quarta-feira, 8 de outubro de 2003

A Democracia

Pegando na dica do Duarte, vivemos hoje em dia na ilusão de liberdade.
Por isso, hoje quero começar a falar daqueles que considero serem os Mitos Modernos.

Honestamente, devo dizer que o eterno discurso da democracia, dos valores democráticos, "democracia e cidadania", sempre me soou a falso.

Vamos à etimologia do termo "democracia".
Como se sabe, a palavra significa "povo+poder", ou seja, "o poder ao Povo". Imediatamente abrem-se duas questões ao espírito inquiridor deste vosso amigo:

1. Neste momento, ou em qualquer momento da História, o Povo chegou alguma vez a ter o Poder?

2. É desejável que o Povo tenha o Poder?

(interregno meditativo)

A questão nº. 1 tem desde sempre inquietado os mais entusiastas defensores do modelo democrático. Por isso, nesta questão os defensores da democracia deparam-se, e isso é normal, com o eterno dilema entre um modelo teórico que lhes parece bom, e a forma como ele é posto em prática.

Mas antes de começarem a chover tomates, passo a explicar imediatamente o ponto 2, que é mais polémico!

Então, qual é a principal característica do modelo democrático de governo?
É simples: o recurso ao sufrágio. Votar é o lema.

Ora votar é, nada mais nada menos que, subjugar os destinos de uma nação à força da quantidade, ao peso maciço da maioria.

Chegamos assim a uma das características fundamentais do mundo ocidental moderno: é o mundo da Quantidade.

Em tempos, pesava-se a Qualidade. Hoje vive e reina a Quantidade.
E isso vê-se nos modelos de governo que escolhemos.

Ora façamos um exercício simples: imaginemos que, por uma razão misteriosa, poderia ser uma súbita doença degenerativa do córtex cerebral, 99% da população portuguesa deixava de conseguir raciocinar, deixava de conseguir pensar, deixava de conseguir criar, ter ideias, produzir.

Contudo, estes 99% conseguiam ainda preencher com uma cruz um boletim de voto. Apesar de não perceberem nada, RIGOROSAMENTE NADA de finanças, de diplomacia, de educação, de saúde, de administração interna, etc, etc, ainda teriam a desvantagem de, devido à tal doença degenerativa, não conseguirem pensar NADA!

Por isso, seguindo o raciocío, uns escassos 30% da população, os que não quisessem ficar a ver a bola, lá se arrastariam até aos locais de voto, para colocar a malfadada cruzinha "nos menos maus".

Seria isto "democracia"?
Eu bem sei que os entusiastas defensores do modelo democrático não hesitariam em dizer-me: "eu não concordo com as suas ideias, mas defenderia até à morte o seu direito de voto". Entendo esta postura.
Mas não concordo!
É esta, absolutamente, a melhor solução para o governo de uma nação?

Já percebem que eu não defendo o modelo democrático de governo "per se".
Contudo, entendo que nos tempos adversos que correm, se calhar é uma forma de governo conveniente. É um mal menor.

Porque se vivemos TODOS desgovernados e perdidos, e isso é tão real quanto respirarmos, ao menos que possamos tentar contrariar os desgovernos uns dos outros, sempre na óptica de "o mal o menos".

(pequena pausa antes de concluir)

Então temos já o Mito Moderno nº. 1: A Democracia
Deixo para amanhã o Mito Moderno nº. 2: O Progresso

Bernardo

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