quarta-feira, 22 de outubro de 2003

Mito Moderno nº. 3 - A Meditação Transcendental

A Time brinda-nos de novo com uma capa em grande:

"The Science of Meditation"

E continua na capa:

"New Age mumbo jumbo? Not for millions of people who meditate for health and well-being. Here's how it works"

Aqui temos todo o tipo de exemplos da mediocridade e ignorância que grassa em muitos periódicos modernos. O destaque na capa faz-nos pensar que vamos encontrar no interior da revista um artigo jornalístico de alto gabarito e repleto de informações importantes sobre a "meditação". Errado!
Para já, o que a Time entende por "meditação" é, nada mais nada menos, que a famigerada "transcendental meditation", ou afectivamente "TM" (como eles adoram as siglas!), da qual a moderna cultura anglo-saxónica tanto gosta. O mundo ocidental moderno já esqueceu que deve todas estas prostituições das verdadeiras doutrinas orientais a uma senhora, de seu nome Helena Petrovna Blavatsky, que fundou a famigerada Sociedade Teosófica há um século atrás. Foi esta senhora a culpada pela introdução no Ocidente de uma pseudo-doutrina, altamente heterodoxa e sincretista, que teve tanto sucesso no mundo anglo-saxónico, e não só.
A Sociedade Teosófica, da qual falaremos mais detalhadamente noutra altura, deu origem a uma onda de "redescoberta" das doutrinas orientais, mas infelizmente através das piores fontes e inspirações. O triste legado de Blavatsky subsiste hoje (ainda existe a Sociedade Teosófica) através de uma série de movimentos que por ela foram influenciados: a Cientologia, os Raelianos, a Antroposofia, etc, etc...
Nesta vaga de entusiasmo, que durou todo o século XX, e que graças à New Age vai entrar agora vitoriosamente no século XXI, surgiram no Ocidente uma série de pseudo-gurus como o vigarista Maharishi Mahesh Yogi, entre outros, que lançaram as bases para o estabelecimento de uma quantidade enorme de escolas de falso Yoga e de falsa meditação, todas elas cheias de pseudo-mestres.

Mas sigamos a Time, regressando de novo à capa, onde várias coisas podem ser ditas:

1. "New Age mumbo jumbo?". Resposta: SIM!
2. "Not for millions of people who meditate for health and well-being.". Aqui temos de novo a mania moderna da Quantidade. Porque uma coisa é feita por muita gente, automaticamente é boa.
3. "Here's how it works". Ou seja, vamos lá encaixar milénios das mais variadas tradições dentro das folhinhas da Time, para que o leitor médio fique a saber "tudo" sobre meditação. Bravo! Que tal isto como exemplo fantástico de "massificação do conhecimento"?

Basta de capa.
Ficamos a saber, por uma fotografia nas páginas 46 e 47, que existe uma "Maharishi School of the Age of Englightment", onde vemos um grupo de adolescentes a praticar TM (lá está a sigla!), que segundo nos dizem, acontece duas vezes ao dia.
Este detalhe é delicioso! Porque é um psedo-guru vindo directamente da Índia e que se afirma hindu, Maharishi Maheshi Yogi, que dá o nome a esta escola de "meditação" auto-intitulada "School of the Age of Englightment"! Isto é fantástico, sobretudo se tivermos em consideração que as doutrinas hindus defendem que vivemos presentemente no Kali Yuga, ou "Idade Escura", conforme escrevi aqui há dias. Que tal para uma completa perversão do Hinduismo?

Em frente...
Na página 48, a Time mostra-nos em 4 simples passos, numerados de 1 a 4 (para ser mais fácil), como meditar. Que poder de síntese!
Depois temos um quadro científico, reforço, CIENTÍFICO, onde se pode ver um esquema do cérebro, e da actividade cerebral medida a indivíduos em suposta "meditação". Os cientistas verificaram (graças a Deus que o fizeram) que o cérebro emitia menos ondas beta durante a meditação. O que não deixa de espantar é que a obcessão moderna com o "medir" chega ao cúmulo de querer validar realidades espirituais usando instrumentos de medição!
Ninguém nega, pois, que o cérebro baixa a sua actividade durante a tal "meditação". Contudo, esta "meditação" nada tem a ver com a verdadeira meditação. Pelo simples facto de que o Princípio está ausente! Onde está o fundamento, a razão para meditar? De que vale meditar, então? Para o bem-estar, dizem-nos. Pois isso é bom, mas não seria melhor procurar esse bem-estar nas tradições verdadeiras de todas as culturas, em vez de experimentar graves perigos psíquicos usando metodologias ocas que vieram de pretensos gurus, de intrujões?

Parece-me evidente que todo aquele que procurar uma "calma" através do abaixamento da sua actividade física e mental vai obter vantagens.
Agora não se chame a isto "meditação" e não se queira comparar o que é um simples exercício de descontracção com o que é a profundidade e intensidade da verdadeira espiritualidade.

Haveria muita asneira a apontar neste artigo, mas fazê-lo seria monótono e muito deprimente.
Termino com uma referência a uma fotografia intitulada "Monk", na página 50, onde se vê um monge tibetano a ser enfiado dentro de um aparelho de Ressonância Magnética.

Para um aprofundamento desta questão dos falsos gurus, recomendo vivamente o artigo de Rama Coomaraswamy, "Hinduism for Western Consumption".

Para acabar em beleza, uma salva de palmas à Time!

Bernardo

1 comentário:

Anónimo disse...

Estás é ressabiado da tua religiao estar a perder seguidores