As testemunhas orais sempre abundaram, mas os críticos de Pio XII sempre duvidaram. É a força do preconceito. Evidentemente, a raridade documental tem uma explicação: qualquer prova escrita relativa ao abrigo clandestino de hebreus constituía um documento muito perigoso para quem o detinha. As ordens eram orais, e raramente eram passadas a escrito.
No ano passado, o Padre Peter Gumpel trouxe à luz do dia um desses raros documentos escritos: o diário do ano 1943 das freiras agostinianas de clausura, do mosteiro dos Quatro Santos Coroados, em Roma:
«Chegadas a este mês de Novembro, devemos estar prontas a render serviços de caridade de uma forma totalmente inesperada.- ver texto completo.
O Santo Padre Pio XII, de coração paterno, sente todo o sofrimento do momento.
Com a entrada dos alemães em Roma, ocorrida no mês de Setembro, inicia-se uma guerra cruel contra os hebreus que se querem exterminar mediante atrocidades sugeridas na mais negra barbárie. Juntam-se os jovens italianos, os homens da política, para os torturarem e fazê-los morrer entre tremendos suplícios.
Nesta dolorosa situação, o Santo Padre quer salvar os seus filhos, mesmo os hebreus, e ordena que nos mosteiros se dê hospitalidade a estes perseguidos, e mesmo as clausuras devem aderir ao desejo do Sumo Pontífice, e ao dia 4 de Novembro, nós hospedamos até ao 6 de Junho próximo as pessoas a seguir elencadas:
(24 nomes)»
Note-se a referência aos plurais "nos mosteiros" e "as clausuras", ou seja, para além de se depreender que a ordem fora dada a vários mosteiros de Roma (bem como aos seminários, mas isso não se depreende deste diário), também os mosteiros de clausura devem aderir ao pedido do Papa.
Para saber mais: O Santo Padre ordena...
. Antonio Gaspari, Nascosti in convento, Milão, Ancora, 1999
. Enzo Forcella, La resistenza in convento, Einaudi, 1999
. Alessia Falifigli, Salvàti dai conventi. L’aiuto della Chiesa agli ebrei di Roma durante l’occupazione nazista, Cinisello Balsamo, San Paolo, 2005
. Renzo de Felice, Storia degli ebrei italiani sotto il fascismo, Einaudi, 2005
1 comentário:
Desta vez é que chega aos altares
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