sobre o preservativo, no recente livro-entrevista de Peter Seewald intitulado "Luz do Mundo". Como sempre, reagindo a quente, e suportando-se apenas em notícias, Palmira comentou as declarações do Papa, por ela interpretadas como legitimando o uso do preservativo no combate à SIDA, da seguinte forma: "nunca se viu tamanha revolução na doutrina do Vaticano", "drástica alteração de posição em relação ao preservativo" e ainda "reviravolta revolucionária no combate à SIDA". A coisa chegou ao ponto de a Palmira chegar a escrever: "urge a aplicação no terreno desta nova doutrina". Apesar de que a doutrina que ela queria ver aplicada não era doutrina cristã, mas sim uma sua distorção, é bizarro ver um ateu apoiar a aplicação, "no terreno", de uma (qualquer) doutrina cristã.
Quando eu a tentei avisar de que ela estava errada na sua leitura distorcida das palavras do Papa, tive esta resposta: "recomendo que releia as explicações do Vaticano".
Pois, com algum atraso, mas com muito boa vontade, foi o que eu fiz ontem à noite. Mas eu não sou culpado pelo atraso, pois apenas ontem à noite saiu a Nota da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a banalização da sexualidade a propósito de algumas leituras de «Luz do Mundo»
Eis alguns excertos, mas recomendo a leitura da Nota na sua totalidade:
"Algumas interpretações apresentaram as palavras do Papa como afirmações em contraste com a tradição moral da Igreja; hipótese esta, que alguns saudaram como uma viragem positiva, e outros receberam com preocupação, como se se tratasse de uma ruptura com a doutrina sobre a contracepção e com a atitude eclesial na luta contra o HIV-SIDA. Na realidade, as palavras do Papa, que aludem de modo particular a um comportamento gravemente desordenado como é a prostituição (cf. «Luce del mondo», 1.ª reimpressão, Novembro de 2010, p. 170-171), não constituem uma alteração da doutrina moral nem da praxis pastoral da Igreja.
(...)
A propósito, o Santo Padre afirma claramente que os preservativos não constituem «a solução autêntica e moral» do problema do HIV-SIDA e afirma também que «concentrar-se só no preservativo significa banalizar a sexualidade», porque não se quer enfrentar o desregramento humano que está na base da transmissão da pandemia.
(...)
Alguns interpretaram as palavras de Bento XVI, recorrendo à teoria do chamado «mal menor». Todavia esta teoria é susceptível de interpretações desorientadoras de matriz proporcionalista (cf. João Paulo II, Encíclica Veritatis splendor, nn.os 75-77). Toda a acção que pelo seu objecto seja um mal, ainda que um mal menor, não pode ser licitamente querida. O Santo Padre não disse que a prostituição valendo-se do preservativo pode ser licitamente escolhida como mal menor, como alguém sustentou. A Igreja ensina que a prostituição é imoral e deve ser combatida. Se alguém, apesar disso, pratica a prostituição mas, porque se encontra também infectado pelo HIV, esforça-se por diminuir o perigo de contágio inclusive mediante o recurso ao preservativo, isto pode constituir um primeiro passo no respeito pela vida dos outros, embora a malícia da prostituição permaneça em toda a sua gravidade. Estas ponderações estão na linha de quanto a tradição teológico-moral da Igreja defendeu mesmo no passado."
Como se vê, nada mudou na doutrina da Igreja. Como todo o observador atento e instruído sempre tinha dito e defendido.
Antes de prosseguir, que fique claro que este meu "post" não materializa um ataque pessoal à Palmira Silva. Ela foi apenas uma de muitas pessoas que, profundamente desconhecedoras da realidade cristã, leram nas palavras do Papa aquilo que tanto queriam ler, em vez de lerem nas palavras do Papa o que o Papa realmente disse. Por esse mundo fora, e em Portugal também seria fácil encontrar centenas de exemplos, as vozes levantaram-se em júbilo: uma parte importante da moral cristã mudara! Um jornal chegou a exclamar: "Pope OK's condoms!". Surreal...
Claro que isso era impossível. Qualquer observador e conhecedor atento ao cristianismo, independentemente de ser cristão, agnóstico ou ateu, teria duvidado, imediatamente, da interpretação errada que os "media" propagaram. Por isso, o meu objectivo não é um ataque pessoal à Palmira. É um objectivo bem mais modesto, mas mais dirigido às ideias em si e não às pessoas. É que um anticristianismo suportado na ignorância não será eficaz, nem hoje, nem amanhã, nem nunca. De forma superficial, eu poderia ficar satisfeito quando muito do anticristianismo que se faz hoje em dia é deste calibre, feito com base na ignorância. Mas não fico. Porque a ignorância é contagiosa. Porque muita gente leu as leituras erradas das palavras do Papa. Porque muitos leram as observações ignorantes daqueles que se julgam conhecedores destes temas. Mas poucos, muito poucos, irão ler a importante Nota da Congregação para a Doutrina da Fé. Quem já vive segundo padrões morais errados vai ficar muito satisfeito com esta aparente "reviravolta" na moral da Igreja. E é tentador preferir uma mentira cómoda a uma verdade incómoda.
O erro tende a propagar-se como um vírus. Já a verdade é tramada de expor e defender.
Sinceramente, eu acredito que a Palmira Silva, e com ela muita gente, acreditou que a posição da Igreja tinha mudado. Por isso, não vejo má vontade alguma na reacção dela, e de muitos outros, a esta "polémica". Mas é uma reacção triste. É viver na ilusão, e levar outros com ela nessa ilusão.
É tempo de as pessoas apaixonadas pela causa anticristã aprenderem a lição: o cristianismo é uma coisa complexa, e não se ataca convenientemente um adversário sem o conhecer. A ignorância é uma espada romba. Pior: a ignorância pode ser um tiro no pé. Como neste caso.
Aproveito ainda esta oportunidade para lançar um aviso: aos anticristãos deparados com este tiro no pé, não vale a pena enveredar pela via clássica, pois ela já é velha e gasta. Refiro-me à tirada clássica da dicotomia anticristã que opõe um "Papa bom" a um "Inquisidor-mor mau". Essa tirada usou-se à saciedade aquando do papado de João Paulo II: o Papa era o "bom", e Ratzinger, o "Inquisidor-mor", era o mau da fita, que estava sempre a estragar as intenções boas do Papa João Paulo II.
Algum anticristão mais distraído poderia tentar essa jogada velha: Bento XVI, coitado, teria tentado mudar a doutrina arcaica da Igreja, mas aquele "Inquisidor-mor" malvado do William Levada teria destruído, com esta Nota repressiva, as intenções boas de Bento XVI. Mas isto, provavelmente, não vai acontecer. Porque poucos anticristãos sabem quem é William Levada...
4 comentários:
Óptimo este post caro Bernardo.
Com efeito muitos leram aa palavras do Papa de forma enviesada e ao contrário do que ele efectivamente disse e queria dizer.
Entre eles Marcelo Rebelo de Sousa que teve um intervenção nesse Domingo na TVI acerca do assunto de uma análise simplista e quase leviana de que espero agora se retrate, (o que não acredito), levando a fazer querer, (voluntária ou involuntariamente), que o Papa tinha "autorizado" o uso do preservativo.
Já o disse uma vez e volto a repetir, mesmo que os homens pretendam mudar a Doutrina Revelada, ela não muda porque os homens querem, porque Deus é sempre o mesmo ontem, hoje e para sempre, e ama os homens que criou dando-lhes a conhecer o único e verdadeiro caminho para a plenitude.
Com os votos de um Santo e Feliz Natal.
Um abraço amigo em Cristo
Ah não autorizou? então para que falou, conversa de chacha????????. Os católicos não sabiam e sabem o que gasta a casa?
Isto nem merece discussão, vossas mercês não utilizem, pratiquem e fazem muito bem, pratiquem a moral católica e deixem os outros em paz.
Caro Joaquim,
Obrigado pelo seu comentário!
A atitude do Marcelo é simplesmente irresponsável. Ele já perdeu a noção do peso mediático que ele tem. E ele fala demasiado sobre temas que desconhece.
Um Santo Natal para si e para a sua família!
Bernardo
Perdes demasiado tempo com a Palmira. Excepto meia dúzia de seguidores fanáticos ninguém lhe dá atenção. Foi o que conclui depois de frequentar a caixa de comentários do jugular durante dois anos.
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