domingo, 23 de maio de 2004

Roberto Calvi

São negros os contornos do assassinato de Roberto Calvi, mas bem ao estilo da Máfia. Em Junho de 1982, Roberto Calvi, administrador do Banco Ambrosiano, viajava para Londres após o colapso da instituição bancária à qual predisia.

Foi encontrado morto, a 18 de Junho de 1982, sob a Blackfriars Bridge, com tijolos nos bolsos e 15 mil libras em dinheiro. Provas de peritagem forense concluiram que o banqueiro nunca tocou nos tijolos que tinha nos bolsos.

O site "Misteri d'Italia" está carregado de informação sobre este e outros casos correlacionados.

A família, a viúva Calvi e o filho Roberto, sempre defenderam a tese do homicídio. Esperam há 22 anos que se encontrem e julguem, não só os perpetradores materiais do crime, mas também o seus instigadores, os autores morais.

A BBC News mencionou esta semana que quatro pessoas irão ser julgadas numa primeira fase pelo assassinato do banqueiro do Ambrosiano.

Algumas já são caras conhecidas: o mafioso Pippo Calo (que será julgado por videoconferência, uma vez que está a cumprir duas penas de prisão perpétua), e Flavio Carboni. Faz-se referência a uma mulher austríaca, capturada em Dezembro de 2003. As autoridades da Cidade de Londres estão a trabalhar activamente com a justiça italiana, e na sequência desta detenção no ano passado, o processo foi reaberto.

Roberto Calvi pertencia à loja maçónica Propaganda Due (P2), de Licio Gelli.
As suas ligações perigosas à Máfia são também sobejamente conhecidas. Contudo, a Máfia não mata sem uma razão forte. A Máfia também mata por encomenda.

O banco privado católico Ambrosiano, liderado por Roberto Calvi, teve um historial de contactos financeiros muito próximos com o IOR (Istituto Opere di Religione), o Banco do Vaticano.

Não quero com este artigo criticar, como é tradicional de certos movimentos anti-católicos, se o Vaticano deve ou não ter um Banco. É evidente que deve. Gostava, isso sim, de manifestar a minha vontade de ver este processo ir até ao fim, com a condenação dos autores materiais, mas também dos autores morais, que poderão ocupar importantes lugares em instituições supostas acima de suspeitas. Que se vá até ao fim! A dignidade e respeitabilidade da Igreja Católica, que está infelizmente muito próxima deste fumoso episódio Calvi, merecem que se descubram os culpados, que se aplique a Justiça, e que se evitem semelhantes situações no futuro.

Um certo pragmatismo de algumas elites liderantes, que crêem que os fins justificam os meios, mancham por vezes a folha de cadastro das instituições que lideram. Que caia por terra todo o tipo de pragmatismo! Os fins não justificam os meios. Que se reconheçam as faltas, e que se peça humildemente perdão aos Homens e a Deus...

Bernardo

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