O nosso amigo José do Guia dos Perplexos perdoar-me-á o quase plágio do título do seu último artigo, mas não resisto a fazer coro com ele.
De facto, tenho dedicado parte do meu curto tempo livre a trocar umas impressões com a pandilha do "Diário de uns Ateus". À parte do João Vasco, que é claramente a carta fora do baralho, o panorama é desolador em termos de presunção pseudo-intelectual.
Como diz o José, também eu "tive frequentemente a estimulante sensação de o meu ocasional interlocutor me considerar um idiota chapado".
Eu não diria que a sensação era estimulante. Para mim é mais frustrante. Uma sensação de tempo perdido...
Mas ao mesmo tempo, é também uma sensação de ironia...
Explico porquê.
René Guénon, que como sabem é como se fosse um meu "guru", explica que a intelectualidade das ciências modernas (verdadeira Terra Prometida destes nossos amigos ateus), não passa de uma pseudo-intelectualidade. Assim, é claro que esta gente fica furiosa quando eu digo que, para René Guénon, bem como para todo o homem plenamente tradicional, a espiritualidade e a intelectualidade podem andar de mãos dadas.
Para estes senhores, as enumerações divinas "hokmah" (sabedoria) e "binah" (inteligência) que se encontram na árvore dos zéfiros da Kaballah hebraica deverão ser mera retórica... Ou delírios esotéricos...
Uma curta nota sobre o termo "zéfiro", aplicada à árvore da Kaballah: este termo, como explica Guénon, vem do hebreu "sepher" (que também dá o árabe "çifr"), que é a origem etimológica da palavra "cifra" e do verbo "contar". Assim, "cifra" deve ser aqui interpretada não como "código" mas sim como "número" ou como a operação de contar.
Os "zéfiros" da árvore são as "enumerações divinas", ou por outras palavras, a enumeração dos atributos divinos.
A riqueza e complexidade do Islão, que salvou para a posteridade os clássicos gregos do esquecimento, e que rejuvenesceu a filosofia, as artes e as ciências na Idade Média, torna-se bem patente na complexidade do sufismo, e na surpreendente concordância deste com as linhas do esoterismo judaico. Espelhos de Verdade e de Intelectualidade que voam bem acima dos cinzentos e limitados racionalismos, cartesianismos e positivismos dos nossos amigos ateus.
Eles, em contrapartida, falam-nos do Islão como um exército de Bin Ladens... Lembram-nos vezes sem conta que a biblioteca de Alexandria foi queimada em nome de Allah. Como se se pudesse meter tudo no mesmo saco. Como se esse gesto criminoso, grunho e tresloucado, representasse a totalidade do ser islâmico. No meio de tanta pobreza cultural e intelectual, no meio de tanta estreiteza de vistas, o diálogo é difícil.
Bernardo
Sem comentários:
Enviar um comentário