sábado, 7 de agosto de 2010

Fideísmo e o Argumento Cosmológico

É frequente que os cristãos sejam acusados de serem fideístas, ou seja, de manterem a crença numa determinada ideia com base em argumentos exclusivos de autoridade, sem recurso à razão para análise intelectual dessa ideia.

Isto é espantoso, visto que a Igreja condenou várias vezes o fideísmo como heresia.

Mais especificamente, o Concílio Vaticano I afirmou de forma clara:

«O Deus verdadeiro e uno e Senhor pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana, através das coisas que foram feitas [através da Criação]» (Constituição Dogmática De Fide Catholica, Sessão III, cân. i, De Revelatione)

Hoje em dia, podemos actualizar este ensinamento à luz dos actuais conhecimentos científicos, apresentando um argumento racional para a existência de Deus, como o famoso Argumento Cosmológico:

Existência de Deus: o Argumento Cosmológico
1.      Tudo o que começa a existir tem uma causa
o       Se coisas inexistentes surgissem sem uma causa, porque razão existiriam algumas coisas e não outras? Porque não existiria TUDO? (infinitos Universos: tese filosófica inacessível à Ciência);
o       Se coisas inexistentes surgissem sem uma causa, isso contrariaria TODA a nossa experiência enquanto seres humanos;
2.      O Universo começou a existir
o       Segundo o actual modelo cosmológico de expansão do Universo, a recta do tempo não se prolonga infinitamente para o passado (13,7 mil milhões de anos);
o       Mesmo assim, o Universo poderia ser eterno e ser contingente (São Tomás de Aquino, que deduzia o início temporal do Universo do livro do Génesis, e não da filosofia);
o       Mas o ateu não quer aceitar um Universo contingente (que implica uma causa necessária e transcendente): o ateu defende um Universo necessário: mas um Universo necessário é uma tontice: nesse caso, não poderia ter havido qualquer variação, mesmo microscópica, das variáveis fundamentais do Universo;
3.   Logo, o Universo tem uma causa (externa ao Universo e que causa a sua existência).

É, também, da argumentação racional anterior que podemos derivar as seguintes propriedades de Deus:


Propriedades de Deus (causa da existência do Universo)
1.      Necessidade: tem que ser não causada [1];
2.      Eternidade: tem que estar “fora” do tempo [2];
3.      Imaterialidade: tem que estar “fora” do espaço [3];
4.      Imutabilidade: tem que ser invariante e imutável [4];
5.      Omnipotência: é capaz de criar sem recorrer a causas materiais (potência infinita);
6.      Pessoalidade: tem que ser pessoal, ou seja, tem que ser um agente livre e dotado de vontade própria:
o       Não seria fácil deduzir isto se o Universo fosse eterno: uma causa eterna (Deus) poderia ter originado um efeito eterno (Universo) sem isso implicar necessariamente uma decisão livre e voluntária (sem implicar que a causa primeira fosse uma causa livre e dotada de vontade própria);
o       Se o Universo não é eterno, como se explica que uma causa eterna (Deus) possa ter originado um efeito não eterno (Universo)?
o       Só uma decisão livre e voluntária de um agente livre (Deus) pode explicar que um efeito não eterno decorra de uma causa eterna;
7.     Unidade: quer da propriedade de Necessidade, quer da propriedade de Omnipotência, decorre esta propriedade:
o       Se existissem duas causas necessárias e distintas para a existência do Universo, o desnecessário aumento de complexidade da tese exigiria nova explicação: qual a causa para existirem duas causas necessárias?
o       O conceito de um ser de potência infinita só é coerente com a unidade desse ser; a frase “dois seres de potência infinita” reflecte uma contradição nos próprios termos da frase: se são dois seres omnipotentes, então é porque nenhum deles tem potência infinita, pois a potência de um ser terá que estar limitada, necessariamente, pela do outro.


[1] Eventuais causas “finitas” (contingentes) do Universo fariam parte do próprio Universo.
[2] O tempo e o espaço são estruturais ao próprio Universo, e decorrem das suas leis intrínsecas.
[3] Idem: Deus não pode ser nem matéria nem energia.
[4] A variância e a mudança implicam algum tipo de temporalidade, ou seja, um “antes” e um “depois” da mudança.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá Sr. Bernardo, como vai?

"Fideísmo", em outras palavras, "fé cega":
-{Apenas CRER, sem (nunca) procurar SABER.}
Disse muito bem quando afirmou que a igreja CONDENOU e (presentemente, se não condena, NÃO VÊ COM BONS OLHOS)AQUELES QUE PROCURAM SABER.
(Cuidado com seus amiguinhos "judas" eh eh eh. )

Sr. Bernardo hoje é fácil PROVAR-MOS quem é nosso verdadeiro pai biológico, mas quem nos poderá provar por A + B nosso verdadeiro PAI CRIACIONISTA?
Jesus? Buda? Maomé? um pajé da Amazônia? um xamã? um ácido alucinógeno? o Papa? o Dalai Lama?
a Ciência???

As religiões do mundo incitam a fé no "ser-humano" como seres "inferiores" numa hierarquia Divina, o que não é mais compatível com a atual mentalidade.
(Este a meu ver é o GRAVE ERRO atual das RELIGIÕES)

Como programas de computador, nossa mente (humana) vem sofrendo "atualizações" constantes e agora é o momento de adaptação a novas fronteiras (realidades).

Quem poderá negar que Jesus, Buda, Maomé, e outros iluminados,não existiram para nos capacitar, com seus ensinamentos e para que víssemos em suas palavras significados mais profundos dos que jamais tivémos idéia ou (conhecemos) antes?

Hoje esse papel está a cargo da CIÊNCIA.


Na verdade eles ( os iluminados) não formaram NENHUMA RELIGIÃO, apenas nos deram as "CHAVES" de acesso a um nível mais alto e inteligente de viver e entender a VIDA e o UNIVERSO.
O que se formou "após" eles chama-se fanatismo. Isso mesmo, o "religioso" hoje compara-se àquela adolescentezinha que chora, esperneia, etc, quando vê seu "amado ídolo".

Não se iludam, Religião é apenas uma fase primária no desenvolvimento deste embrião cósmico auto-intitulado RACIONAL.

Como diz uma letra do "FLOYD":

" WELCOME TO MACHINE " Sr. Bernardo.

ABRAÇO "na LUZ"

Anónimo disse...

Bernardo, é a isto (comentário anterior) que se chamava nova era, não é?

Anónimo disse...

Sr. C.SOUSA, com todo o respeito, o FUTURO sempre é uma NOVA ERA e BOAS NOVAS sempre são bem vindas, ou não?
Abraço e
1000 anos de LUZ para o Sr.