Em suma, a Igreja Católica, pela solidez dos seus ensinamentos, e pela tenacidade dos seus representantes e membros espalhados por todo o mundo, é um forte obstáculo à prossecução dos objectivos abortófilos.
Vive-se, hoje em dia, uma situação espantosa ao nível internacional: por um lado, o pedido para uma moratória das Nações Unidas pela protecção do direito à vida está a ganhar força e adeptos, mesmo oriundos de sectores laicos, agnósticos ou ateus. Este pedido da moratória anti-aborto é uma consequência lógica da moratória contra a pena de morte, que foi subscrita pelas Nações Unidas.
Contra o direito à vida, move-se o CEDAW, o Committee for the Elimination of All Forms of Discrimination Against Women, cujo nome ilusório dá a impressão de que estamos a falar de um Comité preocupado com as mulheres. Fundado em 1979, torna-se cada vez mais num bastião dos lobbies pró-aborto. Estes grupos movem-se com base em financiamentos milionários, tanto públicos como privados, e trabalham em duas vertentes: nos países sub-desenvolvidos, aplicam um malthusianismo disfarçado de luta pelos direitos da mulheres, invocando o aborto como solução para os problemas de sobrepopulação. Nos países desenvolvidos, procuram usar o aborto como arma de guerra contra os valores tradicionais da família, mais uma vez invocando hipocritamente a defesa dos direitos da mulher.
Mas parece-me especialmente interessante notar como é montada a estratégia destes grupos contra a Igreja Católica, o seu mais poderoso adversário. Um dos vectores da estratégia assenta neste argumento:
a) Existe uma diferença entre o catolicismo e a hierarquia da Igreja Católica
b) É possível ser-se católico e ser-se a favor do direito ao aborto
c) É possível ser-se católico e ter uma opinião pessoal sobre o aborto, se é certo ou errado; como se o catolicismo não tivesse nada a definir nesta matéria
d) A luta pelos direitos da mulher implica uma luta contra a hierarquia da Igreja, e não contra o catolicismo
Esta estratégia é brilhante, há que reconhecer. Para a implementar, foi criada uma panóplia de movimentos ditos "católicos" que pretendem representar movimentos de leigos católicos que exigem que a "antiquada" hierarquia não bloqueie o verdadeiro espírito do catolicismo, que defenderia, segundo eles, o direito a abortar, direito esse que a hierarquia não quereria reconhecer por ser machista e antiquada.
O argumento é péssimo em termos lógicos porque, como se viu atrás, basta invocar o quinto mandamento para se compreender que o católico não pode concordar com o aborto (assim como não pode concordar com o aborto qualquer pessoa que considere que matar seres humanos inocentes é moralmente errado), mas é um argumento que funciona muito bem com um grande número de pessoas pouco ou mal informadas. Hoje em dia, abunda a noção de que o católico pode construir a sua opinião nesta matéria segundo a sua consciência, sem contradizer o seu catolicismo. Não poucos teólogos, curiosamente os mais requisitados para exposição mediática, têm contribuido para a confusão, defendendo o direito a abortar. Quando um leigo católico mal informado vê um teólogo católico a afirmar, à Comunicação Social, que o direito ao aborto não choca com o catolicismo, ou que este até levaria necessariamente à defesa do direito ao aborto, está o caldo entornado.
O Catholics for a Free Choice (CFFC, ou em português, Católicas pelo direito de decidir) nada tem de católico para além do nome. Hoje em dia é dirigido por Jon O'Brien, mas foi fundado e ainda se apoia imenso na obra da activista Frances Kissling. Kissling fundou há mais de 30 anos a CFFC, e numa entrevista à revista Mother Jones em 1989, declarou o seu objectivo:
"I spent twenty years looking for a government that I could overthrow without being thrown in jail. I finally found one in the Catholic Church."
Kissling tornou-se profissional no uso do pseudo-argumento atrás apresentado. Eis um exemplo da sua retórica:
"I know with every ounce of my being that you don’t have to agree with the positions of the church on issues of abortion and contraception to be Catholic."
A Crisis Magazine publicou em 2002 um artigo de Kathryn Jean Lopez, intitulado Aborting the Church - Frances Kissling & Catholics For A Free Choice, de onde extraímos este trecho:
The media love Frances Kissling. It's hard to blame them, really, given their general political agenda: Kissling wants abortion to remain legal, with no restrictions. She wants to boot the Vatican from the United Nations (UN). She wants bishops to tell Catholics it's okay to use condoms-even to distribute them. She wants RU-486, the abortion pill, to be cheaper. She wants Catholic hospitals to perform the whole gamut of "reproductive services," including abortion and sterilization. She wants "gender equity," even in the Roman Catholic priesthood.
And she's Catholic. Perfect.
Frances Kissling is president of the 29-year-old Catholics for a Free Choice (CFFC), an independent "Catholic" group with a solid funding base and perhaps all you really need to make an impact-a major media presence. CFFC's purpose is to promote abortion, "reproductive health," and gender equality, in line with what the CFFC calls a "social justice tradition."
Claro que se vê que esta organização nada tem de católico. Pretende ser uma espécie de Cavalo de Tróia, mas só com uma diferença: o cavalo está do lado de fora da "cidade católica". Só que, como é sabido, a "cidade católica" já não tem muralhas tão fortes como antigamente, e a confusão reinante em muitos movimentos e institutos católicos tem permitido a aproximação e infiltração de membros de organizações pseudo-católicas como estas.
Os objectivos anti-católicos de Kissling tornam-se evidentes em quase todas as suas actividades. Ela promove a iniciativa See Change da CFFC, cujo objectivo é retirar a Santa Sé da ONU, alegando que não se trata de um país mas sim de uma organização. É uma asneira diplomática óbvia negar que a Santa Sé é uma nação: basta, para cometer tal asneira, ignorar ou minimizar a problemática da Questão de Roma no final do século XIX e o facto histórico do Tratado de Latrão de 1929, que reconhece legamente a Santa Sé como estado, reconhecido neste momento por todos os estados.
Kissling quer a Santa Sé fora da ONU porque quer levar os objectivos abortófilos do CEDAW adiante, ao mesmo tempo que trabalha fora da ONU com a sua CFFC, travestida de suposta organização "católica".
Em Dezembro de 2006, Kissling deu uma entrevista ao jornalista Nuno Sá Lourenço, do Público, que vale a pena ler.
É também interessante ler o artigo do The New York Times, datado de Fevereiro de 2007, acerca da saída de Kissling do cargo de presidente da CFFC:
Backing Abortion Rights While Keeping the Faith
Regressando ao CEDAW, na ONU, a actual vice-presidente é uma brasileira, a jurista Sylvia Pimentel. Uma entrevista desta senhora à Globo diz-nos muito sobre ela e os seus objectivos:
Uma brasileira na ONU
Eis outra entrevista, desta vez para a Women's Human Rights:
An Interview with Silvia Pimentel
E, no entanto, pasme-se, ela é professora há 33 anos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo! É de bradar aos céus... Há uns tempos, o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho já tinha alertado para a infiltração de abortófilos em movimentos e institutos católicos no Brasil:
Meras coincidências
Escolha o adjectivo
Católicas, uma ova!
É, também, notório que a CFFC trabalha, em todo o mundo católico, lado a lado com outra organização, já bem conhecida, chamada We Are Church (Nós somos Igreja, em Portugal - note-se como o manifesto das "Católicas pelo Direito de Decidir" aparece logo no início da página), cujos objectivos são muito parecidos, e passam também pela demolição (por implosão) da Igreja católica e pela promoção do aborto como suposto "direito" da mulher. A consulta da página de "organizações relacionadas" no site da We Are Church é também muito interessante.
A pergunta óbvia é: o que é que será preciso fazer para resolver de vez o problema destes pseudo-católicos abortistas, que usam as instituições e o nome da própria Igreja Católica para promover o aborto, e pelo caminho, destruí-la por dentro? O problema não é só no Brasil, mas sim em todo o país onde o catolicismo é forte. Incluindo Portugal. Há que abrir os olhos e estar atentos. Aos leigos cabe o importante trabalho de desmascarar estes impostores e expor as suas "agendas".
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